-Estou trabalhando, Charlotte. Vou pra casa daqui algumas horas. -Arrumei meu cabelo para trás.
-E quem é que te deu permissão para fazer isso? Seu pai sabe disso?
-Não exatamente... mas eu vou contar assim que chegar em casa.
-Não. Eu quero você aqui agora. Se ele ficar sabendo que eu estava consciente dessa idiotice sua, com certeza vai ficar bravo comigo. Você tem 5 minutos pra chegar aqui.
Ela desligou e eu respirei fundo. Guardei o celular mais uma vez e voltei para perto de onde Zack e Alicia estão. Quando me sentei mais uma vez, senti o olhar de Zack sobre mim.
-O que? -Perguntei já ficando incomodada.
-Nada. -Voltou sua atenção para a comida.
Comecei a retirar o macarrão e quando estava colocando em meu prato, senti novamente seu olhar.
-Fala de uma vez, Zack.
-É só que a sua mãe parece ser bem brava. -Colocou o talher na boca. -Não a imaginava dessa forma.
Mãe. Será mesmo que ele não sabe o que aconteceu com minha mãe há dois anos atrás? Eu fiquei por praticamente 2 meses sem ir para a escola durante o primeiro ano do ensino médio.
-Ela não é... -Não consegui pronunciar a palavra em voz alta. -Só esquece isso tudo. -Falei e comecei a comer, mesmo tendo perdido completamente qualquer vontade de comer de algumas minutos atrás.
(...)
Agora já são dez horas da noite e não consegui fazer a Alicia dormir ainda. Ela simplesmente decidiu que ia esperar a mãe dela chegar e não há quem tire essa ideia da cabeça dela.
Sei que devia ser pé firme e mostrar quem é que manda, mas ela é tão fofinha que não sou capaz de sequer dizer não a ela.
Agora estamos na sala assistindo um filme chamado “Rango”, eu nunca tinha visto esse desenho antes, mas ele realmente é bem engraçado.
A porta da sala se abriu e eu virei minha cabeça para lá, avistando uma mulher. Ela é alta, possui os cabelos pretos e curtos até a nuca. Suas roupas são um tanto quanto estilosas e os traços do seu rosto são bem delicados.
-Oi. -Nos cumprimentou assim que levantou a cabeça da trinca da porta, onde ela estava segundos atrás a trancando. -Você deve ser a Alexia, certo? Muito prazer, sou Valentina.
Me levantei assim que vi ela vindo em nossa direção.
-O prazer é todo meu. -Falei enquanto pegava em sua mão.
-Alicia ainda está acordada? -Perguntou para mim assim que a viu completamente focada no filme. Ela parece nem ter percebido a presença da mãe.
-Sim. -Mordi levemente meus lábios por dentro. -Eu não consegui fazer ela dormir. Está bem elétrica.
Ela sorriu pra mim e retirou o blazer.
-A Alicia é assim mesmo. Você precisa bater firme para ela te obedecer. Logo logo você aprende.
-Tenho certeza que sim. -Sorri levemente.
-E Zack? Como ele te tratou? Ele pode ser bem complicado no começo, mas te garanto que ele possui um coração enorme.
Já eu não tenho tanta certeza quanto a isso...
-Eu e ele meio que já nos conhecíamos antes. Somos da mesma sala na escola.
-Mesmo? -Sorriu. -Então não deve ter sido tão difícil, não é?
-Na verdade, Tina, foi bem difícil ter que aguentar ela o dia inteiro.
Ambas viramos a cabeça na direção da escada e encontramos Zack descendo.
-Espero que tenha tratado ela bem, Zack.
Levantei as sobrancelhas aguardando para ver o que é que ele vai responder.
-Sim, sim. É claro. -Sorriu. -Apesar de ter sido difícil, a Alexia tem se mostrado ser uma pessoa... de fácil convivência.
Tive vontade de mostrar dedo pra ele, mas me contive por conta de Valentina.
-Meu marido já te avisou que vamos lhe pagar somente no último dia? -Se dirigiu a mim mais uma vez.
-Sim, avisou sim. -Olhei para Alicia e a encontrei cochilando no sofá. -Será que eu já posso ir agora? Meu pai deve estar preocupado comigo.
