Adam Gautier.
Quando Catter sai da estufa eu permaneço imóvel concebendo toda aquela situação. Ela tinha me dado um pé e me mandado calar a boca? Uma garota anônima de relações públicas? O que diabos ta acontecendo com a ordem natural dos fatores? Eu não entendo.
Após algum tempo atônito parado no meio da estufa eu concerto minha postura e decido ir atrás dela. Eu sei quando estou errado, e pesar de realmente achar uma grande loucura ela ter me rejeitado, sei que fiz merda. Ela parecia em choque quando saiu da estufa. Eu posso parecer um babaca... Bem, eu sou um babaca, mas não gosto de machucar garotinhas indefesas. Subo de elevador até o andar que Catherine trabalha pra tentar me desculpar com ela mas sou parado logo quando me aproximo da recepção.
- Adam? Oi!- Lola me faz parar - Se o senhor veio ver a senhorita Leblanc? Sinto dizer mas ela pediu que ninguém lhe incomodasse.
- Só que eu preciso muito falar com ela.
- Sinto muito, mas é uma ordem expressa.
- Lola...
Apoio meus cotovelos no balcão ficando bem próximo de Lola, que fica inquieta. Ela me olha tímida, enquanto eu apenas sorrio. Quando encaro seus olhos castanhos escuros Lola tenta desviar a atenção de mim pro carpete cinza do chão.
- Lolinha... Posso te chamar assim? - deixo minha mão deslizar sobre a bancada, Lola me encara mexendo lentamente a cabeça em concordância com o novo apelido - Então Lolinha, eu realmente preciso falar com sua chefe agora sabe? Minha agenda é cheia e não posso perder mais tempo aqui - com a mão caída sobre a bancada eu acaricio levemente o antebraço dela. Quando meus dedos tocam a blusa amarela comprida que ela está usando seu corpo dá um pulo - Você poderia por favor deixar eu entrar logo? Vai ser rapidinho Lolinha.
Vejo ela engolir em seco com todo meu investimento.
- Eu realmente não posso senhor Gautier, mas... - ela respira fundo e tenta ficar menos derretida - Eu posso ligar pra sala da Catter, ok?
- Claro - com um sorriso vencedor eu aceno em concordância.
- Só um minuto - Lola pega o telefone e disca três números apenas - Adam Ray está aqui, ele precisa falar com você, posso deixar ele entrar? - após alguns instantes ela diz apenas um "ok" em resposta e desliga - Eu realmente sinto muito, a senhorita Leblanc está muito ocupada, ela ainda pediu que o senhor acompanhe tudo pelo site ou email até o dia oficial da próxima reunião.
- Mas a próxima reunião é daqui sete dias!
- Eu realmente sinto muito. Não posso fazer muito... - Lola parece frustrada de verdade.
- Ei, está tudo bem - digo sorrindo ao levantar seu rosto - Eu volto em outro momento gatinha, obrigado pela força.
- Imagina Adam Ray - ela suspira alegremente - Digo... Imagina, senhor Gautier!
Gargalho um pouco com sua confusão entre ética profissional e desejo pessoal.
- Ah é - coloco a mão no meu bolso e pego meu cartão - Você poderia dar isso para a senhorita Poulin? Peça que ela me ligue.
- Claro! - muito animada ela pega e guarda meu cartão.
Saio da Fittlive e vou pra casa treinar um pouco, porém, antes de chegar em casa passo em uma floricultura e peço pra m****r um buquê de rosas brancas para Catter com um bilhete pedindo desculpas. Penso o dia todo sobre como eu agi com ela hoje, não achei que ela realmente não quisesse sair comigo. Achei que talvez ela estivesse se fazendo de difícil, acho que estava errado.
Meu celular toca assim que termino outra sequência de abdominais. Quando vejo que é a modelo Laurana eu ignoro a chamada e vou tomar banho, quando volto quinze minutos depois meu celular já tem dez chamadas perdidas de Laurana.
- O que essa mulher quer meu deus?
Penso em retornar a ligação e ver de uma vez o que ela quer comigo agora, mas antes que eu possa tomar alguma atitude ela me liga novamente, me sinto meio contrariado mas atendo.
- Adam! Onde você ta gato?
- Oi Laurana, boa noite pra você também...
- Boa noite? Pra mim? - ela grita - Onde você ta porra? Você ficou de me levar na festa da Adriana!
