Nunca pensei que estaria só nesse momento. Depois de tanto tempo sozinha na vida é difícil deixar alguém entrar, participar, ter um lugar ativo nela mas Luigi me fez questionar essa teoria. Ele chegou tão melindroso na minha vida, ganhando espaço na minha agenda e no meu coração. Arquivando memórias inesquecíveis na minha mente e memórias corporais indescritíveis em minha pele.Cada beijo era como se assinassemos um contrato irrevogável de que eu era dele e ele era meu. Cada abraço era como se nos contagiássemos de amor e cada risada era a verdade explícita em nós, estávamos apaixonados e sempre estaríamos.Aquele italiano, o mesmo que esbarrei duas vezes naquele casamento, o mesmo que foi atrás de mim no aeroporto com rosas, o mesmo que não conseguia desgrudar os lábios dos meus e nem me deixar tomar um único banho sem me pedir para repetir a dança que me viu fazer naquela bendita chamada de vídeo. O meu Luigi, que tanto me fez derramar lágrimas com suas mentiras, o mesmo que me fazi
- Você não pode...- Eu devo cumprir com a minha parte, Matteo! - me exalto, fazendo com que a máscara de cílios borre sobre a pálpebra maquiada. Droga, já havíamos conversado e brigado diversas vezes sobre o meu jantar com Will. Pensei que ele já tivesse dado por vencido, eu era uma jornalista, meu trabalho assim como o dele era perigoso, bom não tanto comparado ao dele mas arriscado também. E era a minha obrigação cumprir com o acordo, já que Will descobriu o local para onde levaram Luigi.- Você já cumpriu com a sua parte, já serviu como intermediadora e pagou pelos serviços dele, não precisa ir nesse jantar - lanço um olhar ameaçador para ele através do espelho - ao menos não se arrume tanto, está parecendo que quer chamar ainda mais a atenção daquele merdinha.- Você se ouve? Realmente, se ouve quando fala esse tipo de coisa para mim? - me levanto da cadeira, indo na sua direção. Parado perto da cama me observando da cabeça até a unha do pé, Matteo parecia enfeitiçado, devo admit
- Ele parece que vai me matar a qualquer instante - Will comenta, levantando o cardápio grande na frente do rosto para se esconder da visão do loiro do outro lado do restaurante, onde mantinha a atenção em nós. Não sei como ele conseguiu desatar aquele nó, apenas sei que vou prosseguir com o jantar até o final e não será a cara feia de Matteo que me interromperá.- É só fingir que ele não está lá - digo, escolhendo um prato de massa com frutos do mar e entregando o cardápio ao garçom - obrigada - voltando a minha atenção á Will, decido ser evasiva e bastante cautelosa, com sorte eu consigo um último favor - como você está?- Estava bom, mas melhorei agora na sua companhia - forço um sorriso amigável porém não dura mais que três segundos - mas não precisa de toda essa enrolação para me pedir um último favor, ambos sabemos que você não está à vontade jantando comigo e não precisa se forçar á andar de gôndola no final. Pode pedir, perguntar e falar o que quiser.- Tá bom - suspiro alivi
- Um mês, muitas das vezes se passa rapidamente quando estamos nos divertindo e vivendo a melhor fase. O tempo corre rapidamente, consumindo nossa felicidade, muito diferente de quando estamos no hospital. O tempo parece nos castigar impiedosamente, cada minuto parece uma eternidade, posso sentir minha vontade de viver sendo sugada pelas paredes brancas e sem graça, minha beleza e juventude se esvaindo... - mais um suspiro - e como se não pudesse piorar, a comida horrível fez com que minhas glândulas salivares secassem para sempre e agora não sinto mais o gosto de nada - ela dobra a folha - isso é uma carta ou um pedido de socorro?- Os dois - admito, me deitando novamente na cama hospitalar gelada. Logo terminaria o inverno e logo eu sairia dessa prisão disfarçada de quarto junto com meus bebês.- Mas não tem remetente - ela diz, virando o papel e o envelope.- Um pedido de socorro não precisa de remetente, basta uma alma boa e caridosa encontrar.- Está sendo dramática, uma alimenta
