A lâmina rasgava o ar em sua direção e o cavaleiro a reprimia com todo potencial de seus ombros severamente largos. Sob o elmo, seus intensos olhos verdes ardiam como brasas enquanto avançava contra o adversário montado em seu cavalo negro como a noite. Não lhe via o rosto, sua respiração estava rápida e havia inúmeros cortes em sua cota de malha, por onde um rastro de sangue se lançava ao aço.
Qualquer pessoa em sã consciência esperaria pouco da luta, ao homem restava apenas pouco tempo de vida. Era certo. O senhor do cavalo o fitava atônito, como se encarasse um oponente imaginário. Efetivamente, não sabia de onde o cavalheiro havia surgido, seguia aquela estrada para se unir aos companheiros na Bavária. Jamais suporia que um inimigo se atiraria contra ele, sem qualquer precaução.
De início, não levara a abordagem como um embate. Tentara, com diminutos golpes, persuadir o oponente a abandonar a luta, se nem montava um cavalo. Contudo, seu adversário estava mais empenhado em prolongar aquele contratempo do que ele julgara. Com um manejo eficiente da espada, o andarilho já o pusera numa considerável desvantagem várias vezes, provando seu valor. Ainda assim, enfrentar Lucius Aurelius1 requeria uma maestria em combate que seu promissor opositor estava longe de ter.
Vendo o jovem urrar diante de seu último golpe, Lucius retirou o elmo de sua cabeça. Seus cabelos escuros caíram por seus ombros como cascatas e seus olhos, de um azul claríssimo, encararam os verdes pela abertura. O cavalo refutou diante do afrouxo em suas ancas, mas as mãos fortes de seu condutor mantiveram as rédeas curtas sob as luvas.
— Não é um dia bom para morrer, meu amigo — sugeriu ao homem, que ofegava. O rosto voltado ao chão.
— O que quer nessas terras que não são suas? — indagou o oponente com decisão em sua voz.
— Apenas devo passar por elas... — Observou-o curioso, jurava que fizera mais cortes do que os que via. — Isso o incomoda de alguma forma? — devolveu irônico.
— Um pouco... — O rosto do homem foi erguido até o dele e seus olhos, não mais verdes, brilhavam em rubros. — São terras amaldiçoadas! Nunca ouviu as lendas?
A intrigante criatura em que se transformara despertou-lhe a curiosidade.
— A minha existência, por si só, nega a natureza pagã de suas crendices — determinou sem recuar seu animal um centímetro, ainda que este relinchasse seguidas vezes.
— Não são crendices... — sibilou, arrancando o elmo e a cota de malha juntos. Seus cabelos surgiram louros e fartos contra a pele clara. Seus traços perfeitos não denunciavam sua idade. Seu dorso era moldado com barreiras sólidas de músculos, sem cortes. Um mínimo arranhão se quer, e bastou um único movimento para sua mão estar contra a garganta do homem, retirando-o do cavalo.
Lucius se debateu contra o potencial do ataque inimigo, agarrando-se à mão desnuda do louro. O ar lhe faltava aos pulmões, suas juntas adormeciam e mal conseguia sentir as pernas.
— Quem és tu? — rangeu, lutando pela vida em resfôlegos.
— O senhor dessa terra— proclamou o homem sério.
— És um Templário? — indagou confuso. Poucos homens lutavam como os cavaleiros da igreja.
— Não acredito em lendas — retrucou o louro que o mantinha cativo.
— A Cruzada não é uma lenda — devolveu o moreno.
— Será em breve, quando descobrirem que seus deuses não podem nada contra a força dos homens. — Seus olhos voltaram a arder em rubros quentes como o inferno.
O cavaleiro se encolheu, estava claro que — confrontado com aquela força — não tinha a menor chance. O louro soltou-o a terra, deixando-o de joelhos a sua frente.
— Não gosto de vocês, de nenhum de vocês — ponderou o jovem, fitando-o de canto. — E não os quero aqui, molestando meu povo.
— Sou apenas um homem... — murmurou o moreno de cabeça baixa, encarando as botas de seu adversário. Elas se aproximaram rápidas de seu corpo, tomando-lhe a túnica branca com a cruz negra entre os dedos.
— És realmente apenas um homem... — Gargalhou, largando o tecido em seguida. — Mas ainda assim um homem de fé.
— Sim... — Ergueu seus olhos azuis ao louro. — Sou um homem de fé, mas o que quer que seja que desejas de mim, não é a morte.
Os rubros se tornaram novamente verdes e o semblante do louro atenuou.
— De fato, não quero que morras... Não ao menos sem levar meu recado aos outros membros de sua ordem.
