Quando todos saem, Giovanni pede para falar comigo. Fico sentada, observando a porta se fechar atrás deles. Algo no semblante do meu primo me incomoda profundamente. Seu olhar fixo em mim carrega um misto de seriedade e algo mais sombrio que não consigo decifrar.– Precisamos ter uma conversa séria.– Eu não quero discutir nem ouvir sermão de você. – Minha voz sai firme, mas o incômodo cresce. Nos últimos dias, nossas interações têm sido tensas, e hoje eu faço uma promessa silenciosa a mim mesma: a partir de agora, não vou tolerar a grosseria dele.– Não iremos discutir, a não ser que você defenda Paulo.Ao ouvir o nome do meu pai de criação, sinto um aperto no peito. Não sei o que é pior: o som do nome dele ou as memórias que esse nome traz à tona. Sempre que penso em Paulo, é como se uma onda de água suja me atingisse, me sufocando. E, com essas lembranças, vem a culpa pelo que fiz com Otávio.– Prometo ouvir calada.– Perfeito. – Giovanni se levanta e vai até um cofre embutido na p
– Essa pasta... – Giovanni levanta a pasta em minha direção, entregando-a com um olhar sério. – É a escritura da fazenda no Texas, a mesma que Otávio comprou e colocou em seu nome.– Como isso foi parar nas suas mãos? – Pergunto, minha mente em turbilhão, tentando processar o significado disso tudo.– Ele me entregou às duas da manhã, no mesmo dia em que foi com você até Ren. – Giovanni fala devagar, sua voz tensa. – Ele disse que, se algo acontecesse a ele, era para eu garantir que você estivesse segura, longe da máfia.Sinto um aperto no peito, minha respiração ficando irregular.– O que exatamente ele te disse? – Minha voz quase falha, mas insisto, incapaz de ignorar o peso dessas revelações.– Isso não importa. – Giovanni responde com firmeza, mas há algo no tom dele que o contradiz.– Claro que importa! – Grito, incapaz de conter a onda de emoções que me toma. – Ele confiou isso a você! Eu preciso saber o que ele disse! Por favor!Giovanni suspira profundamente, seus ombros caind
Com as mãos tremendo, abri o envelope que continha as informações sobre Paulo. Não consegui passar nem da terceira página. Estupro, venda de mulheres, corrupção… As palavras pareciam pular do papel como lâminas afiadas. Como eu não vi isso antes? Eu só enxergava o pai de família que chegava em casa bêbado, depois de uma noite em uma casa de jogos de azar. Eu era verdadeiramente uma estúpida por nunca ter questionado as sombras que o cercavam.Fecho a pasta com um movimento brusco, deixando-a de lado como se pudesse afastar a verdade cruel que agora parecia me sufocar. Meu olhar recai sobre a pasta de Otávio. Com um misto de hesitação e saudade, abro-a. A primeira coisa que vejo é a nossa certidão de casamento. Meu coração aperta, e um suspiro pesado escapa. Passo o dedo sobre o nome dele, sentindo uma saudade que jamais havia sentido antes, uma dor que invade cada parte do meu ser. É inevitável não pensar: Se eu tivesse descoberto toda a verdade antes, como estaríamos agora?As próx
Quatro meses depois...Quando o avião tocou o solo do Texas, foi como sentir um pequeno fragmento de casa se aproximar novamente. Embora Nova York ainda estivesse fora do meu alcance, estar de volta em solo americano já era uma bênção que eu não esperava tão cedo. O vento quente, carregado de liberdade e promessas, acariciava meu rosto enquanto o carro seguia pelas estradas largas em direção à fazenda.Ao chegar, meus olhos foram atraídos para a casa principal, uma construção imponente que mais parecia uma mansão. A fachada rústica e elegante exibia detalhes em madeira polida e pedra, irradiando uma combinação de força e aconchego. O caminho até a entrada era ladeado por árvores altas que se moviam suavemente ao ritmo da brisa, quase como se me dessem as boas-vindas.Assim que desci do carro, senti a grandiosidade do lugar me envolver. O ar era puro, carregado com o aroma inconfundível de terra fértil, grama recém-cortada e flores silvestres. A vastidão da propriedade era tão imensa
