Eu odeio amar você
Eu odeio amar você
Por: Thaynnara Sallete
Capítulo 1

Alexia narrando:

Ontem fez exatamente 2 anos que perdi minha mãe. Foi meu primeiro dia de aula, que ótimo. Não fui, já que não consegui nem levantar da cama direito. Dois anos de saudade e de arrependimento. Se eu não tivesse pedido pra ir na casa da vovó naquele maldito dia, não teríamos sofrido aquele acidente. O acidente que matou minha mãe e meu irmão menor. Meu irmão até que chegou a viver mas depois de 3 dias veio a falecer. É horrível pensar que tudo isso aconteceu graças a mim. Graças ao meu pedido. Eu devia ter ficado em casa, mas não, me deu uma vontade enorme de ir pro campo e visita-la. Como meus pais sempre faziam meus gostos, disse que iríamos sair de madrugada já que é menos movimentado a estrada. Eu estava tão feliz, mas tão feliz, que nem dormi direito. Quando vi aquele caminhão vindo em nossa direção, juro que pensei que iria morrer. Mas não. O caminhão tentou desviar e foi bem do lado aonde mamãe e meu irmão estavam. Eu apenas desmaiei por uns minutos. Quando acordei e vi meio embaçado tirarem minha mãe morta de dentro carro, é como se o meu mundo tivesse acabado.

Após escutar um som vindo da porta, fechei o diário e respirei fundo.

-Pode entrar. -Me levantei da cama.

-Filha? Já está acordada? -Ele entrou e se aproximou de mim.

-Resolvi levantar mais cedo, já que tenho que ir para a escola hoje. -Lamentei.

Ainda não me sinto preparada para voltar, mas como é o meu último ano escolar, não posso ficar faltando.

-Eu sei que não deve estar sendo fácil, mas temos que ser fortes.

-Eu estou tentando, pai. Juro que estou tentando. -Tive vontade chorar.  

-Acredito em você. E por isso você tem que continuar se esforçando para superar. Sei o quanto dói já terem se passado dois anos, mas está chegando a hora de seguirmos em frente.

Concordei e olhei para baixo.

-Agora melhora esse rostinho seu, vou arrumar a mesa para tomarmos café, vá tomar um banho. -Concordei novamente e ele sorriu. -Quero ver você com um sorriso no rosto. Você fica linda assim.

Sorri levemente. 

-Você pode conversar comigo sempre que precisar, Lexy.  Estou aqui para o que precisar.

Lexy é um dos meus apelidos favoritos. Desde que me lembro ele sempre me chamou assim. Exceto quando está bravo comigo.

-Eu sei. -Olhei para o relógio. -Preciso me apressar.

-Tudo bem, estou lá em baixo, se precisar de qualquer coisa é só me gritar. -Concordei e ele saiu do meu quarto.

Fui até meu guarda roupa e peguei meu uniforme. Coloquei sobre a cama e fui para o banheiro.

(...)

Desci as escadas e vi meu pai e Charlotte sentados sobre a mesa.

Charlotte é minha madrasta. Meu pai a conheceu no ano passado. No começo não concordei muito que em tão pouco tempo ele entrasse em um novo relacionamento, porém se isso está o fazendo feliz, me esforço para parecer feliz também.

O que lá no fundo eu sei mais do que ninguém que ela está com ele apenas pelo dinheiro.

-Bom dia. -Me sentei à mesa e respirei fundo já me preparando mentalmente pro sermão que sei que virá daqui alguns segundos.

-Vai a escola assim? -Perguntou Charlotte. Não falei? -Está péssima. Por que não vai com as roupas que eu e seu pai compramos? Não gastamos um absurdo pra você deixar tudo mofando no guarda roupa.

-Charlotte, não fale assim. Lexy, se você estiver confortável com essa roupa, tudo bem. Toma, pedi para fazerem chá de camomila, o seu favorito.

Sorri tentando não transparecer o quanto esse comentário dela me chateou e peguei o bule.

-Meu cabelo está horrível hoje. -Disse uma voz que é completamente impossível de não conhecer. Alysson.

Alysson é filha de Charlotte. Infelizmente eu já a conhecia antes. Estudamos juntas desde sempre, e agora além de ter que suportar ela na escola, também tenho que suportar dentro de minha própria casa.

-Seu cabelo está lindo, filha.

Será que não é porque ela foi no salão duas vezes só na semana passada?

-Mas se quiser podemos ir no salão mais tarde. Estou precisando fazer as unhas.

Meu Deus.

-Mas você já não foi essa semana? -Perguntou meu pai.

-Rick, já tem dois dias que estou com o mesmo esmalte.

Peguei uma torrada e me levantei.

