03. Seu olhar hipnotiza

—Não teria problema em te levar, mas como vê, meu carro está preso em um buraco. Será impossível tirá-lo a menos que eu chame um guincho, mas meu celular não tem sinal — respondeu com um suspiro, sua situação não era a melhor naquele momento —. Para onde você está indo na cidade? Posso te indicar onde encontrar a estação de trem mais próxima.

Celine balançou a cabeça, à beira do colapso. As lágrimas inundaram seu rosto, mas ela tentou se conter diante daquele desconhecido. Embora estivesse indecisa sobre recorrer a ele, já que não o conhecia, tinha poucas opções e escapar do padrasto era a coisa mais importante naquele momento.

—N-não, não tenho dinheiro para uma passagem. Só preciso sair daqui o mais rápido possível... —sua voz se quebrou na última frase e ela tentou se recuperar —. Se não sair daqui em breve, temo que minha vida se torne um completo inferno. Por favor, eu imploro, me ajude.

A desesperação em seu rosto fez com que Enzo compreendesse que aquela jovem estava fugindo de alguém. Ele a observou atentamente, ela parecia frágil e vulnerável, como se pudesse se quebrar a qualquer momento. A jovem ruiva tinha um rosto de delicadas feições que pareciam esculpidas por um destacado artista. Embora seu corpo fosse esguio, sob aquela aparente fragilidade havia uma silhueta com atributos chamativos que, sem dúvida, não passaram despercebidos para Enzo. Sua beleza era inegável, mas não foi apenas esse encanto físico que o impulsionou a ajudá-la naquele momento.

Um estranho sentimento de compaixão nasceu no mais profundo de seu ser ao perceber a expressão de sofrimento que se refletia em seus olhos. Era como se a jovem carregasse um fardo invisível, um fardo que pesava sobre seus ombros e que Enzo não podia ignorar.

Pela primeira vez, ele não podia ficar de braços cruzados. Talvez porque aquela jovem lhe lembrava alguém. Ele decidiu oferecer sua ajuda, embora a dúvida obscurecesse sua mente. Seria realmente o certo? Enzo questionou suas próprias motivações, mas uma voz em seu interior lhe assegurou que aquele ato de compaixão estava guiado por uma força além de sua própria razão. Não havia outra opção para ele senão levá-la para a residência.

—Bem, eu conheço um lugar para onde poderia te levar. É um pouco além do lago, mas não nos levaria muito tempo para chegar lá. Você gostaria de vir comigo? — perguntou Enzo, mudando ligeiramente sua expressão para mostrar que não tinha segundas intenções.

Ela assentiu.

—Eu ficaria imensamente agradecida e em dívida com você, senhor — murmurou Celine. Um semblante de alívio se apoderou dela. — O que acontecerá com o carro?

Enzo olhou na direção de seu carro e, com calma, respondeu.

—Alguém cuidará dele, não se preocupe — ela assentiu. — Bem, vamos.

Enquanto Enzo caminhava com determinação, Celine o seguia em silêncio, sentindo-se protegida por sua presença. Embora na verdade não o conhecesse, havia algo na forma como ele a tratava, com delicadeza e respeito, que lhe dava confiança e alívio. A medida que avançavam, o vento sussurrava entre as árvores, suas folhas farfalhavam sob seus pés e os sons da noite se tornavam cada vez mais evidentes. Celine não conseguia deixar de sentir que a floresta quase se comunicava com eles, revelando seus segredos escuros e antigos à medida que se adentravam em sua bruma.

—Posso saber por que você estava sozinha no meio da noite? — a voz de Enzo rompeu o silêncio, sentindo intriga pela jovem que não tinha emitido uma palavra durante todo o caminho. — Você mora perto daqui?

Celine assentiu timidamente.

—Em uma pequena cabana perto do lago.

—Você estava sozinha? Quero dizer, você parece estar fugindo de alguém, estou enganado? — indagou Enzo e a pelirroja começou a coçar o pescoço nervosamente.

