Donna Reid
Viver com os nervos à flor da pele tem me deixado exausta. E só isso justificaria minha atitude segundos atrás. Como fui estupida ao tratar Charlie daquela forma. Ele tinha acabado de acordar e nem está totalmente recuperado.
Meu Deus, por que tenho que ser tão impulsiva?
Eu não estava pensando direito e com a cabeça cheia pelo que tinha acabado de ouvir do Kevin, meti os pés pelas mãos. Magoando a única pessoa que não merecia.
Idiota! Idiota! Idiota!
Atordoada pela forma como deixei Charlie no quarto, não me dei conta de Kevin se aproximando.
— Donna, me desculpe. Eu não queria ter dito aquelas coisas... Você conseguiu aflorar o meu pior lado, mas eu a amo...
O olhei surpresa, como se ele fosse um extraterrestre e fiquei chocada com sua desfaçatez. Como ele tinha coragem de vir até mim depois de tudo?
— Fique longe de mim.
— Donna, não faz assim, vamos conversar... Eu
Charlie MacAleese “Bem, eu ... Donna, eu... Não sei de que outra forma posso dizer. Eu me dei conta de que faria qualquer coisa por você. Porque estou apaixonado.” As palavras martelavam em minha cabeça. Apaixonado. Eu era um tremendo imbecil. Isso sim. Todo tempo ela falou que não devia me apaixonar. Nunca pensou em um futuro e nem em um relacionamento em longo prazo. Não posso negar que nisso, ela foi muito honesta comigo. E é claro que uma mulher como ela, teria alguém a esperando aqui. Mas o idiota aqui, inebriado de paixão e louco de tesão, não pensou nessa possibilidade. Eu que sempre fui um cara recluso, evitando qualquer vínculo emocional, fui me deixar cair na besteira de sentimentos. E o tempo todo ela só queria voltar para os braços de outro. Fechos olhos para tentar apagar aquela cena da minha memória. Embora saiba que vai ser impossível, porque dói como o inferno saber que agora el
Dias depois Donna Reid Eu já não tinha lágrimas, havia chorado por horas a fio. Quando Vick esteve aqui em casa na manhã seguinte à minha chegada, me recusei a sair da cama. Ela, muito paciente, me abraçou e acolheu meu choro que saia de forma lamuriosa e foi se acalmando até virar alguns soluços. Ela não disse nada e eu amava isso nela. Não era preciso palavras para ela saber que eu precisava do seu colo, do seu abraço e do seu carinho. Porém, um tempo depois, acabei contando o que vivi com Charlie nos últimos dias. Não omiti um único detalhe. Falei do Kevin e da tolice que cometi por covardia. Em nenhum momento vi julgamento em seu rosto, apenas compreensão. Horas depois de sua partida, tudo o que eu queria era dormir e esquecer. Mas nem que eu me esforçasse muito, eu conseguiria esse feito. Charlie estava entranhado em mim. Sob a minha pele, na minha alma. E o que eu sentia por ele, não tinha volta.
Charlie MacAleese “A situação na Guatemala continua caótica, sem previsão de resolução. Porém, agora estão sob o comando do governo que foi instituídoprovisoriamente, uma vez que o anterior foi dizimado pelas forças rebeldes. Os danos são muitos, principalmente no fornecimento de gás, o qual vinha tendo grande desenvolvimento no país. Segundo algumas reportagens, a Guatemala quebrou e conta mais do que nunca com ajuda humanitária para conseguir se reerguer. Alguns países tem unido forças nesse sentido.” A voz metálica soava de um rádio que estava em algum lugar, passando as informações caóticas do país. As lembranças me atingiram em cheio. Donna! Tento me mover e sinto uma dor no meu braço esquerdo, puxando para o meu peito e se espalhando pelas minhas costas. — Bem-vindo de volta, meu amigo — Phillipe. Reconheço de imediato sua voz. Ele me olha com a testa franzida, parece preocupa
