Séria? – pensara Nathalie. Talvez fosse um pouco, mas acreditava que os outros prefeririam uma palavra mais adequada para aquela expressão como inválida ou deficiente. De qualquer forma, Adrian parecia ser diferente, tinha sido gentil com ela. Deveria haver uma boa razão para isso e certamente não era apenas o interesse nela tocando com ele na banda.
—E você não tem medo de se aproximar de uma menina séria? – indagara ela usando a mesma palavra que o rapaz escolhera para se expressar.
—É claro que tenho, não faz ideia. Estou me esforçando para não gaguejar e pensando mil vez em cada palavra antes de dizer. Se me visse agora riria muito de como minhas pernas estão tremendo – respondera ele, parecendo sincero em cada palavra – Mas como disse, você é talentosa e linda. E também educada e charmosa como vejo agora. Mesmo com medo, sinto que preciso arriscar.
Tentando ser engraçado para disfarçar o nervosismo? – pensara a garota, ainda absorvendo as palavras. Nathalie suspirara. Aquilo não era bom. Ou era? A verdade era que há muito tempo não se sentia tão bem.
* * *
Aquela noite no colégio Santa Helena, Nathalie parecia distraída, perdida em pensamentos. Isso não era bom, a loira sabia que não podia se envolver demais, relacionamentos nunca terminavam bem para ela. Pelos corredores, as fofocas se dividiam entre a garota assassinada e o novo e estranho relacionamento entre a menina de cadeira de rodas dos excluídos e o jovem guitarrista da banda de rock mais popular da escola.
Nathalie sentia os olhares curiosos em sua direção e sabia quando estavam sussurrando a seu respeito, sobretudo algumas outras meninas.
—Você sabia que Adrian me pediu em namoro mês passado?
A voz vinha de trás, não muito longe de onde Nathalie estava. Antes mesmo que se virasse para ver quem era, a menina passara por ela. Era uma garota alta, de coxas grossas e seios fartos, tinha olhos castanhos e o cabelo negro e curto com uma grande mecha roxa que lhe caía sobre o olho esquerdo.
De imediato a menina na cadeira de rodas a reconhecera, era Regan, uma das animadoras de torcida da escola e uma das tietes da Banda Dark Chest Of Wonders, a banda qual Adrian fazia parte. A aluna diante dela colocara as mãos dos dois lados da cintura e inclinara o corpo de forma que seu rosto ficasse na mesma altura do rosto de Nathalie, como se a garota não a fosse ouvir se não fizesse isso. Quando seus olhares cruzaram, eram como raios em uma noite de tempestade.
Nathalie preferira adiantar-se, não era bom dar brechas para as pessoas se aproveitarem dela, isso poderia se tornar um hábito que ela não desejava.
—Posso saber o que isso me diz respeito? Se não estão juntos, obviamente você não aceitou o pedido, então por que está vindo me dizer agora? – indagara com a voz controlada.
—Eu não aceitei, mas não recusei, disse que iria pensar. Mas me parece que ele tem outros planos agora, talvez… como eu poderia dizer? Caridade? Ou você acha que Adrian poderia estar interessado em alguém como você?
Alguém como você?
Era esse o tipo de desaforo que a loira mais odiava aturar.
As duas estavam no corredor e não havia mais ninguém por perto. Quando Regan era vista com as outras animadoras de torcida era normalmente um poço infinito de simpatia. Era amável e gentil com todos à sua volta, sempre disposta a ajudar quem quer que necessitasse. No entanto, a garota diante de Nathalie naquele momento era outra, as palavras indicavam claramente uma pessoa preconceituosa e orgulhosa.
Aparentemente a mesma se sentia com posse pelo rapaz devido ao pedido de namoro, mesmo que não houvesse aceito. Alguém como você… – Nathalie desejava que Adrian tivesse escutado aquelas palavras que agora reverberavam em seus pensamentos. Mas não poderia lhe contar, ele jamais acreditaria em uma atitude daquelas vindo da animadora.
A loira se mantivera em silêncio por alguns segundos, ponderando sobre o que responder. Sabia que as palavras que fossem ditas ali poderiam iniciar uma guerra e sabia que a única forma de alguém como ela vencer guerras era pela piedade alheia e não tinha esse desejo também.
