A Caçada - Parte II

**Gabriel

Eu sentia o frio hálito da morte em meu pescoço, e o pior  é que  ela não pretendia levar apenas a mim como a Serena também , isso certamente doía muito mais.

- Deixa ela fora disso, Azazel  - Ergui as mãos em rendição- O problema é entre eu e você.

- Você se importa com ela - Ele deu uma grande risada - Que gracinha - Ironizou , fechando o punho em minha direção.

Ele me tirou do chão daquele modo, todas as veias do meu corpo queimavam translucidamente, assim como minhas orbes oculares refletiam o fogo do inferno . Ele claramente me destruiria em poucos segundos . Só pude ouvir o pedido desesperado de Serena pedindo pra que ele parasse.

- Diga- me , M'Lady, você sabia quem ele realmente era , quando deixou que ele tomasse toda sua vida? - Como todo demônio, ele era sádico e usava todos os recursos para torturar - Por acaso sabe por quem está prestes a morrer?

- Morrerei pelo homem que amo e  é isso que importa - Ela responde , conseguindo finalmente sair do estado catatônico.

- Patético...ele mentiu pra você todo esse tempo, e você vai morrer por ele! Acha que ele faria o mesmo? - Riu , olhando pra ela com desdém- Humanos...

As criaturas, que até então apenas esperavam por ordens de seu senhor, avançaram contra Serena, a empurrando contra o fogo, chegando a rasgar suas vestes. Azazel usou sua magia sombria para virar o rosto na direção da cena, queria que eu visse. Pela primeira vez na vida, eu gritei e implorei por algo quando a ouvi gritar, e os céus me responderam.

Um vento veemente varreu as chamas e atirou as criaturas para longe. Azazel me solta violentamente contra o tronco de uma árvore. Era visível a surpresa e temor nos olhos dele. Então, de cima, Rafael e mais cinquenta de seus guerreiros pousam ao nosso redor , alguns de sua própria legião e outros nitidamente recém chegados do Paraíso . Usavam armaduras e armas novas.

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**Rafael

Eu estava no encalço daquela turba de caçadores a dias, mas jamais poderia imaginar que o destino final deles seria tão surpreendente. Eu reconheci Gabriel com facilidade, mesmo ele estando tão diferente.

- Dois pelo preço de um...- Azazel ironizou, voltando sua atenção a mim - Parece que hoje é meu dia de sorte.

- Eu não teria tanta certeza disso - Empunhei a espada e fogo azul a percorreu por completo, deixando o demônio assustado - Venha, estou tão faminto quanto você..

Meus guerreiros rapidamente aniquilaram a turba de bestas infernais, enquanto eu enfrentei Azazel , levando a luta pra longe de meu amigo, a mulher e o lugar em si , que não era muito distante de um feudo com muito mais carne para eles .

Quando eu estava prestes a decapitá-lo , seu corpo se converteu em cinzas e foi sugado pela terra. Não, ele não estava morto, isso não passava de  uma retirada estratégica. Azazel certamente foi lamber as feridas em algum lugar, mas este não era o desfecho. 

Eu não podia deixar meu irmão naquela situação, não importando quais eram as determinações do céu.

- E quanto a moça? - Um dos guerreiros recém chegados me questionou, assim que peguei Gabriel e o joguei nas costas.

- Deixem - na ai.- Olhei em volta, notei que humanos se aproximavam - Não podemos arriscar envolvê-la mais ainda nisso, não mais do que já está - Eu sabia que aquele lugar todo seria um alvo de agora em diante mas pra cada problema , seu próprio momento. Gabriel precisava ser salvo.

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Serena

Os gritos e a sensações que aquele dia me causou, mais pareciam um terrível pesadelo do qual eu não conseguia acordar. O cheiro, o calor e a dor me consumiam e eu nada podia me mexer. Eu vi Gabriel com um par de asas, uma bela armadura de prata e cabelos longos, me pedindo perdão. Mas pelo o quê? Deus! Eu sentia que estava prestes a explodir e de fato, foi isso que aconteceu.

- GABRIEL! - Acordei gritando o nome dele.

Eu estava na minha cama, com outras roupas e enfaixada em algumas partes do meu corpo , que doíam bastante.

- Está tudo bem, querida, se acalme! - Minha mãe segurou delicadamente em meus ombros e me fez encostar na cama .

Ela não era a única ali, minhas damas estavam num canto, assim como minha irmãzinha Marylin de 6 anos, uma ruivinha brincalhona de olhos azuis que ainda achava que a vida era uma canção e meu pai também estava ali, sendo o único que se manteve aonde estava, não demonstrando nada por mim.

