- Nico ficou acordado uma hora a mais do que o normal só para te esperar. – Disse Michel, dissipando o constrangimento.

Um leve aperto tomou o peito de Raquel, enquanto ela pressionava os lábios e dizia:

- Na verdade, Sr. Michel, poderia deixar claro para o Nico que eu não sou a mãe dele.

Os olhos escuros de Michel a fitaram assim.

Um silêncio repentino fez Raquel se perguntar se ela havia dito algo errado?!

Sem se preocupar muito, Raquel continuou.

- O incêndio foi apenas um acidente, o Sr. Michel não precisa se dar ao trabalho de trazer minhas refeições pessoalmente, e eu não preciso de duas enfermeiras para cuidar de mim. Além disso, quanto custa o celular? Vou transferir o dinheiro para você.

- Eu pensei que a Srta. Raquel fosse uma pessoa inteligente.

Raquel ficou sem palavras... Então, ela parecia burra?

- Nico precisa da mãe. - A voz magnética de Michel soou natural enquanto ele dizia isso.

- E...? - Raquel levantou uma sobrancelha.

Os olhos profundos de Michel a observaram por um tempo.

Devagar, com um tom um pouco mais baixo, ele disse:

- E ele gosta de você. Então a Srta. Raquel deveria ter percebido que estou cortejando você.

Raquel ficou sem palavras novamente... Ela realmente não tinha percebido.

Só achava que suas ações estavam interferindo em sua vida.

- A Srta. Raquel não precisa me responder imediatamente, afinal, entre nós... - Michel fez uma pausa, como se estivesse pensando nas palavras certas, e acrescentou algumas palavras. - Ainda não nos conhecemos bem.

Era óbvio que eles eram apenas estranhos que se cruzaram por acaso.

Raquel respirou fundo para manter a calma e disse:

- Sr. Michel, será que não está sendo um pouco infantil em relação a sentimentos?

As sobrancelhas de Michel se arquearam levemente.

Ele não era alguém fácil de se aproximar, e agora, neste momento, parecia ainda mais distante.

- Seu filho gosta de mim, e você vai correr atrás de mim por causa disso? Para você, eu sou apenas um objeto? Então, se o seu filho não gostar mais de mim e se interessar por outra mulher, o Sr. Michel vai correr atrás de outra mulher também? - Raquel falou com um tom pesado e depois suavizou o tom, dizendo. - Desculpe, mas eu não consigo aceitar os valores do Sr. Michel.

- Eu correr atrás de você não tem nada a ver com o meu filho, é apenas uma coincidência que meu filho goste de você, assim como eu. - Michel disse francamente.

Raquel pensou que tinha entendido errado.

Essa declaração repentina... Só poderia ser uma brincadeira, certo?! Eles só se conheceram havia algumas horas.

- A Srta. Raquel não precisa se preocupar que meu filho vá se interessar por outra mulher. - Michel pausou entre cada palavra. - É uma tradição de família ser fiel.

Raquel estava completamente sem palavras.

Isso era para promovendo o filho dele ou era para promover a si próprio?

Ou ele estava... Prometendo algo a ela?!

Raquel sentia que não deveria deixar-se levar por Michel. Para alguém que tinha acabado de conhecer, ela simplesmente não conseguia corresponder aos sentimentos de maneira alguma.

- Não importa qual seja a intenção do Sr. Michel, deixe-me ser clara: estou rejeitando as investidas do Sr. Michel.

Os olhos escuros de Michel a observaram silenciosamente.

- Peço que o Sr. Michel não me incomode mais no futuro, nossa relação é apenas uma questão de compensação por danos...

- A Srta. Raquel rejeitou meus cortejos, e eu rejeito a recusa da Srta. Raquel. - Interrompeu Michel.

Seu tom era autoritário.

Raquel mostrou um traço de raiva em seus olhos:

- Você sabe que tipo de passado eu carrego? E eu não sou tão boa quanto o Sr. Michel imagina.

- Eu nunca duvidei do meu discernimento, e nunca me importei com o que chamam de passado.

- Alguém já disse essas mesmas palavras antes, e no final?

Mas como ela poderia confiar em um estranho que ela acabava de conhecer?