—Não sei se ele está fazendo caridade ou não. E não vejo razão porque se interessaria ou deixaria de se interessar por mim, mas isso não vem ao caso, já que Adrian quer apenas que eu participe de uma música com a banda. Estou lhe contando isso apenas porque sei que deve estar imaginando mil coisas e não quero que comece fofocas sem fundamento por aí. O que faço ou deixo de fazer com a minha vida não é da sua conta, nem de ninguém além de mim.
Nesse momento os olhos azuis de Nathalie ficaram escuros como a noite. A brisa noturna que adentrava por uma janela mexia seus cabelos, mas todo o restante de seu corpo parecia congelado, imóvel.
—Espalhar boatos? Sobre você? O que eu poderia dizer de Adrian e você, que sequer seria capaz de dar dois passos sem a ajuda de alguém? Saiba que não temo você como rival, garota, apenas quero que não encha a cabeça de Adrian com bobagens. Ele tem um futuro, é um grande guitarrista e vocalista e vai ser famoso um dia. Não quero que desperdice seu tempo, me entende?
Então ele é o vocalista também… – pensara a menina sentada de frente para a morena – Por isso é tão conhecido e cobiçado pelas fãs…
—Não precisa se preocupar, temos coisas mais importantes para fazer que perder tempo falando de você, querida – retalhara a loira em voz baixa para o caso de alguém se aproximando ouvir a discussão entre as duas.
—E não pense que eu me assusto com os boatos, está bem? Sei que Julye pretendia ser a primeira na apresentação de música instrumental do colégio e quando ela apresentou essa ideia para os outros desapareceu, reaparecendo morta. Será que você tem algum conhecido vampiro? Dizem que os estranhos se atraem. Talvez esteja presa à essa cadeira, mas tenha alguém por aí que caminhe por você. Fique sabendo que não me importo, se ficar no meu caminho, vai cair e vai cair feio, não tenha qualquer dúvida quanto a isso… – rebatera a morena erguendo o corpo novamente.
—Não sei de onde vocês tiram essas fantasias, mas não entendo o que é mais absurdo, pensarem que eu possa ter algo a ver com o triste incidente com minha amiga ou acreditarem que vampiros existem. Me poupe… – suspirara a loira, olhando para fora da janela.
—Espero que tenha entendido, se for esperta e não apenas inútil, se afaste de Adrian, para o seu próprio bem – rosnara Regan.
Nathalie já ia dar outra resposta quando Rebecca e Brian se aproximaram das duas. O clima hostil de instantes antes desaparecera.
—A aula já vai começar. O que ainda fazem aqui? Venha com a gente, Nathy, eu te ajudo. Oi também, Regan – cumprimentara a morena enquanto se colocava atrás da loira.
—Oi, querida, só estava comentando com a Nathalie como seria bom se ela pudesse vir ao baile. É uma pena e realmente triste viver presa à uma cadeira sem poder se mover como todo mundo – dissera a morena de cabelos curtos.
—Nathalie não é triste, estar em uma cadeira de rodas não anula seus outros talentos e qualidades – respondera Rebecca – Se ela quiser, posso chamar meu namorado e passar a noite do baile na casa dela, ou podemos sair. Todos temos nossos altos e baixos.
—É verdade, você tem toda razão, Becca. Me perdoe pelo comentário infeliz. Querida, me perdoe, não foi minha intenção ofendê-la – dissera Regan, dirigindo-se à Nathalie. Embora as palavras fossem doces e gentis, quando seus olhares se encontraram novamente, ambos soltavam faíscas.
Regan se despedira dos presentes e se afastara, indo em direção à sua sala. Quando estava à uma distância que era impossível ouvir o que falavam, Rebecca se voltara para a amiga de olhos azuis.
—Posso estar enganada, mas não simpatizo com essa garota, sempre sinto um ar forçado na simpatia dela, me soa como uma pessoa falsa, odeio isso…
—Concordo com você – comentara Brian, usando uma touca preta cheia de caveiras nessa noite.
Nathalie esboçara um sorriso, encarando os amigos.