Donna ReidTodos esses dias haviam sido um suplício. Cheguei à conclusão de que Vick tinha razão, mas aquela garota inconsequente e destemida que fui durante muito tempo, deu lugar a outra completamente insegura.Eu não deixava de pensar nele. Sabia que tinha que esclarecer as coisas, mesmo que ele não me aceitasse mais, eu tinha que contar os motivos que me fizeram ter aquele comportamento. Mas para isso, tinha que ir até ele. Porém, por mais que quisesse ir vê-lo, eu não conseguia dar esse passo.Dois dias depois daquela conversa com minha amiga, tentei falar com Pitter, mas por covardia, acabei desistindo. Hoje acordei disposta a tentar mais uma vez.— Quando Gertrudes disse que você tinha descido para o desjejum, não acreditei... — fui arrancada dos meus devaneios pela voz do meu tio. Como não digo nada, ele continua. &md
Donna Reid Num primeiro momento, não entendo nada, tem muitas caixas em um canto, mas é uma fotografia, em cima de um móvel que chama minha atenção. Nela está minha mãe e meu tio, jovens, abraçados e se olhando de forma apaixonada. — O que é isso? — pergunto me virando. — Vou contar do início, será melhor para você entender. — Eu quero entender que droga é essa aqui... — digo balançando a fotografia em sua frente. — Sente-se, Donna — diz, a pegando de mim. Se eu quiser saber de tudo, me exaltar não vai ajudar. Preciso me manter calma, por isso, aceito sua sugestão e me sento num sofá perto das caixas. Ele começa a andar pelo lugar, pensativo, com a foto nas mãos. — Conheci sua mãe quando eu estava no último ano da faculdade, ela entrando e eu saindo. Nos aproximamos e ficamos amigos, eu estava fascinado por ela, tão espontânea e atrevida. Um tempo depois, viramos namorados, foi um ano incrível e
Donna Reid Senti minha garganta se fechar com a pergunta que se formou em minha mente, e ela saiu antes que eu pudesse processar. — Você é meu pai? Disse que mamãe voltou grávida, meses depois. — Eu queria muito ser. Queria demais. Mas não! — Como pode ter certeza? — Nós não tínhamos esse tipo de relação. Não éramos íntimos. Não tinha como você ser minha, embora eu quisesse muito. — Entendo... — Naquele dia vi meu irmão depois de anos, e sua mãe também. Mas me mantive afastado da vida de vocês e como deve lembrar, eu era o tio que aparecia nas festas e datas especiais, mas apenas isso. Eu não queria forçar minha presença. Naquela noite... — ele fecha os olhos franzindo um pouco à testa e limpa a garganta com um pigarro. — Naquela noite, após muitos anos, conversamos francamente sobre tudo, os três. Seu pai também estava lá, ele se manteve calado a maior parte do tempo. Quando sua mãe terminou de
Charlie MacAleese Era bom finalmente estar em casa. — Espero que não se importe. Miuki pediu para Sarah passar aqui e dar um jeito na bagunça, limpar e abastecer a dispensa — Phillipe diz colocando as mãos nos bolsos. Não gosto de pessoas na minha casa, moro afastado para ficar longe das pessoas. Mas não vou brigar depois de terem sido tão legais cuidando de mim. — Tudo bem, desde que não vire um hábito. — Precisa socializar mais, amigo. Viver isolado por muito tempo não é bom — penso justamente o contrário. Quanto mais pessoas, mais problemas. Eu sabia bem disso. Sem responder, vou até uma bancada, pego um cheque e coloco um valor, assino e estendo para ele. — O que é isso? — Para cobrir todas as despesas que tiveram comigo esses dias e por encherem a dispensa. — Não precisa disso tudo, está maluco? Ele tenta me devolver, mas não aceito. — Vocês fizeram por mim mu
Donna Reid Desde o momento que meu tio me deu aquele envelope, eu não conseguia parar de olhar para ele. Um misto de medo e ansiedade, excitação e dúvida, se apoderou de mim. Passei o restante do dia quieta, pensativa. Voltei aquele quarto e olhei as coisas com mais calma, voltei a me emocionar com tudo aquilo. Acabei encontrando o vestido de noiva que tinha sido devolvido por minha mãe. Como meu tio deve ter sofrido e eu adicionei mais carga ao seu sofrimento com minha rebeldia. — Desculpe, não sabia que estava aí, querida — me virei para a senhora Gertrudes que estava parada na porta. — Por que ele guardou tudo isso? Por que simplesmente não jogou fora? — levantei o vestido nas mãos. — Seu tio deve ter os motivos dele. Mas ele jamais faria isso com o vestido, ele foi da sua avó e da mãe dela antes... Olhei para a peça belíssima em minhas mãos e voltei a olhar para ela. — Você esteve aqu