— Tá linda meu amor! — disse tia Margarida ajustando o meu coque.
— O que? Não, tia, não aperta… — comecei a dar risada afastando a mão dela — É um coque frouxo.
— Ah, desculpe! — disse ela escondendo o sorriso com a mão — Pensei que tivesse se soltando.
— Chegue mais perto minha filha. — pediu minha mãe e eu me aproximei, abaixando para ficar na altura dela que estava sentada no sofá — Tu tá de maquiagem, é Lis?
— Tô sim mainha.
— Mas isso é maquiagem demais. Uma moça decente...
— Mainha! — interrompi.
— Deixa a garota Rosa!
Luzes neon de cores diversas iluminavam o espaço colorindo os corpos suados que se sacudiam no meio do salão. Meu coração dava sopapos sincronizando suas batidas com aquele lugar. Será que eu estava ficando velha demais para isso? À minha frente do alto de uma plataforma o DJ conduzia a animação do ambiente, riscando o disco e apertando mil botões com muita habilidade. Ergui os braços seguindo a dança das pessoas e caminhei até chegar ao bar que se localizava ao meu lado esquerdo. — Moço. Moço!!! — Oi. — Eu quero uma bebida bem forte. — pedi ao barman. — Qual? — Sei lá! Não entendo nada
Sentei-me na cama sentindo uma dor lancinante na cabeça, segurei-a com as duas mãos como se ela fosse sair rolando e quicando pelo chão. Apertei meus olhos tentando tirar o foco da dor e percebi outra dor, a da minha boca, passei a língua no lábio inchado sentindo um gosto de pomada. Eca! Que porra é essa na minha boca? Olhei para o lado e vi Flor dormindo sozinha na cama dela. Oxe, eu nunca durmo na minha cama! Tô sonambulando agora, é? Deitei-me novamente tentando clarear a mente. Peraí! Eu vi o que eu vi mesmo ou ainda tô bicada?
Eu colocava o lanche de Flor em sua bolsa quando ouvi a primeira buzinada. — Mainha, eu não quero lanchar doce de goiaba com bolacha de novo não. — Menina… Tu dê graças a Deus por ter um docinho com bolacha pra tu comer. — Não mainha! Eu quero salgadinho. — ela baixou o tom de voz para não ser ouvida pela tia e pela avó, que eram as responsáveis pelo lanche — Eu fico com vergonha! As outras crianças comem biscoito recheado, salgadinho e eu cream cracker com doce. Sim mainha… Tu sabia que eles chamam biscoito de bolacha? — Que conversa é essa Flor? — Pois é, eu já expliquei pra eles que quando é doce é biscoito e quando é salgado é bolacha. M
— Tio Lilica tu sabe do tio Pipi? Mainha tava chorando por causa dele. — Chorando? — ele perguntou olhando para mim. — Que conversa é essa de chorando, Flor? — perguntei. — Tava sim, eu ouvi. Tia Margarida disse que o único buraco que tem que sair água da gente por causa de macho é o buraco da… — Maria Flor! — interrompi. — Você não deveria chorar por ele. — disse Ulisses. — Também acho, ela tem TU e tem painho. — Flor! A última coisa que e
— Ulisses! Tu endoidasse de vez, foi? — perguntei com as duas mãos na boca. — Eu disse que daria um soco no babaca que fizesse você sofrer. — respondeu com o cenho franzido. Pierre pôs as mãos no chão em busca de apoio para ficar de pé. Eu não sabia se corria para ajudá-lo ou se aproveitava que ele estava caído e ajudava Ulisses a nocauteá-lo de vez. — Eu… - começou Pierre limpando as barras da calça - Eu não quero briga, só quero conversar. — ele massageava o queixo inchado. — Agora você quer conversar!... Depois de quase duas semanas de abandono da mulher que você fez questão de conquistar aí do nada você acorda num belo dia e pensa: ‘Sabe de uma coisa? Sabe aquela garota da cafeteria que eu seduzi?
Quando cheguei na cafeteria corri para a sala dos funcionários para me recompor e Ulisses e Suzy vieram atrás de mim. Suzy me abraçou, Ulisses nos abraçou e eu só me deixei ser consolada.— O que ele disse? — perguntou Suzy.— Que não tava muito bem… — respondi.— Eu deveria ter batido mais nele. — disse Ulisses nos apertando mais forte.— Amiga, vai passar. Você vai ficar bem. — afirmou Suzy.— Eu vou. — falei me afastando do abraço deles — Se vocês me verem interessada em algum macho de novo, me lembrem da minha promessa de
Flor e eu descemos correndo as escadas para que Ulisses parasse de buzinar, qualquer dia os vizinhos iriam me processar. Chegamos ofegantes no carro quando vi Fábio de pé ao lado de Ulisses.— Painho!!! — Flor correu para os braços do pai.Eu não tinha um segundo de paz na minha vida. Dei passos largos até Fábio e perguntei furiosa:— O que é que tu quer, hein?— Esqueceu, foi mainha? Hoje é o café do dia dos pais lá da escolinha.— Claro que eu sei minha filha, como é que eu ia esquecer? Pedi a meu chefe pra eu ir contigo. — disse eu apontando p
A escola estava toda decorada com balões azuis, uma fachada feita pelos alunos escrito “Feliz dia dos pais” e uma enorme mesa com saladas, bolos, tortas, sanduíches, sucos, refrigerantes e uma variedade de comida para todos os gostos. — Meu velho… É hoje que eu vou lavar a burra! — disse Fábio olhando para o banquete. Mal nos aproximamos da mesa, Fábio foi direto encher um pratinho. Ele foi o primeiro. A mãe do Tadeu, um dos amiguinhos de Flor, se aproximou de mim com um sorriso. — Oi, Lis! Tudo bem? — Tudo bom Marta e tu? — Eu tô ótima, minha querida, obrigada! Então esse é o famoso papai de Flor? — perguntou ela apontando para Ulisses.