Lucius sorriu.
— E o que quer que eu lhes diga?
O louro se aproximou devagar, desta vez, medindo seus passos juntamente à apreensão do moreno. E inclinou-se sobre ele, confidenciando-lhe:
— Diga-lhes que a próxima vez que chegarem perto de uma mulher do meu Clã e a molestarem, será a última vez que verão a luz do dia. Eu não me importo com seu Deus.
O moreno o fitou desconfiado enquanto se afastava. Os Teutônicos eram um braço armado da igreja e, por isso mesmo, temidos. Como aquele homem ousava profaná-los em palavras? E quem era ele afinal? Estava claro que não era um humano qualquer.
— E eu devo crer que me atacou por vingança... Diga-me, era tua, a mulher que molestaram? — O desdém riscou o ar. — Se foi, eu diria que não fizeram um trabalho completo. Impuros devem morrer e sua alma deve permanecer no inferno. Eu a queimaria até que as cinzas sumissem com a brisa.
Foi preciso apenas um piscar de seus olhos para o louro estar com os dentes cravados em sua orelha, dilacerando sua carne enquanto o sangue explodia contra os lábios e os rubros vinham à tona no seu mais puro brilho de luxúria. A dor de Lucius reverberando em cada centímetro de floresta ao seu redor como um estrangulamento de mil almas derramadas.
Ele ainda gritava, empapado do próprio sangue quando o louro cuspiu parte de sua carne para longe, dizendo:
— Tens gosto de carniça! — Esfregou o braço contra os lábios, limpando-o. — Tua carne é tão imunda quanto teu sangue, escória de sua raça! — Os azuis agora rolavam nas órbitas, num corpo fraco pela perda de sangue. — Queres um nome não é? — Foi a vez de o louro rir. — Diga-lhes que Robert Valuescu é um nome a ser temido.
Andou até o cavalo de Lucius e montou-o com agilidade, sem que o animal o estranhasse.
— Creio que, se tomares o caminho a tua esquerda, e não parares para nada, o que lhe restou de sangue é o suficiente para que consiga estar com seus companheiros. — Puxou as rédeas do animal, tomando o outro caminho. — Boa sorte...
Quando ainda tentava entender tudo que havia se passado, Lucius desmaiou.
Vaslui, 1226
— O que o preocupa? — O jovem de cabelos acobreados, e intensos olhos verdes, o fitou, emparelhando os cavalos. — Notícias ruins no Conselho?
O homem louro, aparentemente um pouco mais velho que seu interlocutor, voltou seus olhos verdes para ele, mantendo o cavalo preto no caminho.
— As últimas notícias dos Duprat, realmente não são boas... Embora, minha maior preocupação esteja sob essa mortalha. — Passou ao filho um pedaço de pano.
Com o cenho estreito, o jovem a tomou para si, analisando-a.
— Não são Templários...
— Não. Contudo, agem sob os desígnios da mesma igreja — determinou Robert.
Os olhos do jovem pararam sobre a mancha de sangue ao canto do tecido branco. Estava opaca e escura. Férrea, mais ainda assim exalava o cheiro forte capaz de lhe entorpecer a alma. Fechou os olhos verdes e o aspirou profundamente. Quando voltou a abri-los, pequenos pontos vermelhos se pronunciavam em sua íris, colorindo-a. Seus dentes cerraram e sua voz vazou de seus lábios, amarga:
— Litovoi... — Sem perceber, incitou seu cavalo branco a retornar pelo caminho, mas a mão ágil do louro pairou sobre a dele, forçando-o a refrear seu impulso.
— Não seja tolo, Oliver — um rosnado suave se interpôs entre suas ações e seu raciocínio, e enquanto ambos travavam uma luta silenciosa em seu íntimo, Robert completou: — Não tenho filhos que agem por impulso. Não foi para isso que os criei.
Um silêncio denso permaneceu no ar até que as emoções do jovem estivessem sob controle e suas íris tornassem aos verdes claros.
— Eram nossos melhores aliados — disse com certa dificuldade. Seu cavalo seguindo o do pai.
— Sim, eram — concordou Robert com o olhar no horizonte branco a sua frente.
Os olhos verdes de Oliver passearam pela figura do pai, inflexível sobre o cavalo preto. Se não soubesse o que os Litovoi representavam para ele, seria capaz de jurar que Robert nada sentia. Não saberia dizer se amava o pai, ou se apenas o respeitava, mas sempre soubera que estava na presença de um grande homem. Um líder nato, algo que tinha certeza, jamais seria ainda que carregasse sua herança de sangue e fosse seu primogênito.
