CristianOs dias passaram, se tornaram semanas e depois meses. E eu poderia ter enlouquecido nesse meio tempo.Betina ainda não tinha voltado, os pais dela me atormentavam, os meus também e só consegui manter o meu desempenho no trabalho com a ajuda da minha secretária, que só faltava assinar no meu lugar. — Chefe. — Lisa entrou repentinamente na sala. — Aquela Suellem já ligou sete vezes hoje. Está insistindo muito. Porque não despacha ela logo?Eu nunca mais me encontrei com a Suellem desde o dia em que a dispensei no motel, mas a mulher era insistente.— Lisa, apenas dê um jeito nessa mulher. — Certo. Vou mandar essa caça tesouros para o quinto dos infernos...— Lisa!— Não com essas palavras. — Lisa riu. — Pode deixar comigo, ela não vai te ligar mais, chefe. — Então saiu.O problema não era a Suellem propriamente dita. A verdade é que desde que descobri sobre a gravidez da Betina eu não quis me relacionar com mais ninguém, meu corpo parecia ter adormecido para o sexo e sinceram
BetinaEu acordei mais cedo que o normal naquela manhã de sábado. Estava ansiosa pela última prova do vestido de noiva de uma cliente. Dona Rebeca, a costureira da loja da Pamela, era muito ciumenta com suas encomendas, mas eu consegui amolecer um pouquinho aquele coração de pedra e esse era o primeiro vestido que eu tinha feito praticamente sozinha, apenas com a supervisão dela. Naquele meu novo mundinho, era uma grande conquista e eu estava muito orgulhosa. Me olhei no espelho, arrumando os cabelos longos numa trança rápida e prática de fazer e coloquei as únicas calças decentes que ainda me serviam porque minha barriga estava enorme. O pequeno Tobias crescia cada vez mais e eu não via a hora de ver sua carinha. Já estava passando da hora de começar a comprar as coisas para ele, porém algumas roupinhas eu já havia ganhado de presente. As pessoas em Caconde eram gentis, solidárias e logo se comoveram com a jovem mãe solteira que morava sozinha numa casa pequena no final da rua. O
CristianOlhei mais uma vez a localização que Augusto compartilhou comigo no celular. Caconde, a cidade onde Betina estava, era na Serra da Mantiqueira, divisa de São Paulo com Minas Gerais, uma região que eu não conhecia. Havia impostos trabalhistas recolhidos para o registro de Betina num comércio dessa cidade, o que deixava claro que ela havia se estabelecido no local e provavelmente passava bem. Eu torceria aquele pescocinho quando a encontrasse. Como uma mulher de vinte e três anos podia sumir assim, sem dar satisfação para ninguém, ainda mais estando grávida? E provavelmente grávida de mim... Suspirei profundamente. Não, eu não podia esganar uma gestante, por mais que quisesse. Então passei a noite me organizando para partir ao endereço que me enviaram e pedi ao Augusto que não falasse ainda com ninguém sobre o paradeiro dela até que eu a trouxesse de volta para casa. Era melhor não alardear os pais dela nem os meus sem antes ter certeza de que não era um alarme falso. Ain
BetinaOs hormônios de grávida são mesmo uma droga. Traidores! Se não fossem por eles, aposto que eu não estaria cedendo tão facilmente. Desde que vi o Cristian na loja, meu coração bate descompassado no peito. Tobias não para de me chutar por causa de todo o reboliço dentro de mim. Mas eu tentei me manter plena. Sem sucesso!Cristian me seguiu até minha casa e eu estava com tantas emoções à flor da pele. Por um lado feliz, por saber que ele me procurava com afinco e ao mesmo tempo triste, pois estava realmente feliz naquela nova vida em Caconde. Então Cristian me beijou novamente. Em menos de meia hora ele conseguiu me envolver nos braços duas vezes e eu fui incapaz de afastá-lo. Eu não lembrava que a boca dele era tão deliciosa, o hálito tão fresco e sua pegada tão competente. Meu corpo parecia ter sentido saudades do contato com aquele homem que agora me envolvia de um jeito tão acolhedor que eu não queria me descolar.— Nunca fiz amor com uma grávida. Estou louco para saber com
