CristianOlhei mais uma vez a localização que Augusto compartilhou comigo no celular. Caconde, a cidade onde Betina estava, era na Serra da Mantiqueira, divisa de São Paulo com Minas Gerais, uma região que eu não conhecia. Havia impostos trabalhistas recolhidos para o registro de Betina num comércio dessa cidade, o que deixava claro que ela havia se estabelecido no local e provavelmente passava bem. Eu torceria aquele pescocinho quando a encontrasse. Como uma mulher de vinte e três anos podia sumir assim, sem dar satisfação para ninguém, ainda mais estando grávida? E provavelmente grávida de mim... Suspirei profundamente. Não, eu não podia esganar uma gestante, por mais que quisesse. Então passei a noite me organizando para partir ao endereço que me enviaram e pedi ao Augusto que não falasse ainda com ninguém sobre o paradeiro dela até que eu a trouxesse de volta para casa. Era melhor não alardear os pais dela nem os meus sem antes ter certeza de que não era um alarme falso. Ain
BetinaOs hormônios de grávida são mesmo uma droga. Traidores! Se não fossem por eles, aposto que eu não estaria cedendo tão facilmente. Desde que vi o Cristian na loja, meu coração bate descompassado no peito. Tobias não para de me chutar por causa de todo o reboliço dentro de mim. Mas eu tentei me manter plena. Sem sucesso!Cristian me seguiu até minha casa e eu estava com tantas emoções à flor da pele. Por um lado feliz, por saber que ele me procurava com afinco e ao mesmo tempo triste, pois estava realmente feliz naquela nova vida em Caconde. Então Cristian me beijou novamente. Em menos de meia hora ele conseguiu me envolver nos braços duas vezes e eu fui incapaz de afastá-lo. Eu não lembrava que a boca dele era tão deliciosa, o hálito tão fresco e sua pegada tão competente. Meu corpo parecia ter sentido saudades do contato com aquele homem que agora me envolvia de um jeito tão acolhedor que eu não queria me descolar.— Nunca fiz amor com uma grávida. Estou louco para saber com
Cristian Eu observava Betina na frente do fogão terminando o café. Nenhum de nós almoçou. Depois que fizemos amor quase não conversamos; eu fui para o banho depois dela e agora estávamos pouco à vontade um com o outro. Sempre que eu via Betina, me sentia alegre, sabia que teríamos conversas animadas e a sua companhia sempre foi bem-vinda, mas agora era diferente. Não era apenas alegria o que eu sentia ao vê-la. Meu coração parecia não caber no peito se ela sorrisse para mim e tudo que eu queria era levá-la para minha casa e a proteger de tudo. Talvez eu a amasse... Era constrangedor pensar em amar Betina quando eu não sabia os reais sentimentos dela por mim. Não queria fazer papel de idiota e por isso guardei aquela informação a sete chaves. — Café, torradas e um pouco de geleia de amora que ganhei ontem da Dona Rebeca. — Parece bom. — Eu me servi do café. A xícara era uma das poucas coisas bonitas naquela minúscula casa. — Fico imaginando como foi esses últimos meses aqui, sozi
Betina— Morar com você?Eu olhei para Cristian, perplexa. Eu não sabia ao certo como reagir. Fiquei imaginando que tipo de relação meu amigo gostaria de ter comigo. Seriamos amantes? E porque essa opção me parecia tentadora?Antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa, Cristian prosseguiu:— Pelo menos até o bebê crescer e você se organizar. O que me diz?Suas palavras me decepcionaram. Eu queria que ele dissesse algo diferente, não só por causa do Tobias, apesar que ele era o melhor motivo de todos. Ainda assim...— Eu preciso pensar. — Respondi. — Mas vou voltar para São Paulo.— Você faz bem. Quero estar perto do meu filho. — Cristian puxou a cadeira para mais perto da minha e sem pedir, colocou sua mão na minha barriga, mas eu não reclamei. — Quero participar de tudo, entende? — Sim. — Peguei sua mão e a coloquei um pouco mais para o lado — A cabeça dele está aqui, pode sentir?— Esse calombo aqui? — Ficou fascinado — É incrível. Oi, filho, o seu pai está aqui e muito em breve