Era arredio às lutas e às guerras, gostaria de combater a ideologia que levava um homem às armas, apesar de manuseá-las bem. Fora criado para suceder plenamente o homem a um corpo de cavalo distante dele. Porém, desejava não sê-lo. Doía em si, a perda dos Litovoi, as lembranças da meninice passada na Valáquia às margens do Rio Olt.
Seus pensamentos se voltaram à neve nos Cárpatos, ao cheiro dos lírios e rosas dos Alpes. Às brincadeiras com os primos e repreensões dos tios, mesmo sendo o que eram, seguiam uma disciplina rígida. Não conseguia imaginá-los mortos... Ao menos não por qualquer um. Olhou profundamente para o pedaço branco de tecido e o amassou entre os dedos, fazendo o cavalo romper a distância que já dobrara entre eles.
— Pai! — O inabalável Conde de Vaslui não olhou para trás, somente lhe cedeu atenção quando a cabeça do filho ladeou a sua. — Não houve um sobrevivente?
Os verdes ainda não buscaram os seus, mas a voz era dura como aço quando contrapôs:
— Anna... Não sabemos o que aconteceu a ela.
Anna era sua prima, a mais nova de três irmãos. E, pelo que se lembrava, era uma jovem indefesa e sem muitos atrativos. Era da idade de seu irmão András e deveria seguir o mesmo destino do caçula dos Valuescu: desposar um cigano de suas terras. Contudo, Oliver era incapaz de pensar num motivo racional para que diante daquela barbárie, a jovem estivesse viva.
Lendo seus pensamentos, Robert murmurou:
— Eu preferia que ela estivesse morta.
Enquanto o pai adiantava seu cavalo, os olhos verdes de Oliver escureceram. Jamais entendera o motivo que fazia o pai proferir alto, pensamentos tão absurdos. Todavia, pensar no que já havia visto em uma aldeia próxima, talvez as palavras de seu pai fossem até sinceras e justas. Entre corpos e casas queimados, havia rastros de sangue, expressivos.
E, de qualquer forma que olhasse o acontecimento, deveria admitir que também desejava a morte de Anna.
A aspereza na voz do pai, entretanto, fez com que Oliver seguisse-o em silêncio no retorno ao castelo. Tinha certeza de que Robert não derramara uma lágrima com a notícia, mas ele não conseguia calar a repulsa que lhe tomava os sentidos. Muitas vezes, as decisões que tomaria num impulso de coragem atribulada, seu pai o fazia perceber, ser uma ignorância completa. Robert o ensinara a calar e ceder a seu ímpeto.
Assim que pararam à entrada do castelo, a quantidade de cavalos que ainda se mantinham alinhados no pátio, fê-lo soltar um suspiro e desmontar agilmente como Robert. Cuja armadura rangeu sobre os degraus de pedra.
O grande salão estava tomado por homens que discutiam entre si, mas à entrada de Robert, todos se calaram por respeito. Era esse tipo de presença que Oliver sempre sentiu sob si desde a infância. Sem olhar para os lados, ele se dirigiu à imponente cadeira revestida de couro posta à frente de todos, em cuja lateral esquerda estava posto um jovem com os mesmos cabelos louros que os seus. Os olhos de Oliver caíram sobre András enquanto seguia o pai e tomava lugar ao seu lado direito, em pé.
Os irmãos não trocaram palavra alguma, apenas András fez uma reverência ao pai e lhe sussurrou algo. Esforçando-se para se concentrar na reunião, Oliver fitou a todos do pequeno púlpito de pedra onde se encontravam. Rostos conhecidos de anos, próximos e distantes.
— Então, Robert... — disse um homem moreno ao canto, que com passos sólidos, destacou-se dos demais. — Como lidaremos com as novidades?
— Infelizmente, perdi meu maior aliado ao norte. Há muito que não gosto desses humanos transitando em minhas terras como donos da verdade — sentenciou severo. — Agora não podemos mais fechar nossos olhos a isso.
— Ah, falou nosso homem de fé — ironizou o moreno.
— Não é a fé deles que me preocupa, mas a forma como usam-na — interrompeu Robert, fixando seus verdes no moreno. — Sindel, sabe melhor do que eu, as mortes que presenciamos quando tentamos nos unir a eles em seus intentos em Jerusalém. E o erro que isso representou para nós achar que podíamos entender sua forma de pensar. Não quero agir precipitadamente, por isso estão aqui. Ao invés de atear lenha à fogueira de minha revolta, sejam práticos.
— Agir em favor de um de nós, não é ser precipitado — retorquiu Oliver ao seu lado. Não conseguia conceber ficar discutindo detalhes, quando estava claro que precisavam descobrir o que de fato ocorrera e rápido. Ainda assim, ir ao encontro dos ideais de seu pai sempre era difícil.
