— Meu amor! — soltei o ar sentindo minha cabeça pulsar de tanta dor e preocupação.
— Tu tá aperreada é mainha? Tu chega quando? Eu tô com painho aqui em casa.
Eu abri um sorriso de alívio. Ela estava bem.
— Tô indo pra casa agora. Eu te amo, viu minha pretinha?
— Também. Quer falar com painho?
— Quero! — rugi.
— Ih, painho tu tá é lascado!
Ouvi Fábio rindo ao telefone quando o pegou.
— Tá rindo de que, trepeça? — perguntei revoltada com a cara de pau do sequestrador da minha filha de pegar no telefone dando risada enquanto estou aqui me esvaindo.
Seus cabelos eram castanhos e estavam presos em um coque frouxo. Ela tinha lindos olhos verdes que me lembravam os de alguém em especial, porém afastei esses pensamentos. Era uma mulher alta, com 1.70 cm, eu diria, e usava uma maquiagem muito leve, calça social feminina, saltos fechados e uma blusa sem decote. Era discreta e elegante. Uma linda mulher e a simpatia não passava nem um pouco despercebida. Se abaixou apoiando um joelho no chão de cerâmica branco, um braço sobre o joelho e, parecendo bem à vontade, sorriu para Flor: — Olá! Você deve ser a Maria Flor. — estendeu a mão para minha filha — Eu sou a Fernanda Marinho, muito prazer. Flor apertou aquela mão gigante diante de si, nunca fora tratada de igual para igual por um adulto como estava sendo naquele mo
— Olha só… Tu brincasse foi muito! — falei ainda apreensiva. — Flor, aquela ali é a Miriam. — disse Fernanda apontando para a recepcionista — Ela vai ficar com você enquanto eu converso com a sua mãe, tá bom? — Tá bom! — disse Flor descendo do meu colo e indo para perto da recepcionista. Eu entrei na sala e sentei na poltrona cara a cara com a Fernanda, sentindo-me como se estivesse diante de um médico aguardando o resultado do exame que definiria o meu tempo de vida. — Flor de Lis, em primeiro lugar quero te dizer que a sua filha é maravilhosa. Nossa! Ela é super cooperativa. — Brigada… Ela é mesmo. É só explicar pra ela direitinho que ela
— Tá linda meu amor! — disse tia Margarida ajustando o meu coque. — O que? Não, tia, não aperta… — comecei a dar risada afastando a mão dela — É um coque frouxo. — Ah, desculpe! — disse ela escondendo o sorriso com a mão — Pensei que tivesse se soltando. — Chegue mais perto minha filha. — pediu minha mãe e eu me aproximei, abaixando para ficar na altura dela que estava sentada no sofá — Tu tá de maquiagem, é Lis? — Tô sim mainha. — Mas isso é maquiagem demais. Uma moça decente... — Mainha! — interrompi. — Deixa a garota Rosa!
Luzes neon de cores diversas iluminavam o espaço colorindo os corpos suados que se sacudiam no meio do salão. Meu coração dava sopapos sincronizando suas batidas com aquele lugar. Será que eu estava ficando velha demais para isso? À minha frente do alto de uma plataforma o DJ conduzia a animação do ambiente, riscando o disco e apertando mil botões com muita habilidade. Ergui os braços seguindo a dança das pessoas e caminhei até chegar ao bar que se localizava ao meu lado esquerdo. — Moço. Moço!!! — Oi. — Eu quero uma bebida bem forte. — pedi ao barman. — Qual? — Sei lá! Não entendo nada
Sentei-me na cama sentindo uma dor lancinante na cabeça, segurei-a com as duas mãos como se ela fosse sair rolando e quicando pelo chão. Apertei meus olhos tentando tirar o foco da dor e percebi outra dor, a da minha boca, passei a língua no lábio inchado sentindo um gosto de pomada. Eca! Que porra é essa na minha boca? Olhei para o lado e vi Flor dormindo sozinha na cama dela. Oxe, eu nunca durmo na minha cama! Tô sonambulando agora, é? Deitei-me novamente tentando clarear a mente. Peraí! Eu vi o que eu vi mesmo ou ainda tô bicada?
Eu colocava o lanche de Flor em sua bolsa quando ouvi a primeira buzinada. — Mainha, eu não quero lanchar doce de goiaba com bolacha de novo não. — Menina… Tu dê graças a Deus por ter um docinho com bolacha pra tu comer. — Não mainha! Eu quero salgadinho. — ela baixou o tom de voz para não ser ouvida pela tia e pela avó, que eram as responsáveis pelo lanche — Eu fico com vergonha! As outras crianças comem biscoito recheado, salgadinho e eu cream cracker com doce. Sim mainha… Tu sabia que eles chamam biscoito de bolacha? — Que conversa é essa Flor? — Pois é, eu já expliquei pra eles que quando é doce é biscoito e quando é salgado é bolacha. M
— Tio Lilica tu sabe do tio Pipi? Mainha tava chorando por causa dele. — Chorando? — ele perguntou olhando para mim. — Que conversa é essa de chorando, Flor? — perguntei. — Tava sim, eu ouvi. Tia Margarida disse que o único buraco que tem que sair água da gente por causa de macho é o buraco da… — Maria Flor! — interrompi. — Você não deveria chorar por ele. — disse Ulisses. — Também acho, ela tem TU e tem painho. — Flor! A última coisa que e
— Ulisses! Tu endoidasse de vez, foi? — perguntei com as duas mãos na boca. — Eu disse que daria um soco no babaca que fizesse você sofrer. — respondeu com o cenho franzido. Pierre pôs as mãos no chão em busca de apoio para ficar de pé. Eu não sabia se corria para ajudá-lo ou se aproveitava que ele estava caído e ajudava Ulisses a nocauteá-lo de vez. — Eu… - começou Pierre limpando as barras da calça - Eu não quero briga, só quero conversar. — ele massageava o queixo inchado. — Agora você quer conversar!... Depois de quase duas semanas de abandono da mulher que você fez questão de conquistar aí do nada você acorda num belo dia e pensa: ‘Sabe de uma coisa? Sabe aquela garota da cafeteria que eu seduzi?