AmandaNão é porque nosso pai faleceu que a tradição dos jantares e almoços com a família acabou. Acho que ele voltaria dos mortos se isso acontecesse. Por isso, aqui estamos nós, comemorando Ação de Graças, uma data comemorativa de outros países. Gostamos dela por causa do foco na comida.A mansão está a cada evento desses mais cheia, principalmente de crianças. Meus irmãos não param de procriar. Tenho certeza de que nossa mãe deve estar sorrindo do céu, ela ama essa bagunça. Sempre foi seu sonho ver a casa cheia. E desde que entramos em sua vida, todo dia ela tinha uma bagunça para se alegrar.Chegamos e pude sentir os olhares curiosos sobre Cameron e eu. Apesar da curiosidade, ninguém disse nada.Estou encostada no balcão do bar, Cameron me servindo uma bebida. É quando o imbecil do André grita com seu melhor tom de deboche:― E aí, Cameron, quantas vezes já transaram?Nem sei por que olho para o ruivo com um aviso de cale a boca. Sei bem que não adianta.Ele faz uma expressão de “
AmandaAos poucos as crianças vão ficando cansadas e empanturradas e meus irmãos vão se despedindo, ficando apenas Cameron, eu, e os ocupantes da casa: a família de Antônio.― Vamos subir. Já sabe que a casa é sua. ― Cora avisa, com uma sonolenta Sandra agarrada a suas pernas.― Obrigada. ― Assopro um beijo na sua direção. ― Vai descansar. Ainda quero resolver algumas questões na matriz.Já falei que Antônio mora na casa onde crescemos, e que a chamamos de matriz? Pois é. Muitas coisas acontecem sob a mansão onde vive essa família feliz.Antônio carrega os gêmeos, um em cada braço. Juro que nunca imaginei essa cena com meu irmão como protagonista.Depois que eles saem, Cam se levanta e me estende a mão, dizendo:― Vamos até aquele lugar onde você pretendia me torturar.― Por quê?― Quero fazer o que não fizemos naquele dia. Você vai sentar, ruiva. Vai sentar muito.Passo meu olhar pelo seu corpo e dou um sorriso maldoso e cheio de segundas intenções.― Ótima ideia. ― Aceito sua mão c
AmandaSemanas depoisEstá bem, eu confesso, estamos namorando firme. Só pode ser essa a definição para o fato de que Cameron praticamente se mudou para o meu apartamento. Não teve uma manhã que não despertei com seu carinho e tesão. E não quero nem pensar nessa possibilidade.É o que estou pensando agora, sentindo sua mão descendo e subindo por minha barriga nua, devagar como se seus dedos precisassem memorizar cada célula da minha pele.― Amanda, me desculpe. ― Ele fala de repente. A voz em um sussurro.― Por quê? ― uso o mesmo tom.― Talvez você ache que é rápido demais, talvez nem queira isso, mas eu... eu te amo, morena. Eu posso estar te conhecendo esses dias que estamos juntos, mas é como se eu nunca tivesse vivido um dia sem você desde que surgi nesse mundo. ― Ele ri. ― Estou sendo emocionado?Me viro para ele, encarando seu rosto bonito demais para minha sanidade.― Muito emocionado. E o grande problema é que gosto disso em você. Gosto de saber que é capaz de estripar alguém
AmandaMuitos anos antes.― VOCÊ É UMA ABERRAÇÃO, GAROTA! QUEM DEVERIA TER MORRIDO NO PARTO É VOCÊ ― ele grita, me pegando de surpresa.Tudo que fiz foi passar pela sala em direção a porta de saída.Paro abruptamente. A garrafa voa e se quebra perto da minha cabeça. Por algum motivo não sinto dor, apenas algo escorrer do meu rosto. Meus olhos estão arregalados. Passo a mão e vejo que é sangue que escorre, e não é pouco.Mais um dia da semana com meu pai gritando no meu ouvido. Estou acostumada com isso, mas não com tamanha violência física.― AMOR! ― sua mulher grita aparecendo na porta da cozinha. Está preocupada, porém ninguém me convence que é comigo.Meu pai se aproxima enquanto fico parada feito idiota tentando impedir a saída do sangue com minha mão.O bafo do álcool me deixa tonta enquanto encaro sem parar a garrafa na sua mão. Sim, ele pegou outra garrafa de cerveja no caminho até sua filha sangrando.Não tiro os olhos dela, com medo que ele a use para me machucar mais uma vez.
