Capítulo 7

-Estou trabalhando, Charlotte. Vou pra casa daqui algumas horas. -Arrumei meu cabelo para trás.

-E quem é que te deu permissão para fazer isso? Seu pai sabe disso?

-Não exatamente... mas eu vou contar assim que chegar em casa.

-Não. Eu quero você aqui agora. Se ele ficar sabendo que eu estava consciente dessa idiotice sua, com certeza vai ficar bravo comigo. Você tem 5 minutos pra chegar aqui.

Ela desligou e eu respirei fundo. Guardei o celular mais uma vez e voltei para perto de onde Zack e Alicia estão. Quando me sentei mais uma vez, senti o olhar de Zack sobre mim.

-O que? -Perguntei já ficando incomodada.

-Nada. -Voltou sua atenção para a comida.

Comecei a retirar o macarrão e quando estava colocando em meu prato, senti novamente seu olhar.

-Fala de uma vez, Zack.

-É só que a sua mãe parece ser bem brava. -Colocou o talher na boca. -Não a imaginava dessa forma.

Mãe. Será mesmo que ele não sabe o que aconteceu com minha mãe há dois anos atrás? Eu fiquei por praticamente 2 meses sem ir para a escola durante o primeiro ano do ensino médio.

-Ela não é... -Não consegui pronunciar a palavra em voz alta. -Só esquece isso tudo. -Falei e comecei a comer, mesmo tendo perdido completamente qualquer vontade de comer de algumas minutos atrás.

(...)

Agora já são dez horas da noite e não consegui fazer a Alicia dormir ainda. Ela simplesmente decidiu que ia esperar a mãe dela chegar e não há quem tire essa ideia da cabeça dela.

Sei que devia ser pé firme e mostrar quem é que manda, mas ela é tão fofinha que não sou capaz de sequer dizer não a ela.

Agora estamos na sala assistindo um filme chamado “Rango”, eu nunca tinha visto esse desenho antes, mas ele realmente é bem engraçado.

A porta da sala se abriu e eu virei minha cabeça para lá, avistando uma mulher. Ela é alta, possui os cabelos pretos e curtos até a nuca. Suas roupas são um tanto quanto estilosas e os traços do seu rosto são bem delicados.

-Oi. -Nos cumprimentou assim que levantou a cabeça da trinca da porta, onde ela estava segundos atrás a trancando. -Você deve ser a Alexia, certo? Muito prazer, sou Valentina.

Me levantei assim que vi ela vindo em nossa direção.

-O prazer é todo meu. -Falei enquanto pegava em sua mão.

-Alicia ainda está acordada? -Perguntou para mim assim que a viu completamente focada no filme. Ela parece nem ter percebido a presença da mãe.

-Sim. -Mordi levemente meus lábios por dentro. -Eu não consegui fazer ela dormir. Está bem elétrica.

Ela sorriu pra mim e retirou o blazer.

-A Alicia é assim mesmo. Você precisa bater firme para ela te obedecer. Logo logo você aprende.

-Tenho certeza que sim. -Sorri levemente.

-E Zack? Como ele te tratou? Ele pode ser bem complicado no começo, mas te garanto que ele possui um coração enorme.

Já eu não tenho tanta certeza quanto a isso...

-Eu e ele meio que já nos conhecíamos antes. Somos da mesma sala na escola.

-Mesmo? -Sorriu. -Então não deve ter sido tão difícil, não é?

-Na verdade, Tina, foi bem difícil ter que aguentar ela o dia inteiro.

Ambas viramos a cabeça na direção da escada e encontramos Zack descendo.

-Espero que tenha tratado ela bem, Zack.

Levantei as sobrancelhas aguardando para ver o que é que ele vai responder.

-Sim, sim. É claro. -Sorriu. -Apesar de ter sido difícil, a Alexia tem se mostrado ser uma pessoa... de fácil convivência.

Tive vontade de mostrar dedo pra ele, mas me contive por conta de Valentina.

-Meu marido já te avisou que vamos lhe pagar somente no último dia? -Se dirigiu a mim mais uma vez.

-Sim, avisou sim. -Olhei para Alicia e a encontrei cochilando no sofá. -Será que eu já posso ir agora? Meu pai deve estar preocupado comigo.

-Ah, é claro. -Se virou para Zack, que agora está parado no pé da escada. -Leva ela.

-Como? -A olhou sem entender. -Eu não.

-Acha que eu estou pedindo? -Cruzou os braços. -Está tarde e você tem uma moto. Leve ela para casa, Zack.

-Não precisa, de verdade. -Me intrometi. -Eu moro aqui pertinho. Chego em casa em menos de 10 minutos.

-Tem certeza? -Perguntou.

-Tenho sim. Com licença. -Passei por ela e fui em direção a porta sem olhar na direção de Zack momento algum.

-Foi um prazer conhecer você, minha querida. -Disse assim que abriu a porta para mim. Peguei a mochila que até então estava próxima dos casacos e a coloquei nas costas.

-O prazer foi meu.

-Não vai mesmo se despedir de mim, quatro olhos!? -Zack gritou de lá de dentro. -Assim eu fico magoado.

-Cadê o respeito, Zack? -Se virou para ele.

