02. Seguro em seus braços

—Pai, você está indo longe demais. O médico claramente disse que era apenas uma enxaqueca por estresse. Você não vai morrer, por favor — um bufido escapou de seus lábios.

—Nada do que eu disser vai mudar sua opinião, não é verdade? — Seu filho fez que não com a cabeça — A senhorita Jossie é uma boa opção...

—Eu não vou me casar com a Jossie, pai. Não sinto nem um pouquinho de amor por ela e não acho que vá sentir nunca — expressou sinceramente—. Então, por favor, peço que não faça ela e sua família acreditar que teremos um futuro juntos, isso não vai acontecer.

—Tudo bem, não posso te forçar. Sabia que você ia negar— admitiu seu pai em rendição, enquanto Enzo o observava —. E por isso, preparei uma lista das jovens mais bonitas. Você só precisa escolher a que achar melhor, terá minha aprovação.

Enzo segurou a ponte do nariz, cada vez mais impaciente.

—Eu te disse que não preciso de ninguém, estou perfeitamente bem assim...

—Bobagens — interveio seu progenitor —. Todos em algum momento de nossa vida precisamos de companhia, mesmo que achemos que estamos bem sozinhos, mas uma vez que nos acostumamos a ter alguém ao nosso lado, nos tornamos tão dependentes de sua presença que nada mais é o mesmo.

Seu filho pôde perceber certa melancolia nas palavras de seu pai, ele sabia que falava da mãe. Já se passaram doze anos desde sua morte e ainda doía como se tivesse sido ontem. Ele sentia muita falta dela e não era o único. Seu pai não tinha conseguido superá-la e ele também não.

—Não acredito que um dia encontrarei alguém parecido com a mamãe, muito menos experimentar o amor que vocês tiveram. Preferiria uma vida sem compromisso a lamentar estar com a pessoa errada — expressou Enzo, suavizando a voz—. Então espero que respeite minha decisão, pai. Agora, se me desculpa, irei descansar.

—Enzo... — chamou seu pai, mas ele o ignorou e continuou caminhando em direção à porta—. Enzo, ainda não terminei de falar com você. Volte aqui...

O mencionado deixou o escritório, sem se importar com a voz ameaçadora de seu pai. Dirigiu-se para uma das saídas traseiras da mansão para não ter que encontrar os convidados que ainda não tinham partido. Entrou em seu carro e ligou o motor antes de ser interrompido por alguém mais. Adentrando as ruas lotadas da cidade, dirigiu-se ao que se tornara seu lar nos últimos meses. A pequena residência ficava um pouco afastada da cidade, perto da floresta.

Um lugar pacífico que descobrira anos atrás com sua mãe, e que se tornara o lugar preferido de Enzo. Um lugar que guardava segredos que em breve ele descobriria.

Por outro lado, as criadas não paravam de sussurrar e mexericar entre elas. Escondidas, observavam cuidadosamente a jovem ruiva ao lado do senhor Enzo, eles estavam alheios ao que estava acontecendo, sem perceber que os outros estavam de olho na mulher que havia chegado na noite anterior. Elas se perguntavam quem era e por que estava ali. De repente, conseguiram ouvir algo que resolveria todas as suas dúvidas.

—Eles vão se casar? —sussurrou surpresa uma das criadas, olhando para o comedor—. Ela é a namorada dele...

—Parece que sim, caso contrário ele não estaria falando sobre casamento com ela —disse a mais baixa delas, Paula.

—Por isso ele negou a visita da senhorita Jossie? —perguntou Claudia novamente.

—Aparentemente, ela é a dona do coração dele. Mas é muito jovem, não acha? —apontou a ruiva furtivamente.

Claudia assentiu.

—Espero que o senhor Enzo não esteja em apuros, seria mais uma dor de cabeça para o pai dele se ele descobrir que está saindo com uma jovem —disse com um suspiro—. Enfim, vamos terminar de limpar, ainda há muito o que fazer.

Ambas as criadas saíram para a cozinha para retomar seu trabalho do dia. Mas antes se certificaram de informar aos outros empregados a grande notícia, que se espalhou rapidamente.

Todos falavam sobre o compromisso do senhor Enzo e a jovem ruiva.

Enquanto isso, Celine se trancou no seu quarto depois de trazer uma jarra de água. Ela não entendia o que estava acontecendo e por que Enzo estava propondo casamento. Parecia-lhe uma brincadeira de mau gosto por parte daquele homem. Como o casamento poderia ser uma solução? E por que ele parecia falar sério?

—Não, acalme-se. Deve estar brincando... —murmurou para si mesma enquanto tomava um gole de água.

A ansiedade a consumia e não conseguia parar de andar de um lado para o outro no quarto.

Enzo não tinha conseguido explicar suas intenções, pois recebeu uma ligação de seu pai. Ao ver seu rosto pálido ao receber a ligação, Celine percebeu que deveria ser algo sério. Mas ela ficou confusa e só esperava poder perguntar se suas suspeitas eram verdadeiras.

