O olhar de Gerónimo refletia uma mistura de fervor e ternura, como se cada palavra que estava prestes a pronunciar fosse uma promessa selada em fogo. Não havia dúvidas nele, e a sua convicção enchia o ambiente com uma intensidade quase palpável.
—Nunca duvides disso, meu Céu —disse com veemência, como se essas palavras fossem a chave para dissipar qualquer insegurança no coração dela—. A primeira vez que te beijei, perdi a cabeça. Foi a primeira vez que uma mulher me fez sentir vivo. Estremeci, senti um vazio a ser preenchido e soube, naquele instante, que eras a minha alma gémea. Segui-te, mas já tinhas partido… —Fez uma pausa, buscando o ar necessário para continuar e sustentar a profundidade da sua confissão—. Depois, não sabia como encontrar-te. Perguntei ao Oli, mas ele nem sequer se lembrava de quem eras. N&atildO detetive Colombo levantou-se com um gesto firme, disposto a retomar as suas tarefas. Os irmãos Garibaldi trocaram olhares preocupados. A guerra tinha anunciado a sua chegada iminente, e eles precisavam estar preparados para enfrentar o que fosse necessário. —Ouve, Carlos, estive a investigar aquilo que me pediste —disse Colombo antes de partir—. E é terrível o que consegui descobrir, se for verdade. O que fizeste à tua pequena filha Coral não tem perdão de Deus! Carlos, imóvel, tentava processar o que fora dito enquanto Fabrizio o fulminava com o olhar. —Do que estão a falar? —perguntou, com o tom protetor que sempre usava ao referir-se aos seus sobrinhos, os seus próprios filhos em tudo menos no nome. —Da famosa escola para a qual o Carlos enviou a Coral na Alemanha —replicou Colombo com seriedade. Fabrizio fra
Gerónimo mal conseguia processar o que estava a ouvir. Os medos, as dúvidas, as noites de busca desesperada, tudo parecia dissipar-se naquele instante, substituído por uma verdade que ambos partilhavam sem reservas.—Oh, Céu, meu Céu! Tu não sabes o quanto precisava de ouvir isso —exclamou Gerónimo, envolvendo-a num abraço ainda mais profundo, como se quisesse alcançar o mais íntimo do seu ser—. Eu também, durante todo este ano, sonhei contigo, desejei-te e senti a tua falta. Por isso, quando te vi ontem a atravessar assim, tão linda, à frente do meu carro, enlouqueci. Acabei de registar oficialmente o nosso casamento aqui em Itália, para assegurar que ninguém possa obrigar-me a casar-me com outra pessoa.Cristal olhou-o nos olhos, surpreendida e comovida por aquela confissão que não esperava, mas que a enchia de felicidade.—&
Stavri observava o marido com atenção. Havia algo na intensidade do seu olhar que a inquietava, mas, ao mesmo tempo, sentia que devia manter-se firme. Nunca o tinha enfrentado diretamente; sempre preferira evitar os conflitos. Contudo, desta vez era diferente. Tinha claro que não permitiria que ele voltasse a tomar decisões que prejudicassem a sua filha.Ele permanecia sentado, silencioso, como se avaliasse cada um dos seus movimentos. Ela, sem dizer mais nada, aproximou-se com calma e serviu-lhe um café, tentando equilibrar a tensão que pairava no ambiente.—Vais terminar de me contar o que a menina te disse? —perguntou finalmente, tentando manter uma calma que não lhe era totalmente natural—. O que é essa história de que se casou? Com quem? Ela contou-te?Stavri demorou um momento antes de responder, medindo as palavras. Não queria que o seu tom de voz deixasse transparecer d&uac
Cristal ficou em silêncio por um momento, deixando que a ideia se firmasse na sua mente. Era perfeito. Não apenas cumpriria o isolamento de que precisava, mas também sentia um alívio ao pensar que seria um lugar afastado e tranquilo, longe de tudo. —Uma cabana? —repetiu, quase como se não pudesse acreditar—. Adoraria. —Então vamos! —decidiu imediatamente Gerónimo, embora um detalhe o travasse por um instante. Olhou para o relógio e depois para Cristal—. Não sei onde poderíamos encontrar roupa para ti a esta hora. —Não importa —interrompeu ela com um tom prático, sentindo-se um pouco mais segura ao ver a disposição dele em resolver qualquer inconveniente—. Acho que as que o teu irmão comprou são mais que suficientes. Além disso, se precisarmos de algo mais, podemos ir &agra
