P A R T E IIII _ P O I S S Ó Q U E M A M A
“E lhes direi ‘Amai para entendê-las’,
Pois só quem ama tem ouvidos
Para ouvir a voz das estrelas”.
_Olavo Bilac.
O CHEIRO DE ALECRIM INVADIA DENSAMENTE O AR, como poucas coisas que eu me lembrava de já haver conhecido. Eu costumava gostar do cheiro cortante que os Salgueiros a frente de casa produziam, inalando o ar à minha janela por longos momentos, apenas imaginando um lugar que fosse tão puro quanto aquele aroma. E ali estava eu, em um desses lugares. O cheiro me lembrava à Havana, tempos em que a vida era menos complicada e tempos em que eu passa
A MESA REDONDA DE MÁRMORE ERA COBERTA POR UMA toalha branca e fina tecida em renda, formando desenhos encurvados de pétalas de flores e folhas saindo de caules esguios e ondulantes. Meu chá verde estava frio dentro da xícara branca de porcelana, me encarando com uma aparência azeda e provavelmente amarga. Eu não mantinha o mínimo interesse nele enquanto Ilínea, Manson e tia Peg conversavam sobre diversos fatores da pequena reunião com Zórem.― Meu sangue está bombeando por um pouco de ação. ― Edra reclamou ao meu lado, tão interessada na conversa quanto eu.Já fazia algum tempo desde que ela voltara da Academia, e mesmo que provavelmente tivesse machucado muitos de seus colegas no treino de hoje, ela ainda se sentia impassível com a presença de tantas Falanges Guerreiras em
TERROR MUDO SE ESPALHAVA POR MEU PEITO JUNTO com minha incapacidade de compreensão. As palavras se embrenhavam em minha cabeça, rodando e se embrenhando nelas mesmas, tornando minha mente uma confusão sem lógica de palavras sem sentido, indo e vindo em círculos desconexos, existindo e se repetindo como PI.Me afastei vagarosamente, cambaleando para qualquer lugar. Inconscientemente, levei às mãos a fonte dolorida. Minha cabeça estava tão pesada! Como se existisse oxigênio em excesso comprimindo meu cérebro em uma bolota.― Eu... Verdadeira mãe? Do que você está falando? Havana é minha mãe... ― eu repetia em voz alta, como se quisesse me certificar que eu mesma ainda tinha plena certeza disso. ― Sou Eveline Gringer. Sou filha de Havana Lisa Gringer. E você, Péga
AS COISAS SE REVELAM COM O TEMPO. MAS ELAS nem sempre fazem muito sentido. Realmente, os problemas só se complicam mais a medida que são ignorados. Há apenas alguns poucos dias atrás, eu era apenas uma garota comum que havia sofrido um acidente besta em um parque de diversões e havia sobrevivido. Eu era apenas Eve, a garota super inteligente que estava entre as melhores da turma e que fugia de garotos bonitos. No entanto, agora...Eu era uma Falange.Era Predecessora de uma lunática das Trevas.Era de uma raça rara e há muito tempo perdida.Era o alvo principal da facção das Trevas.E era irmã de Hanna Winchester.Quando, exatamente, alguém decidira que ao atingir a adolescência, minha vida deveria se tornar um caos? Teria sido a maldição da espos
É FÁCIL SE PERDER. A PARTE MAIS DIFÍCIL ESTA EM SE ACHAR. E a mais perigosa em sucumbir. Existem erros irreparáveis, perguntas indubitáveis e decisões intomáveis. Sentimentos indomáveis. Como o próprio Augusto Branco uma vez havia dito "tomar uma decisão é difícil quando ser justo não significa ser bondoso".Eu estava sendo justa ou bondosa comigo mesma? Como poderia saber a diferença entre os dois? Merecia justiça ou bondade? As Trevas estavam destinadas a me traguearem. E o que eu podia fazer contra isso? Que decisões tomar contra algo que eu sabia que não teria como evitar? Quais as perspectivas positivas em vencer uma luta travada contra uma causa considerada perdida? O Lumiar de Eveline estava escurecendo. Ao tentar vislumbrar as trilhas incertas de meu destino,
O TIC TAC DO RELÓGIO SOAVA NA MESMA BATIDA DO MEU coração.Acalme-se! Maldição! Respire fundo e acalme-se! ― eu repreendia a mim mesma, sentindo os espasmos de terror se contorcerem dentro de meu corpo. Mas havia um modo de conseguir manter a calma quando o peso do mundo estava suspenso em cima de meus ombros, prestes a desabarem a qualquer momento?O risco. Haviam muitos deles.O risco de todos morrerem.O risco de estarem errados sobre tudo.O risco de já saberem o que iria acontecer.O risco de Zórem descobrir que eu não era a terrena que todos achavam.O pequeno risco de Zórem sequer cogitar a possibilidade de eu ter alguma ligação com Hera Hathweey.Ou o enorme risco com dimensões inomináveis de
APENAS FAÇA O QUE EU FIZER, FALE O que eu falar e aja como eu agir. ― Arbo me cutucou enquanto nos espremíamos entre o emaranhado de Falanges ao redor da Catedral Elementar ― Não necessariamente nessa ordem.Assenti, relutante, ainda tentando me recordar da maneira correta de fazer os pulmões trabalharem.O sol estava se pondo no horizonte, e conforme Edra havia explicado mais cedo, julgamentos deviam ser conduzidos quando as luzes estivessem se dissolvendo e compactuando com as sombras. Era o quase no mundo da justiça, a farpa entre os dois equilíbrios. Quando a luz beijava as sombras. Havíamos sentido o impacto de nossa presença enquanto retornávamos em grupo de volta á Catedral Elementar, que dessa vez, se encontrava completamente rodeada com o que me pareciam ser toda a população d
ELA ESTAVA MAGRA DEMAIS PAA A IVI QUE EU CONHECIA há apenas alguns dias antes. A Ivi que deixei em segurança no Rio de Janeiro. A Ivi que ainda alguns dias atrás, me jogou água benta na cara.LA ESTAVA MAGRA.Essa Ivi era diferente de uma maneira quase dolorosa de se olhar. Haviam círculos escuros á baixo de seus olhos, o que indicava que também havia passado muito sono.Mas a peculiaridade que fez meus olhos lacrimejarem, seguindo da dormência em todos os meus membros, foi o temor assombrado em seus olhos castanhos. Geralmente redondos e cintilantes, estavam opacos, apagados, e sem vida. Eles pareciam estar carregando todas as sombras do mundo lá dentro. E algo me dizia que eu sabia bem o porquê.― Ivi! ― Meu grito a alcançou antes que eu pudesse me conter, e Arbo me deteve por um dos braços ao
-MAS QUE GRANDE MERDA. ― ALGUÉM sibilou em algum lugar.Os tremores desembocaram uma reação em cadeia difícil de ser controlada. Era como se o mundo estivesse todo dentro de mim, me puxando, me rasgando, me comprimindo, me modelando como uma massinha de modelar. O fato, era que eu não sabia quanto tempo seria capaz de resistir enjaulada naquele inferno persistente de reações controversas. Eu sentia minha coluna se partindo, assim como minhas costelas pareciam estar sendo projetadas para fora do corpo, como se toda a luz que existisse no mundo estivesse aprisionada dentro de mim, desejando desesperadamente se libertar.Eu estava entrando em colapso. Imaginava que isso se assemelhasse com o que acontecia no Sol da Meia Noite, ou quando a luz beijava as sombras.Eu era o céu noturno, e sentia suas estrelas se colidirem dentro de mi