"Merda" digo em tom baixo, eu esqueci completamente dela. Mesmo eu tendo falado baixo, Laurana parece ter escutado meu murmúrio.
- Você esqueceu? - ela parece estérica.
- Mais ou menos...
- Como assim Adam? Como assim mais ou menos? - de modo impressionante ela consegue aumentar ainda mais a voz - Vem logo me buscar, estou no Coffee Station.
- E tudo isso pra todos verem você comigo Laurana? Sério...
- Não banca o bom moço e vem logo - por fim, ela grita e desliga.
Não deveria ir e fazer o gosto dessa mimada, mas prefiro pensar na grande festa que se seguirá e não nela, não na insuportável Laurana com quem tive uma rápida e destrutiva relação.
Catherine Leblanc.
Já passa das dezessete horas, como daqui a pouco meu turno acaba. Começo a arrumar minha bolsa e os papéis encima da mesa para que tudo fique o mais organizado possível no dia seguinte. Passa algum tempo e ouço baterem na minha porta rapidamente. Lola entra em seguida. Ela parece curiosa, não diz nada ao entrar, apenas me segue com os olhos.
- O que foi?
- O que aconteceu com você e o Adam?
- Como assim?
- Você falou pra eu dispensar ele a todo custo! Óbvio que alguma coisa tem né! - ela finalmente se aproxima de mim sentando encima de minha mesa.
- Certo... - penso um pouco por onde começar a contar sem fazer ela surtar - Nossa, você não vai nem acreditar.
- Talvez eu acredite. Experimenta.
- Ele tentou me agarrar a força na estufa de recriação Lola!
- Caramba...- ela para, reflete e fica boquiaberta. Pela primeira vez eu realmente acho que Lola vai falar sério comigo, mas vejo esse achismo ir por terra quando ela volta a falar - Eu tava certa! É claro que acredito em tudo isso! E o que você fez?
- Eu obviamente empurrei aquele tarado e ameacei vazar tudo pra algum jornalista.
- Mas vocês se beijaram? - ela sorri.
- Não Lola! Meu deus - estou praticamente gritando pra fazer ela entender - Ele tentou me agarrar a força! Você não entendeu? Isso não é legal.
- Me desculpa... Eu só não achei que fosse realmente a força.
Como uma criança fazendo birra, Lola se afasta triste e cabisbaixa até o sofá no canto afastado da sala. Vagarosamente eu vou atrás dela.
- Ei, não quis gritar com você amiga. Você sabe que ando pilhada, sua incompreensão não me ajudou muito agora.
- Tudo bem Catter.
- Mesmo Dolores?
- Ei! - ela cutuca minha cintura com o cotovelo - Não me chame pelo nome! Você sabe que eu odeio.
Ela me abraça enquanto eu caio na gargalhada. De início ela se mantém séria ainda fazendo birra, mas logo ela volta ser a Lola de sempre rindo e me fazendo coceguinha pela barriga.
- Ah é - Lola se remexe no sofá e tira um cartão do bolso - Adam deixou o número pessoal dele, ele disse que você deveria ligar pra ele.
- Eu obviamente não vou ligar, mas obrigada pelo recado - com muita dificuldade devido a posição que estou eu guardo o cartão no bolso.
Nós ficamos no sofá abraçadas por mais um bom tempo, no qual eu não sei definir, e mesmo quando alguém bate na porta nós não nos separamos.
- Pode entrar - digo mais alto enquanto Lola se levanta do meu colo.
- Oi, com licença - diz Haskel Szymanski entrando na sala.
- Hask? Oi! - sorrio.
- Você está ocupada agora? Queria falar com você - Haskel se aproxima com uma sacola na mão.
- Não estou, podemos conversar sim - sorrio olhando pra Lola, que já entendeu o recado.
- Certo, já estou saindo, ok?
Eu e Haskel observamos Lola sair em silêncio, e por um certo tempo o silêncio se seguiu na sala. Haskel Szymanski é um típico polonês tradicional, ele é alto, seus cabelos são de um loiro mel e seus olhos são tão azuis quanto o oceano. Hask tem por volta de seus trinta e três anos o que lhe dá uma aparência mais madura, porém a idade só deixa ele mais sexy e atraente a cada dia. Não tem como não ser lindo e atraente quando a mãe natureza te dá traços tão genuínos. Ele sorri enquanto se aproxima trincando aquele másculo maxilar quadrado, me fazendo voltar no tempo em que eu me aconchegava em seus ombros e trilhava beijos de seu maxilar até sua boca. Sim, eu e Haskel já fomos namorados.