Carlos baixou completamente a cabeça. A culpa e o medo envolviam-no, deixando-o sem espaço nem vontade para tentar responder. A sua voz, completamente quebrada, mal foi audível. —Perdoa-me, irmão. Eu… a sério pensei que estava a fazer o correto por ela. Pensei que a estava a proteger. Nunca imaginei... —As palavras ficaram suspensas no ar, incapazes de apagar o fogo que havia acendido. Fabrizio fechou os olhos por uns instantes, tentando conter a fúria que o consumia. Mas a sua resolução não vacilou nem por um segundo. Resfolegou, afastando-se do irmão mais novo para não o matar ali mesmo. Sentou-se atrás da sua secretária enquanto falava friamente: —Eu nunca concordei, mas não era o chefe da família na época, e tu conseguiste convencer o pai. Mas juro-te, se lhe tiverem feito algo, não sei o que vou fazer
Depois de finalmente sair de casa dos sogros, tinham percorrido a cidade sem rumo por algum tempo. Quando pararam em frente à loja do amigo do Gerónimo, Cristal sentiu uma inquietação instalar-se no seu peito. O seu olhar nervoso procurava ao redor para se certificar de que ninguém a pudesse ver. — Gerónimo, não quero comprar nada agora, estou mesmo muito cansada — desculpou-se Cristal. — Querida, será só um momento. Escolhe o que quiseres, eu pago e vamos embora — insistiu Gerónimo com um sorriso, ignorando a falta de ânimo dela. — Não, amor. Melhor pede-lhe que me mande o catálogo. Eu encomendo online e amanhã vens buscá-lo, está bem? — respondeu ela, deixando transparecer o rubor que tingia as suas bochechas. Uma desculpa, uma tentativa subtil de não sair do refúgio que era o carro ou, melhor ainda, de ir para casa. — Amor, dói-me um pouco... lá em baixo... — acrescentou envergonhada, esperando que Gerónimo cedesse. A reação dele não se fez esperar; a sua expressão mudou de
As palavras impactaram Cristal como uma onda gelada. Olhou para Gerónimo com uma expressão de terror e esperança. — Amor! Dissemos que primeiro iríamos conhecer-nos! — exclamou, nervosa. A simples menção de um casamento formal, unida à proximidade de uma lua-de-mel, fez-lhe perceber o quão rápido tudo estava a avançar. Precisava de retomar o controlo, pensar com clareza antes de se deixar levar pelos sonhos românticos de Gerónimo. Procurando ganhar tempo e mudar o foco, decidiu aceitar a parte prática da situação. — Está bem — disse, olhando para Gerónimo como se estivesse a fazer um acordo —, compra-me uma dessas pílulas. Ou, melhor, mais de uma para ter de reserva. E preservativos para ti, querido, até eu poder ver um ginecologista. Gerónimo olhou-a, um pouco surpreendido com a determinação que acabava de mostrar. Ela, por sua vez, relaxou um pouco ao ver que a sua proposta tinha sido bem recebida, ainda que não conseguisse livrar-se do peso das palavras "família" e "casam
Mira hacia a frente, confusa com o que acaba de descobrir. O seu irmão ama-a loucamente, disso não tinha dúvidas. Mas a localização do seu apartamento enchia-a de perguntas. Deve existir uma explicação para que ele fizesse isto. Ou talvez o tenha feito para que os seus pais não fossem procurá-la ali? Essa seria uma boa explicação. — Sim, se te referes ao branco que se vê ali, é do meu tio Fábio — respondeu-lhe Gerónimo, apontando para um edifício elegante e bonito. Sim, é exatamente esse que aparece nas fotos que o seu irmão lhe enviou. — O mundo é pequeno — disse pensativa —. Então o meu apartamento pertence ao edifício de um tio teu. — Está bem, estarás segura aqui — disse Gerónimo, soltando um suspiro de alívio ao estacionar em frente ao edifício —. Vou deixar-te aqui e vou ver o que se está a passar. Depois volto, querida, mas não saias daqui, está bem? Cristal olhava-o com receio e desconfiança. As palavras que o detiveram saíram dela quase sem pensar: — Amor, não digas