-Ah, é claro. -Se virou para Zack, que agora está parado no pé da escada. -Leva ela.
-Como? -A olhou sem entender. -Eu não.
-Acha que eu estou pedindo? -Cruzou os braços. -Está tarde e você tem uma moto. Leve ela para casa, Zack.
-Não precisa, de verdade. -Me intrometi. -Eu moro aqui pertinho. Chego em casa em menos de 10 minutos.
-Tem certeza? -Perguntou.
-Tenho sim. Com licença. -Passei por ela e fui em direção a porta sem olhar na direção de Zack momento algum.
-Foi um prazer conhecer você, minha querida. -Disse assim que abriu a porta para mim. Peguei a mochila que até então estava próxima dos casacos e a coloquei nas costas.
-O prazer foi meu.
-Não vai mesmo se despedir de mim, quatro olhos!? -Zack gritou de lá de dentro. -Assim eu fico magoado.
-Cadê o respeito, Zack? -Se virou para ele.
-Só estou brincando, Tina. -Respondeu. -Ela sabe que eu amo ela.
Juro que um dia eu ainda mato ele.
-Tem certeza de que não quer a carona? -Perguntou para mim.
-Tenho sim, mas obrigada mais uma vez. -Desci as escadas e comecei a caminhar em direção a minha casa.
(...)
-Então você acha que as coisas funcionam assim aqui nessa casa? Você simplesmente sai e chega quando quer?
Charlotte já começou com os sermões desde o momento em que passei pela porta. Não falei nada até agora. Estou deixando apenas ela falar, assim acaba mais rápido.
-Estou falando com a parede, Alexia? -Andou de um lado para o outro no centro da sala. Estou sentada no sofá.
-O que quer que eu diga? Você já sabe que eu estava trabalhando.
-E a partir de hoje você não vai mais para esse trabalho. Por Deus, chegar as onze horas da noite e ainda achar que está agindo certo... -Passou as mãos no cabelo loiro tingido.
-Não posso simplesmente não ir, Charlotte. Eu estou comprometida com o senhor Kendell. Se eu decidir não ir, estarei o deixando na mão.
-Está retrucando comigo? Acho que vou ter mesmo que ter uma conversinha com o seu pai.
Respirei fundo e desviei minha atenção para a lareira.
-E como castigo por ter me feito passar tanta raiva em um dia só, eu quero que você esteja em casa todos os dias as oitos horas em ponto. Ah, e me dê o seu celular. Irei ficar com ele também.
Neguei e me repreendi mentalmente por estar com vontade de chorar. Por favor, na frente dela não.
-Vamos, Alexia. -Estendeu a mão em minha direção.
Peguei meu celular do bolso e a entreguei.
-Agora já pode ir para o seu quarto. -Fez um gesto com a mão. -Cansei de ver seu rosto.
Me levantei e fui caminhando lentamente em direção a escada. Assim que cheguei na metade dos degraus, comecei a correr e parei só no momento em que entrei em meu quarto. Tranquei a porta atrás de mim e fiquei encostada na mesma.
Eu não consigo entender o motivo da Charlotte pra ser tão ruim assim comigo. Desde o momento em que meu pai me apresentou ela, eu sempre a tratei super bem. Nunca sequer fiz menção de odiar o simples fato dela estar de certa forma substituindo a minha mãe.
Nunca demonstrei o quanto eu odeio saber que ela dorme no lado da cama em que minha mãe ficava. Ou o quanto me dói ver que o antigo quarto do meu irmãozinho virou um estúdio de moda feito por Alysson.
Não consegui mais segurar o choro preso em minha garganta e desabei em minha cama.
(...)
Não consegui pegar no sono até agora e tenho quase certeza que já deve ser de madrugada. Meus olhos estão ardendo por eu ter chorado e minha cabeça também está doendo. Só de saber que amanhã vou ter que acordar cedo para ir pra escola...
Meu notebook apitou e isso atraiu minha atenção para lá. Mesmo sem coragem nenhuma, me forcei a levantar e o peguei em cima da escrivaninha.
Pelo menos ainda tenho o Skype.
Cadê você? Estou quase morrendo de preocupação. Por que não entra no snapchat?
Posso te ligar?