—Adrian me disse que as máscaras sempre caem. Sinceramente, espero que ele esteja certo… Estava brincando quando disse que ficaria comigo na noite do baile, certo? Se disser isso à Josh, ele vai querer matar a nós duas – dissera a loira, tocando a mão da morena que a empurrava na cadeira.
—Ah… não foi de todo provocação, eu realmente gosto de você, meu amor e jamais a deixaria na mão, pode acreditar. Josh e eu temos todo o tempo do mundo para ficarmos juntos, ele me entenderia. Está pensando em requisitar nossa companhia? – respondera a menina.
—Não, jamais lhes tiraria uma noite como essas, espero que se divirtam por mim. Depois me conte como foi. Nada me deixaria mais feliz que isso.
—Pode deixar! Irei contar tudo nos mínimos detalhes… – dissera a morena sorrindo. Nathalie virara a face para encarar a amiga com os olhos arregalados. O que a garota tinha em mente para contar em detalhes? Só então as duas se deram conta de que Brian também estava de olhos arregalados diante daquela conversa entre as duas – Não se empolgue, não irei contar meus segredos para você, apenas para a Nathy – concluíra Rebecca mostrando a língua.
O rapaz balançara os ombros e acenara com a mão fazendo pouco caso enquanto olhava para frente. Todos riram e seguiram para a sala de aula.
Havia um período livre entre as aulas de Nathalie onde os alunos estudavam sobre esportes diariamente. O colégio Santa Helena tinha mais de vinte times de diversas categorias esportivas e muitos desses responsáveis por centenas de troféus em eventos regionais e estaduais para a escola, uma grande razão para o estudo de técnicas relacionadas ter logo se tornado parte do currículo escolar. Da mesma forma música e artes tinham seu valor, abrigando diversas bandas e solistas entre seus alunos.Nathalie não precisava assistir as aulas sobre Literatura Esportiva – como chamavam – devido à sua condição, aproveitando esse tempo livre para ler todos os dias. Seu lugar de leitura habitual era na curva entre duas escadarias que levavam para o andar superior do primeiro prédio da escola, onde também ficava localizada a biblioteca. Normalmente Cindy ou Rebecca a ajudavam
Nathalie estava deitada na enorme cama de casal king size que havia em seu quarto. Tinha os braços abertos enquanto se imaginava voando em um céu de nuvens brancas e frias. Vestia apenas uma calcinha cor de rosa com rendas detalhada com um botton com o formato de ursinho na lateral direita.Seu corpo nu estava descoberto, a brisa da noite entrava pela janela aberta fazendo com que todos os minúsculos pelos de seu corpo se arrepiassem. Tinha seios grandes com mamilos rosados e cada vez que se sentia arrepiar lembrava-se das carícias ali recebidas em tempos passados, em outras vidas, em sonhos que ela se negava a esquecer.Abrira os olhos ponderando sobre a equanimidade em sua mente e em seu coração diante das turbulentas ocorrências em sua vida. Quando se tornara tão distante de sua própria humanidade? Quando seus desejos e suas emoções lhe haviam abandonado?O celular tocara, a despertan
Fechara os olhos e suspirara tentando se acalmar. Afinal, por que se sentia tão preocupada? Tão incomodada? Sentia que dentro de si um grande terror a preenchia e não sabia como fazer para se livrar daquele tipo de sentimento. Seria arrependimento pelo que fizera com a menina deficiente? Não era uma santa e já tinha cometido muitos erros, mas nunca nada tão grave.Quando o vento gelado tocara indelicadamente a face da morena, a mesma dera um salto de onde estava. Já em pé, ainda com os joelhos tremendo, a jovem olhara de volta para o banco. Estivera dormindo? Quando havia cochilado que não se lembrava? Dos dois lados da plataforma podia ver os portões de acesso já fechados. A escuridão dominava quase completamente, a não ser por duas luminárias que chiavam e piscavam eventualmente atraindo insetos para a luz.Olhara para as horas no relógio que ainda marcava cinco m