- A que devo a honra Szymanski?
- Queria muito te ver senhorita Leblanc, e te trazer isso - Haskel tira uma caixa em formato de coração da sacola e me entrega.
- Pra mim? Não precisa Haskel, sério...
- Eu tinha que trazer da Polônia, sei bem que são seus chocolates preferidos - ele se aproxima de mim com um sorriso nostálgico e afetuoso.
- Bem, muita obrigada Haskel - fico vermelha e obviamente sem graça.
Ele está perigosamente perto de mim agora. Levanto meu rosto e sem querer acabo encarando seus olhos azuis profundos e lindos, perto dele eu sou tão pequena, fico ao nível de seu pescoço. Posso sentir seu o intenso perfume amadeirado emanar dele. Haskel está com um longo sobretudo cinza aberto e uma gola rolê preta por dentro. Tão sexy.
- Eu sei que seu turno praticamente já acabou - sem se afastar um pouco, e fala rouco e baixo próximo ao meu ouvido - Quero te levar pra dar uma volta comigo. Que tal irmos tomar um café?
- Está me chamando pra sair senhor Szymanski?
- Bem, se admitir isso vai fazer você aceitar - ele ri timidamente - Então estou sim, senhorita Leblanc.
- Bem... - me afasto dele - Só um café?- Só um café - ele levanta três dedos - Palavra de escoteiro!- Certo, então eu topo. Ele sorri e me contagia com sua alegria, me fazendo sorrir junto. Coloco minha bolsa no ombro, meu casaco no braço e me preparo pra sair ao lado de Haskel quando novamente ouço baterem em minha porta. Lola não espera aprovação pra entrar.- Catter!- O que houve agora?- Você já vai? É que chegou essas flores pra você... Lola levanta e coloca o buquê de flores em meu braço livre do casaco, tão curiosa quanto eu.- Quem será que mandou em?- Bem... - pego o bilhete e leio na mente, é do Adam me pedindo desculpas.- Então? Quem mandou? - Lola pergunta já impaciente, enquanto Haskel apenas
Adam Gautier. Aquele Haskel me deixa puto, ele sim é um verdadeiro babaca. Não conheço ele de longa data e nunca conversamos muito, mas as poucas vezes que já encontrei ele no campo de treinamento foram sempre muito marçantes, ele sempre torcendo o nariz pra mim ou sendo arrogante. Um dia já até presenciei ele tratando mal uma fã! Mas afinal, por que Catherine estava tomando café na maior intimidade com ele? Fala sério, eu que sou o astro do momento ela ignora?- Dá pra ir devagar Ray? - diz Laurana se referindo ao meu modo imprudente de dirigir.- Você já ta na vantagem por eu está te levando, não enche o saco.- Aff como você ta arrogante hoje - ela abre o espelho retocando a maquiagem - Foi por ver aquela garota com o outro cara bonitão?- Pra começar ele não chega aos meus pés! - ela ri fraco - E depois que não tem nenhum nexo com Catherine.- Oh, é claro - murmura e
Adam Gautier. Saio da casa de Adriana por volta das duas e meia da manhã, deixando Natasha na cama dormindo. A festa ainda estava rolando a todo vapor tendo muita gente, talvez mais até do que tinha antes. Para meu prazer eu não encontro Laurana. Volto pra casa e começo a me desmontar, tiro meus sapatos em movimento indo até a cozinha que ainda esta escura como quase todo o resto da casa. Quando abro a geladeira percebo que deveria fazer compras urgentes, mal tem comida dentro dela, que seja, eu não sei cozinhar mesmo, posso pedir uma pizza. Pego uma cerveja e volto pra sala. Noto que a secretária eletrônica está piscando, sinalizando que tem novas mensagens de voz. Será que ela me ligou? Fico ansioso do nada, pego o telefone e decido ouvir os recados.- Adam! Você está aí? Espero você aqui na minha casa, vem logo me buscar - esse foi de Laurana o primeiro recado
Hask estava cheio de assunto e assim fomos conversando o caminho todo até o restaurante. Ele me contou todos os possíveis detalhes sobre sua viagem de volta à Polônia, ele me falou mais uma vez de como sua família está feliz e da suposta falta que sua mãe e irmã sentem de mim. Antes que ele pudesse continuar com todo aquele papo nostálgico, eu estaciono o carro e entramos no restaurante.- Estou com um pouco de pressa hoje, tenho tanta coisa pra fazer. - pego o menu e já faço meu pedido sem pensar muito.- Não é novidade, você sempre anda ocupada - dou de ombros - Ainda estou esperando sua resposta sobre ser minha acompanhante no casamento.- Eu não sei Hask... - abro o calendário no celular, assim tenho uma ideia dos meus compromissos futuros - Dois meses passa muito rápido, eu ainda tenho que ver meu visto!- Calma Catter - ele segura minha mão sobre a mesa - Eu te ajudo com tudo, inclusive com o visto. Qualquer cois