AmandaTempos atuais ― Pensando em que? ― Cameron pergunta acariciando minhas pernas que estão em seu colo. Minha cabeça que estava ali, mas era impossível de concentrar no filme tão perto do meu brinquedo favorito, então mudamos as posições.Toco minha cicatriz no rosto. Gosto dela. As pessoas dizem que me deixa com cara de mulher fatal. Gosto que me vejam assim.O ruivo segue meu gesto. Sua pergunta me faz perceber que vários minutos passaram sem que eu olhasse para a tv. É, desisto de ver esse filme hoje. Estou muito distraída.― Lembrando do dia em que fugi de casa com um monte de porcaria na mochila. Até parece que eu duraria com aquelas coisas...Ele sorri. Parece tentar imaginar a cena.― Você era uma criança. Na época deve ter pego tudo que considerava importante.― É verdade. Na época eu não tinha uma arma.― E ainda não tinha me conhecido. Se precisasse fugir agora teria que encontrar uma mochila que me caiba ― ele fala... e morde minha perna.― Ai! ― reclamo. ― Cam, isso é
AmandaO momento de colocar um fim nos Pereira chegou. Pensa que esqueci? Não mesmo. Jamais perdoaríamos seu ataque direto a nossa família, por isso aqui estamos nós, os irmãos Rodrigues, armados até os dentes e prontos para dar fim aos selecionados em nossa lista. No topo dela, o velho Pereira.Deixei para saber o resultado do exame depois que tudo acabar. Simplesmente porque se for positivo eu vou surtar em uma escala que nem consigo definir.Não contei para Cameron sobre o ataque ou sobre a possível gravidez. Sobre a gravidez, só não quero que surte antes da hora. E sobre o ataque, ele está resfriado e não quero que venha conosco e sua doença, por mais simples que seja, o coloque em risco.Sei lá... Vai que ele fica tonto na hora do tiroteio ou algo assim. Já aceitei que quando se trata dele, o buraco é mais embaixo. Por isso me irrito ao vê-lo entre o nosso reforço, todo de preto, como todos que vão.― O que pensa que está fazendo? ― Vou até ele.― Raul é segurança do Alexandre, e
AmandaQuando chegamos na clínica, o médico disse que ele precisava ser operado para retirar a bala. Por medo de não termos tudo que era necessário, ele sugeriu irmos aos hospital. E lá se foram os irmãos e suas esposas seguindo a ambulância onde eu fui agarrada a mão de um Cameron inconsciente.Segui com ele até a porta do quarto de operações. Ao contrário do que se ver nos filmes não fiz cena para entrar com ele. Iria atrasar ainda mais o procedimento e colocar a vida dele em risco maior.Sentei quietinha com meus irmãos. Vez ou outra eu ouvia uma palavra de consolo ou sentia alguém me tocar ou abraçar. Até mesmo tive vislumbre de alguns seguranças aparecendo para saber do estado de Cameron. Pelo que entendi em minha situação de puro medo, ele queriam saber como o ruivo livro aberto estava. Cameron conquistou todos.Pareceu que se passaram dias até que o médico saiu da sala com uma expressão indecifrável.Levanto de um salto, torcendo as mãos de puro nervosismo.E se ele disser que
CameronAcordo em uma cama de hospital. Eu conheço a clínica da família e olhando ao redor tenho certeza que não estou nela. A minha morena não está ao meu lado, quem está é o Alexandre. Ele digita no celular, concentrado.― Onde está a Amanda?Sem se assustar com a interrupção, ele se vira para mim.― No quarto ao lado.― Quarto? Como assim quarto? ― mil coisas se passam pela minha cabeça e todas elas envolvem Amanda ferida.― Nada de mais. Ela se abalou com a possibilidade de te perder e teve um desmaio. Já está bem, só em observação.Me levanto com certa dificuldade. Sinto dor.― Ei, não pode levantar. ― Ele fala quando me vê me desconectando dos aparelhos.― E você não deve mentir. Ninguém fica em observação por um desmaio qualquer.― Assunto de vocês. Depois conversa com ela.― Depois é um caralho. Se levantar daqui não for resultar em morte súbita, eu vou ver a minha morena.Alexandre só revira os olhos. Não parece disposto a me impedir.Nessa hora chega uma enfermeira e começa