Fino Choro da Noite
Fino Choro da Noite
Por: Rose Freire
Capítulo 1

No primeiro domingo do mês de setembro de 2021, véspera do meu aniversário, eu acordei, senti uma dor de barriga forte, me levantei depressa, fui ao banheiro, passei um tempo olhando o celular, procurando alguma coisa para me distrair.

Fiz minhas necessidades, depois dei a descarga. Olhei para o espelho vi uma mulher com mais de 40 anos, cabelos enrolados todo desgrenhado, pele clara e enrugada antes do tempo e tentei me lembrar de um sonho estranho que tive.

Eu queria me lembrar de algo bom, eu queria entender porque sou assim. Eu sou Liene Felix, sou uma contadora, que não exerço minha profissão, pois trabalho com contabilidade, mas não sou a chefe, não assino o balancete, não dou carão, apenas faço conciliação.

Mas de uns tempos para cá queria ser outra coisa, queria ter outra profissão e o mais importante queria um amor.

Voltei para meu quarto, sentei na minha cadeira, peguei um caderno e comecei a pensar, porque ninguém me quer, porque sou tão chata, porque sou tão esquisita, então fiz uma lista das minhas qualidades e dos meus defeitos, não me contive, queria escrever algo diferente, nada de história loucas sobre ET, Anjos, Sereias e Vampiros, nada de problemas, queria soltar minhas palavras que trazia os delírios dos meus pensamentos matinais e comecei a escrever sem para, sem contexto, sem pontuação, sem correção. E escrevi tanto que doeu minha mão, isto ficou assim:

Rostos

A face de todo romance

Achá-la bela somente

É o começo

A chave para adoração constante

Peça para entrar no jogo

Não é apenas uma variante

Cuidado com o fogo

Simboliza a atração num instante

Puxa o pequeno momento

Extremamente marcante

Que traz um cheiro

Num lance do vento

Deduzo ser brasileiro

Para criar um elo infinito

Vislumbra apenas o externo

Uma paixão ardente

Pois não ostenta a verdade

Para dá início ao interno

Que às vezes era horrível esconde

Todavia cabe um olhar mais atento

Para ver os traços do tempo

Uma linguagem natural

Da idade escondida presa no grampo

Não vejo nada de sobrenatural

Que atrai a bendita

Beleza escultural

Num soar do corpo e a mente

O pecado corporal

Uma crente que sente

Num olhar de nobreza

Revela uma reação sem igual

Numa harmonia da natureza

A infame sociedade que cultua apenas vaidade

Como tentar pegar o vento

Deve reconhecer a lealdade

E deixar fluir o tempo

Para ser feliz de verdade

Correndo pelo campo

Num ambiente tão atraente

Uma festa de luxo

Se faz comovente

Quanta vidas divergentes

Tu tão simples

Pode ser assim como a gente

Aí pensei mais, e escrevi tudo que passava na minha cabeça, no que eu queria mais, no que poderia mais ser se eu não fosse tão medrosa.

Eu poderia ganhar o mundo, viver melhor, ou talvez sofrer em demasia, mas não seria tão triste minha vida se eu deixasse de por tantos obstáculos para ir em frente.

Eu moro na casa de minha mãe. Ela está aleijada e cega, meu pai morreu, minha irmã é casada mais ainda vive na casa de minha mãe, e eu voltei porque me separei e estou desempregada.

Estou mais triste do que na época que estava solteira, meu marido me traiu, me deixou sem explicação, não fiz nada, mas já sentia a solidão, ele não me amava. Ele queria apenas uma desculpa para ir embora, e foi, nem se que deu, eu sou mal-amada, abandonada e quero muito ser feliz.

Eu preciso voltar a sorrir, eu preciso escrever e libertar minhas magoas, meu choro, minha tristeza que tanto me sufoca de noite quando vou dormir.

Eu quero mudar, eu quero crescer, eu quero vencer esta dor que me deprime e me faz desejar morrer.

Vou escrever mais, e despejar outra poesia que liberta meu desejo de ser outra pessoa.

Ah! Se fosse amada

Despreocupada com o tempo

Pensando como seria

Sentada sentindo o vento

Coisas incríveis eu queria

Estrelar um filme

Oh! Deus me dar discernimento

Como seria bom ser uma estrela

Mesmo que fosse por um momento

Queria ser estimada pelo povo

Pelas ruas ser considera bela

Me fazendo de tagarela

Sempre mimada de novo

Para estar sempre a celebrar

A alegria de pousar

Para todos

Admirada pelos curiosos

Vivendo o tempo saudoso

Sendo uma pessoa erudita

Mas ao mesmo tempo despida

De todo orgulho insidioso

Para ser simples

Nunca ter dúvida

Para tentar chutar

Sem medo, indo duma vez

Prosseguindo em lutar

Com toda intrepidez

Por dias melhores a encantar

A leveza da certeza

Com uma bagagem de experiência

Ser sabia

Mas não ser metida

Ser legal

Sem ser falsa

Ser amada

Mas não idolatrada

Descarregando minhas frustrações

Em letras bem escritas

Não apenas em imaginar

Quero achar as receitas

Para bendito poemas concretizar

Que muito guardo no pensamento

O medo de cair granizo

Em pleno Ceará

Quando mais de desamor sofro

Mas a dor tenho

Mas me torno um cimento

Não agüento mais tanta rejeição

Quero muito acabar com minha solidão

Ah se fosse amada

Para sentir uma grande paixão

E deixar de ser tão maltratada.