- Claro. Agora quem está ansioso sou eu. É tão estranho Catherine se dar ao trabalho de me ligar, mas é algo estranho que eu gostaria de me acostumar. Me sento na cama e só agora eu noto que ainda estou de roupa social da viagem. Eu dormi reto na cama, sem cobertor e ainda vestido pra uma reunião, eu realmente estava muito cansado.- Aconteceu alguma coisa? É sobre a reunião de amanhã?- Ah, sim, amanhã é quinta.- Não foi por isso que você me ligou?- Sim, foi, é claro - a voz dela vacila, mostrando certo constrangimento - Por isso também.- Não foi só por isso? Achei que você só falava de trabalho, senhorita Leblanc - ouço ela rir fraco. Com uma mão folgo a gravata que aperta meu pescoço e desabotoo as mangas de minha camiseta.- Bem, você sumiu por uma semana... - começa ela, em um tom de voz baixo e tímido - Queria ter certeza que ainda lembrava sobre amanhã.- Sinto muito, estava em treinamento no clube, lá nã
Adam Gautier.- Vamos. Me explica Adam, o que exatamente Haskel te falou? Ainda longe de mim, ela aumenta o tom de voz, me acusando por ter posto outro nome no jogo. Eu não vou encobrir as palavras e atitudes venenosas de Haskel, muito pelo contrário, faço questão que ela saiba o quão duas carasHaskel Szymanski é.- Haskel garantiu que você é dele Catter, me disse que vocês estão reatando o namoro. Ele também me jogou contra meu carro e prometeu me dar uma surra se eu chegasse perto de você novamente - ela não tira os olhos de mim, mas parece aérea. Chego mais perto e acaricio seus ombros - Eu só realmente precisava te perguntar. Catherine se mantém petrificada olhando o vazio, com toda certeza ela assimila cada informação que lhe disse. Os segundos vão se passando e nada dela se pronunciar, essa espera pela conclusão do raciocínio dela está me matando. Algo no
Catherine Leblanc. Com o último resquício de sanidade restante, eu me afasto de Adam dando um passo para trás. Com um olhar mergulhado em desejo, ele me olha perdido e avança para mais um beijo, paro o corpo dele com uma mão em seu firme peito. Meus olhos só conseguem se concentrar nos lábios vermelhos e inchados que Adam está após nossos beijos desesperados. Nunca vi uma imagem tão íntima e sexy do próprio.- Nós deveríamos? O olhar confuso em seu rosto some, Adam relaxa os braços em minha volta. Com o rosto em meu ombro, ele percorre toda extensão de meu pescoço com o nariz, a respiração quente dele na minha pele me causa arrepios deliciosos.- Claro que devemos. Somos livres para fazermos o que desejamos Catherine.- É, eu sei... - seguro seus largos ombros, controlando o ritmo das carícias dele em mim - Parece tão certo, mas não é certo Adam. Com
Catherine Leblanc. A sexta e o sábado passam voando, tudo envolta de trabalho e dos meus confusos sentimentos por Haskel e Adam. O domingo vem como uma noite refrescante de outono, pela janela do quarto olho para a lua resguardada por um céu limpo de nuvens, porém sem muitas estrelas. Quando estou quase terminando de me maquiar uma mensagem de Haskel brilha na tela de meu celular, " Estou passando para te buscar em quarenta minutos, tudo bem?", pergunta ele por mensagem, " Claro.", com uma mão ocupada passando perfume, lhe respondo desajeitada com a outra mão ao telefone. Antes de sair para a varanda e esperar por Haskel eu paro em frente ao espelho, estico o vestido tubinho preto nos quadris e conserto o decote um pouco ousado, talvez ousado demais para um jantar com a família dele? Talvez, mas não acho que teria tempo de trocar minha escolha agora. Por volta das dezenove horas a bmw de Hask para na minha calçada, já em sua espera na varanda, fecho a porta e vou até seu carro.