CAPÍTULO 3

 Deve ter sido depois das cinco da manhã, quando Marco deixou o Abadon para trás. Ele caminhou ao longo das docas aparentemente sem rumo, enquanto sua mente vagueava entre o corpo machucado de Helena e cada uma das lágrimas que ela havia derramado em seus braços. 

Foi uma estupidez sentir-se assim, afinal ele não a conhecia... pelo menos não pessoalmente. E ela havia se revelado diametralmente diferente do que ele esperava. A menina mimada tinha lutado como uma besta e ele respeitava isso. 

Ele andou entre os navios como um fantasma, e não precisou virar a cabeça para saber que Archer e Zolo, o primeiro imediato do navio, estavam dez metros atrás dele. Ele havia se acostumado a ser perseguido por aquelas sombras, e o tolerou primeiro porque elas sabiam como se manter fora de seus negócios, e segundo porque ele sabia do que elas eram capazes quando precisavam intervir.

Abraão e Xander foram deixados no navio, cada um com seus próprios talentos escondidos, e tão eficazes que Marcus pôde deixar Helena ao seu cuidado em segurança. Ele não tinha escolhido a tripulação do Abadon, Loan tinha, e era precisamente por isso que ele tinha certeza de que eles se deixariam matar antes de o desapontarem.

Ele chegou à área de carga do último porão, o local estava tão isolado que era improvável que encontrasse alguém mesmo durante as horas mais movimentadas do dia, de modo que, àquela hora da manhã, estava deserto. Uma luz, no entanto, deu o único ser que tinha uma razão para estar ali.

Marcus se aproximou com o mesmo passo calmo e frio, e olhou de perto a figura encostada em uma das paredes sujas. O homem parecia nervoso, não assustado, mas entusiasmado; e o italiano achou lógico, afinal de contas sua dependência das drogas era a principal razão pela qual o havia escolhido. Entretanto, ele havia cometido um erro, um erro grave, ao não considerá-lo suficientemente ameaçador. 

Marco tirou uma pequena embalagem de dentro de sua jaqueta e a jogou a seus pés.

-Considere-se pago", disse ele com um sotaque gelado.

O homem se abaixou rapidamente e puxou o conteúdo do pacote, passando o polegar sobre as notas enquanto lambia os lábios, como se as estivesse saboreando.

-Vinte mil euros, certo?

-Não um euro a menos", observou Marco. Presumi que você iria precisar deles desesperadamente. 

-Por que sup...?

O homem não conseguiu terminar de falar, pois um soco inesperado aterrissou em seu rosto já machucado, derrubando-o no chão com um suspiro. Ele tentou chegar a seus pés, mas uma mão arqueada fechada sobre a lapela de seu casaco não lhe permitiu levantar-se enquanto a outra batia de novo e de novo em seu nariz, sua bochecha, sua mandíbula. 

Ele não podia sequer fazer um esforço para se defender, pois o ataque do italiano era tão brutal quanto silencioso. Ele sentiu o primeiro golpe nas costelas, do lado direito, depois outro na virilha que o fez dobrar-se sobre si mesmo, e depois outro... Depois de alguns minutos ele só podia gritar em desespero.

-Não se preocupe. Ninguém lhe dará ouvidos", disse-lhe Marco. E mesmo que o fizessem, duvido que alguém se daria ao trabalho de ajudar uma escumalha como você.

-Pare com isso! 

Parecia um apelo, mas o italiano não conseguia parar e ele o socou novamente no estômago com todas as suas forças. 

-Por que você está fazendo isso comigo...? Você... você mesmo me pagou por isso.

Marco o levantou pelo colarinho de sua camisa.

-Paguei-lhe para assustá-la, paguei-lhe para trazê-la até mim, para não abusar dela, para não espancá-la, e certamente não para apalpar minha esposa, seu maldito porco bastardo. 

Ele viu o sangue derramado dos golpes no rosto, e sabia que o resto de seu corpo era muito pior, pois mal conseguia respirar. Então ele o deixou cair no chão e limpou o sangue de suas mãos nas costas de suas roupas, com um gesto de desprezo e repugnância. Sua tarefa ali estava concluída.

-Você é um... pedaço de... merda", murmurou Samuel, encolhendo-se em si mesmo como baba ensanguentada cuspida de sua boca. Aquela garota passará por muito pior do que eu teria feito com ela....

Marco se afastou indiferente.

-Você está certo. Ela fará muito pior, mas enquanto estiver escrito que ela deve sofrer, ela só sofrerá pela minha mão. 

 

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