Não achava prudente contar a um estranho sobre seus problemas em casa, mas naquele ponto já não estava segura se era ou não o correto. Tinha decidido aceitar a ajuda de um estranho e não sabia nada sobre ele, então sua vida estava em perigo de qualquer maneira.

—Bem... eu... moro sozinha com meu padrasto desde que minha mãe morreu. Mas esses últimos anos têm sido uma completa tortura para mim... — respondeu com voz afligida —. Não creio que possa suportar mais.

Enzo parou de repente, e se virando, olhou para ela. Parecia ter tido uma vida dura e difícil. Sentiu um pouco de pena pela jovem.

—O que aconteceu com o resto da sua família materna? — perguntou com cuidado para não parecer um interrogatório.

—Não... não faço ideia. Sempre fomos nós três — disse Celine e ele assentiu.

—Entendo — limitou-se a dizer sem perguntar mais sobre o assunto.

Ambos retomaram o caminho, adentrando cada vez mais na floresta escura. Depois de alguns minutos, entre a densa vegetação, Enzo finalmente apontou para uma imponente mansão que emergia majestosamente no horizonte, iluminada por lampiões. Ali estava a residência que comprara meses atrás. Celine já tinha ouvido falar dela, mas nunca tivera a oportunidade de visitá-la até agora. Sempre estava trancada na cabana e nunca passava dos limites impostos por seu padrasto.

Apresurando-se um pouco, Enzo e Celine subiram pelo caminho que levava à entrada principal da mansão. À medida que se aproximavam, ela pôde apreciar a magnificência arquitetônica do lugar, suas elegantes colunas e os detalhes intricados que adornavam cada canto. Parecia como se o tempo tivesse parado naquele lugar, preservando a beleza de épocas passadas.

Ao chegarem à porta principal, Enzo tocou a campainha e, com um som crepitante, a porta se abriu lentamente diante deles. Uma jovem criada vestida com um impecável traje preto apareceu no umbral, olhando curiosamente para Celine. Ela sabia que o senhor Enzo raramente trazia alguém para a mansão, por isso a presença da ruiva ali intrigava a todos. Principalmente ao perceberem que se tratava de uma mulher jovem.

—Boa noite, senhor — saudou a criada.

—Boa noite — imitou ele sem se incomodar em apresentá-la à jovem que estava ao seu lado.

Sem dizer mais uma palavra, Enzo e Celine adentraram pelos corredores intermináveis da mansão. Um suave sussurro de seda acariciava seus ouvidos enquanto caminhavam sobre os tapetes que cobriam o chão.

Finalmente, chegaram a uma sala deslumbrante, decorada com móveis antigos e delicados tapeçarias.

Enzo se virou para olhá-la, permitindo que Celine pudesse observar melhor seu rosto. Este ostentava uma indiscutível dose de atratividade que não passou despercebida pela jovem. Ele era moreno, com feições notáveis. Tinha olhos cinzentos com cílios espessos lhe conferindo um olhar hipnótico e profundo. As sobrancelhas densas que emolduravam seu rosto adicionavam uma intensidade magnética à sua expressão. Seus lábios de proporções perfeitas delineavam com serenidade e elegância um sorriso cativante, capaz de dobrar até mesmo os corações mais resistentes. Além disso, possuía um nariz arrebitado, um detalhe único que harmonizava suas feições, conferindo à sua aparência uma distinção requintada.

—Tenho um assunto urgente para tratar neste momento, a senhora Alexandra cuidará de você. Pode pedir o que precisar e sinta-se em casa, certo? — ele deu um sorriso que tranquilizou a ruiva.

Com um gesto amável, Enzo indicou a uma das criadas que cuidasse de Celine, e assim, a jovem foi conduzida por um labirinto de corredores até chegar a um amplo e luxuoso quarto. À medida que a porta se fechava atrás dela, Celine se viu sozinha, imersa em pensamentos e expectativas incertas. O que seria de sua estadia na mansão? Qual era o verdadeiro motivo daquele homem por acolhê-la ali? E o que seria de sua vida a partir de então? Apenas o tempo revelaria as respostas.

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