Estou quase adormecendo nos braços de Alexander. Estamos na mesma posição há quase uma hora. Ele se ajeitou no sofá da sala, me aconchegando em seus braços, uma de suas mãos acariciando meus cabelos de forma suave e gostosa.Minha cabeça já não dói mais como antes. Alguns minutos atrás, Rodolfo me trouxe um remédio, e Otávio pediu para não sairmos por enquanto. Ele quer ter certeza de que estaremos seguros lá fora.– Como você se sente? – Olho para Alexander e posso ver a preocupação em seu olhar.– Com sono.Ele beija minha testa, um hábito gostoso que ele adquiriu. – Vamos para casa. Você precisa descansar.Olho para a porta, temerosa. Eu não me sinto segura para sair desta sala.– Helena. – Volto minha atenção para ele. – Vai ficar tudo bem, não se preocupe.Olha só como as coisas são. Eu sempre tenho uma palavra de conforto para lhe entregar, sempre digo a ele que, não importa o que aconteça, no final tudo ficará bem. E agora estou aqui, recebendo dele as palavras de conforto, só
Quando eu conheci Helena, ela tinha 14 anos. Estava linda em seu vestido rosa, que se agarrava ao seu corpo de ninfa extremamente perfeita. Seus cabelos negros longos e sedosos brilhavam sob a luz do sol, e seu sorriso iluminou meu dia de tal maneira que me fez perceber que eu precisava dela para continuar neste maldito mundo.Propus ela em casamento sem pensar duas vezes e, para minha total alegria, ela e seus familiares aceitaram.Nos conhecemos pessoalmente no jantar de noivado no mesmo mês. Conversamos sobre coisas bobas e fiquei encantado ao descobrir o quanto nós dois tínhamos em comum. Éramos almas gêmeas, eu não tinha dúvida disso.O tempo passou e veio a festa de 15 anos, onde ela me confidenciou que gostava de mim e estava ansiosa para o nosso casamento. A partir daquele momento, comecei a trabalhar duro para ter um futuro com ela. Helena me contou que seu sonho era ter uma casa no Alasca, cidade na qual sua mãe nasceu.Ela queria passar finais de ano lá, e eu, como um bobo
– Saia do carro, Helena. Não me faça repetir.– Yago, por favor, deixe-me ver como ele está. – Ela tenta tirar minha mão do seu braço, mas eu só aperto mais.Foda-se, eu quero que ele morra.– Cala a maldita boca e saia desse carro, Helena.– Yago...Não deixo que ela termine. Agarrei-a e puxei para fora do veículo, mas ela estava presa ao cinto. Peguei minha faca, cortei o cinto e a puxei para fora do carro. Ela se debateu, perdendo os sapatos no caminho. Joguei-a no chão, frustrado.– Você não vai me obedecer, não é? – Peguei minha arma e voltei em direção ao carro do maldito Gambino.– O que você vai fazer? – Ela questionou, ainda caída no chão.– Vou dar um tiro na cabeça daquele desgraçado, ajudá-lo a morrer mais rápido.– Não! – Ela gritou, jogando-se em minhas pernas, tentando me impedir.Uma fúria enorme me atravessou. Essa maldita tem a coragem de implorar pela vida de outro homem.– Eu vou com você, faço o que você quiser, só o deixe, o deixe assim.Observei o carro em que e
Chegamos ao local do acidente 20 minutos depois da ligação de Helena. Encontramos a polícia, o corpo de bombeiros e a ambulância no local.Olhei para Otávio, sinalizando para ele ir falar com os policiais, ele sendo advogado que resolva esses problemas.Saio do carro às pressas para chegar onde estão Alexander e Helena.— Senhor. — Um dos policiais entra na minha frente. — Ninguém pode passar sem autorização.— Eu sou irmão da vítima. — Dou um passo à frente, me aproximando dele. — Vai me proibir?Ele dá um passo atrás e eu passo sem olhar para ele. Dane-se todos eles!Cheguei quando os bombeiros estavam tirando Alexander do veículo. Ele tinha um corte na testa e muito sangue nas pernas e camisa, estava desacordado. Sinto algo me remoendo por dentro, meu irmão não merecia passar por isso.Entre nós três, Alexander sempre foi o mais compreensivo, o mais calmo, o mais perspicaz. Um bom líder, um ótimo irmão, um excelente pai e, como dizia Luiza, um extraordinário marido. Ele sempre soub