Parecia absurdo ter que se casar com alguém que mal conhecia. Afinal, ela havia fugido de sua casa pela mesma razão. Não queria se casar com o filho do agiota de seu padrasto. Embora a diferença de idade entre aquele homem e Enzo fosse grande, ambos eram completos estranhos para ela.

Ela não sabia nada absoluto.

Deveria se sentir segura naquela mansão onde estava? E se aquele homem bonito acabasse sendo um mafioso ou até mesmo um sequestrador? Embora tenha sido ela quem recorreu a ele em busca de ajuda, Enzo não a havia obrigado a ir com ele. Tinha tomado a decisão certa?

Milhares de dúvidas e inseguranças invadiram a mente de Celine, e ela duvidava se realmente estava protegida naquele lugar que não lhe pertencia.

De repente, não podendo suportar mais, saiu do quarto e foi rapidamente para o comedor. Precisava descobrir o que Enzo queria dizer com se casar, e se fosse assim, diria a ele o que pensava a respeito. No entanto, ao chegar ao comedor, percebeu que não havia ninguém além de uma criada de baixa estatura que estava limpando a mesa.

Ela pigarreou para chamar a atenção da criada.

—Desculpe, você pode me dizer onde está o se... Enzo? —corrigiu rapidamente.

Paula inclinou a cabeça e a olhou atentamente. A beleza da ruiva a impressionava, e ela não pôde esconder sua admiração pela jovem diante dela. Embora a achasse um pouco jovem, entendia por que o senhor Enzo estava interessado naquela jovem.

Ela não a culpava, a garota tinha um rosto admirável.

Por outro lado, Celine se sentia desconfortável com o olhar da criada, mas tentou não mostrar seu desconforto.

—O senhor Enzo? —repetiu Paula, e Celine assentiu—. Oh sim, ele foi para o seu quarto.

—Obrigada —disse Celine se virando e se apressou em direção às escadas.

No entanto, no meio do caminho, percebeu que não sabia onde ficava o quarto de Enzo. Bufou, se sentindo boba por não ter perguntado. Felizmente, encontrou a garota que havia aberto a porta para ela na noite anterior. Ela se aproximou para perguntar onde ficava o quarto. Ao contrário da outra garota, esta foi gentil.

—A primeira porta à direita, não é difícil de reconhecer, é a maior —disse Claudia apontando para o corredor.

Com um sorriso de agradecimento, Celine caminhou pelo amplo corredor em direção à porta indicada pela criada.

Enzo estava tirando a camisa, que havia se sujado de café minutos antes. De repente, batidas na porta o fizeram virar, e sem se preocupar em colocar um roupão, girou a maçaneta e se deparou com olhos claros.

—Preciso saber o que... —a frase de Celine foi interrompida ao perceber o torso nu de Enzo—. Oh, eu... desculpe.

Avergonhada, ela cobriu os olhos rapidamente e sentiu as bochechas ficarem quentes. Engoliu com dificuldade, nunca antes havia estado em uma situação assim.

Enzo, por sua vez, conteve um riso diante da reação da ruiva. Pareceu-lhe engraçado e um pouco exagerado, mas decidiu colocar de novo a mesma camisa manchada que ainda tinha na mão para não a incomodar.

— Pronto, pode olhar - disse.

Celine abriu os dedos lentamente para ter certeza de que era verdade e afastou-os do rosto ao ver que ele estava usando a camisa.

Ela soltou um suspiro de alívio.

Seria impossível esquecer a imagem que tinha visto, mas tentaria deixá-la para trás. Nunca antes tinha visto um torso tão musculoso e bem formado. Era real? Perguntou-se.

— Bem... é... - coçou o pescoço nervosamente, tentando se recompor - do que estavas a falar sobre casar?

— Oh, desculpe. Não tive tempo de explicar melhor, recebi uma ligação importante - olhou para ela - E sim, tenho estado a pensar na tua situação e na minha, e cheguei a uma conclusão.

— Não acreditas que o casamento seja a solução, certo? - perguntou a jovem.

— Bem, tens alguma melhor ideia? - levantou uma sobrancelha.

— Não, mas casar assim, do nada, é maluquice. Ainda mal te conheço, seria uma loucura...

— Entendo que soe assim, mas posso deduzir que não és uma pessoa má. Caso contrário, não te teria trazido para minha casa - argumentou Enzo - Minha intuição não falha.

— E agradeço muito, salvaste-me de uma vida miserável e de um casamento indesejado - comentou Celine, um pouco alterada - Mas falar de compromisso entre nós é algo sério.

— Não será assim, confia em mim. Deixe-me explicar as condições e benefícios - disse Enzo, desesperado por convencê-la.

— Bem, estou ouvindo.

— Vamos para meu escritório, assim ninguém nos ouve - ela assentiu e o seguiu atrás.

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