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Um trio conflituoso.

- Bem... - me afasto dele - Só um café? 

- Só um café - ele levanta três dedos - Palavra de escoteiro!

- Certo, então eu topo.

   Ele sorri e me contagia com sua alegria, me fazendo sorrir junto. Coloco minha bolsa no ombro, meu casaco no braço e me preparo pra sair ao lado de Haskel quando novamente ouço baterem em minha porta. Lola não espera aprovação pra entrar.

- Catter!

- O que houve agora?

- Você já vai? É que chegou essas flores pra você... 

   Lola levanta e coloca o buquê de flores em meu braço livre do casaco, tão curiosa quanto eu.

 - Quem será que mandou em?

- Bem... - pego o bilhete e leio na mente, é do Adam me pedindo desculpas.

- Então? Quem mandou? - Lola pergunta já impaciente, enquanto Haskel apenas observa tudo com atenção.

- Ninguém importante - fecho e jogo o bilhete na gaveta.

- Mas quem foi?

- Lola! - chamo sua atenção com a voz rígida.

- Ok... Então depois você me fala - ela pisca pra mim e se retira.

   Coloco as flores em um jarro no canto da sala sentindo Haskel me seguir com o olhar.

- Afinal, quem mandou as flores? - ele questiona.

- Isso importa agora? 

- Se for homem importa - Hask dá uma pausa dramática - Foi um homem?

- É, foi sim - olho para as flores com admiração - É um pedido de desculpas. 

- Uau, como a senhorita está concorrida - ele chega perto, mas eu me afasto novamente.

- Vamos indo?

   Haskel assente com a cabeça e finalmente saímos da sala. Levo ele até o estacionamento e logo lhe sigo até uma bmw m8 gran cinza.

- Não tinha nada mais chamativo não? - ironizo.

- Desculpa, nem parei pra pensar que era muito chamativo - ele enrubesce.

     Me sento no banco do passageiro, ponho meu sinto de segurança e Haskel começa a dirigir. Fomos o curto caminho todo conversando, e não demorou quase nada pra chegarmos em um café grande e muito estiloso que com certeza é novo pois não me lembro dele aqui, e eu com certeza teria me lembrado.

- Caramba, qui é lindo Haskel.

- Não tanto quanto você Catter - timidamente ele olha pro chão antes de olhar pra mim. 

   Escolhemos pegar uma mesa dentro do estabelecimento, perto do caixa.

- Por que você ainda fica tímido?  

- Tímido? Quem eu? - graceja.

- Você fica, mas na verdade eu até acho fofo - ele olha pra mim com uma expressão plena. 

- Oi, boa noite. Já sabem o que vão pedir? Eu indico o muffin do dia - um garçom se aproxima e nos pergunta.

- Na verdade eu já sei o que vou querer - pego o menu e mostro para ele - Eu quero esse chá de camomila com menta e um cookie de banana.

- E eu vou querer um cappuccino e um cupcake de chocolate - Haskel diz também olhando o menu.

- Certo, já volto com os pedidos - diz o garçom e se retira.

 - E então? O que aconteceu por aqui enquanto estive fora?

- Bem, pra ser sincera ta igual a quando nos vimos há três meses atrás - sorrio fraco - Como ta a sua? Quais as novidades da Polônia?

- Também não mudou muito a minha, a não ser minha irmã. Ela vai se casar.

- A Hannah vai se casar? Isso é maravilhoso Haskel, parabéns pra ela! - fico um pouco surpresa com a notícia, mas muito contente.

- Obrigado, estou realmente muito feliz por ela. Foi um namoro rápido, mas acredito que eles realmente se amam - ele sorri bobo junto a mim - O casamento vai acontecer em dois meses, pensei em te convidar para ir comigo.

- Você quer... Me levar como acompanhante? - pergunto espantada. Desde que terminamos, tanto ele quanto eu tentamos ficar mais afastados, acho que foi até por isso que ele resolveu dar esse tempo na Polônia.

- Sim, eu adoraria que você fosse minha acompanhante Catter. Eu amaria na verdade.

- Bem, isso é tão...- eu tento buscar a expressão certa, mas acabo não encontrando nada a altura dos meus confusos sentimentos.

- Por favor, vem comigo Catter - Hask alisa minha mão com a dele por cima.

   Tento refletir se eu deveria mesmo aceitar o convite dele, mas com certeza é melhor eu pensar mais em tudo, ser meticulosa já que ele me pegou de surpresa. Estou prestes a dar essa resposta momentânea para Haskel quando de repente uma voz masculina familiar chama meu nome e apoiar uma mão no meu ombro.

- Catherine? Caramba, o que você ta fazendo aqui? - tomo um baita susto ao ver Adam parado atrás de mim.

- Adam? - estou tão espantada que acabo gritando.

- Sim... Olá.

- Dá pra tirar a mão do ombro dela? - o olhar de Adam vai de mim até Haskel.

- Szymanski? Haskel Szymanski?

- Você conhece o Hask? - digo.

- Olá, Adam Gautier - Haskel fala como se tivesse um gosto amargo na boca. Nada amigável - Claro que nos conhecemos Catter, quando Adam estava entrando no varsóvia nationale s.c, eu estava saindo.

   Claro, as vezes eu esqueço que Haskel também já foi um jogador de futebol como Adam, não tão famoso, mas já foi. Haskel teve que se aposentar com 30 anos após uma lesão tão séria no joelho que lhe impediu de continuar. Mesmo hoje depois de três anos e muita fisioterapia, Haskel ainda sente dor de vez em quando.

- Você não tava mal das pernas vovô?