Mantenho a velocidade do carro reduzida, isto dará tempo para que Helena descanse um pouco, já que ela quer passar o restante da noite no hospital.São exatamente 2:30 da manhã. Sei que ela não conseguirá dormir depois de tudo que ocorreu.Olho para ela. Ela se encontra de olhos fechados, seus dedos ainda agarrados ao paletó, mas sei que ela não está dormindo porque sua respiração está agitada.Sou despertado pelo barulho do celular e atendo ao segundo toque.— Rodolfo Gambino.— Senhor, chegamos no local marcado.Antes tarde do que nunca, penso.— Reboquem este carro para o galpão. — Vejo Helena abrir os olhos e me encarar.— Tem um homem aparentemente desacordado dentro.— É lógico que tem. — Suspiro frustrado por ter que explicar o básico. — Apenas peguem a porra do carro e retirem-no da estrada. Quero este veículo no galpão e ninguém tem a permissão de encostar nele até eu chegar.— Sim, chefe.Desligo. Eu não tenho o mínimo de paciência com alguns homens que trabalham conosco.—
Chego no galpão e vejo o espetáculo. O velho Leopoldo está acorrentado entre duas barras de ferro. Eu não gosto de torturar enquanto estão sentados, não tem graça, e outra: por que eu daria tanto conforto a um traidor?Ele se encontra enfiado até a cintura em um barril de gelo, o que o faz tremer descontroladamente. Tenho certeza de que foi Otávio quem deu a ordem; ele adora dar choque térmico nos prisioneiros.– O carro?– Nos fundos, Senhor.Caminho até a área externa no galpão. De longe, vejo o carro de Yago.– Alguém abriu o veículo?– Não, Senhor. Seguimos conforme às ordens.Caminho o mais rápido que posso e abro a porta do motorista. O corpo de Yago cai ao chão. Há muito sangue em sua camisa, um tiro em sua testa e seus olhos estão abertos. Sorrio para a cena.Lembro-me bem que, no dia do casamento de Alexander, Helena me disse que ela seria a mulher que meteria uma bala na cabeça de Alexander e também na minha. Realmente, minha cunhada sabe dar um belo tiro na cabeça. Tenho qu
Eu não consigo dormir. Todas as vezes que eu fecho os olhos eu vejo Yago, o sangue escorrendo pelo seu rosto e ele de olhos abertos, olhando para mim.Antes de atirar, eu consegui ver uma centelha do homem que conheci, do homem que amei. Não me julgo pelo que fiz, se eu voltasse atrás faria tudo de novo, só que dói... dói ter passado pela situação em que passei, dói saber que quase perdi tudo que consegui construir nesses últimos meses, e por mais que eu tente me libertar dessa dor, eu não consigo.Queria que Alexander estivesse aqui. Tenho certeza que ele conseguiria acalmar minhas tempestades. Será que essa é a sensação quando quase perdemos tudo? O medo e a culpa que me consomem não me deixam enxergar a realidade da situação. Se eu for mais a fundo na história, irei descobrir que a culpa não é minha. Porém, quanto mais penso, quanto mais tento ser forte, mais o jugo da culpa me consome.Tenho medo que Alexander não acorde. Tenho medo de que, quando ele acordar e descobrir como Yago
Eu estava em um labirinto, e era como se eu andasse em círculos porque, por mais que eu tentasse, não encontrava a saída. Uma névoa muitas vezes cobria o lugar, fazendo com que minha mente se confundisse ainda mais.Até que escutei ao longe a risada dela.Fiquei parado, quieto, tentando localizar a direção daquele som. Depois de alguns minutos, outra risada, e eu entendi onde estava. Fechei meus olhos com força e logo após os forcei a abrir. Uma luz forte atingiu minha visão e o som de um bip pôde ser ouvido.Fechei novamente meus olhos para me concentrar no lugar onde estava, e alguns segundos depois percebi que estava em um hospital.Um maldito hospital.Eu odeio hospital.Abro meus olhos novamente e a luz do local já não me afeta tanto. Então eu a procuro e encontro uma sala vazia. A porta está entreaberta e posso escutar a voz suave dela vindo do lado de fora, porém eu não chamo ninguém. Preciso colocar minha mente para pensar.Minhas últimas lembranças são de quando eu estava no