AmandaVoltamos para casa na segunda-feira. Foi um fim de semana gostoso. Não me sinto tão bem assim há anos. Esse tempo todo eu achei que era uma mulher livre não me envolvendo com ninguém, mas estar com Cameron me mostrou que eu só tinha medo de amar. Não quero mais esse bloqueio. Sou uma Rodrigues, não devo temer nada. Tudo que preciso fazer é não engravidar e ficaremos bem.Por isso...― Dorme aqui comigo ― peço enquanto Cameron inspeciona meu apartamento antes de ir para o próprio.Ele fica lindo com arma na mão, esquadrinhando cada canto como se pudesse ter um inimigo no imóvel.Cameron me olha enquanto guarda a arma.― Claro. Eu vou tomar um banho e me trocar. Em alguns minutos estarei aqui.O beijo quando ele passa por mim e vou até o banheiro tomar um banho rápido, mas antes peço um lanche leve no restaurante ao lado do prédio.Cameron bate na porta, o que raramente faz. Ele está parado, com um sorriso travesso e segurando uma escova de dentes.― É assim que começa ― brinco
CameronConforme combinado, estamos em um parque de diversões. O chantagista escolheu esse lugar por achar que vai ser seguro. Não tem nada seguro aqui. Homens e mulheres ligados aos Rodrigues estão por toda parte. Vejo pela forma como olham para Amanda, os cumprimentos respeitosos.Às vezes me pergunto como os Pereira ainda conseguem fazer alguma coisa. Parece que os Rodrigues só não acabaram com eles ainda por falta de tempo. O que em breve vai mudar. Se eles não tivessem atentado contra inocentes não estariam com os dias contados.De onde estou, vejo o homem se aproximando de Amanda. Minha morena está de jeans e camiseta cor de rosa, além de carregar uma mochila preta. Uma típica frequentadora de parques.― Trouxe o dinheiro? ― escuto ele falar pela escuta que ela carrega no brinco em forma de lua.― Na mochila. Trouxe o vídeo de segurança?O trabalho simplesmente se dava porque um funcionário de um posto de gasolina captou o momento em que Antônio e Cora abasteciam o carro de uma
CameronQuase meia hora na estrada e Amanda diz:― Pode parar o carro. E saia.O cara sai e o imitamos.Amanda vai até ele. Ainda segura sua arma. Para todo lado se vê apenas mato e a estrada por onde seguimos.― É o seguinte: Pode voltar a pé. Ficamos com seu carro pelo transtorno. Não vou nem revistar se está com algo gravando essa conversa. E vou acreditar que qualquer cópia do seu objeto de chantagem será destruída. Sabe por quê? ― Ela não espera. ― Porque os Rodrigues não temem ninguém. Muito menos alguém tão insignificante. Pense bem antes de tentar bancar o esperto. Não terá outra chance. Vai acontecer com você o mesmo que aconteceu com aquele que estava no porta-malas. Talvez um pouquinho pior.Ela entra e bate a porta. Entro ao seu lado.Amanda liga o carro. Em nenhum momento o homem se move. De cabeça baixa, evita nosso olhar.― Boa volta! ― a morena debocha.Estamos bem longe do local do encontro, em uma estrada que raramente passa carros, devido estar em obras em vários tr
AmandaNão é porque nosso pai faleceu que a tradição dos jantares e almoços com a família acabou. Acho que ele voltaria dos mortos se isso acontecesse. Por isso, aqui estamos nós, comemorando Ação de Graças, uma data comemorativa de outros países. Gostamos dela por causa do foco na comida.A mansão está a cada evento desses mais cheia, principalmente de crianças. Meus irmãos não param de procriar. Tenho certeza de que nossa mãe deve estar sorrindo do céu, ela ama essa bagunça. Sempre foi seu sonho ver a casa cheia. E desde que entramos em sua vida, todo dia ela tinha uma bagunça para se alegrar.Chegamos e pude sentir os olhares curiosos sobre Cameron e eu. Apesar da curiosidade, ninguém disse nada.Estou encostada no balcão do bar, Cameron me servindo uma bebida. É quando o imbecil do André grita com seu melhor tom de deboche:― E aí, Cameron, quantas vezes já transaram?Nem sei por que olho para o ruivo com um aviso de cale a boca. Sei bem que não adianta.Ele faz uma expressão de “
