Donna Reid
Num primeiro momento, não entendo nada, tem muitas caixas em um canto, mas é uma fotografia, em cima de um móvel que chama minha atenção. Nela está minha mãe e meu tio, jovens, abraçados e se olhando de forma apaixonada.
— O que é isso? — pergunto me virando.
— Vou contar do início, será melhor para você entender.
— Eu quero entender que droga é essa aqui... — digo balançando a fotografia em sua frente.
— Sente-se, Donna — diz, a pegando de mim.
Se eu quiser saber de tudo, me exaltar não vai ajudar. Preciso me manter calma, por isso, aceito sua sugestão e me sento num sofá perto das caixas. Ele começa a andar pelo lugar, pensativo, com a foto nas mãos.
— Conheci sua mãe quando eu estava no último ano da faculdade, ela entrando e eu saindo. Nos aproximamos e ficamos amigos, eu estava fascinado por ela, tão espontânea e atrevida. Um tempo depois, viramos namorados, foi um ano incrível e
Donna Reid Senti minha garganta se fechar com a pergunta que se formou em minha mente, e ela saiu antes que eu pudesse processar. — Você é meu pai? Disse que mamãe voltou grávida, meses depois. — Eu queria muito ser. Queria demais. Mas não! — Como pode ter certeza? — Nós não tínhamos esse tipo de relação. Não éramos íntimos. Não tinha como você ser minha, embora eu quisesse muito. — Entendo... — Naquele dia vi meu irmão depois de anos, e sua mãe também. Mas me mantive afastado da vida de vocês e como deve lembrar, eu era o tio que aparecia nas festas e datas especiais, mas apenas isso. Eu não queria forçar minha presença. Naquela noite... — ele fecha os olhos franzindo um pouco à testa e limpa a garganta com um pigarro. — Naquela noite, após muitos anos, conversamos francamente sobre tudo, os três. Seu pai também estava lá, ele se manteve calado a maior parte do tempo. Quando sua mãe terminou de
Charlie MacAleese Era bom finalmente estar em casa. — Espero que não se importe. Miuki pediu para Sarah passar aqui e dar um jeito na bagunça, limpar e abastecer a dispensa — Phillipe diz colocando as mãos nos bolsos. Não gosto de pessoas na minha casa, moro afastado para ficar longe das pessoas. Mas não vou brigar depois de terem sido tão legais cuidando de mim. — Tudo bem, desde que não vire um hábito. — Precisa socializar mais, amigo. Viver isolado por muito tempo não é bom — penso justamente o contrário. Quanto mais pessoas, mais problemas. Eu sabia bem disso. Sem responder, vou até uma bancada, pego um cheque e coloco um valor, assino e estendo para ele. — O que é isso? — Para cobrir todas as despesas que tiveram comigo esses dias e por encherem a dispensa. — Não precisa disso tudo, está maluco? Ele tenta me devolver, mas não aceito. — Vocês fizeram por mim mu
Donna Reid Desde o momento que meu tio me deu aquele envelope, eu não conseguia parar de olhar para ele. Um misto de medo e ansiedade, excitação e dúvida, se apoderou de mim. Passei o restante do dia quieta, pensativa. Voltei aquele quarto e olhei as coisas com mais calma, voltei a me emocionar com tudo aquilo. Acabei encontrando o vestido de noiva que tinha sido devolvido por minha mãe. Como meu tio deve ter sofrido e eu adicionei mais carga ao seu sofrimento com minha rebeldia. — Desculpe, não sabia que estava aí, querida — me virei para a senhora Gertrudes que estava parada na porta. — Por que ele guardou tudo isso? Por que simplesmente não jogou fora? — levantei o vestido nas mãos. — Seu tio deve ter os motivos dele. Mas ele jamais faria isso com o vestido, ele foi da sua avó e da mãe dela antes... Olhei para a peça belíssima em minhas mãos e voltei a olhar para ela. — Você esteve aqu
