[Caso contrário, as pessoas vão achar que meu assistente não tem o mínimo de profissionalismo.]Rafael soltou um risinho. “Hehehe... Essa desculpa aí só deixou mais na cara, hein? Tentou esconder e acabou se entregando.”Mas, como um bom funcionário com carteira assinada, ele só ousava resmungar por dentro, responder, jamais.O carro seguia em velocidade constante. Beatriz olhava pela janela, distraída com a paisagem, sem a menor vontade de perguntar como Gabriel sabia o horário da sua alta, muito menos por que ele tinha ido buscá-la.Afinal, a razão era sempre a mesma: calar a boca dela. Evitar que dissesse algo inconveniente na frente do Sr. Henrique. Ou talvez... Fosse só um resto de consciência. No fim das contas, tinha sido ele quem a derrubou e causou a fratura.No banco de trás, Gabriel também mantinha o silêncio. O olhar fixo na parte de trás da cabeça dela, depois descendo até o pé.As bolhas haviam sumido, restando só marcas vermelhas bem suaves. Ela já andava com leveza, e
Beatriz inspirou fundo, tentando conter o impulso de discutir."Afinal, é só um lugar pra dormir. Dormir aqui ou ali, qual a diferença?", pensou. No fim das contas, faltavam apenas dez dias. Ela conseguiria aguentar.— Onde estão as minhas coisas? — Perguntou, com a voz firme.Gabriel percebeu que, apesar da raiva evidente, ela logo recuperava a compostura. Respondeu com naturalidade:— A Vi pediu para colocarem tudo no quartinho de hóspedes.Beatriz foi até o outro cômodo. Ao abrir a porta, deu de cara com uma bagunça completa. Suas coisas estavam jogadas no chão como se fossem entulho. Quem olhasse, acharia que era lixo de uma mudança apressada.Rafael entrou logo atrás e prendeu a respiração. “A Beatriz sendo tratada desse jeito pela amante? O quarto tomado à força, e ainda mandam ela dormir num depósito? Isso já passou de todos os limites...”Gabriel chegou em seguida, viu a cena e travou por um instante. Em seguida, virou-se para Vitória com o semblante fechado: — É assim que a
— Não vou a lugar nenhum. Só não gosto mais. — Disse Beatriz, com o rosto completamente impassível.Ao ouvir aquilo, Gabriel relaxou os ombros, que até então estavam tensos. Em seguida, virou-se para Rafael e ordenou:— Aproveita para passar no mercado aí embaixo. Compra um edredom e um jogo de cama.Rafael assentiu e saiu sem dizer uma palavra. Gabriel também voltou para a sala, como se o problema tivesse sido resolvido.Beatriz continuou organizando suas coisas. Estava quase tudo ali... Mas, de repente, como se tivesse lembrado de algo importante, levantou-se apressada e foi direto para o quarto de antes.Agachou-se diante da gaveta mais inferior e tentou abri-la com a chave. Antes que conseguisse, uma mão surgiu por trás e puxou a gaveta com força.Estava vazia.Beatriz congelou por um segundo. Depois virou-se devagar, apenas para dar de cara com Vitória, e um sorrisinho vitorioso pendurado nos lábios dela.— Cadê o meu caderno? — Perguntou Beatriz, com os olhos semicerrados de raiv
Ao trocar a água no banheiro, Beatriz percebeu algo estranho, todos os seus itens haviam sumido do armário. Escova de dente, creme dental, produtos de higiene... Tudo tinha desaparecido. No lugar, estavam apenas os de Vitória, organizados com todo cuidado, lado a lado com os de Gabriel.Beatriz soltou um sorriso torto, carregado de ironia.Morava ali há dois anos. E bastaram apenas duas semanas para Vitória apagar completamente qualquer traço da sua existência.Agora, a dona da casa parecia ser a intrusa. E ela… Uma hóspede indesejada, sem lugar definido.Do lado de fora do prédio do estúdio de moda…O Rolls-Royce preto parou bem na frente da entrada. A porta se abriu e, com toda elegância, Vitória desceu.Fez questão de se despedir de lado, com o corpo levemente virado, só para garantir que todos no saguão vissem com clareza quem estava ao volante.Só depois que o veículo se afastou é que ela acenou, virando-se com um sorriso confiante e aquele típico ar de quem venceu na vida.— Uau,