-Não vai terminar o café? -Meu pai perguntou me olhando.

-Preciso ir, Jake vai vir aqui para irmos juntos. Tem como me buscar?

-Vou ver, qualquer coisa te ligo. -Concordei e saí. Subi as escadas e peguei minha mochila. Quando estava indo guardar meu celular vi que havia uma mensagem:

Oi Alexia, como você está? Está melhor?

Sorri vendo a preocupação de meu melhor amigo.

Sim, um

pouco. Já está vindo? Estou pronta.

Já? Você viu o horário? São 8:15, a nossa primeira aula começa às 9:00. A escola é aqui perto. Chegaremos em menos de 5 minutos.

Eu não aguento mais ficar nessa casa. Cada dia parece que piora. É uma implicação em cima da outra, por favor, quero sair o quanto antes.

Tudo bem, tem como vir para minha casa? Não estou pronto ainda.

Estou indo.

Desliguei o celular e o guardei na mochila. Saí do meu quarto e voltei para a cozinha.

-Estou saindo. Tchau pai, até mais tarde. -O beijei rapidamente na bochecha e peguei a chave em cima do balcão. -Quer ir comigo, Alysson?

-Acha mesmo que vou a pé com você?

Suspirei e me virei para sair.

É claro que ela iria me responder isso, o que eu esperava?

Quando enfim comecei a caminhar já do lado de fora da casa, aproveitei para espairecer um pouco os pensamentos.

Eu queria tanto mudar de escola. Essa aonde estou estudando é um verdadeiro inferno. Meu único amigo é o Jake. Os outros, me tratam como se eu fosse um animal que não tem sentimentos. E o que eu faço? Isso mesmo, nada. Por que? Bom, porque sou uma covarde que tem medo do que eles podem fazer se eu contar para alguém.

Eu já cansei de pedir para meu pai me colocar em outro colégio, mas ele vive dizendo que esse tem um ensino bom (O que realmente é verdade) e que só falta um ano para eu me formar então não vê necessidade.

Era para eu estar no segundo ano do ensino médio, mas os professores resolveram conversar com o diretor e conseguiram me colocar em uma série avançada, já que eles acreditam que eu tenho muito potencial.

Toquei a campanhia e esperei por alguém que pudesse abrir a porta.

-Ah, oi Alexia. Você sabe que não precisa tocar a campanhia, não é? -É Thomas, irmão mais novo de Jake.

Sorri e baguncei seus cabelos.

-Sim, eu sei espertinho. -Ele sorriu e tirou minha mão. -Por que está acordado esse horário? -Ele me deu espaço e eu entrei.

-Vai passar um filme super maneiro na TV. Fala sobre um pai que perdeu o filho e ele faz de tudo para encontra-lo.

-E como é o nome?

-Procurando Nemo.

Rimos de sua piada super ruim mas paramos assim que vimos sua mãe nos olhando.

-Oi mãe. -Thomas falou tentando controlar o riso.

-Vocês estão bem? -Ela se aproximou.

-Ah oi tia, estamos sim. Só o seu filho fazendo palhaçada logo de manhã.

Ela sorriu.

-Vai me chamar de tia até quando? -Ela perguntou ainda sorrindo.- Lembro quando você começou a me chamar assim aos 9 anos de idade, quando conheceu meu filho.

-Amanhã faz 7 anos que eu o conheço.

-Como o tempo passa rápido. Olha vou te dizer uma coisa, vocês ainda vão terminar juntos no final.

-Somos apenas amigos, tia. Não se esqueça disso. E eu não o vejo dessa maneira, é como se ele fosse meu irmão.

-Bom, se você está dizendo. Ele está lá em cima, foi tomar banho.

-Eu posso subir? Irei ficar esperando ele no quarto.

-É claro, vai lá.

Subi as escadas e entrei sem nem ao menos bater.

-EI!

Me virei rapidamente.

-Meu Deus Jake, quando estiver trocando de roupa podia ao menos trancar a porta.

-Você que devia bater. Vai entrando assim.

-Me desculpa mas acabaram de me dizer que sou de casa, então não preciso bater.

-Pode virar. -Me virei e o vi já com o short do uniforme. -Achei que só eu ia de uniforme.

-Resolvi ir. Não me sinto bem com as roupas que Charlotte compra pra mim. São muito vulgares. Ainda mais pra escola.

-Eu sei bem como é. Agora vamos, se não iremos nos atrasar.

Concordei e saímos do quarto.

-Mãe, estamos saindo. -Jake disse abrindo a porta.

-Tchau, cuidado. Não quero receber uma ligação dizendo que meu filho está no hospital.

Ri dela e saímos em direção a escola.

(...)

-E assim começa mais um ano...

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