Vincent BlakeEu já sabia que seria assim. Desde o momento em que percebi que a verdade estava se aproximando como o fogo na palha.Eu sabia que seria questão de tempo.Mas saber não tornava mais fácil ver ela assim.Mavie estava no meio da sala, o peito subindo e descendo em respirações irregulares, os olhos carregados de raiva e a dor pelas mentiras contadas e a verdade escondida. Sua voz reverberava pelo ambiente, cada palavra carregando o peso de tudo o que a consumia por dentro.Um soluço escapou de sua garganta, e meu peito se apertou.Aquele soluço foi o suficiente para me fazer desejar levá-la longe daqui.Ela estava se quebrando e eu não iria suportar vê-la assim.A raiva transbordava dela, explodindo em cada sílaba, em cada olhar de frustração e mágoa.Eu sabia que ela ia se exaltar antes mesmo que acontecesse. Seu corpo tremia, os olhos brilhavam de fúria, e cada fibra dela gritava a injustiça do que estava ouvindo.Eu não poderia mais permitir que eles a machucassem de nov
Vincent BlakeE, por ora, isso era o suficiente.Eu segurei seu rosto por mais alguns segundos, sentindo sua respiração começar a se estabilizar contra a minha pele. Sua raiva ainda estava lá, viva, queimando por baixo da superfície. Mas agora ela não estava sozinha com isso.Eu estava aqui.E sempre estaria.Lentamente, soltei seu rosto, mas não me afastei. Ela piscou algumas vezes, ainda tentando absorver tudo, e eu podia ver a batalha interna em seu rosto.Atrás de mim, Sebastian suspirou, quebrando o silêncio tenso. Olhando a nossa volta enquanto Mavie estava virada para mim, percebi que Saymon e Luisy já haviam saído.— Bom, parece que a tempestade acalmou um pouquinho.Mavie endureceu novamente, e minha mão foi direto para a sua cintura, segurando-a firme antes que sua raiva voltasse a explodir.Lian riu, mas seu comentário me fez permanecer em silencio.— Cala a boca, Sebastian.Dando de ombros, Sebastian prosseguiu, me fazendo sentir o sangue ferver em minhas veias.— Mas vamo
Vincent BlakeEla mordeu o lábio, pensativa. Uma forma graciosamente linda que Mavie fazia somente quando estava muito nervosa ou confusa.— Então por que não me contou que sabia de alguma coisa?Meu maxilar se contraiu enquanto eu pensava em uma resposta convincente.— Porque eu sabia que você iria reagir exatamente assim e na época eu não tinha muitas respostas para repassar, eram apenas duvidas.Seus olhos brilharam de indignação. É como se minha explicação apenas atiçasse a furia que estava incubada nela naquele momento.— Você acha que eu não tinha o direito de saber a respeito da minha propria historia, Vincent?Engoli em seco e ponderçei por alguns segundos. Não quero dizer nada que possa irrita-la ainda mais. Minha intenção não é reduzir o sentimento dela, e sim explicar qual é minha maior motivação aqui.— Não se trata de direito, Mavie.Minha voz saiu mais dura do que eu queria, e ela se encolheu levemente. Respirei fundo, tentando controlar a frustração e modifiquei o tom
Mavie Neummann BlakeO peso ainda estava ali, imenso e obscuro, pairando sobre todos nós. O ar parecia mais denso, carregado de palavras não ditas e gestos evitados. Eu sabia que tinha muito a processar, mas algo dentro de mim dizia que precisava enfrentar essa tempestade, precisava colocar um ponto final em tudo aquilo para recomeçar.Era tarde, e o céu estava coberto por nuvens pesadas, como se o próprio universo ainda estivesse aguardando o momento certo para despejar sua ira. Dentro da casa, o silêncio reinava. Não por causa do medo, mas pela expectativa.Eu entrei na sala com os passos hesitantes de quem carrega um peso imenso nos ombros, mas determinada a seguir em frente. Saymon estava de pé, perto da janela, os ombros caídos como se tivesse sido esvaziado da vida. Luisy estava sentada no sofá, com as mãos entrelaçadas, olhando para o chão, como se estivesse esperando por uma sentença que sabia que viria.Eles me viram parada na porta e na mesma hora, pude ver o arrependimento