Nathalie ficara em silêncio por alguns segundos assimilando as palavras e seu significado, por fim respondera abrindo os olhos já mais despertada.—Passam aqui? De quem está falando, Becca? São oito horas, não devia estar no colégio? – indagara.—Estou com Cindy. As aulas de hoje foram suspensas, todas elas, um acidente terrível. Parece que o colégio Santa Helena está com mau agouro, não bastasse o assassinato de Julye, outra morte veio para nos assombrar. Donna se suicidou essa tarde.—Não sei o que dizer – respondera a garota loira enquanto coçava os olhos – O que pretende fazer? Não posso voltar tarde para casa, sabe disso.—Vamos à uma lanchonete comer alguma coisa, você precisa sair também às vezes, não pode ficar trancada pra sempre só pensando em escola e trabalhos. Pelo que per
Embora o trio de amigos não tivesse ciência dos fatos, Adrian explicava à garota junto de si o que havia acontecido com Regan pelo que ouvira na sala de música onde a banda estava ensaiando.—Encontraram o corpo de Regan nas colinas nessa manhã. Parece que ela não voltou da escola ontem, então seus pais deram queixa por desaparecimento. Normalmente só iniciam buscas por pessoas assim após 24hs, mas o pai de Regan é bem influente por ser policial aposentado e conseguiu que agilizassem as coisas… – começara o garoto.—Que trágico. Não posso imaginar como estão se sentindo… A polícia tem alguma ideia sobre o que aconteceu? – indagara a menina.—Pelo que dizem já foi feita até a autópsia – respondera Adrian – Pelo que ouvi, ela foi estuprada e depois estrangulada, um crime muito bá
A garota avançara pela porta de metal se sentindo a pessoa mais estranha na face da Terra. Em que momento concordara em ir até ali? Não se lembrava, tudo de que se lembrava era do carro parando em frente de sua casa e de Julius, um dos amigos de Adrian estar no volante.Adrian a ajudara a entrar e colocara a cadeira na traseira da Ranger. Agora ali estava ela adentrando a casa do rapaz como convidada para jantar. Talvez não houvesse razão para ficar nervosa, mas estava. O que estariam esperando dela? O que os pais do garoto pensariam sobre os dois? Talvez achassem que eram namorados, mas não acontecera nada entre eles, eram amigos.E se eles se decepcionassem com ela? Uma coisa era certa, ela sabia que aquilo não daria certo, sabia que era errado, mas mesmo assim ali estava.Todos aqueles pensamentos desapareceram quando as duas meninas se encontraram. Os olhos azuis brilhantes de Nathalie com os olhos casta
Nunca dissera a ninguém sobre seus desejos, tampouco fora capaz de consumar qualquer ato, ainda que uma amiga se declarasse para ela revelando os mesmos sentimentos em seu último ano de escola. Acreditava que ninguém desconfiasse, embora sua mãe sempre argumentasse achar muito estranho seu desinteresse por rapazes.Com a face angelical da ninfa que vira aquela noite no jantar em sua mente, Molly seguira para a cama e se deitara. Esticara o braço, apanhando o controle do aparelho de som, escolhendo uma música que gostava. O som começara a tocar, o volume baixo. Fechara os olhos mordendo os lábios viajando com a letra da música.♫ Once upon a time there was a little girl.♫ Once she was mine in my heart the only one.♫ I wonder where you are, I know you're somewhere in me.♫ I can see your smile when I close, close my eyes.♫ Oh, little girl, where did y
Antony chamara o filho para se sentar ao seu lado e começara a lhe mostrar as anotações com evidências de vários crimes, alguns de anos atrás, outros mais recentes e entre eles, aqueles que eram notícia naqueles dias.Os incidentes na cidade em que moravam e nas cidades vizinhas estavam em destaque na pequena mesa. Por fim, o jovem compreendera parte do que o pai queria dizer, mas não tudo. O garoto o encarara.—Serei direto. Vamos ver se entendi, está querendo dizer que esse vampiro qual está investigando realmente existe? Temos uma criatura dessas de verdade andando por aí? – indagara o menino, mal acreditando que dizia aquilo.—A menos que uma pessoa normal tenha adquirido dotes sobrenaturais, não vejo qualquer explicação sã para isso. Há várias evidências diferentes em vários crimes, mas em todos os casos s&atil