- Então, este é o nome dele? - O som grave de sua voz estremecia o ambiente, deixava a noite mais escura. Ele me olhava com indiferença- Este é o nome do seu amante?

Meu coração gelou, olhei brevemente para minhas amigas e era por isso que ambas me olhavam de modo diferente. Eu não as culpava, eu temia por elas, meu pai se achava o dono do mundo e isso o deixava poderoso.

- Kayfar! - Minha mãe o repreendeu- Não é o momento, ela precisa descansar.

- Calada! - Ele disse rispidamente- Quando você tinha que ter dito algo, não disse, agora, pouco importa, a desgraça já está feita! - Bruscamente ele veio até mim, segurando em meus cabelos com força com uma mão e com a outra, apertava meu braço ferido - RESPONDA!

Minha mãe tentou pará-lo no mais profundo instinto materno, mas acabou sendo atingida por um soco no rosto e caiu no chão. Minhas damas a ajudaram, temiam se aproximar por medo , mas enquanto Daisy segurou minha irmãzinha e minha mãe implorava ao meu pai que parasse, Melína correu para fora, atrás de meu irmão , Elieser, que apesar de ser fisicamente a cópia jovem de meu pai, mudando apenas a cor dos olhos e cabelos para as cores  de minha mãe, ele  nunca compactuava com atitudes do chefe da família , o enfrentava e tinha um pensamento moderno.

- Eu mandei que atestassem tua virgindade enquanto dormia, então me diga a verdade, mesmo que já sabendo qual é, eu só quero ouvir de tua boca mentirosa! - Ele dizia olhando fundo em meus olhos.

Eu estava tão cansada depois do que tinha visto! Cansada de mentiras, de ter minha vida à mercê de homens como ele, de fingir. Meu pai nunca demonstrou amor por mim ou minha irmã, pra ele, mulheres eram cidadãs de segunda classe mais do que já eram pra maioria dos homens em Emoed. Mas dali por diante, pouco importava o que ele realmente pensava. Eu vi demônios em carne e osso. Perto do fogo do inferno, Kayfar não era nada.

- Gabriel é o homem que eu amo! - Sorri dentre as lágrimas -....sim, o cavalariço, ele é mais especial do que você jamais será , mesmo não tendo esse maldito sangue nobre ! Sim, eu me entreguei de corpo e alma pra ele e não há nada que você possa fazer para mudar isso  ! Eu faria tudo outra vez! Eu escolhi , meu pai e vou escolher daqui por diante ! - Gritei olhando nos olhos dele.

Ele demonstra nojo e me bate no rosto, então meu irmão se aproxima e consegue contê-lo. Assim que se afastou, viu minha mãe ferida, minha irmã chorando e o pânico no ambiente.

- Se me desautorizar diante de qualquer um nesta casa de novo.....- Meu pai o encara com ódio.

- O quê?! Vai me bater também ou isso só funciona com mulheres!? - Nunca vi meu irmão enfrentá-lo daquela forma- Se tocar num só fio de cabelo da minha mãe ou das minhas irmãs novamente, vai se arrepender!

Furioso, meu pai sai do quarto cuspindo fogo aos quatro ventos. Quase em surto, eu coloco as mãos em volta da cabeça , chorando copiosamente. Que dia, meu Deus! Todas as flechas do mundo estavam apontadas contra mim! Minha mãe me abraçou, juntamente com minhas amigas e irmã.

- Serena, sabe que não posso fazer muita coisa....- Elieser suspirou, sentando -se ao lado de Melína, quem amava secretamente - O que foi que aconteceu? Disseram que você saiu atrás do seu amante e nós te encontramos daquele jeito, após uma série de eventos estranhos...eu posso tentar te ajudar, mas preciso que me diga a verdade.

- Eu sempre soube..- Lady Ellyanor , visivelmente destruída, alisa o rosto da filha- Seu pai quer enclausurar você , como fizeram com a minha irmã.

- Primeiro, me digam, onde está Gabriel?

- Você estava sozinha quando te encontraram..- A minha mãe responde.

- Então não há nada a dizer...- Era a única coisa que eu conseguia pronunciar .

Eu não era idiota a ponto de tentar explicar o que realmente aconteceu e nem estava com forças pra inventar alguma coisa convincente.

- É melhor deixarmos ela descansar, ela precisa - Melína afirmou e foi a primeira a se levantar.

Assim que todos saíram, minha mãe teve de ir arrastada praticamente. Porém, quando acordei, a porta estava trancada, assim como a janela. Havia comida em uma bandeja e um bilhete de meu pai.

¨ Espero que tenha valido o preço que pagará ¨

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