CristianO domingo com Betina foi perfeito. Fizemos um passeio divertido por Poços de Caldas e por mais que eu fosse acostumado a andar por cidades europeias famosas, aquela ali, no Brasil, foi uma boa surpresa. Além disso, senti que Betina me deixou penetrar um pouco naquela couraça que ela insistia em usar quando estava comigo. Eu conseguia me enxergar formando uma família com ela e a imagem que surgia na minha mente era agradável. Claro que haveria algum estranhamento das pessoas próximas por ela ser minha ex-cunhada, mas se Betina estivesse disposta a tentar, acho que faríamos isso dar certo. Na manhã seguinte, eu acordei sozinho na cama. Chequei o celular e vi a mensagem da Betina avisando que foi trabalhar. Me recriminei em silêncio por ter adormecido tão profundamente, pois eu a teria levado ao trabalho, com certeza. Me levantei, coloquei uma bermuda e rumei para a cozinha. Como Betina podia estar tão apegada com aquele barraco feio que ela chamava de casa? Era difícil encon
BetinaVi o Cristian enfiar suas coisas rapidamente na mala, como se estivesse fugindo. Nunca o vi tão bravo, nem mesmo naquele dia na RCS quando me falou um monte de asneiras. Seu semblante era realmente diferente, era fúria pura que saltava aos olhos, a pele vermelha, a veia do pescoço ressaltada e os pelos dos braços eriçados de cólera. Pensei em tocar em seu ombro, mas tive medo de ser repelida com violência.— Eu sinto muito pelo Rick ter te confundido. Ele não sabia que teria alguém em casa e temeu por mim.— Que bom que agora você arranjou um guardião para cuidar de você, não preciso me preocupar mais. — Voltou-se para mim — Mas saiba, que apesar desse seu amante, continuo tendo meus direitos sobre o Tobias.— Amante? O Rick? — Eu repeti, incrédula — É sério? Não está bravo porque foi preso, mas porque acha que o Rick e eu somos amantes! Porque estou surpresa?— E estou enganado? Ouvi isso da boca do delegado. Ele falou: a moça grávida é namorada dele! Sabe como me senti? Um ba
CristianFoi movido pela raiva que coloquei minhas coisas no carro e saí de Caconde pisando fundo no acelerador, como se correr fosse, de alguma forma, aliviar minha alma. Eu achei que poderíamos ficar bem um com o outro. No passado nos divertimos juntos. Mesmo quando eu estava estudando em Madri, Betina não deixava de me mandar mensagens e contar as novidades.Então começamos a mudar um com o outro. Talvez quando eu voltei e ela já estava totalmente devotada ao meu irmão. Lembro que fiquei irritado por Betina não parar de falar do Robert e me perguntar sobre ele, como se eu fosse invisível. Enquanto ela era o retrato do recato na frente do cara que gostava, comigo ela conseguia ser ela mesma, rindo e caçoando de tudo.Ela costumava ter um riso frouxo.Talvez eu tenha me incomodado porque percebi que a Betina menina, que me irritava na escola, tinha crescido, se tornado uma mulher cuja visão me enchia os olhos. Talvez desde aquela época eu quisesse que ela olhasse para mim com tanta d
BetinaQuando voltei para casa e percebi que Cristian já tinha partido, senti meu chão se abrir. Porque eu estava tão decepcionada? Que sentimento era aquele? Minha boca ficou amarga e eu tentei não chorar. Me virei para Pamela, que me esperava no carro e balancei a cabeça.— Ele se foi... — Minha voz saiu num fio.— Não é o fim do mundo. Semana que vem você volta para São Paulo, não é? Lá vocês podem conversar novamente.— Talvez.Um carro passou por nós e parou. Eu vi Rick descer dele e vir em minha direção.— Cadê o cara? — Ele perguntou.— Foi embora. — Respondi.Pamela saiu do carro e passou o braço em meus ombros.— É sua culpa, Rick! Que ideia foi essa de prender o rapaz? Você não é assim!— Você vai me desculpar, mas a circunstância não foi propícia. Eu entro na casa e vejo um homem desconhecido, sem camisa e que agiu de maneira muito suspeita...— Ah vá, ele não tem cara de bandido. O carro dele estava estacionado aqui perto. Você fez isso na maldade! — Pamela insistiu.— Gen