A ameaça é real

Em posse da identidade de Ricardo, Rodrigo se atentou ao que deveria ser feito para que seu plano desse certo.

— O que faremos com ele? - Chacal perguntou.

Neste momento Ricardo abre os olhos, a claridade o fez fazer careta e a dor de imediato o fez gemer.

— Ricardo? Você está bem? - Rodrigo se ajoelhou ao seu lado.

— Quem é você?- ele sussurrou, a voz fraca, quase inaudível.

— Não se mexa, você está muito ferido.

— O que aconteceu? Como eu vim parar aqui?

— Você não se lembra de nada? - Rodrigo se deu conta de que seu plano, não estava totalmente perdido. — Um acidente de carro, se lembra aonde estava indo? Sabe que dia é hoje?

— Desculpe, eu não me lembro de nada.

— Fique calmo, não se preocupe. Vamos levá-lo para o hospital.- Rodrigo fez um sinal para que Chacal ficasse com Ricardo e outro para que Coiote o acompanhasse.

— O que vamos fazer? - Coiote perguntou.

— Preste atenção, vocês dois irão levá-lo para Graystone, eu tenho um amigo de longa data que trabalha no hospital municipal, eu vou ligar para ele, vocês só precisam deixá-lo lá.

— Mas o que você irá fazer?

— Tomar posse do meu destino meu amigo. De agora em diante eu sou Ricardo Kensington.

— E o que a gente ganha com isso? - Chacal ao ouvir suas palavras, pergunta se aproximando.

— Não se preocupe, eu não me esquecerei de vocês. Assim que tiver acesso a fortuna do advogado, lhes recompensarei pelo serviço prestado. Agora vamos, antes que alguém pare, para ver o que aconteceu aqui.

Os amigos de Rodrigo levaram Ricardo para Graystone como acordado enquanto ele se preparava para parecer vítima do acidente que mudou o destino dos dois irmãos.

💞

A jovem mulher invade a recepção do hospital aparentemente ansiosa por notícias.

— Por favor Senhorita, eu sou a noiva de Ricardo Kensington, soube que trouxeram ele para cá.

— Só um minuto, vou verificar. - a mulher com dedos ágeis verifica a informação no computador. — Aqui está, ele se encontra no quarto 328.

A mulher se apressa em direção ao elevador.

— Senhorita, um instante, preciso do seu nome. - A recepcionista a interrompe por segundos.

— Júlia Lancaster.

— Júlia Lancaster. Espera, mas seu pai é o dono do hospital? - a mulher diz vendo-a entrar no elevador.

Desesperada, Júlia caminha pelo corredor em busca do noivo, seus olhos carregados de lágrimas e o coração acelerado, até encontrá-lo finalmente.

— Meu amor, graças a Deus. Ricardo.- ela se aproxima da cama e segura sua mão.

O enfermeiro que o acompanhava notando sua preocupação, decidiu tranquilizá-la.

— Fique calma, seu noivo é muito forte, pela gravidade do acidente e pelo estado como ele chegou, foi um verdadeiro milagre.

— Quer dizer que ele está bem?

— Sim e muito bem por sinal. Fizemos diversos exames e fora algumas esfoliações, ele não apresentou nenhum outro problema. Vamos recomendar alguns dias de repouso, mas certamente, já pela manhã, terá alta.

— Nossa, que alivio! Eu não suportaria se o tivesse perdido.

— Eu imagino como deve ter sido angustiante, ele vai ficar bem. - Com um sorriso reconfortante, o enfermeiro tocou seu ombro como forma de apoio e deixou o quarto em seguida.

— Ricardo, meu amor, acorde. Eu estou aqui com você. Senti tanto medo. - ela beijou seu lábios suavemente e neste momento ele (Rodrigo) abriu os olhos.

— Onde estou? O que aconteceu? - ele apertou os olhos e fingindo dor gemeu baixinho.

— Você sofreu um acidente na estrada, não se lembra?

— Está tudo muito confuso.

— É assim mesmo, o enfermeiro disse que foram apenas algumas esfoliações, mas que já poderá ter alta pela manhã.

— Onde estão todos? - para Rodrigo, ao saberem do acidente, a família e os amigos de Ricardo se dirigiriam ao hospital preocupados.

— Todos? Meu amor, seus pais estão viajando a quase um mês pelo tratamento do câncer do Tio Gusman, se esqueceu?

— Como disse, está tudo muito confuso agora.

— Eu entendo.

"Então o velho está com câncer? Que sorte Ricardo! Herdeiro de uma fortuna milionária ainda tão jovem."

Rodrigo estava focado em seu objetivo, e nada o atrapalharia.