―DROGA! QUE DOR MALDITA EU SINTO. ―Eu gritei alto.

As pessoas de casa foram ver o que passava no meu quarto trancado.

―O que houve, Liene? ― Minha irmã perguntou, batendo na porta.

―Nada não, eu machuquei o dedo.― Eu disse, me fazendo de desentendida para não causar preocupação.

Mas a dor crescia. Não era na cabeça, não era no dente, não era na barriga. Esta dor é no coração sofrido que me faz chorar, num dia que deveria ser feliz, está perto de meu aniversário, mas sinto tristeza.

Lágrima

Gota salgada

Que parece uma letra

Ou seria melhor dizer, um símbolo?

Numa época recalcada

Que parece um sinal

Que Deus me responde

 Os estímulos da vida

Num clamor nacional

Cristalina que nasce da janela da alma

Mais eficaz que uma palavra dita

Para parecer cosmopolita

Para a emoção mais profunda

Apresenta uma licença

Não me vejo mulher fecunda

Já que deixei de pensar em criança

Seja na dor ou na alegria

Lição de quem sente

Intrigante para as pessoas frias

Infernal para o atacante

Inútil para o indivíduo material

Sensível para o amante

Mostra uma pessoa cordial

Sensível nas emoções

Expressão real do sentimento

Fazer nascer é mais que uma fantasia

É sentimento de contente

Em plena nostalgia

Com todas as fases da vida

Mas para conseguir parar

Quero ser muito sabida

É necessária ajuda divina

Quando precisa tirar

A dor fina

Para seguir com um riso da Monalisa

Mas chego a ficar indecisa

O choro eterno não dever ser constante

Pare por alguns instantes

Para nascer com certeza

Uma lágrima de emoção

Deve acontecer com beleza

Uma leve brisa

Para provar a compaixão

Que risca meu dia inteiro

E cria na meditação

Um sonho lírico

Que o povo visa

Sem precisar ficar rico.

Estava na hora do café da manhã, mas eu não estava com fome, normalmente vou logo fazer o café, mas neste dia estava muito triste. Então fui até a mesa, me sentei, olhei para xicara, não fiz nenhum movimento. E fiquei observando os meus parentes se alimentarem.

Eles me olharam, estranhando minha falta de disposição.

Eu queria só escrever, não queria comer, nem sair, nem ver tv. Eu queria apenas ficar sozinha. Minha mãe perguntou:

―Liene, não vai tomar café?

―Estou sem fome.

―O que houve?

―O de sempre, mamãe, a solidão que não me abandona.

―Liene, ligue para o seu marido? ― Minha mãe me sugeriu.

―Agora ele é ex. Não me atende mais.

―Tente, não deixa a outra vencer.

―Ele não me quer, não tem nada a ver com a amante dele, tem a ver comigo, ele não me ama, E não me procura, mas procurar por muitas mulheres nas redes sociais para transar.― Eu contei.

Eu segurei a vontade de chorar.

―Filha, se acalme. Coma alguma coisa, não pense mais nele, então. ― Minha mãe percebeu minha dor, mesmo sendo cega.

―É o que estou tentando fazer.

―Mas coma, está bem?

―Sim, vou comer uma maça.― Eu concordei, pegando a maça e voltando para meu quarto.

Maça

Oh fruta gostosa

Vermelha é a mais linda

Tão linda como uma rosa

Brilha como uma tentação

Alguns dizem que é proibida

Outros apenas fazem comparação

Mas quem quer envenenar

Faz com malicia

Faz tudo para alienar

Com intenção mesmo

A verdade prejudicar

Dureza de coração

Quer mudar a razão

Escondida estará

A doce fruta

Fora do alcance?

Não!

Mas escorrega como uma truta

Tu acharas se for com força

 Escolher bem na feira

Todos dizem que querem amor

Mas se deixa levar pela sujeira

Carregadas pelo ódio

Que doce restará

E aquele que mais encontra

Tão bonito se ouve nas músicas

Tão ingênuo se vê nos filmes

Cheio de padrões e características

E quando se diz que ama

O desejo é tão forte

Porem do outro é apenas holograma

Que explode por dentro

Dilacerado ficando

E culpa a sorte

Quando o outro não corresponde

Tudo se perde

Quando não há retorno

A maça fica podre

E o amor murcha sangrando

No chão sem ajuda

O amor vira moribundo

Com a verdade revelada

E o sentimento rebaixado

Como se nada mais importasse

Nem mais a verdade

Quase como se fosse

 O fim do mundo

Perde-se a noção do ridículo

Tento várias vezes o amor encontrar

Mas de nada funciona o pulo

Com silêncio se prende se fechar

Só fica o doce sabor da maçã

Que desejou sem poder

Alcançar o grande amor

Sem nunca ter tocado na fruta

Que muito esperou comer.

Que tristeza amanhecer

E saber que nunca mais vou poder te ver.

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