Perguntei e em seguida a tela de chamada de vídeo apareceu.
-O que houve? Estava preocupado. Estou tentando falar com você desde as dez meia.
Tirei meus óculos e respirei fundo.
-Longa história. -Falei e voltei a olhar para ele.
Jake olhou ao meu redor.
-Por que está tão escuro aí? -Perguntou.
-Charlotte me colocou de castigo. -Cocei os olhos. -Já era pra eu estar dormindo.
-Como assim de castigo? Mas quem ela pensa que é? Alexia, ela não é sua mãe. Você não pode deixar ela ficar mandando em você.
-Não é tão simples quanto parece. -Deitei a cabeça por cima do braço.
-Se você está dizendo... Mas por que ela te colocou de castigo?
-Simplesmente ela não quer que eu trabalhe.
-Olha, eu estou me segurando pra não ir aí e dar na cara dessa bruxa.
Sorri.
-Eu queria te ver. -Falei e coloquei o notebook do meu lado na cama.
-E não está vendo agora? -Me provocou.
-Você entendeu o que eu quis dizer. -Revirei os olhos rindo.
-Amanhã na escola a gente já vai se ver, relaxa. -Mudou o celular de mão e se virou para o outro lado na cama.
Fiquei em silêncio por um tempo.
-Tá tudo bem? -Perguntou.
-Só estou pensando que amanhã nem vamos poder sair pra comemorar nosso aniversário de amizade. -Lamentei.
Ele ficou pensativo.
-Eu tive uma ideia. Amanhã vai para o nosso lugar, tá legal?
Concorde animada por saber que meu melhor amigo possui um plano.
-O que pretende fazer? -Perguntei curiosa.
-Surpresa. Agora é melhor a gente desligar. Amanhã temos que levantar cedo e já está bem tarde.
-Não, por favor. Não quero ficar sozinha.
-Tudo bem. Eu fico aqui até você dormir.
-Obrigada. -Sorri levemente para ele e fechei os olhos.
-Vou te contar uma história, quem sabe você consegue pegar no sono mais rápido. Era uma vez...
Ao escutar o despertador tocar, me inclinei um pouco e o desliguei. Mesmo sem vontade alguma, me sentei na cama e pude notar o sol tentando entrar por detrás das cortinas.Eu estou tão cansada.Me levantei e fui caminhando lentamente em direção ao banheiro. Tenho que pelo menos fingir que estou bem.(...)Após tomar um bom banho, fui em direção ao primeiro andar. Por que é que a casa está tão silenciosa assim?Fui até a cozinha e peguei o galão de leite na geladeira.-Bom dia, Alexia. Deixa que eu preparo o seu café. -Disse Donna, nossa governanta.Ela foi contratada por Charlotte há alguns meses. Não gostei muito da ideia no começo, mas assim que a conheci, já me simpatizei logo de cara. Donna é uma senhora de 50 e poucos anos. Ela é bem mais baixa do que eu e seus cabelos são t&at
-Presta atenção por onde anda. -Disse Stefan, amigo de Zack.-Desculpa. -Falei e ele saiu andando.-Tem qual aula agora? -Jake perguntou.-Matemática. Vi algumas pessoas comentando que é um professor novo. -Abri meu armário e peguei o livro de matemática.-Espero que saiba ensinar. -Sorri ao escutar ele dizer isso. -O que?Fechei o armário.-É engraçado escutar você falando isso. Acha você mesmo que a escola iria contratar alguém que não sabe ensinar? -Arrumei o caderno em meus braços.-Bom, teve aquele professor de educação física no ano passado. Você lembra que ele só ficava sentado mexendo no celular enquanto mandava a gente ficar correndo em volta do campo?Sorri mais uma vez.-Relaxa, acho que ele deve ser bom. Vou indo, não quero me atrasar na primeira aula. -Mandei um beijo para
Assim que as alas acabaram, fiquei na dúvida se obedecia o que Charlotte mandou ou se ia trabalhar logo de uma vez. Apesar de ser completamente desnecessário essa revolta dela em relação a eu trabalhar, não posso contraria-la. Ela é namorada do meu pai, e não quero causar briga entre os dois. Meu pai precisava disso, precisava de uma mulher que o fizesse feliz.Mas por outro lado, eu também preciso disso para o meu currículo, também tenho a minha vidam, não posso deixar ela tirar tudo de mim.Então sim, eu vou ir.Enquanto caminhava em direção a casa de Zack, observei um casal do outro lado da rua. Os dois estão de mãos dadas e ele está provocando ela.Parei de prestar atenção neles e voltei a focar em meu caminho. Pouco tempo depois enfim cheguei na casa. Bati à porta e fique no aguardo de algué
