A tia de Cristal arqueou uma sobrancelha; os seus lábios curvaram-se numa expressão de desprezo evidente. Sabia mais do que Jarret imaginava. Antes de o enfrentar, tinha investigado todos os detalhes do incidente, revendo junto com o seu marido as gravações das câmaras de segurança do hotel. Nas imagens, o jovem que tinha ajudado Cristal a escapar era um completo desconhecido, um homem atraente e confiante. Mas, ao procurar os nomes que eles tinham registado, descobriram que eram falsos. Um dado que apenas aumentava a incerteza e agravava o peso sobre os ombros de Jarret.
—Mas dizem que ela gritava que o amava —disse ela com uma falsa ingenuidade, deixando cair a frase como um golpe certeiro, enquanto observava com prazer como Jarret cerrava os dentes, amaldiçoando em silêncio. A tia deu mais um passo em frente, deixando evidente a sua intenção de o levar ao limite. &mCristal observa Gerónimo, ainda atónita com a forma como ele descreve o efeito que aquele primeiro beijo entre eles lhe provocou. Tem um turbilhão de emoções que não consegue ordenar completamente na sua mente. Ele, que acabava de lhe confessar que tinha estado com quase todas as mulheres de Roma… ou talvez de Itália. Está a dizer-lhe que aquele foi especial. Quer acreditar nele com todas as suas forças, mas uma sombra de dúvida surge: dizia-o com sinceridade ou apenas tentava conquistá-la mais uma vez com as suas palavras hábeis e bem calculadas, típicas de um Casanova experiente? No entanto, uma faísca de alegria floresce dentro dela, que sussurra que poderia ser verdade, que ela poderia ser aquela mulher singular na vida de Gerónimo. A única. Aquela que ele descrevia com fervor, a escolhida que, segundo dizem, os Garibaldi encontravam ao conhece
Cristal não respondeu, tudo tinha sido de facto uma coincidência. Sorriu, percebendo uma verdade que estava bem diante de si, quase um milagre. Jerónimo, sem esperar mais, decidiu avançar. —Nunca tiveste curiosidade em saber quem eu era? —Talvez tivesse sido fácil fazê-lo através de Oliver. Porque não o fizeste se sentias isso? —Sim, mas vi-te apenas por um momento. A luz não era boa para te ver, e depois fugi a correr —confessou Cristal, tentando manter-se firme enquanto o olhava nos olhos—. Uma vez tentei procurar-te entre as modelos, mas ninguém soube dizer-me quem eras nem onde te encontrar. Desisti porque tinha medo que Jarret soubesse. Ele era tão controlador que nem sequer me deixava ter amizade com outros rapazes. Miserável! Era apenas um impostor… Imaginem aproximar-se de mim apenas para matar a minha família! As p
A raiva voltou a misturar-se com a dor. Cristal apertou os lábios, contendo-se. Deixava à mostra uma culpa que a perseguira até aquele instante. Jerónimo mantinha-se em silêncio, medindo cada uma das palavras que estava prestes a dizer. Não podia permitir-se precipitar-se. O seu olhar estava fixo nela, absorvendo não apenas o que dizia, mas também o que calava. Sabia que o momento de se pronunciar chegaria em breve. —Não, meu Céu, não digas isso —disse finalmente, com uma firmeza que não deixava margem para dúvidas—. Tu não tens culpa de nada. Verdadeiramente acreditaste que eles eram teus amigos, que podias confiar neles. Não é tua culpa que fossem uns traidores. Ouvistes mais alguma coisa? Enquanto observava o olhar perturbado de Cristal, que parecia mergulhar nos seus recordos, a mente de Jerónimo já alinhavava as i