💞

Na manhã seguinte, com a ajuda de Júlia, Rodrigo chegou à mansão dos Kensington, um lugar deslumbrante, localizada no alto da colina.

Ela se erguia majestosa, com sua fachada de mármore branco reluzente sob o sol. as colunas coríntias, que sustentavam a entrada, davam um ar clássico e atemporal a construção. Portões de ferro decorados com detalhes dourados, se abrem para uma longa alameda ladeada por ciprestes perfeitamente podados.

O interior não era menos luxuoso: piso de mármore polido, lustres de cristal pendendo dos altos tetos, e paredes decoradas com painéis de madeira escura e obras de arte emolduradas em ouro.

Salas amplas se interligavam com grandes janelas de vidro que ofereciam uma visão panorâmica dos jardins bem cuidados, com fontes, estatuas e até um lago privado. Móveis antigos, tapetes persas e detalhes em veludos compunham o ambiente. dando um ar de requinte e riqueza.

— Tudo bem? - Júlia perguntou ao vê-lo deslumbrado com todo aquele luxo ao seu redor.

— Sim, tinha me esquecido como aqui é tão bonito.

— Verdade. Seu pai fez tudo exatamente como sua mãe descreveu a ele em seu projeto. Cada partezinha desta mansão foi pensada por ela com todo amor para você.

— Então, eles fizeram essa casa para mim?

— Claro que sim, esse acidente mexeu muito com a sua cabeça, ela conta isso todos os dias de como sonhou cada detalhe.

— Legal. - Júlia soltou uma gargalhada. — O que foi?

— É que você nunca fala "legal", e devo confessar que você tem falado muita coisa que não condiz com o seu jeito de ser. É engraçado.

— Engraçado? E como eu sou?

— Você sabe, sério, centrado, alto crítico. Mas é divertido vê-lo assim, parece mais leve.

— Entendi. - ele responde ainda analisando as coisas ao seu redor.

— Vamos subir? O médico disse que você precisará de repouso por um ou dois dias. Então nada de sair daquele quarto e correr para o escritório, está bem? Ou mando lhe amarrar na cama.

— Até parece. - ele revirou os olhos e ela se se indignou.

— O que? Duvida? Antônio.

— Não, não. - ele a agarrou pela cintura para que parasse e se desviou do beijo dela ao se olharem fixamente, tentando disfarçar em seguida. — Tudo bem, vamos lá.

💞

Os dias passam e Rodrigo está cada vez mais imerso no mundo de Ricardo, porém Júlia está desconfiada da mudança do noivo que parece mais querer se divertir do que estar verdadeiramente com ela.

— Já fazem duas semanas do acidente e ele não me tocou. Eu realmente não entendo o que está acontecendo, Iolanda. Eu tento ser seu apoio, tento ajudá-lo de todas as formas possíveis, mas ele só quer sair, beber, ir para festas. O médico recomendou dois dias de repouso, desde então ele simplesmente se tornou um estranho, mudou o jeito de falar, de se vestir, de se importar comigo.- Júlia confessou a sua melhor amiga.

— Isso pode ser impressão sua meu bem, vocês são tão apaixonados, se eu não me engano, vocês estão juntos a vida inteira.

— Dez anos.

— É natural que após um acidente a pessoa mude, talvez pela urgência de se viver tudo que não viveu antes, eu não sei como isso funciona,mas é compreensível , dentro deste ponto de vista. Já tentou conversar com ele sobre o que você está sentindo?

— Algumas vezes, mas ele sempre muda de assunto rapidamente. Ele foge de mim Iolanda, como se eu tivesse uma doença contagiosa. O pior é que os Tios estão chegando amanhã e eu não sei como Tio Gusman encarará essa mudança de Ricardo. No estado dele, seria um grande choque. Desde que o adotaram, ele sempre foi um orgulho para eles.

— Pelo jeito a situação é grave, você precisa tentar conversar com ele mais uma vez, antes que os pais dele o encontrem.

— Se pelo menos ele me ouvisse. - Júlia disse decepcionada.

💞

Enquanto isso na mansão o celular de Rodrigo toca insistentemente.

— Alô?

— E aí Camaleão?

— Chacal? O que você quer?

— Ei amigo, calma aí. Eu estou aqui com o Coiote. A gente teve uns probleminhas, estamos precisando daquele dinheiro que você nos prometeu.

— Eu disse que assim que tivesse acesso ao dinheiro do Advogado, eu mandaria para vocês, o que é isso agora?

— A gente não pode esperar mais tempo, você está muito bem. queremos 5 mil euros. Ou vamos lhe fazer uma visitinha. - O homem desliga o celular e Rodrigo o atira na parede em um misto de raiva e temor, de que todo seu plano caia por água a baixo.

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