Andie Cooler
Entro no banheiro e graças a Deus não tem ninguém. Olho-me no espelho por alguns instantes e mais lágrimas rolam pela minha face avermelhada como um pimentão. Abro a torneira e inclino o tronco. Jogo água no rosto e dou uma assoada no nariz, toda vez que choro, ele entope e eu fico sem ar. Quando me levanto e abro os olhos, vejo Jenniffer, Leah e Eva atrás de mim. Elas me dirigem olhares macabros e sorrisos mesquinhos. Engulo em seco e viro-me de frente para elas.
— O que querem? — pergunto.
— Nada, só que você acaba de pisar no chão que esfregamos à mão — Jenniffer aponta para as marcas molhadas dos meus sapatos.
— Desculpe, foi sem querer.
— Desculpe, desculpe, desculpe! É a única palavra que você sabe dizer? — Jenniffer brada e eu abaixo a cabeça. — E aí, resolveu se vai me ajudar em troca de eu encontrar seu irmão? — meu coração dá um salto.
— Não quero que se meta com meu irmão — digo com firmeza.
Megan Shelby Encontrar o corpo de Andie estirado no chão coberto por sangue me doeu na alma. Foi impossível não chorar. Ela é uma mulher do bem, disso eu tenho certeza e ela não merece tudo o que está passando. A equipe a levou ainda desacordada e a enfermeira chefe disse que precisava examiná-la antes para ver se seria necessário mandá-la para o hospital. Encontro-me com Rick nos corredores e o olhar dele não está nem um pouco feliz. — Megan, o que houve? — Andie foi agredida no banheiro e está desacordada. — Nossa, espero que ela fique bem logo. Deve ser por isso que as presas estão eufóricas na lavanderia. — Sim, elas viram a equipe passando com Andie na maca. — Bom, e eu não tenho notícias muito boas — Rick olha de soslaio. — Mais notícias ruins? — Chegaram quatro guardas novos. Os caras são enormes como guarda-roupas e ouvi rumores de que duas mulheres também chegam à tarde. Isto aqui está virando
“Existe uma lenda acerca de um pássaro que só canta uma vez na vida, com mais suavidade do que qualquer outra criatura sobre a Terra.” Collen McCullough Andie Cooler Sinto tanta dor que nem sei mais se ainda tenho ossos. Uma enxaqueca terrível me dá a impressão de que meu cérebro está gigante. Minhas pálpebras estão pesadas, mas a luz faz com que meus olhos queiram se abrir. Com bastante cuidado, abro-os piscando algumas vezes até me acostumar por completo com a claridade. Analiso a minha volta e me dou conta de onde estou: num quarto de hospital. A enfermeira jovem de rosto singelo e voz doce sorri ao ver que acordei e logo pergunta: — Está tudo bem! — Graças a Deus, sim, só estou sentindo algumas dores. Você pode me explicar o que houve? — Bom, você foi encontrada no banheiro feminino coberta de sangue e desacordada — a enfermeira é um amor de pessoa.<
Angelic Ross Parker Passo uma vassoura por todo pátio das celas e não deixo de notar o alvoroço que Jenniffer e as parceiras estão fazendo. Pode ser impressão minha, mas elas estão alegres demais hoje. Por mais que eu queira estar enganada, algo dentro de mim confirma que elas são as culpadas pela agressão de Andie. O que mais me pergunto é: será que não existe um pingo de amor dentro dos corações delas? Jenniffer sai da cela e me dirige um olhar mesquinho, automaticamente franzo o cenho. Ainda bem que elas me deixaram em paz, embora no começo não fora nada fácil. Eu sofri tanto quanto Andie, só não fui agredida. Era uma marcação cerrada delas em cima de mim o tempo todo que quase me deixou louca. Devo muito à Penélope que sempre as enfrentou por mim. Por isso que eu faço tudo que posso por ela e agora quero ajudar Andie. O que não pode é demonstrar fragilidade e, infelizmente, Andie chora o tempo todo, conta sobre o sumiço de Brad para as dete