Alexia narrando:Eu não queria ter que aceitar ir a seja lá onde for que Zack quer nos levar, mas que outra escolha eu tinha? Era isso ou ter que aguentar sermão todos os dias.Assim que ele saiu do quarto, acordei Alicia e a arrumei.-Titia, não vai se arrumar também? -Alicia perguntou enquanto eu amarrava o último elástico em seu cabelo.-Não se preocupe comigo. -Sorri pra ela. -Só vamos dar uma volta.Me levantei e fui até o seu guarda roupa, onde peguei uma casaco levinho. Hoje não está tão frio mas não posso facilitar para ela ficar resfriada.-Mas e se o irmão quiser ir num restaulante?-Dessa vez não, Lice. -Me virei assustada na direção da porta e encontrei Zack parado. Ele está com um short preto e uma camiseta azul. -Isso vai ser para a próxima proposta.
Zack narrando:O que é que deu em minha cabeça de contar tudo aquilo pra ela? Quer dizer, é a Alexia... a menina que eu perturbava todo santo dia por ela ser quietinha. Por sempre abaixar a cabeça. E agora eu simplesmente saio contando coisas da minha vida pra ela?Eu não estava muito bem, deve ter sido mais uma das crises. E isso fez com que eu lhe contasse sobre minha mãe. E eu jamais contei isso pra alguém. Sei que ela mesma me disse que não vai espalhar, mas e se ela resolver fazer isso? Minha reputação com certeza iria por água abaixo.-Irmão, sai daí, vem binca comigo. -Disse Alicia que ainda estava de frente para sua casa dos sonhos da Barbie.Desde que Alexia foi embora, permaneci na sacada, observando o céu. Nunca tinha parado pra prestar atenção, e somente agora me dei conta do quão lindo é
Alexia Narrando:Estou até agora tentando entender o que foi aquilo na sala de aula.É sério mesmo que ele me convidou para uma festa? Quer dizer, não é uma festa comum, é uma festa na casa da Clair! Por mais que eu não vá muito com a cara dela, (Que convenhamos eu tenho vários motivos) eu nunca havia sido convidada. Eu preciso contar isso pro Jake.(...)Após acabar todas as aulas, me encontrei com ele na entrada da escola.-Você não vai acreditar. -Peguei em seu braço e saímos caminhando. -Fomos convidados pra uma festa.-Que? -Ele parou de andar e ficou me olhando
Assim que chegamos em frente à casa de Clair, notei a quantidade de pessoas por aqui. Tantas que estou até pensando em desistir.-É agora ou nunca. -Jake sorriu e estacionou o Jipe.-Estou pensando seriamente em ficar aqui no carro.-O que? Nem pense nisso, Alexia. Você me convidou e agora estamos aqui.-Eu sei. Mas eu não devia estar batendo bem da cabeça. Podemos ir pra outro lugar?Ele respirou fundo e se encostou novamente no banco.-Olha, eu entendo o seu nervosismo, eu também estou assim, é nossa primeira festa. Mas não deixe o medo te dominar. Vai ser legal, e quan
Após aquele momento que estou até agora tentando entender, fui a procura de Jake e o encontrei beijando a Alyssa. Eu sei que devia estar feliz por meu melhor amigo ter conseguido o que tanto queria, mas não estou no clima. O cutuquei e disse que queria ir embora. Ele concordou e me pediu para esperar no Jipe que já estava indo.-Essa foi a melhor noite da minha vida. -Ele disse animado se sentando no banco ao meu lado.Sorri levemente e olhei para fora do carro.-Você está estranha, o que aconteceu?Fiquei um tempo em silêncio e o senti me olhando.-Zack me beijou. -Coloquei meu cabelo atrás da orelha e olhei para o seu rosto, que