— JÁ CHEGA DESSA CONVERSA! — Elisa exclamou alto, fazendo a todos os presentes na tenda a encarar surpresos pelo rompante inesperado. Eu não fiquei surpreso, ela parecia incomodada desde o início, e ultimamente perde a paciência mais rápida. — O que foi minha deusa? — A questionei, mas já imaginava o motivo. — Você não pode ficar exaltada assim! — Ela me fuzilou com olhos e eu ouço a risada baixa de Kátia, ignoro e foco em Elisa. — Estou aqui escutando vocês falarem desse homem, falando desses malditos problemas… Hoje é o dia do nosso casamento, achei que ao menos hoje. — Ela me fitou. — Ao menos hoje, ministro não falaríamos disso. — A sua voz exaltada encheu todo o ambiente, suspirando, me encostei a cadeira observando a todos, esperando que dissessem algo, antes que a culpa caísse apenas em mim. — Nos perdoe Elisa. — Andrei pediu ao notar que ninguém falaria nada. — Obrigado! — Sussurrei alternando meus olhos entre ele e Elisa. Em resposta a Andrei, minha deusa balançou a cabeç
— Sua mãe tem razão, Ania! — Liliane disse sorrindo para Ania. — Tenha orgulho de seus cabelos crespos, ele é sua identidade, ele é lindo, maravilhoso, perfeito! Todo cacho, independente de como ele seja, é uma forma de poder! — Ania afirmou retribuindo ao sorrir com os olhos brilhando. — Meu cabelo me faz ter orgulho de quem sou! Eu sempre me lembro das palavras do meu diretor, quando ele disse que os negros dominariam o mundo, e me pergunto: seria tão ruim assim? — Ela rir. — Quando Obama foi eleito presidente, eu sei que isso não justifica os milhões de negros obrigados a serem escravos, no entanto, hoje, não só um negro foi presidente, mas uma negra também! Estou fazendo história. — Ela tornou a rir. — Poderosa! — A agente, Dias, exclamou e a mesma gargalhou. Toda a mesa pareciam hipnotizados pela presidenta Liliane, Elisa sorria para ela com admiração em seu olhar. — Há muito tempo tomei a decisão de mudar as coisas que não posso aceitar. — Liliane apontou para Ania. — Você não
Ao entender o que o ministro havia murmurado e senti a postura dele mudar, desfaço o nosso abraço e o fito inquieta. Sua fisionomia estava séria e suas sobrancelhas erguidas em total confusão. O que aconteceu agora? Me perguntei ao olhar Alek e constatar que ele também estava sério, deixando claro que o assunto que ele desejava tratar com o ministro é realmente importante. — Sou todo ouvido, Aleksandr. — O ministro declarou com o tom áspero. — Não quis atrapalhar, senhor… — Você não atrapalhou meu amigo. — Retruquei encarando o ministro em desaprovação e o mesmo suspirou com exasperação, ergo minhas sobrancelhas. — O assunto é serio. — Alek voltou a falar dando um passo para trás. Provavelmente com o olhar intimidador que o ministro o fitava. Balancei a cabeça em negativo. — Deseja que eu saia para vocês conversarem a sós? — Perguntei. — Não, o assunto é com a senhora também. — Então, fale homem, esse suspense está me irritando já. — O ministro avisou e eu suspirei me desgrud
— Eu não estou entendendo nada. — Falei erguendo minhas sobrancelhas em total confusão. — Do que você está falando? Achei que não tivesse filho. — Eu… Por favor, Elisa, me perdoe. — Te perdoar pelo quê? Eu não tenho o porquê te perdoar, Luanda! — Exclamei com o tom mais alto do que pretendia, chamando a atenção do ministro que se aproximou. Senti a sua presença e o cheiro de sua colônia pós-barba atrás de mim. Eu não sabia qual o motivo de Luanda me perdi perdão, mas eu tinha a impressão que seria algo ruim, algo que ela não deveria ter feito. Não sei de onde Luanda encontrou forças para falar, pois as suas palavras seguintes foram ditas em um tom firme e claro. — Ele me sequestrou a três anos de meu país, me trouxe para esse país para que eu o servisse, tanto como empregada, quanto sua… Sua prostituta particular. Eu não queria fazer nada disso, mas ele ameaçou o meu filho Akin e minha mãe Amara. Na época Akin tinha um pouco mais de oito meses. Um soluço escapa e ela me fitou nos