Houve um silêncio no grande salão e todos os olhos estavam em Robert.
— E o que adiantaria partirmos em socorro dos Litovoi nesse momento?
As entranhas do rapaz reviraram, mas foi a voz de András que cobriu qualquer nova interferência:
— De certa forma, Oliver está certo — ponderou no mesmo tom usado por seu pai. Não havia um pingo de receio no semblante do louro quando continuou firme: — Ficarmos parados, esperando um próximo passo, não é a melhor atitude. Principalmente, por não podermos deixar nosso povo sem proteção. — E voltou seus olhos verdes ao pai. — Sem a presença de um líder capaz de impor ordem, perderemos parte da Valáquia... Além de podermos estar ignorando o aviso futuro de um massacre nosso. Temos que mostrar nossa força.
— O menino tem razão — apresentou-se um homem alto e ruivo, cujos olhos castanhos continham um brilho vivo. — Odeio admitir que uma cria sua disse algo decente, mas ele foi mais sábio que você, Robert! — Riu à farta.
— Não devemos chamar atenção para nós... — contrapôs Robert.
O ruivo escureceu o olhar e se aproximou do Valuescu com os traços do rosto vincado.
— Não se trata de chamar atenção, porque se foram até Vlad, virão até nós — determinou o homem.
— Nicolai, não podemos simplesmente...
O homenzarrão virou de frente para todos e sentenciou:
— Parto em três dias, decidam-se!
Abrindo passagem em meio aos outros, ele deixou o salão.
— O que faremos pai? — indagou András.
— Seu tio é o homem mais impulsivo que já conheci! — resmungou Robert. — E você parece ter herdado algo dele. Maldito sejam todos Pankovs! — Enquanto András sorria de canto, ele se dirigia aos homens: — Ouviram, em três dias, partimos!
— Mas pai... — interveio Oliver. — Não podemos ir todos.
— Tem razão, já está na hora de você assumir certas reponsabilidades — determinou seco. — Você ficará e tomará conta de sua mãe e sua irmã.
Oliver não poderia estar mais satisfeito com sua posição, queria ficar e mostrar o quanto conseguia ser responsável, mas entendia bem os riscos que estavam correndo ao tomarem aquela decisão. Assim que se viu a sós com András, indagou:
— Por que colocou a situação daquela forma?
O louro o fitou atentamente, sorrindo de canto enquanto bebericavam uma taça de líquido tinto.
— Porque se deixasse meu pai falar, ele o mandaria para o norte. — Pôs a mão em seu ombro amistosamente. Amava o irmão com toda força de sua alma e acreditava que Oliver seria um bom líder, como seu pai. — Não gosta de batalhas, irmão. E papai sempre o leva, nunca o deixou aqui, cuidando da retaguarda.
— E confia em mim para isso? — Oliver devolveu, vertendo um pouco mais de líquido nos lábios.
— Sim, confio — afirmou o louro. — Não estou satisfeito com o rumo que o Conselho anda dando as nossas leis. Estamos cada vez mais à mercê de Carl — András sentenciou calmo, mas duramente. — Como Protettori não posso deixar de pensar que qualquer batalha resulte em uma guerra entre nós. Você é o herdeiro, não eu. — Bebeu mais um gole. — É a sua figura que deve liderar Vaslui e manter nossa posição firme na ausência do Conde.
— Mas é isso que papai quer? — ponderou Oliver.
As luzes da vela bruxuleando pelas paredes frias do castelo.
— Não importa, ele também sabe o que deve ser feito — devolveu o louro. — E o fez. Está na hora de você mostrar sua sagacidade...
Bateu a taça contra a madeira e se ergueu da cadeira.
— Não sou um terço do líder que você se tornou — determinou Oliver num tom rascante.
András havia tomado à direção da porta, mas interrompeu seus passos e sorriu para a madeira, sem que o irmão visse.
— Não é de um líder como eu que Vaslui precisa, mas de um homem que dê valor a terra e ao povo que há nela... Boa noite, Oliver.
A porta cerrou a saída do louro e o jovem voltou os olhos ao líquido rubro. Sim, ele conhecia o valor de tudo aquilo... Vaslui estava em seu sangue.
_____________________________________________
1 Lucius Aurélius – Príncipe de Praga, descende da linhagem de Premysl que forma o Clã Ventrue. Um dos dois Clãs mais poderosos do Reino da Baviera.