De repente, um espaço de silêncio se instaurou. Os lábios finos de Michel se moveram ligeiramente, com uma expressão fria:

- Você não deveria me comparar com uma escória.

Raquel sentiu uma ligeira apreensão em seu peito.

A expressão de Michel a fez sentir como se realmente o tivesse insultado.

Raquel soltou uma risada inesperada.

Ela não sabia por que estava rindo.

Provavelmente porque, no mundo inteiro, havia apenas ele que estava do seu lado.

Aos olhos de todos, estar com Samuel era uma ascensão para ela.

Até mesmo seu próprio pai a achava indigna.

- A partir de agora, vou me esforçar para que a Srta. Raquel veja a diferença entre mim e aquela escória. - Michel olhou para o sorriso de Raquel, com um claro lampejo nos olhos.

A tradução desta frase seria... Ele iria se esforçar para conquistá-la!

Michel virou-se e saiu diretamente.

Era como se ele não quisesse mais perder tempo com esse assunto.

Ele tinha tomado uma decisão que ninguém poderia mudar.

- Sr. Michel. - Raquel percebeu e o chamou rapidamente.

Michel parou, sem se virar.

- Eu sugiro que você conheça meu passado.

- Não é necessário.

Com três palavras decididas, ele partiu sem olhar para trás.

...

Raquel voltou ao seu quarto e deitou-se na cama, pensando por um momento antes de pegar o celular.

Ao olhar para o celular, ela se lembrou de repente que ainda não havia transferido dinheiro para o Michel.

“Ah, deixa pra lá. Ele não parece precisar desse dinheiro assim tão urgente. Vamos considerar como uma taxa pelo meu aborrecimento emocional.”, Raquel pensou consigo mesma.

Guiada pela memória, Raquel discou um número de telefone não muito familiar:

- Advogado Luiz, aqui é a Raquel.

- Srta. Raquel, olá.

- Eu quero reaver o Grupo Via Láctea que minha mãe deixou. Tem algum problema com isso?

- Claro que não. - Do outro lado da linha, foi respondido de forma direta. - O testamento de sua mãe deixou bem claro que o Grupo Via Láctea pertence à Srta. Raquel. Sempre que você quiser, é seu.

Desde a morte de sua mãe, o Grupo Via Láctea, uma empresa de moda que sua mãe havia fundado antes de se casar, foi administrada por Cláudio, o tutor designado. Mais tarde, quando Raquel foi enviada para o exterior, o Grupo Via Láctea permaneceu sob controle de Cláudio. Posteriormente, quando ela retornou ao país com Samuel, ela planejava assumir a administração da empresa de sua mãe, mas acabou investindo muito tempo e energia lidando com a crise do Grupo Monteiro, sem tempo para se concentrar nisso, resultando em seu estado atual de abandono.

- Na ocasião, vou precisar que o Advogado Luiz me acompanhe até o Grupo Via Láctea.

- Estarei à disposição a qualquer momento. - Advogado Luiz concordou prontamente.

...

Raquel passou uma semana no hospital.

Durante essa semana, Nicolas aparecia de vez em quando, ocupando a maior parte do seu tempo. Embora ela não se incomodasse com as visitas de Nicolas, de vez em quando ela também via o Michel por causa dele.

Michel não era tão chato, na verdade.

Desde aquele dia em que ele "se declarou" e disse que ia conquistá-la, ele não tomou nenhuma ação real. Às vezes, ele até parecia invisível, como se não estivesse ali.

Ela estava começando a suspeitar se Michel não tinha falado da boca para fora naquele dia, ou se ele nem sequer sabia o que significava "conquistar" alguém!

A única coisa que ela realmente sentia como um esforço por parte dele era que ele fazia Bruno se esforçar todos os dias para entregar as refeições de maneiras diferentes, e a comida estava cada dia mais do seu gosto.

Raquel arrumou suas coisas rapidamente.

Na verdade, ela só precisava levar o celular que Michel havia dado. O resto não tinha utilidade.

- Mamãe, vou poder te ver no futuro? - Nicolas a olhou com um rosto cheio de tristeza, com um olhar relutante em sua face.

Isso contrastava fortemente com o Michel ao lado, que era como uma pessoa invisível, quase como o ar.