AmandaAos poucos as crianças vão ficando cansadas e empanturradas e meus irmãos vão se despedindo, ficando apenas Cameron, eu, e os ocupantes da casa: a família de Antônio.― Vamos subir. Já sabe que a casa é sua. ― Cora avisa, com uma sonolenta Sandra agarrada a suas pernas.― Obrigada. ― Assopro um beijo na sua direção. ― Vai descansar. Ainda quero resolver algumas questões na matriz.Já falei que Antônio mora na casa onde crescemos, e que a chamamos de matriz? Pois é. Muitas coisas acontecem sob a mansão onde vive essa família feliz.Antônio carrega os gêmeos, um em cada braço. Juro que nunca imaginei essa cena com meu irmão como protagonista.Depois que eles saem, Cam se levanta e me estende a mão, dizendo:― Vamos até aquele lugar onde você pretendia me torturar.― Por quê?― Quero fazer o que não fizemos naquele dia. Você vai sentar, ruiva. Vai sentar muito.Passo meu olhar pelo seu corpo e dou um sorriso maldoso e cheio de segundas intenções.― Ótima ideia. ― Aceito sua mão c
AmandaSemanas depoisEstá bem, eu confesso, estamos namorando firme. Só pode ser essa a definição para o fato de que Cameron praticamente se mudou para o meu apartamento. Não teve uma manhã que não despertei com seu carinho e tesão. E não quero nem pensar nessa possibilidade.É o que estou pensando agora, sentindo sua mão descendo e subindo por minha barriga nua, devagar como se seus dedos precisassem memorizar cada célula da minha pele.― Amanda, me desculpe. ― Ele fala de repente. A voz em um sussurro.― Por quê? ― uso o mesmo tom.― Talvez você ache que é rápido demais, talvez nem queira isso, mas eu... eu te amo, morena. Eu posso estar te conhecendo esses dias que estamos juntos, mas é como se eu nunca tivesse vivido um dia sem você desde que surgi nesse mundo. ― Ele ri. ― Estou sendo emocionado?Me viro para ele, encarando seu rosto bonito demais para minha sanidade.― Muito emocionado. E o grande problema é que gosto disso em você. Gosto de saber que é capaz de estripar alguém
AmandaMuitos anos antes.― VOCÊ É UMA ABERRAÇÃO, GAROTA! QUEM DEVERIA TER MORRIDO NO PARTO É VOCÊ ― ele grita, me pegando de surpresa.Tudo que fiz foi passar pela sala em direção a porta de saída.Paro abruptamente. A garrafa voa e se quebra perto da minha cabeça. Por algum motivo não sinto dor, apenas algo escorrer do meu rosto. Meus olhos estão arregalados. Passo a mão e vejo que é sangue que escorre, e não é pouco.Mais um dia da semana com meu pai gritando no meu ouvido. Estou acostumada com isso, mas não com tamanha violência física.― AMOR! ― sua mulher grita aparecendo na porta da cozinha. Está preocupada, porém ninguém me convence que é comigo.Meu pai se aproxima enquanto fico parada feito idiota tentando impedir a saída do sangue com minha mão.O bafo do álcool me deixa tonta enquanto encaro sem parar a garrafa na sua mão. Sim, ele pegou outra garrafa de cerveja no caminho até sua filha sangrando.Não tiro os olhos dela, com medo que ele a use para me machucar mais uma vez.
AmandaTempos atuais ― Pensando em que? ― Cameron pergunta acariciando minhas pernas que estão em seu colo. Minha cabeça que estava ali, mas era impossível de concentrar no filme tão perto do meu brinquedo favorito, então mudamos as posições.Toco minha cicatriz no rosto. Gosto dela. As pessoas dizem que me deixa com cara de mulher fatal. Gosto que me vejam assim.O ruivo segue meu gesto. Sua pergunta me faz perceber que vários minutos passaram sem que eu olhasse para a tv. É, desisto de ver esse filme hoje. Estou muito distraída.― Lembrando do dia em que fugi de casa com um monte de porcaria na mochila. Até parece que eu duraria com aquelas coisas...Ele sorri. Parece tentar imaginar a cena.― Você era uma criança. Na época deve ter pego tudo que considerava importante.― É verdade. Na época eu não tinha uma arma.― E ainda não tinha me conhecido. Se precisasse fugir agora teria que encontrar uma mochila que me caiba ― ele fala... e morde minha perna.― Ai! ― reclamo. ― Cam, isso é