Donna Reid Estava tão atordoada, me sentia tão estúpida. Cruzei a sala na velocidade da luz e naquele instante outro pensamento me ocorreu. E se ele já tinha um relacionamento e mesmo assim se declarou a mim? Não! Ele não faria isso, é um homem de caráter. Mas não quer dizer que não tenha seguido em frente, afinal, eu o dispensei. Oh, droga! Voltei para perto da escada para pegar minha bolsa, me abaixei debilmente pegando a alça na mão para sair dali. Mas como faria isso, não sabia, tinha mandado o carro embora. Nada demais, só mais uma das minhas idiotices. O ouvi me chamar, mas não parei. Perdida em divagações, voltei por onde tinha entrado e ao descer as escadas da entrada, esbarrei em alguém. — Moça, você está bem? Pensei ter ouvido um carro, mas não tinha certeza... — Eu... Oh... — senti meu corpo oscilar. — Por favor, por favor, não se mexa outra vez. Estou enjoada como se estivesse no mar
Donna Reid Joguei o cabelo para trás, reuni a pouca coragem que possuía e falei. — Eu estou aqui porque eu me encantei por você no momento em que te vi. Porque acho que você fica lindo todo marrento e estressado — esperava que ele sorrisse, mas ele não fez isso. — Eu quero você, Charlie. Eu disse em nosso último encontro o que eu pensava. Agora quero dizer o que sinto. Eu amo você. Eu sei, Eu sei... Eu nunca disse isso antes por medo ou covardia. Estava com receio e talvez, eu não quisesse sofrer, o que não mudou em nada, já que sofri todos os dias longe de você. O fato é que eu não sei mais viver sem você. Era tão improvável amor surgir entre nós, quanto água e óleo de se misturarem, mas aconteceu — ele continua me olhando, o maxilar travado como se fizesse muito esforço para se segurar. — Não vai dizer nada? — E o rapaz que estava com você no hospital? — fico sem entender e ele continua. — Eu os vi juntos. Vi tudo...
Charlie MacAleese— Por que não se deita um pouco? Você conhece o caminho. Vou preparar algo para o almoço e subo para ver como está.Ela não diz nada, vai para as escadas e sobe. Passo as mãos pelo cabelo e sinto vontade de gritar. Um filho meu e dela. Nunca pensei que algum dia teria uma família. Não antes de ela aparecer em minha vida. Vejo sua bolsa no chão e resolvo subir com ela para ver se quer vestir algo mais confortável.Assim que passo pela porta, vejo que ela está sentada na beirada cama, o rosto entre as mãos, seus ombros sacodem de leve. Me abaixo em sua frente, colocando um joelho no chão e seguro em suas pernas, ela me olha com os olhos vermelhos pelas lágrimas. Eu ainda não tinha dito que a amava, nem falei nada sobre a gravidez.— Você não quer nosso bebê? Acha que uma gravi
Donna Reid Os últimos meses foram intensos e me faltam palavras para expressar a emoção que sinto no dia de hoje. Dia do meu casamento com o homem que amo. Charlie é intenso, marrento e às vezes muito fofo, mesmo ainda tendo um ogro dentro de si. Mas com ele tenho vivido momentos inimagináveis. Nunca pensei que pudesse experimentar uma felicidade assim. Ele tem sido tão cuidadoso e carinhoso, e pensar que quase adiamos a data de hoje devido a um resfriado semanas atrás. Estávamos no Arizona, em sua casa, e, eu acordei no meio da noite sentindo muito frio... — Charlie... — Hum... — ele resmungou em meio ao sono. — Pode pegar um cobertor para mim? Estou com muito frio. — Você está ardendo em febre — disse se sentando. — Vou buscar o Phillipe... — Não precisa, está muito tarde, só pegue a coberta, vou ficar bem. — De jeito nenhum, vou ligar então... Ele pegou
Edgar Reid Hoje é o seu grande dia. O dia em que ela começa sua própria história. Eu sei que tudo correrá bem, ela planejou e trabalhou com afinco para que fosse assim. É uma emoção grande saber o quanto ela amadureceu, o quanto aquela garota mimada mudou e se transformou em uma mulher maravilhosa. Diante da porta da igreja, esperando a marcha tocar para entrar na nave com ela, e entregá-la aquele que cuidará de seu bem estar de agora em diante, um filme se passa em minha mente. Já fazia algum tempo que ela havia nascido, eu sabia disso porque mamãe fazia questão de me informar na tentativa de me aproximar novamente da família. No dia que a vi a primeira vez, acreditei que meu irmão e família estivesse fora da cidade numa viagem de férias, mas foi só um estratagema de minha mãe para me levar até ali. E ao por meu olhos no pequeno anjo, meu coração se enterneceu e ao ouvir sua doce voz, caí de amores por ela. Um simples sorriso