Gerónimo, concentrado na conversa ao telefone, troca algumas palavras breves que parecem confirmar o motivo da chamada. Cristal, entretanto, continua imersa no seu mundo de pensamentos. Move-se próximo a ela com aquela segurança que parecia intrínseca em cada um dos seus gestos, enquanto mantém a conversa ao telemóvel. Cristal sente que as suas palavras anteriores carregam um peso que não pode ignorar. Este homem, o seu marido, continua a ser um desconhecido, uma mistura de segredos, um enigma que a lançou num turbilhão do qual não tem a certeza se quer encontrar a saída ou render-se completamente ao desconhecido. —É o meu irmão —menciona Gerónimo brevemente, sem desviar a atenção da chamada. —Como se chama o teu irmão? —pergunta Cristal, ansiosa por saber mais sobre a sua vida. —Guido —responde com naturalidade, antes de voltar a dirigir a sua atenção para o telefone—. Sim, o meu irmão. Já chegaram? Está bem, vou em uma hora. Claro, obrigado, sei que te devo uma. Desliga a ch
Cristal falava enquanto lhe dava as costas. Nunca tinha sido boa a mentir diretamente, e sentia que não podia fazê-lo com ele. A forma como a olhava fazia-a pensar que, a qualquer momento, ele poderia descobrir tudo. Não seria melhor contar-lhe agora? Não, se o fizesse, ele deixá-la-ia, e o seu pai obrigá-la-ia a casar-se com aquele homem odioso. Melhor não dizer nada. —Ok, não te zangues. Não tenho problemas com isso. Não importa se és da família dos nossos inimigos. Eu nunca te deixarei, percebes? És a minha esposa e quero que confies em mim! —Gerónimo voltou a agarrá-la e deu-lhe um beijo nas bochechas. Ela corou e riu, mas decidiu arriscar-se a saber um pouco mais. —Serias capaz de continuar casado comigo, mesmo que eu fosse filha do teu pior inimigo? —perguntou ela num murmúrio temeroso. —Sim, desde que
Coral ficou a observar fixamente Maximiliano. Os olhos dele brilhavam felizes, cheios de esperança. E percebeu que, apesar do que todos diziam, ele amava a sua prima Fiorella; podia ver o seu amor no fundo dos seus olhos tricolores. Por isso, decidiu contar-lhe a verdade e ver se realmente a podia esquecer.— Sim, ela amou-te, como te disse, Maxi — assegurou com firmeza. — Mas agora ama loucamente o marido. O amor deles também é estranho.— O que queres dizer? — perguntou Maximiliano, atento.— Ela apaixonou-se por ele na universidade; via-o de longe, de costas. Tornou-se no seu amor platónico, depois de que tu lhe gritaste aquilo no casamento. Acho que precisava de encher o vazio que deixaste — continuou Coral com sinceridade.— Que estúpido fui! — exclamou Maximiliano.— Sim, foste, Gatinho. Mas ao que ia, depois de começar a apaixonar-se por Salvatore Rossi, decidiu dar-se uma oportunidade com ele e esquecer o seu amor platónico da universidade. Foi então que ambos descobriram que
Cristal vestiu-se com um traje de saia muito elegante que Guido comprou. Ela admira o bom gosto que ele tem e como adivinhou o seu tamanho em tudo, até nos sapatos. Deixa o cabelo solto; pelo menos, cobrirá parte do rosto, pensa. Olha para Gerónimo, que se vestiu com um impecável fato preto. O seu coração acelera; o seu marido é lindo, muito lindo, e ela sorri feliz. Sente-se como se nunca tivesse estado apaixonada antes, não consegue compreender. Como é que Jarret saiu tão rapidamente do seu coração?Agora que vê o seu marido aproximar-se, está convencida de que está perdidamente apaixonada por ele. Finalmente entende as loucuras que as suas amigas diziam. O seu estômago enche-se de borboletas, o coração salta descontrolado, sente as suas faces aquecerem, os joelhos fraquejarem, e olha para ele hipnotizada, sem conseguir desviar o olhar. É tão lindo.—Esse olhar quer dizer que gostas do que vês, Céu? Porque eu adoro o que vejo —diz Gerónimo de forma sedutora, aproximando-se de Crista