Vincent BlakeEu a observava, escondido na penumbra da sala. Mavie estava ali, com o sorriso mais genuíno que eu já vi. Algo que, até pouco tempo atrás, parecia um sonho distante, agora se tornava uma realidade sólida. Eu não conseguia deixar de me sentir grato por tudo o que ela havia superado, pelas cicatrizes que ela havia abandonado, e, principalmente, pelo caminho que ela estava construindo agora.Mavie nunca foi alguém que se entregaria facilmente a qualquer situação, independente do grau de dificuldade. Não era do tipo que se deixava dominar por sentimentos de fraqueza.Aquele espírito feroz, que sempre a caracterizou, continuava ali, mas agora era mais centrado. Ela havia aprendido a lidar com a dor, a mágoa, e estava abandonando as sombras do passado, em busca de um caminho completamente novo.— Ghost, você está aí?A voz dela me arrancou dos meus pensamentos. Ela estava na varanda, com as mãos no corrimão, olhando o horizonte. Eu me aproximei silenciosamente, sem fazer barul
Vincent BlakeEpilogoO céu estava tingido de dourado e laranja, o sol se despedindo do horizonte enquanto a brisa salgada soprava contra minha pele. Da sacada, observei Mavie na praia, seus pés afundando na areia enquanto as ondas quebravam suavemente ao redor dela. Ela fechava os olhos, absorvendo aquele momento como se quisesse guardá-lo para sempre. O sol sob a pele, a brisa soprando suavemente, a água molhando os pés e a paz que era revitalizante.Depois dos últimos meses, acabou se tornando raro ver Mavie assim tão serena e livre.Por um tempo, ela carregou o peso do nosso mundo nos ombros. Mas agora, havia algo diferente nela. Não era mais só força bruta, não era apenas sobrevivência. Era leveza.E eu? Eu sabia que nunca conseguiria me afastar dessa mulher. Porque ela era minha âncora e minha tempestade. Minha paz e o meu caos.Me movi silenciosamente até ela, mas, como sempre, Mavie percebeu minha presença antes mesmo que eu a tocasse.— Algum dia você vai parar de tentar me su
Lian BlakeAbri os olhos com desespero quando minha mente me despertou, fazendo-me lembrar do que houve a horas atrás. Estremecendo, sinto o cheiro de sangue pútrido de algum corpo se decompondo nesse mesmo ambiente em que estou. Fechei meus olhos à medida que tentava controlar a vontade de vomitar que só crescia em meu estômago. Consigo distinguir o meu suspiro de desespero no meio de tantos outros que estão perdidos por entre a escuridão assim como eu. Não sou o único a estar nesse inferno, mas a diferença é que eu realmente não queria estar aqui. Não sou a pessoa certa para esse tipo de vida. Minha respiração pesada atravessa meu peito de um jeito dolorido. A onda de vertigem pesa e cria um bolo em minha garganta depois de sentir o cheiro fétido de dias em uma sala fechada, sem qualquer ventilação, parece que a sensação só faz aumentar ainda mais aquela angustia.Em minha boca aumenta o sabor de desgosto. O desespero por não ter escolha. Eu nem queria estar aqui.Não gosto nada d
Vincent BlakePuxando a porta que dá acesso ao interior do calabouço, adentrei o ambiente que já tem um cheiro particular de sangue e brasa impregnados em cada parede deste local. E isso não me incomoda nenhum pouco.Apesar de calabouço estar sempre em funcionamento, hoje foi um dia atípico. Por onde olho, encontro corpos sem vidas, espalhados e até mesmo destroçados pelos cantos. As paredes sujas de sangue demonstram o quanto foi sangrento essa ultima seção. Através dos corredores, é possivel ver marcações de mãos e dedos ensanguentados e muitos projéteis de munição que se perdem através do longo galpão.A brincadeira realmente rendeu e eu não participei.. Atravessando o corredor principal, levantei meu pé para desviar de um corpo atravessado no caminho. Há alguns metros de mim, tem soldados puxando pelos pés cada corpo sem vida para o local correto. Cada soldado levando seu cadáver para ser incinerado. Ao meu ver, serrá um longo trabalho. Assim que cheguei na última sala do cor