András foi para seu quarto, assim que deixou Oliver no salão de refeições. As paredes de pedra endossavam o frio que se arremetia contra a fachada do castelo naquela época do ano. Vaslui possuía um inverno rigoroso, e aquele não seria o mais brando deles, a julgar pela tempestade que sibilava lá fora. Retirou a grossa pele dos ombros lentamente, seus verdes perscrutavam o escuro, sentindo uma presença que não era bem vinda. Atirou o casaco sobre a cama ao mesmo tempo em que os braços delicados invadiram seu pescoço, enlaçando-o e unindo os lábios úmidos dela a sua orelha. Seus olhos cerraram e um suspiro partiu de seus lábi
A nevasca alcançou o grupo na segunda metade da viagem, tão logo deixaram o vilarejo de Covasna, que infelizmente não tinha como lhes oferecer abrigo, somente uma parca porção de ração aos cavalos, que já davam sinais de cansaço latente. A esperança de que mantivessem suas montarias a salvo, era cruzarem logo a estrada que os levaria a Brasov. E assim foi feito.O caminho seguia entremeado de uma parca floresta e o grupo, liderado por András, caminhava lentamente sob os flocos de neve que se acumulava ao seu redor e os fazia diminuir a marcha.—
Ela tinha razão, a tenda estava a contento e não se imaginava tão cansado até retirar toda sua roupa. Sentiu os músculos relaxarem e as pálpebras pesarem, e em poucos minutos adormecia. Acordou com a música distante, uma antiga canção cigana. Calçou as botas de pele e pegou uma camisa limpa dentro do fardo que fora trazido para a tenda. Saiu para o frio da noite ainda colocando para dentro das calças as bordas da camisa e pode ver que ao longe, mas para o centro do acampamento, a fogueira estava acesa. A lua brilhava sobre ele e seus cabelos louros estavam ao sabor do vento gelado. Apressou o passo, sentindo a alegria das notas invadi-lo.<
Quando entrou na tenda de Argus, ao cair da tarde, não cogitava se deparar com tal cena. Na realidade, desde que tivera sua mente atropelada pelas histórias de seu pai e Sindel, sentia-se imensamente atordoado. Por isso fora até ali, buscar algo que o aproximasse de sua prima. Alguém a quem poucos haviam tido a oportunidade de conhecer. Ainda assim, fora Argus o destinado a vigiar Vlad, e era possivelmente o mais apto a dizer-lhe algo sobre Anna.Queria-o entrevistar o mais rápido possível, antes que a noite se fizesse presente e ele fosse partilhá-la com seu povo. Por isso estava tão distante que foi necessário não só a imagem como o cheiro para que seus sen
A neve não deu trégua nem no dia seguinte, nem no que se seguiu a este, e quanto mais tempo evitassem expor os animais ao perigo da tempestade, mas atrasariam sua viagem. Na noite do terceiro dia escorregaram pelas sombras das árvores e partiram. Não negava que foram estranhos, aqueles dois dias. Pois, assim como evitara estar com Alena, ela também se mantivera distante. Muitas vezes longe de seus olhos, o que lhe causava certa frustração incompatível com sua determinação em esquecê-la.A passagem para Sibiu poderia ser feita de duas formas, pela estrada principal que margeava a floresta ou o canyon, que poucos se atreviam a cruzar em meio à neve. Com o
Os olhos verdes estavam nos seus, preocupados.— Como consentiu tamanha estupidez? — ditou a voz que lhe chamara de um sonho confuso, onde o rosto de Alena se tornava difuso e cenas distantes de uma memória que não era sua, alternavam-se confusas e emboladas. — Se fosse Oliver, poderia se dizer que uma trapalhada seria previsível, mas não você! — a voz do pai se tornou clara para seus sentidos.— Fomos atacados... — disse ainda buscando por suas memórias.—
Os olhos cinzas encontraram a fortaleza no mesmo instante em que as tropas, cujas cruzes pretas resplandeciam sob o branco da túnica, postavam-se ao seu lado sob as ordens severas de seu comandante.— E então? — indagou o cavalheiro que vinha à frente ao homem de cabelos castanhos.— Acho que a sorte está do nosso lado... — Um sorriso escarneceu seus lábios em olhos perdidos no vilarejo ao entorno da fortaleza.— — Uma festa? — Os olhos cinzas encararam os verdes da ruiva. — Não me parece certo comemorar minha presença sem que Robert esteja presente.— Somos um povo ligado às festividades — determinou Oliver sentado à cabeceira da mesa. — A presença de um Imperador não pode, desta forma, ser tratada como um mero conveniente — provocou-lhe o orgulho sem fitá-lo.As sobrancelhas de Frèderick enviesaram preocupadas por segundos.— Último capítuloPara além da Honra