“Quem salva uma vida, salva um mundo inteiro.” Thomas Keneally
Andie Cooler
Aos poucos, a mulherada vai saindo das celas e se sentando à mesa. Uma querendo conversar mais alto que a outra, meu tímpanos vibram como se fossem um equalizador. Estou um trapo por não ter dormido e minhas olheiras estão mais profundas do que um terreno escavado. Pennie sai da cela com o rosto bem cansado e em seguida Angel. Elas se aproximam ao me ver.
— Ei, bom dia, Andie, como foi sua noite? — Pennie pergunta primeiro e me abraça.
— Não consegui pregar os olhos, e você?
— Vixe, então a insônia pegou nós três — Angel responde depositando um beijo em meu rosto.
— Eu quero ir embora daqui — digo, e em poucos instantes, lágrimas quentes rolam por minha face ressecada, há dias que não uso um hidratante, e não é por falta de ter um.
— Se acalma garota, tente aproveitar o tempo para pensar
Jenniffer McDonald Sinto tanto ódio da loira sem sal e de todas as presas idiotas do Klark Jackman que meus pulsos latejam. Estou à beira da loucura. Leah e Eva nem se atrevem a mexer comigo, porque sabem bem que, quando estou com raiva, sou como uma cobra que está louca para expelir o seu veneno. Começo a dar murros e chutes nas paredes da minha cela. Jogo meu colchão com lençol e tudo no chão e pisoteio mentalizando a cabeça de Penélope. Atiro todos os meus pertences contra a porta da cela e as meninas ficam boquiabertas. — O que estão olhando, hein? — grito e elas não se atrevem a responder, morrem de medo de mim. — Saiammmmm! — grito até minhas cordas vocais vibrarem e elas quase caem quando se põem a correr. Debato-me como uma louca, parece que uma força do mal toma conta de mim todas as vezes em que sinto ódio. Sinto falta de Anny e essa saudade me maltrata ao extremo. Eu prometi a mim mesma que vai ter vingança. Quando eu sair
Penélope Sanchez Obrigadas, organizamos toda a cela da Jenniffer. Quando toquei o alarme, não imaginei que tudo sobraria para nós. Inclusive, por culpa da Salsicha, fomos proibidas de ir ao banho de sol hoje. Puta que pariu! — Terminem essa bagunça logo, a diretora quer conversar com vocês — Megan nos avisa. Lá vem bomba por aí de novo. — Será o que a diretora vai dizer, hein? — Angel me pergunta. — Ah, fica tranquila, miga, deve pagar um sapo por culpa da Salsicha Ambulante. — Ahhh, tomara que seja só isso mesmo. — Caladas! — Megan nos reprime. Eu sopro um beijo para ela e dou uma piscadela. Ela revira os olhos e mantém a expressão séria. Eu adoro essa policial, mas há momentos em que ela é tão chatinha quanto as outras. — Que merda, eu só queria continuar lendo meu livro — Andie reclama. — Vá se acostumando, novata, aqui as coisas não são como queremos — uma das detentas diz.
“A liberdade é frágil e precisa ser protegida. Sacrificá-la, mesmo como medida temporária, é traí-la .” Germaine Greer Megan Shelby Temo pelo que pode vir a acontecer agora que o Klark Jackman tem tantas regras. Acho que Leona exagerou e muito. Antes de mais nada, essas pessoas encarceradas são humanos como qualquer outro e merecem viver, mesmo cometendo tantos erros, eles não deixam de ter alma, e a alma de cada um clama por alívio. Passo um bom tempo pensando em alternativas para mudar a situação, quase nem trabalhei direito. Rick chega na copa e percebe o meu nervosismo. — O que houve, Megan? — Estou preocupada com essa decisão repentina da Leona. Acho que isso tudo é loucura demais — digo. — Bom, só sei lhe dizer que os homens estão furiosos com as novas regras, principalmente pelo fato de que, para eles, as coisas serão bem piores. — Estou pensando em alternativas pa
Andie Cooler Entro no banheiro e graças a Deus não tem ninguém. Olho-me no espelho por alguns instantes e mais lágrimas rolam pela minha face avermelhada como um pimentão. Abro a torneira e inclino o tronco. Jogo água no rosto e dou uma assoada no nariz, toda vez que choro, ele entope e eu fico sem ar. Quando me levanto e abro os olhos, vejo Jenniffer, Leah e Eva atrás de mim. Elas me dirigem olhares macabros e sorrisos mesquinhos. Engulo em seco e viro-me de frente para elas. — O que querem? — pergunto. — Nada, só que você acaba de pisar no chão que esfregamos à mão — Jenniffer aponta para as marcas molhadas dos meus sapatos. — Desculpe, foi sem querer. — Desculpe, desculpe, desculpe! É a única palavra que você sabe dizer? — Jenniffer brada e eu abaixo a cabeça. — E aí, resolveu se vai me ajudar em troca de eu encontrar seu irmão? — meu coração dá um salto. — Não quero que se meta com meu irmão — digo com firmeza.