Cristian Eu observava Betina na frente do fogão terminando o café. Nenhum de nós almoçou. Depois que fizemos amor quase não conversamos; eu fui para o banho depois dela e agora estávamos pouco à vontade um com o outro. Sempre que eu via Betina, me sentia alegre, sabia que teríamos conversas animadas e a sua companhia sempre foi bem-vinda, mas agora era diferente. Não era apenas alegria o que eu sentia ao vê-la. Meu coração parecia não caber no peito se ela sorrisse para mim e tudo que eu queria era levá-la para minha casa e a proteger de tudo. Talvez eu a amasse... Era constrangedor pensar em amar Betina quando eu não sabia os reais sentimentos dela por mim. Não queria fazer papel de idiota e por isso guardei aquela informação a sete chaves. — Café, torradas e um pouco de geleia de amora que ganhei ontem da Dona Rebeca. — Parece bom. — Eu me servi do café. A xícara era uma das poucas coisas bonitas naquela minúscula casa. — Fico imaginando como foi esses últimos meses aqui, sozi
Betina— Morar com você?Eu olhei para Cristian, perplexa. Eu não sabia ao certo como reagir. Fiquei imaginando que tipo de relação meu amigo gostaria de ter comigo. Seriamos amantes? E porque essa opção me parecia tentadora?Antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa, Cristian prosseguiu:— Pelo menos até o bebê crescer e você se organizar. O que me diz?Suas palavras me decepcionaram. Eu queria que ele dissesse algo diferente, não só por causa do Tobias, apesar que ele era o melhor motivo de todos. Ainda assim...— Eu preciso pensar. — Respondi. — Mas vou voltar para São Paulo.— Você faz bem. Quero estar perto do meu filho. — Cristian puxou a cadeira para mais perto da minha e sem pedir, colocou sua mão na minha barriga, mas eu não reclamei. — Quero participar de tudo, entende? — Sim. — Peguei sua mão e a coloquei um pouco mais para o lado — A cabeça dele está aqui, pode sentir?— Esse calombo aqui? — Ficou fascinado — É incrível. Oi, filho, o seu pai está aqui e muito em breve
CristianO domingo com Betina foi perfeito. Fizemos um passeio divertido por Poços de Caldas e por mais que eu fosse acostumado a andar por cidades europeias famosas, aquela ali, no Brasil, foi uma boa surpresa. Além disso, senti que Betina me deixou penetrar um pouco naquela couraça que ela insistia em usar quando estava comigo. Eu conseguia me enxergar formando uma família com ela e a imagem que surgia na minha mente era agradável. Claro que haveria algum estranhamento das pessoas próximas por ela ser minha ex-cunhada, mas se Betina estivesse disposta a tentar, acho que faríamos isso dar certo. Na manhã seguinte, eu acordei sozinho na cama. Chequei o celular e vi a mensagem da Betina avisando que foi trabalhar. Me recriminei em silêncio por ter adormecido tão profundamente, pois eu a teria levado ao trabalho, com certeza. Me levantei, coloquei uma bermuda e rumei para a cozinha. Como Betina podia estar tão apegada com aquele barraco feio que ela chamava de casa? Era difícil encon
BetinaVi o Cristian enfiar suas coisas rapidamente na mala, como se estivesse fugindo. Nunca o vi tão bravo, nem mesmo naquele dia na RCS quando me falou um monte de asneiras. Seu semblante era realmente diferente, era fúria pura que saltava aos olhos, a pele vermelha, a veia do pescoço ressaltada e os pelos dos braços eriçados de cólera. Pensei em tocar em seu ombro, mas tive medo de ser repelida com violência.— Eu sinto muito pelo Rick ter te confundido. Ele não sabia que teria alguém em casa e temeu por mim.— Que bom que agora você arranjou um guardião para cuidar de você, não preciso me preocupar mais. — Voltou-se para mim — Mas saiba, que apesar desse seu amante, continuo tendo meus direitos sobre o Tobias.— Amante? O Rick? — Eu repeti, incrédula — É sério? Não está bravo porque foi preso, mas porque acha que o Rick e eu somos amantes! Porque estou surpresa?— E estou enganado? Ouvi isso da boca do delegado. Ele falou: a moça grávida é namorada dele! Sabe como me senti? Um ba