Helen não respondeu. Havia algo no seu olhar que sugeria cansaço, mas também prudência; sabia que, naquele estado, qualquer palavra podia desencadear reações ainda mais intensas em Jarret. Ele, por sua vez, respirava ofegante, numa tentativa inútil de recuperar, pelo menos, uma parte da sua compostura. Dentro de si, uma tempestade sibilava: o seu ego ferido, o seu ódio à incerteza, a humilhação que ainda sentia cravada como um espinho doloroso. Cristal podia estar longe porque assim o tinha decidido, e isso, mais do que qualquer outra coisa, era o que tornava a sua raiva incontrolável. Estiveram à espera dos italianos, mas chegaram completamente bêbados, sem sinal de Cristal, e para quando os vigias se aperceberam, já tinham fugido. Apenas conseguiram encontrar uma pista: o carro em que tinham chegado e depois partido pertencia a um médico famoso que não v
Jerónimo percebeu de imediato o brilho de ciúmes nos olhos dela. Não conseguiu evitar que um pequeno sorriso se desenhasse no seu rosto; aquele brilho dizia-lhe mais do que as palavras poderiam expressar. Isso significava que Cristal sentia algo genuíno por ele, algo real. —Não vou negar que me passou pela cabeça aceitar, para que eles fossem felizes —confessou com uma honestidade desarmante, como era seu estilo—, mas graças a Deus, tu apareceste naquele dia, Céu, e lançaste-te nos meus braços. Mudaste tudo num instante. Obrigado, Cristal. Também me salvaste. O carro continuava a deslizar suavemente pela estrada, enquanto a cabana começava a aparecer ao longe entre as árvores. O ambiente entre os dois estava carregado de tensões que se entrelaçavam com emoções profundas, mas nenhum deles parecia querer libertá-las com
Jerónimo observou-a intensamente, tentando assimilar o que acabara de ouvir. Aquele detalhe ligava acidentalmente a sombria história de Cristal a algo muito mais próximo dele do que teria gostado de admitir. Respirou fundo, irado e decidido, até que se deu conta de algo. —Espera, eu conheço essa história —disse de repente, deixando Cristal completamente surpreendida—. Não me digas que estás a falar do desalmado que se meteu com a minha tia Bianca? Como é que ele se chamava? Domenico Vitale, esse miserável! Cristal olhou para ele incrédula. O seu conhecimento dos factos era limitado, apenas aquilo que a sua mãe lhe tinha contado quando regressou à sua vida. Por isso, ao ouvir Jerónimo, nascido e criado em Roma e, além disso, membro de uma família ligada ao caso, decidiu prestar atenção a tudo o que ele pudesse lembrar.
Helen não conseguiu conter-se mais. Estava exausta, não só das suas atitudes, mas também de ser relegada uma e outra vez ao papel de "a segunda". Aquela reação que tinha estado a conter finalmente explodiu. —Não quero sair de Roma! —gritou, com uma raiva contida durante demasiado tempo. Sentia que a sua própria existência estava a ser empurrada para fora de cena por alguém que nem sequer estava presente. Jarret virou-se para ela de repente. Os nervos à flor da pele e a sensação de que tudo o que tinha construído até agora estava a desmoronar-se levaram-no além do seu limite. —Estela, não me desgraces mais a vida do que já fizeste! —vociferou com tal força que a sua ira ecoou no ar como uma tempestade recém-desencadeada—. Vai para a casa dos teus pais hoje mesmo! O grito
Jarret cedeu ao convite, procurando desesperadamente maneiras de ganhar o seu favor. Observou-a fixamente e tentou sorrir. —Muito obrigado, senhora. A senhora parece-se muito com a sua sobrinha —parou antes de acrescentar—. É muito bela. Stavri deixou escapar um largo sorriso, quase caloroso, mas que não conseguiu acalmar a inquietação de Jarret. Havia algo naquela expressão que parecia terrivelmente calculado. —Todas as irmãs da minha família parecemos umas com as outras —respondeu Stavri com o mesmo sorriso, embora as suas palavras parecessem conter um duplo significado—. Mas diga-me, jovem, para que veio aqui, se é que se pode saber? —Bem… veja, senhora… —Jarret pigarreou, levando um momento para reunir os pensamentos. Bebeu um pouco mais de água, tentando controlar a tensão que crescia a cada segundo&m