-Só estou brincando, Tina. -Respondeu. -Ela sabe que eu amo ela.

Juro que um dia eu ainda mato ele.

-Tem certeza de que não quer a carona? -Perguntou para mim.

-Tenho sim, mas obrigada mais uma vez. -Desci as escadas e comecei a caminhar em direção a minha casa.

(...)

-Então você acha que as coisas funcionam assim aqui nessa casa? Você simplesmente sai e chega quando quer?

Charlotte já começou com os sermões desde o momento em que passei pela porta. Não falei nada até agora. Estou deixando apenas ela falar, assim acaba mais rápido.

-Estou falando com a parede, Alexia? -Andou de um lado para o outro no centro da sala. Estou sentada no sofá.

-O que quer que eu diga? Você já sabe que eu estava trabalhando.

-E a partir de hoje você não vai mais para esse trabalho. Por Deus, chegar as onze horas da noite e ainda achar que está agindo certo... -Passou as mãos no cabelo loiro tingido.

-Não posso simplesmente não ir, Charlotte. Eu estou comprometida com o senhor Kendell. Se eu decidir não ir, estarei o deixando na mão.

-Está retrucando comigo? Acho que vou ter mesmo que ter uma conversinha com o seu pai.

Respirei fundo e desviei minha atenção para a lareira.

-E como castigo por ter me feito passar tanta raiva em um dia só, eu quero que você esteja em casa todos os dias as oitos horas em ponto. Ah, e me dê o seu celular. Irei ficar com ele também.

Neguei e me repreendi mentalmente por estar com vontade de chorar. Por favor, na frente dela não.

-Vamos, Alexia. -Estendeu a mão em minha direção.

Peguei meu celular do bolso e a entreguei.

-Agora já pode ir para o seu quarto. -Fez um gesto com a mão. -Cansei de ver seu rosto.

Me levantei e fui caminhando lentamente em direção a escada. Assim que cheguei na metade dos degraus, comecei a correr e parei só no momento em que entrei em meu quarto. Tranquei a porta atrás de mim e fiquei encostada na mesma.

Eu não consigo entender o motivo da Charlotte pra ser tão ruim assim comigo. Desde o momento em que meu pai me apresentou ela, eu sempre a tratei super bem. Nunca sequer fiz menção de odiar o simples fato dela estar de certa forma substituindo a minha mãe.

Nunca demonstrei o quanto eu odeio saber que ela dorme no lado da cama em que minha mãe ficava. Ou o quanto me dói ver que o antigo quarto do meu irmãozinho virou um estúdio de moda feito por Alysson.

Não consegui mais segurar o choro preso em minha garganta e desabei em minha cama.

(...)

Não consegui pegar no sono até agora e tenho quase certeza que já deve ser de madrugada. Meus olhos estão ardendo por eu ter chorado e minha cabeça também está doendo. Só de saber que amanhã vou ter que acordar cedo para ir pra escola...

Meu notebook apitou e isso atraiu minha atenção para lá. Mesmo sem coragem nenhuma, me forcei a levantar e o peguei em cima da escrivaninha.

Pelo menos ainda tenho o Skype.

Cadê você? Estou quase morrendo de preocupação. Por que não entra no snapchat?

Posso te ligar?

Perguntei e em seguida a tela de chamada de vídeo apareceu.

-O que houve? Estava preocupado. Estou tentando falar com você desde as dez meia.

Tirei meus óculos e respirei fundo.

-Longa história. -Falei e voltei a olhar para ele.

Jake olhou ao meu redor.

-Por que está tão escuro aí? -Perguntou.

-Charlotte me colocou de castigo. -Cocei os olhos. -Já era pra eu estar dormindo.

-Como assim de castigo? Mas quem ela pensa que é? Alexia, ela não é sua mãe. Você não pode deixar ela ficar mandando em você.

-Não é tão simples quanto parece. -Deitei a cabeça por cima do braço.

-Se você está dizendo... Mas por que ela te colocou de castigo?

-Simplesmente ela não quer que eu trabalhe.

-Olha, eu estou me segurando pra não ir aí e dar na cara dessa bruxa.

Sorri.

-Eu queria te ver. -Falei e coloquei o notebook do meu lado na cama.

-E não está vendo agora? -Me provocou.

-Você entendeu o que eu quis dizer. -Revirei os olhos rindo.

-Amanhã na escola a gente já vai se ver, relaxa. -Mudou o celular de mão e se virou para o outro lado na cama.

Fiquei em silêncio por um tempo.

-Tá tudo bem? -Perguntou.

-Só estou pensando que amanhã nem vamos poder sair pra comemorar nosso aniversário de amizade. -Lamentei.

Ele ficou pensativo.

-Eu tive uma ideia. Amanhã vai para o nosso lugar, tá legal?

Concorde animada por saber que meu melhor amigo possui um plano.

-O que pretende fazer? -Perguntei curiosa.

-Surpresa. Agora é melhor a gente desligar. Amanhã temos que levantar cedo e já está bem tarde.

-Não, por favor. Não quero ficar sozinha.

-Tudo bem. Eu fico aqui até você dormir.

-Obrigada. -Sorri levemente para ele e fechei os olhos.

-Vou te contar uma história, quem sabe você consegue pegar no sono mais rápido. Era uma vez...

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