A mãe da Coral, ao ouvi-la, pegou na jarra das suas mãos enquanto lhe assegurava que o encontraria. Era jovem e bonita, tinha uma vida pela frente e estava certa de que o encontraria. — E quando o encontrares, agarra-o e não o largues, não importa quem seja — pediu-lhe com veemência e acrescentou —. Eu vou ajudar-te a ser feliz, Coral; nunca mais deixarei que o teu pai te imponha algo, filha. — Não importa, mãe, já é passado — tentou minimizar o facto de que o pai a tinha enviado para a Alemanha para uma escola militar. — Importa sim, filha! — exclamou a mãe, que tinha sido enganada nesse sentido e estava furiosa. — Vê lá mandarem-te para uma escola militar. Se eu soubesse antes, tê-lo-ia proibido. Tinha-te tirado de lá. Só agora fico a saber. Deviam ter-me contado, filha! Pesquisei informaç&o
Cristal observa Gerónimo, tentando decifrar se o que ele lhe disse é verdade. As palavras "toda Roma" ainda ressoam na sua cabeça; pareciam uma exageração... um impossível. Estaria ele a gozar com ela? Mas a firmeza com que fez a sua promessa e a honestidade que emana da sua voz conseguem acalmar as tormentas que se agitam no seu interior, embora não por completo. Quer acreditar nele, precisa disso. Todo o seu ser está envolvido num turbilhão de emoções.Os olhos de Gerónimo parecem limpos, sinceros, algo que pesa nos pensamentos de Cristal. Ele está a oferecer-lhe a verdade, mesmo correndo o risco de provocar rejeição, enquanto ela se cala. Ela guarda um segredo. A vulnerabilidade que sente ao mentir-lhe sufoca-a; nos seus lábios está a verdade que gostaria de confessar, mas o medo de que tudo colapse, de que ele a deixe, é mais forte. Fica calada, pres
Coral saiu sem dizer nada a ninguém. Estavam todos ocupados a tomar banho e descansar da viagem. Subiu para o carro e proibiu Vicêncio de a seguir. Ele tinha-se tornado numa sombra para ela; embora tentasse impedir que a seguisse, ele encontrava sempre a maneira de o fazer. Mas hoje queria encontrar-se a sós com Maximiliano. O que terá ele descoberto?Parou o carro quando estava longe de casa. Ligou ao seu Gatinho. O toque soou várias vezes, mas ele não atendeu. Ficou desesperada; não gostava que a enganassem. Esperou cinco minutos e voltou a ligar. Estava no território dele quando sentiu que alguém batia no carro por trás. Olhou pelo espelho retrovisor e viu cinco indivíduos a aproximarem-se, no exato momento em que o seu Gatinho atendeu a chamada.—Thea mu, vem para o meu apartamento; enviei-te a chave numa mensagem. Surgiu algo urgente, mas espera por mim lá —disse-lhe de imed
A última afirmação de Gerónimo ressoou na sala, deixando-a desprovida de qualquer eco. De seguida, tirou o certificado de casamento do bolso interior do seu casaco e estendeu-o ao pai, com movimentos precisos que refletiam tanto orgulho como irritação. Giovanni pegou no documento e examinou-o em silêncio, os seus olhos alternando entre as letras impressas, o rosto de Gerónimo e, brevemente, o de Cristal. A tensão na sua mandíbula denunciava que ainda não conseguia encontrar uma forma de processar aquilo. Finalmente, passou-o a Rosa, que o pegou com a mesma parcimónia. Ela leu-o com um olhar inabalável, sem que a sua expressão revelasse nada no início. Depois, o olhar de Rosa fixou-se em Cristal pela primeira vez, inquisitivo e firme, como se procurasse algo escondido no silêncio da jovem. —Cristal Evanguelidi? És grega? —perguntou R