Capítulo 4

Samantha

Olhando pra cima vejo a dimensão do edifício das Indústrias Carmichael, ele é grande e imponente, com as suas paredes de vidro que refletem toda a cidade nele. Respiro fundo e entro no local, já de cara tem uma recepção enorme, os funcionários muito bem vestidos passa o ar de riqueza e poder, até a recepcionista usa um terno mais caro que o meu carro. Vou até ela e peço para falar com o Sr Carmichael.

— Bom dia, como faço para ter uma reunião com o Sr Carmichael?

Ela me olha séria, levanta a sobrancelha e começa a rir. Isso me tira do sério.

— Posso saber qual é a graça? Eu fiz uma pergunta bem simples.

— A pergunta certa seria, como fazer para ter um horário com a assistente da secretária dele. – Diz me olhando com cara de deboche.

Parece a porra de um dejavu, percebo que não vou conseguir nada com essa mulher.

— Poderia me passar o contato dessa assistente da secretaria? Por favor! – Tento fazer charme, mas é em vão.

Saio de perto da recepção e dou uma olhada no local, tem um elevador com um movimento muito grande e outro quase ninguém usa, esse com certeza me daria acesso à direção do lugar, mas todos eles tem um código ou uma chave de acesso só para pessoas permitidas.

Me sinto frustrada por estar tão longe e, ao mesmo tempo, tão perto do miserável e sou barrada por um elevador. Entro no banheiro do saguão para jogar uma água no rosto para aplacar esse nervosismo e esfriar a cabeça.

Penso em ligar para o careca e tentar essa reunião, mas imagino que não será fácil assim. Saio dos meus pensamentos quando escuto alguém entrar em uma das cabines aos prontos.

— Olá? Está tudo bem moça?— Silêncio.

Quando vou sair do banheiro por não obter respostas ouço os soluços novamente, eu poderia muito bem deixar pra lá, mas às vezes tudo que queremos num momento de tristeza é alguém para desabafar ou xingar.

— Não sei o que aconteceu, mas se precisar de alguma coisa que eu possa fazer…

— Eu não quero falar sobre isso, não poderia, na verdade.

— Olha, se for algo de trabalho não se preocupe, pois não trabalho aqui, Deus me livre!

— Eu... eu, eu só estou sobrecarregada e me sentindo humilhada. – Ela volta a chorar novamente.

— Você não quer sair pra gente conversar? Sou uma ótima ouvinte.

— Estou envergonhada, posso continuar aqui dentro?

— Claro que pode, como desejar! E pode falar o que quiser, nem vou perguntar o seu nome.

— Eu trabalho com uma megera, não sei se ela é má comigo porque gosta ou porque reflete na maneira que é tratada pelo chefe. Sempre fico depois do horário e muitas vezes tenho que chegar antes do horário, faço o trabalho de 2 pessoas e só sou assistente da secretaria, estou pensando seriamente em desistir de tudo…

— Espera aí, você é assistente da secretária do Sr Carmichael?

— Sim, eu sou, mas meu sonho se tornou um pesadelo, que era trabalhar nesta empresa, eu queria ter coragem de poder mandar todo mundo a merda…

Não posso acreditar que estou falando com ela, a pessoa que vai me levar até o desgraçado, mas tenho que ser esperta, pois posso ter uma aliada, então presto atenção em tudo que ela diz.

— ... Só não faço uma besteira porque tenho uma sogra doente e 2 crianças pra criar, o meu marido sozinho não daria conta de manter casa com o seu salário de motorista.

— Eu entendo muito bem o que sente... posso perguntar o seu nome?

— Me chamo Ana!

—Então Ana, eu te entendo mais do que imagina, porque tenho um filho de 6 anos e uma tia que depende de mim, além de 6 funcionários, e estamos a um passo de perder tudo e ter que começar tudo do zero.

— Nossa, Sério? Isso é terrível, o que aconteceu?

— Ah Ana, se eu te contasse não acreditaria, estou tão perdida e... quer saber não quero te aborrecer com os meus problemas.

Ela abre a porta timidamente, vejo uma jovem bonita e delicada, mas com a carinha de sofrimento.

— Eu quero te escutar também, você nem imagina como foi bom desabafar com alguém.

Ela vai até o lavabo e confere a sua aparência.

— Vem cá, deixa eu tirar essa carinha de choro.

— Ah, não se preocupe, me fala porque está a ponto de perder tudo?

Pego um pequeno estojo de maquiagem que sempre carrego na bolsa e enquanto falo vou tirando a suas olheiras.

— Bom, comecei a minha semana feliz como sempre e do nada vem uma ordem de desocupação do quarteirão em que tenho um Bar e restaurante em frente a praça do centro.

— Sei onde é, se for o mesmo lugar que fui com o meu marido eu amei o ambiente, a comida e música a noite.

— Cassero's, esse é meu restaurante.

— Puxa vida, esse lugar mesmo!

Ela muda seu semblante de feliz para triste novamente.

— Sim, estou prestes a perder ele.

— Eu sei da desocupação, achei isso tão desnecessário, isso é muita crueldade.

— Sim, mas vou fazer esse Carmichael pagar por estar destruindo os sonhos de todos que tem os seus estabelecimentos naquele lugar, farei de tudo para conseguir permanecer onde estou.

— Olha eu não acredito que você possa fazer algo para mudar isso.

— Talvez eu possa sim, eu só precisaria de uma reunião com ele, preciso olhar nos seus olhos e descobrir o porquê disso tudo.

—Isso seria impossível neste momento, tem uma fila de espera enorme de pessoas poderosas para conseguir um horário com ele, eu sei porque passo o dia tentando encaixar esses horários que estão fechados por 6 meses. Se os chineses com contratos bilionários não estão conseguindo horário, imagina você... sem ofensa.

— Não ofendeu, mas ele não pode ser inacessível.

— Hã, ele só acha tempo a noite quando quer pegar alguma acompanhante de luxo ou outra interesseira qualquer. Fora isso ele é inacessível sim.

Uma luz acabou de acender na minha cabeça.

— Se quiser me dar seu número, poderemos sempre conversar quando precisar, as garotas tem que se ajudar não é.

— Seria ótimo, anota aí.

Anoto o seu número e dou o meu para ela, Ana parece ficar muito feliz, e eu também peguei uma simpatia por ela, mas, vou tentar obter mais informações.

— Foi um prazer te conhecer, como se chama mesmo?

— Samantha, e o prazer foi todo meu.

— Eu preciso voltar ao trabalho, pois tenho somente 20 minutos de pausa.

Ela me dá um sorriso e sai feito um furacão porta afora e eu me arrependo de falar o meu nome, mas já sei uma maneira diferente de abordar esse cara, os meus planos mudaram totalmente.

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