A cor natural da pele de Flor era um café com leite, com um toque de chocolate da minha parte e o leite vinha de Fábio. Mas naquele momento ela estava da cor de jabuticaba e ria como uma hiena.
Olhos vermelhos por causa do cloro da piscina e nariz escorrendo por causa do picolé de chocolate que segurava. Ao seu lado esculhambado quase ao mesmo nível estava Bruno. Um garoto muito fofo de olhos castanhos, cabelos lisos e a pele cor de canela.
Bruno e Flor se tornaram amigos inseparáveis e juntos estavam quase derrubando a casa dos pais de Ulisses.
Sim. Nós viemos junto com Ulisses. Ele nos prometeu que antes de vir de vez queria pelo menos passar uns dias com a família, para depois resolver suas pendências no centro de São Paulo. Assim sendo, e já que não tinha nad
Suzy e Paulo chegaram na noite anterior e logo cedo Ulisses cumpriu sua palavra de nos levar para o Museu do Café.— Engraçado que eu achei que vocês iriam querer ver a praia daqui. — disse Ulisses para nós.— Mas menino!... Eu nasci e fui criada na praia que nem caranguejo. Mas vai ser a primeira vez que eu vou conhecer um pólo mundial de café!— Pois é… A praia eu também já conheço mas vir pra Santos sem visitar o Palácio da Bolsa Oficial do Café seria um desperdício pra uma barista. — falou Suzy.— Quem dera tivesse um museu do açúcar em Recife. — comentei.
Acordei com preguiça de levantar uma das coisas mais difíceis de me adaptar em São Paulo era o frio matinal. Ao contrário do Recife, cuja madrugada também é fresquinha mas às cinco horas da manhã o sol já está reinando e às seis a vida já está em ebulição.Já em São Paulo além de demorar muito mais do que eu estava acostumada para o sol aparecer o frio também tardava em nos deixar, isso quando ele ia embora. Meu tempo nessa cidade deu um significado totalmente novo para a frase “Eu preciso de um café para despertar”. Além do frio e da escuridão já naturais também tinha os ar condicionados e as cortinas que tornavam para mim uma missão praticamente impossível saber que horas eram pela manhã
— Gente… Primeiramente muito obrigado pelo apoio e por terem vindo aqui hoje. Mas… Eu estaria enganado em achar que tem alguma coisa esquisita no ar? — perguntou Pierre ao sair da sessão vendo a cara de tacho minha e de Ulisses — Se não quiserem dizer não tem problema. Mas vocês dois estão parecendo… Diferentes.Fiquei intrigada com algo que eu sempre me perguntei: Quando a gente transa, será que as outras pessoas percebem?Em todo caso, se eu não sabia como dizer para ele, agora ele tinha me dado a deixa perfeita.— Pierre! — comecei — Eu vou dizer logo sem arrodeio porque se tem uma coisa que eu odeio é a tal da mentira inclusive, sugiro que sente que eu vou pedi
Na escola, conversamos com a administração, explicamos a situação também sem entrar em detalhes pessoais e que eu iria falar com Fábio para depois retornar a eles. — O que é que eu vou fazer, Ulisses? Aquele estrupício mal consegue se sustentar em pé quanto mais pagar essa escola cara do jeito que é. Ainda tem as despesas lá de casa… O curso de barista que eu vou ter que sair… Eu realmente não sei o que fazer da minha vida! — Agora você pode até não saber, mas eu tenho certeza que cê já passou por coisa muito pior e não só sobreviveu como deu a volta por cima. É justamente dos problemas na resolução de problemas que a gente pode usar a criatividade pra fazer coisas novas e até muito melhores do que eram antes. Como disse Thomas Edison: “O sucesso é constituído por 10% de inspiração e 90% de transpiração. Então eu confio plenament
O céu estava cinza, mas não o cinza de costume. Eram nuvens carregadas, predição de chuva. Ainda assim, eu não deixaria de avançar rumo ao meu destino. Eu havia tomado uma decisão. E eu nunca volto atrás de uma decisão.Era um domingo à tarde e depois de pensar bastante decidi que teria a conversa definitiva que estava faltando para fechar esse loop da minha vida. Tentei ensaiar minhas palavras no caminho mas não consegui.Não tive dificuldade em passar pela portaria pois a minha entrada já estava autorizada. Diante da porta fechada inspirei fundo e bati. Uma cabeça com uma cabeleira cobrindo um par de olhos verdes surgiu na fresta da porta.— Oi. — cumprimentei.
“Venham no trabalho amanhã. Cheguem cedo. Entrem após o sinal. Vocês vão saber qual é o sinal. Confiem em mim.”.Essa foi a mensagem que Ulisses e eu recebemos de Suzy na noite anterior. Agora estávamos do outro lado da rua em frente à unidade em que Ulisses e eu costumávamos trabalhar.— Vocês tem certeza que não vão querer nada? — perguntou a atendente da farmácia onde estávamos aguardando o tal sinal.— Por enquanto não, obrigado. A gente tá só dando um tempinho. — respondeu Ulisses.— Desculpa é que o gerente disse que cês não podem fica
Alguns dias depois Pierre quis me encontrar no restaurante onde tivemos nosso primeiro encontro. Isso me deixou muito preocupada. — E aí como se sente em estarmos no restaurante do nosso primeiro encontro?… No caso o nosso primeiro encontro depois de adultos. — perguntou Pierre sorrindo. — Pierre… Confesso pra tu que eu tô preocupada. Sobre o que a gente conversou da última vez… — Desculpa, mas eu me vejo obrigado a interromper. Sobre o que você falou naquele dia eu só tenho a agradecer. Se ajudar, serei bem direto como você gosta: Eu estou aqui para avisar a você oficialmente que estou seguindo com a minha vida. — Meu filho, olhe… Seja específico e claro porque depois daquela sua mensagem eu fiq
— Menino! Como é que tu rejeita uma proposta de voltar a ser gerente ainda mais ganhando aumento?— É que tá quase tudo certo pra eu ser gerente de uma outra cafeteria. — respondeu Ulisses.— E tu me escondendo esse tempo todo? Tu e Pierre escondendo as coisas de mim, né?— Eu só tava esperando o melhor momento pra falar com você.— E por que tu acha que só agora foi o melhor momento?— Em segundo lugar porque eu ouvi da sua própria boca você dizendo que ainda quer ter a sua própria cafeteria, mesmo trabalhando com o gigante lá.<