Megan Shelby Encontrar o corpo de Andie estirado no chão coberto por sangue me doeu na alma. Foi impossível não chorar. Ela é uma mulher do bem, disso eu tenho certeza e ela não merece tudo o que está passando. A equipe a levou ainda desacordada e a enfermeira chefe disse que precisava examiná-la antes para ver se seria necessário mandá-la para o hospital. Encontro-me com Rick nos corredores e o olhar dele não está nem um pouco feliz. — Megan, o que houve? — Andie foi agredida no banheiro e está desacordada. — Nossa, espero que ela fique bem logo. Deve ser por isso que as presas estão eufóricas na lavanderia. — Sim, elas viram a equipe passando com Andie na maca. — Bom, e eu não tenho notícias muito boas — Rick olha de soslaio. — Mais notícias ruins? — Chegaram quatro guardas novos. Os caras são enormes como guarda-roupas e ouvi rumores de que duas mulheres também chegam à tarde. Isto aqui está virando
“Existe uma lenda acerca de um pássaro que só canta uma vez na vida, com mais suavidade do que qualquer outra criatura sobre a Terra.” Collen McCullough Andie Cooler Sinto tanta dor que nem sei mais se ainda tenho ossos. Uma enxaqueca terrível me dá a impressão de que meu cérebro está gigante. Minhas pálpebras estão pesadas, mas a luz faz com que meus olhos queiram se abrir. Com bastante cuidado, abro-os piscando algumas vezes até me acostumar por completo com a claridade. Analiso a minha volta e me dou conta de onde estou: num quarto de hospital. A enfermeira jovem de rosto singelo e voz doce sorri ao ver que acordei e logo pergunta: — Está tudo bem! — Graças a Deus, sim, só estou sentindo algumas dores. Você pode me explicar o que houve? — Bom, você foi encontrada no banheiro feminino coberta de sangue e desacordada — a enfermeira é um amor de pessoa.<
Angelic Ross Parker Passo uma vassoura por todo pátio das celas e não deixo de notar o alvoroço que Jenniffer e as parceiras estão fazendo. Pode ser impressão minha, mas elas estão alegres demais hoje. Por mais que eu queira estar enganada, algo dentro de mim confirma que elas são as culpadas pela agressão de Andie. O que mais me pergunto é: será que não existe um pingo de amor dentro dos corações delas? Jenniffer sai da cela e me dirige um olhar mesquinho, automaticamente franzo o cenho. Ainda bem que elas me deixaram em paz, embora no começo não fora nada fácil. Eu sofri tanto quanto Andie, só não fui agredida. Era uma marcação cerrada delas em cima de mim o tempo todo que quase me deixou louca. Devo muito à Penélope que sempre as enfrentou por mim. Por isso que eu faço tudo que posso por ela e agora quero ajudar Andie. O que não pode é demonstrar fragilidade e, infelizmente, Andie chora o tempo todo, conta sobre o sumiço de Brad para as dete
“Na história do mundo, oportunidades e sorte apareceram em quantidades relativamente numerosas, mas poucos foram aqueles que souberam aproveitá-las.” Geoffrey Blainey Penélope Sanchez Hoje, o Klark Jackman está bem movimentado, é dia de receber visitas, com isso, todo mundo fica alvoraçado, a vontade de ver um familiar tira qualquer um da lucidez. Eu já esperei receber visitas. Nos primeiros dias de prisão, juro que cheguei a pensar que alguém poderia aparecer, nem que fosse para caçoar de mim, ou dizer: “eu avisei”, mas nada, ninguém. Talvez a minha mãe nem saiba que eu estou presa, afinal, já se passaram quinze anos desde que nos falamos. Ela amava assistir televisão, mas pode ser que isso tenha mudado. Tenho certeza de que todos os jornais do Brasil mostraram a minha queda, agora, se minha mãe viu, isso eu não sei. — Quero todas na fila para contagem em dois mi