“Na história do mundo, oportunidades e sorte apareceram em quantidades relativamente numerosas, mas poucos foram aqueles que souberam aproveitá-las.” Geoffrey Blainey Penélope Sanchez Hoje, o Klark Jackman está bem movimentado, é dia de receber visitas, com isso, todo mundo fica alvoraçado, a vontade de ver um familiar tira qualquer um da lucidez. Eu já esperei receber visitas. Nos primeiros dias de prisão, juro que cheguei a pensar que alguém poderia aparecer, nem que fosse para caçoar de mim, ou dizer: “eu avisei”, mas nada, ninguém. Talvez a minha mãe nem saiba que eu estou presa, afinal, já se passaram quinze anos desde que nos falamos. Ela amava assistir televisão, mas pode ser que isso tenha mudado. Tenho certeza de que todos os jornais do Brasil mostraram a minha queda, agora, se minha mãe viu, isso eu não sei. — Quero todas na fila para contagem em dois mi
Angelic Ross Parker Megan me conduz para a sala de visitas que está lotada de prisioneiras e seus familiares. Meu coração dá um salto, meu corpo inteiro formiga e eu perco as estribeiras quando vejo meus pais. Este sim é um momento feliz aqui dentro. Corro para abraçá-los. Sentir nossos corações batendo juntos não tem preço. — Eu morri de saudades de vocês! — digo entre soluços. — Nós também, minha pequena — meu pai diz. — Como você está, meu amor? — mamãe pergunta com meu rosto entre as mãos. — Estou vivendo, mamãe, um dia de cada vez. Sentamo-nos e os dois seguram as minhas mãos. Pergunto como estão todos da nossa família, lembro-me dos primos, dos tios. Eles se calam, trocam olhares e suspiram. — Resolvemos nos mudar para cá, filha, até você sair da prisão — mamãe diz. — Não, não podem fazer isso. — Ah, filha, só temos você e vamos combinar que viajar dez mil quilômetros todo mês não é nada f
Willy Foster Um dos novos guardas me leva para a sala de visitas e já na entrada sou tomado pela emoção. Ver os meus pais é a melhor sensação que posso ter neste presídio. Abraço meu pai, aperto tanto o velho que quase quebro-lhe os ossos. Em seguida, abraço a minha rainha. Sentamo-nos e minha mãe não para de chorar. — Se acalme, mãezinha, estou bem! — Está bem mesmo, Will? — Sim, mãe, agora estou mais conformado. — Oh, meu amor. Eu tenho certeza de que logo encontrarão o assassino de Kyla e você se livrará dessa — ela diz entre lágrimas. — Sim, mamãe, tenho fé que o culpado logo aparecerá. Mas sabe que viver esses dias na prisão tem servido para pensar em muitas coisas, principalmente em vocês que são a minha família? — Fico muito feliz por isso, Will — papai afaga minhas mãos. — Só toma cuidado, Will, não dê as costas para ninguém, meu amor, nem mesmo para os policiais. Dias difíceis virão, mas você v
“Ele viveria no inferno, porque o amor é isso também.” Richard Flanagan Jenniffer McDonald Na hora do banho de sol, aproveito para negociar a entrega das drogas. Com um assovio, cada viciada já entende que quero conversar. Esse sinal foi o melhor que já inventei. Anny agora anda ao meu lado, Leah e Eva andam atrás de nós e, desde que Anny chegou, elas não estão nada satisfeitas, principalmente Leah. Mas eu estou pouco me lixando para essas duas. — Bom, agora só falta avisar Carly e Gillian — Anny diz riscando mais um nome da agenda. Isto é uma das coisas que mais me impressionam nela: a organização. Em dois dias, ela fez muito mais que Leah e Eva fizeram em meses. — Você é incrível, sabia? — toco seu queixo e ela cora as bochechas. — Você que é, Jenny, minha rainha. Leah dá de ombros com raiva, mas logo abre a boca para falar o que não deve:
Willy Foster A vinda do diretor ao presídio merece até um troféu, tomara que ele nos encontre bem mal, pois assim, ele coloca a Leona no lugar dela. Preciso contar para Álex tudo que eu acabo de ouvir Megan contar ao Rick. Corro até ele que me olha assustado. — Cara, você não vai acreditar o que eu acabo de descobrir. — Desembucha logo, então — Álex sabe ser bem sem educação quando quer. — Megan ligou para o Johann e pediu ajuda, certamente, essa hora o diretor já sabe de tudo que a Leona está fazendo. — Caraca! Será que o diretor virá até aqui? — Sim, claro e com certeza! — faço graça. — Isso será ótimo, não aguento mais trabalhar. — Nem eu, Mate. Fico paralisado um tempo pensando em algo que possa ser feito para acabar com a reputação de Leona Davis. Vou armar um plano rápido e, claro, pedir a ajuda de Pennie, ela adora ver o circo pegar fogo tanto quanto eu.