— Любовь.A voz dele cortou o silêncio, e quando me virei, lá estava Otávio, com aquele sorriso que parecia capaz de iluminar toda a minha escuridão. Por um momento, senti que o mundo parava, deixando apenas nós dois ali.Caminhei em sua direção, meus passos hesitantes, mas o coração acelerado. Ele abriu os braços, e sem pensar, me aninhei contra seu peito. Seu abraço era caloroso, reconfortante, e um suspiro de satisfação escapou dos meus lábios enquanto eu sentia seus braços me envolvendo com força.— Quero lhe fazer uma pergunta — murmurei, levantando o olhar para ele.Acho que chegou a hora de contar.Otávio inclinou a cabeça ligeiramente, um sorriso curioso brincando em seus lábios.— Pergunte, любовь.Toquei seu rosto suavemente, permitindo-me um momento para admirar cada detalhe dele antes de prosseguir.— Entre o sol e o arco-íris, qual você prefere?Ele franziu o cenho, claramente surpreso pela pergunta, e eu rio baixinho ao vê-lo ponderar.— Hmm... é uma escolha difícil — el
Um mês depois...Deitada na maca do consultório, meu coração parecia correr uma maratona. A ansiedade me consumia enquanto a doutora Márcia ajustava o equipamento para o ultrassom. Francesco estava ao meu lado, observando tudo com atenção, e, apesar de tentar manter uma expressão séria, era evidente que ele estava tão ansioso quanto eu.— Pronta? — perguntou a médica, lançando-me um sorriso tranquilizador.Assenti, respirando fundo, enquanto o gel frio tocava minha barriga. Meus olhos se fixaram na tela, e o som rítmico do coração do bebê encheu a sala. Era a música mais linda que já ouvi, e senti meus olhos marejarem instantaneamente.— Tudo está perfeito — disse a doutora, enquanto movia o aparelho pelo meu abdômen. — Seu bebê está medindo cerca de 34 centímetros e pesa 1,1 quilos, exatamente dentro do esperado para 27 semanas de gestação.Cada detalhe parecia mágico, desde o tamanho até os movimentos visíveis na tela. Saber que minha pequena já estava tão crescida e saudável preenc
Eu me encontrava em um lugar estranho, mas surpreendentemente reconfortante. No início, parecia um refúgio, um pequeno canto isolado onde tudo era simples e calmo. Cada manhã, eu acordava em uma cabana de madeira, cercado por uma mata densa, o cheiro da terra molhada no ar, o som dos pássaros, o frescor da manhã. Havia uma paz ali, algo que me fazia sentir em casa, como se eu estivesse em um lugar onde nada pudesse me atingir.Mas com o passar dos dias, algo não se encaixava. Havia sempre uma sensação de vazio, um espaço aberto dentro de mim, como se estivesse faltando uma peça do quebra-cabeça. Todos os dias, eu sentia como se algo importante estivesse fora do meu alcance. A perda, essa sensação, era cortante. Era como se eu estivesse o tempo todo à beira de encontrar algo fundamental, mas nunca chegava lá. Algo faltava. Algo que me consumia.Será que estou maluco?Me pegava pensando às vezes. Eu me perdia em meus próprios pensamentos, sem saber o que estava acontecendo. Mas, por ma
Depois de algumas horas sendo avaliado e mal conseguindo responder algumas perguntas, finalmente vejo dois rostos familiares. Alexandre e Rodolfo entram, e a primeira coisa que percebo é que não são só os médicos que estão exaustos. — Eu juro por Deus que, se tu tivesse morrido, eu ia no inferno e te batia. – Rodolfo fala assim que se aproxima. Bem, essa é a maneira do meu irmão mostrar que sentiu minha falta. — Fala menos. – Alexander o adverte, com um tom de autoridade. — O que? Você também estava preocupado. – Rodolfo provoca. — Eu estava. – Ele me olha com seriedade. – Como se sente? Eu respiro fundo para tentar responder, mas as palavras não saem corretamente, por mais que eu me esforce. Tenho tantas perguntas, mas as engulo, como o médico me instruiu. Ele disse para eu não me esforçar muito, que isso ajudaria na minha recuperação. Tento obedecer, porque o que eu mais quero agora é sair dessa inteiro. — Bem... – a palavra sai arrastada, mas é a única que consigo dizer. Al