    Adam se inclina sobre nossa mesa e joga suas palavras maldosas e provocativas como se fossem facas. Ele ridiculariza um trauma que até hoje Haskel não superou. Só eu posso ver o quão maldoso o que ele diz é? Olho Haskel serrar os pulsos e se acalmar perante aquele provocação.

- Eu vou muito bem. Não é você que está em uma fase ruim na carreira Adam Ray?

- Isso vindo de um velho aposentado é muito engraçado.

- Daqui três anos você vai saber o que é isso seu moleque!

- Ok gente...- pulo da cadeira e entro no meio - Eu já entendi. Vocês tem desavenças passadas! Mas não vão criar conflito por isso agora né? - eles se afastam e eu fico aliviada.

   O clima fica tão pesado que posso corta-lo facilmente com uma faca. Eu olho pro rosto de ambos e cada um está em uma extremidade da mesa olhando para o lado oposto como crianças. Mas finalmente Hask quebra o silêncio.

- Como você conhece esse cara mesmo Catter?

- Bem, Ele ta com contrato na Fittlive.

- Esse cara? Sério? - diz irônico - Contrato com esse babaca?

- Eu sou o babaca? - Adam aumenta o tom de voz. Nunca vi ele gritar, mas isso se aproximou bastante. A voz dele é grave e seu esbravejar parece um trovão - Você que é um mauricinho filho de uma...

- Parem! - digo um pouco mais alto -  Que coisa gente, eu não sai da minha cama hoje pro dia terminar assim! - eles apenas permanecem calados.

- E vocês dois? Estão em um encontro é?

- O que? - digo - Não!

- Sim! - eu e Haskel respondemos juntos. Nós nos entreolhamos.

   O sorriso no canto da boca de Adam cresce e se torna um largo, que logo evolui e se transforma em uma risada forte e satisfatória.

- Acho que vocês deveriam rever isso e chegar em um acordo, pombinhos - ele pisca pra mim.

- Adam... - ouço uma voz feminina e manhosa chamar por ele - Vamos logo gatinho - uma mulher alta dos cabelos lisos negros surge agarrando os ombros dele.

- Eu já to indo! Que coisa - Adam fala baixo, mas não o suficiente, me permitindo ouvir.

- Vamos nos atrasar fofo - a mulher passa os dedos nos lábios dele até seu ombro musculoso.

- Olha aqui garota... - ele se vira para a moça. Muito irritado, Adam estrala o pescoço e parece se acalmar - Me espera no carro ok? Eu já estou indo - ela assim obedece.

- Essa é a modelo da semana? Qual o nome dela? - diz Haskel provocativo.

- Vai se ferrar. Ta com inveja é?

   O jeito babaca e Implacável de Adam volta em um sorriso torto. Mas Haskel não perde a postura.

- Como você pode ver - Hask faz um gesto apontando para mim e nosso café - Eu não preciso ter inveja de você, já estou muito bem acompanhado.

   Vejo  então o sorriso bobo do grande Adam Ray se desfazer e no lugar aparecer uma expressão confusa. Ele parece irritado, frustrado, melhor que isso, ele parece está com ciúmes. Que interessante.

- Vou indo Então - ele vira-se e começa a se retirar, dando alguns passos em direção a saída. De repente ele para de andar e se vira - Ei Catter - olho atenta pra ele, que sorri - Coloca meu número na discagem rápida, se o Haskel não der conta é só me chamar - ele pisca e vai embora.

- Seu babaca - digo baixo, deixando ele ir embora.

   Volto a tomar meu chá sem dar ligança pra Adam ou suas palavras mal intencionadas, mas Hask fica mortalmente quieto, quando lhe olho ele está me encarando.

- O que foi?

- Você tem o número dele?

- Já disse, eu to trabalhando com ele.

- E é por isso que você tem o número do celular dele?

- O que foi Haskel? Não é seu papel ficar nessa posição - digo suave. Não quero magoá-lo 

- Não é por que você não quer! - ele fala mais baixo, me encarando.

- Não começa, por favor...

- Nós poderíamos tentar de novo Catter - Hask segura minha mão discretamente. Mas eu puxo ela de volta pra mim.

- É melhor eu ir pra casa - me levanto e tento me recompor.

- Ta muito cedo ainda, fica mais por favor.

- Eu estou cansada - tento pegar minha bolsa mas Hask foi mais rápido que eu.

- Eu não queria te assustar. Não foi assim que planejei te pedir em namoro novamente Catter.

    Eu fico paralisada. A sensação é aterrorizante, ele mal voltou e já ta desequilibrando meu racional. "Me pedir em namoro novamente?" Eu deveria querer isso também? Eu ainda gosto do Haskel? Quer dizer, claramente eu ainda sinto algo por ele, mas voltar? Acho que ele está certo, eu estou assustada.

- Olha, eu realmente preciso ir - com um pulo eu me levanto trêmula e puxo minha bolsa das mãos dele, ele não hesita em solta-la.

- Tudo bem - ele se levanta e pega a carteira - Eu te levo pra casa.

- Não precisa Hask.

- Claro que precisa. Eu te trouxe - ele deixa setenta dólares na mesa e veste o casaco - Agora eu te levo!

   De início eu resisto em deixar que ele me levasse mas acabo aceitando o argumento dele. Eu gosto tanto de Haskel, de verdade, eu gosto! Só não desse jeito que ele quer que eu goste. Quando você termina um relacionamento de dois anos algo que não se pode consertar se quebra, e apesar de nunca ter esquecido o que eu e ele vivemos e dele ainda mexer muito comigo, não posso mais dizer que ele é o homem com quem quero passar a dividir uma rotina novamente.

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