- Os bebês - ela tenta disfarçar, porém é tarde demais - vi sim...- Não estamos falando dos bebês agora, Giulia, você sabe bem de quem estou perguntando - tento ignorar o máximo que posso o nó se formando em minha garganta e prossigo - não negue, percebi há um tempo o seu comportamento distraído e errático, a sua falta de preocupação nas buscas e o nervosismo quando me olha nos olhos. Desde quando está em contato com ele, hm? A quantos meses está escondendo isso de todos?!- Me desculpa, Carol... eu não queria, juro por Deus que...- Não jure por Deus, ele não tem nada com isso tudo o que você fez - avanço para o portão aberto mas ela me segura pelo antebraço - me solta, Giulia, você não tinha o direito de esconder isso de mim! Você viu o e
- Não pode me obrigar a comer isso - olho com aversão para o mingau de aveia na mão da minha melhor amiga. Eu amava Mari, mas se me obrigasse a colocar mais uma colher daquilo na boca, serei obrigada a cortar nossa amizade.- Posso sim, é o seu castigo por fugir - ela deixa a colher cair no prato - sinceramente Carolina, antes como grávida fujona e agora paciente fujona, linda fama pra sua cara. - Vai me dar outra bronca? Devo lembrá-la que ainda sou uma paciente e que você não é a minha mãe - ergo o queixo, orgulhosa pelo rebate, mas logo minha confiança murcha.- Não sou e nem gostaria de ser você quando levar uma bronca dela.- Espera, você contou sobre a minha fuga? - meu olhos se arregalam tal como o sorriso escancara no rosto da Mari.- Sim, se eu não contasse, seria eu quem levaria a bronca - ela retira a mesinha de cima de mim, colocando-a no chão com o mingau - Você ficou desacordada por um dia inteiro, claro que eu deveria informar a tia. Aliás, ela deve ligar daqui a pouco
Era ele e ao mesmo tempo não era, estava mudado além da barba crescida. Até mesmo o sorriso estava diferente, não era o mesmo sorriso brilhante que me fazia derreter igual picolé. Aquele Luigi por trás da tela da TV, dando entrevista para aquela repórter xereta na frente da mansão, era outro.Ele foi muito bom em arrumar uma desculpa para seu sumiço nos negócios e nos eventos, aproveitou para apresentar um novo projeto que dissera estar desenvolvendo nesse período que ficou ausente.Mariana e eu ficamos paradas em frente a TV até Matteo desligar, fazendo nos acordar do choque. A surpresa foi tão grande que eu não sabia o que dizer ou sentir, simplesmente estava estagnada, perdida.Tinha quase certeza que vi Luigi no meu quarto, dizendo para cumprir a promessa que fiz diante da porta fechada da mansão. Mas como fiquei desacordada por um dia inteiro, devido á febre alta e a convulsão que acabei tento quando cheguei no hospital, provavelmente foi um delírio. Ele não me diria aquilo, ele
- Pode engolir o seu dinheiro e o seu sobrenome, os meus filhos não vão precisar de nada de você. Te garanto que não seremos uma distração na sua vida tão ocupada - me aproximo para falar bem na sua cara, a visão embaçada pelas lágrimas que acumulavam cada vez mais nos meus olhos, me impediam de ver seu rosto nitidamente. Enxergava-o apenas como um borrão do que foi um dia, do que era antes do maldito sequestro - Por que não admite que isso tudo não passa de um castigo? De uma lição que você quer me dar? Por que não pergunta de uma vez?! Por que não faz a maldita pergunta que está rondando sua cabeça, Luigi?! Me acusa logo, porra!- Ver o quanto você está histérica com essa questão, só me faz pensar que a Raquel estava certa de algo. Escondendo tudo aquilo de mim, o que você pensava que eu iria achar?! Tantos sinais, estavam todos piscando na minha cara, entretanto me fiz de cego, a confiança que eu tinha naquele cara e em você me cegaram!- Assim como você mentiu tantas vezes para me