Às dez da manhã, Beatriz desceu para comprar os ingredientes. Preparou exatamente os três pratos que ele havia pedido, nem mais, nem menos. No horário certo, colocou tudo numa bolsa térmica e foi até a empresa entregar.Era a primeira vez, em dois anos de casamento, que ela pisava em um ambiente público relacionado ao mundo profissional de Gabriel.Ela não fazia ideia do que tinha dado nele naquele dia, mas não importava. Só deixaria a comida na recepção e iria embora.Ao se aproximar do balcão e explicar o motivo da visita, a recepcionista a encarou com um olhar afiado e desconfiado. A resposta foi fria, quase hostil:— Por favor, se retire. Antes que eu chame a segurança. Nossa empresa não permite a entrada de pessoas não autorizadas.Beatriz apertou os lábios, respirou fundo por dois segundos e pegou o celular. Pensou em mandar uma mensagem para Gabriel, mas hesitou ao abrir a conversa, só de olhar, já se sentia cansada.No fim, decidiu ligar direto para Rafael.Saiu para a calçada
— Com licença, senhorita... Posso perguntar qual é a sua relação com o Sr. Gabriel? — A recepcionista perguntou em voz baixa.— Babá dele. — Respondeu Beatriz, com total indiferença.A recepcionista ficou sem reação. “Ué... Uma babá tão jovem assim? Se fosse mesmo, por que o Rafael tinha falado daquele jeito?”Nem teve tempo de perguntar mais nada. O elevador se abriu, e Beatriz subiu direto.Quando a porta se abriu no último andar, Rafael já estava esperando por ela. Pegou a marmita das mãos dela com cuidado e falou em tom gentil:— Dona Beatriz, eu estava justamente indo descer... Mas... Olha, se precisar de qualquer coisa, é só chamar, de verdade.Beatriz sabia que ele era um bom rapaz. Sorriu de leve e respondeu:— Pode levar isso para ele. Eu já estou indo.— A senhora não vai entrar? — Rafael perguntou, surpreso.— Não quero ver aquela cara fechada. — Respondeu Beatriz, fria.Rafael pensou, “essa descrição foi bem precisa, na verdade.”Beatriz apertou o botão do elevador, pronta
Gabriel tentou se convencer de que estava tudo certo... E então começou a devorar a comida. Na primeira garfada, o bife grelhado quase o fez desmaiar de prazer. O sabor era tão bom que uma onda de satisfação tomou conta dele, felicidade pura em forma de refeição.Ao lado, dava para ouvir claramente a velocidade com que ele comia aumentando. Se alguém passasse por ali, juraria que tinha um porco faminto se empanturrando.Beatriz lançou um olhar de canto, o rosto carregado de desprezo, impossível esconder.O que antes tinha sido paixão, agora era puro nojo. Ela só estava ali porque, por enquanto, não tinha outro lugar pra ir. Engolia o orgulho como engolia saliva.Três pratos, uma tigela de arroz e uma sopa. Em apenas dez minutos, Gabriel não deixou sobrar nada nem um grãozinho de arroz.Satisfeito, limpou a boca e as mãos com um lenço umedecido. Beatriz, calada, já tinha se aproximado para recolher os potes. Virou-se e saiu com a mesma frieza com que entrou. Sem hesitar nem por um segun
— Alguma vez você já se importou comigo? — Beatriz perguntou de lado, o rosto impassível.Gabriel ficou mudo na hora. A expressão travou no meio do rosto, como se ele não soubesse o que dizer ou talvez soubesse, mas não tivesse coragem.Beatriz voltou para o quarto de hóspedes, deixando ele parado ali, imóvel, com um olhar perdido entre arrependimento e culpa.Como Gabriel tinha voltado mais cedo do trabalho, Beatriz aproveitou para arrumar suas coisas e sair para fazer compras.— Vai aonde? — Ele perguntou assim que a viu saindo.— Supermercado. — Respondeu ela, do jeito frio de sempre.Antes, Gabriel nunca perguntava nada. Mal falava com ela, na verdade. Mas hoje... Estava falador até demais.Mesmo depois de ouvir a resposta, ele ainda olhou para a sacola de pano nas mãos dela... E, sem pensar muito, calçou os sapatos de novo e foi atrás, em silêncio.Beatriz ouviu os passos atrás de si, mas não olhou para trás. Foram juntos até o elevador. Ela pensou que ele fosse sair pra outro com