— Ele… É… É… — Ela tentou falar, mas não conseguiu, porque ela começou a tossir sem parar e sangue saiu de sua boca como se fosse água, não a deixando respirar e a sua boca já estava ficando roxa. — NÁDIA? NÁDIA? — Gritei assustada, voltando a chorar ao ver que Luanda havia desmaiado. — Ela está morrendo? — O ministro se levantou e colocou Luanda de lado. — É para ela não se sufocar com seu próprio sangue. — Ele explicou sendo substituído pelos paramédicos que rapidamente fez os primeiros socorros, enquanto Nádia os instruía. — Mulher, vinte e cinco anos, perdeu a consciência a pouco, vários hematomas pelo corpo, indícios de violência sexual e múltiplas cicatrizes mal curadas espalhadas pelo corpo. — Nádia falava tão rápido que estava sendo difícil acompanhar o que ela dizia. — É possível que a costela dela esteja fraturada, há indícios de hemorragia interna. — Ela finalizou encarando os paramédicos, que afirmaram balançando a cabeça. — O que aconteceu? — Questionei a Nádia que se
O tempo parecia passar lentamente, como se me torturasse lentamente. É espantoso como ele passa rápido para algumas coisas e lento para outras. É o que costumo sentir quando estou longe de alguém que amo. Kátia costuma falar que o tempo só passa “devagar”, quando nos sentimos solitários e convenhamos que a solidão é um porre. Pelo menos a solidão forçada. Já fazia algumas horas que o ministro havia saído. As pessoas presentes na sala de estar pareciam não querer falar nada a respeito do atentado. O silêncio era inquietante, não saber de nada, aterrorizante. Era possível ver o medo estampado no olhar da maioria das pessoas, exceto os seguranças que aparentavam ter dois icebergs no lugar dos olhos, de tão frios que estavam. Por mais que eu sempre imaginei que a frieza em alguém tem sempre uma razão. Provavelmente estão acostumados com situações assim. Pensei tentando justificar a total falta de interação deles conosco. Talvez por isso eu me dê super bem com Alek, ele nunca me ign
As imagens eram realmente fortes, eu não consegui ver a criança sendo arremessada para longe de sua mãe. Ela estava tão sorridente, feliz por andar de patins no gelo, e pelo sorriso da mãe, ela também estava. O vídeo mostrava várias pessoas que transitava na praça na hora e que um segundo estava e no outro sumiam. A mulher que filmava deve ter sido jogada para longe também, porque a câmera havia caído e focava em sua filhinha morta, com seu corpinho todo ensanguentado. Coloquei a mão em minha boca horrorizada, impedindo que a ânsia de vômito me tomasse mais uma vez. Chorei de soluça sentindo meu corpo tremer. A vida dessa mãe nunca mais será a mesma! — Calma, deusa, por favor. — Kátia implorou me abraçando pelos ombros. — Nanda, o que é isso? — Ouço Ania questionar amedrontada. — Por que Elisa está chorando? Por que tudo está destruído? Por que não posso ver o vídeo? — Calma, meu amor, depois te explico. — Nanda respondeu a soltando depois que o vídeo havia acabado. Ania olhou p
Despertei de um sono pesado e gemi baixinho ao senti um incômodo em meu estômago! Ainda não me acostumei com esse incômodo, mas já o conheço e sei o seu significado. Fome! Não era uma simples fome. Era o tipo de fome descomunal que, se eu não me alimentasse, eu sentiria uma dor no estômago e um mau-humor dos “infernos”. Inalei o ar profundamente e voltei a gemer, sentindo vários chutes no lado direito e esquerdo de minha barriga que fazia doer minhas costas também. Esses chutes eram novidades para mim e admito que não estou gostando. Doe demais! — Agora não, meninas! — Sussurrei ainda de olhos fechados acariciando minha barriga para acalmar elas. — A mamãe está com sono e cansada. — Novamente sussurrei, mas as gêmeas não paravam de se mexer, chutar e minha barriga roncar. Eu não sabia dizer qual sensação era pior. — Tudo bem com você, Elisa? — Te acordei Nanda? Meu Deus! Espero que não! — Não, na verdade, ainda nem dormir. — Suspirei aliviada. — Nem eu! — Ania declarou me su