Vamos dizer que 90% das coisas que eu fazia eram impensadas. Se for pra ver mesmo, eu não sabia por que eu fazia as coisas que fazia. Eu só fazia e pronto. Se eu pensasse um pouquinho nas consequências, sabe, antes de agir, seria o melhor pra todo mundo.
Quando eu vi o violão, eu soube, era o momento. Alguns minutos depois, lá estava eu, tocando e cantando. Tudo bem, eu não era ruim. Talvez tocando eu era bem melhor do que cantando, mas minha voz não era uma das piores. Ah, vai, até que eu era afinadinha.
Enfim, eu e Will havíamos treinado aquela música por semanas. Mal eu sabia o por quê. Foi meio que por acaso.
Em um dia estávamos no mercado comprando manteiga de amendoim, porque tinha acabado, e era um ritual nosso comer manteiga de amendoim às terças. E aí estava eu e ele, plantando o terror no sup
Era estranho. Eu não sentia quase nada. Não sentia dor, desconforto, ou prazer. Eu só tinha a sensação de entrar e sair dele, sua mão apertando minha cintura e o cheiro ruim que o cigarro soltava.— Mais rápido, loira, mais rápido! — exclamava Mattias, arfando e gemendo.Fiz o que ele pediu e ao mesmo tempo joguei meu cabelo para o lado e o dividi em três mechas. Comecei a trançá-las para passar o tempo.— Isso! Isso! Ai meu Deus! Só um pouco mais rápido! Isso! Isso! Ahhhh! — Mattias suspirou e com delicadeza me tirou de cima dele, então eu caí para o lado, deitando minha cabeça em um travesseiro.Nem tinha porque fingir que eu tinha gostado. Pouco provável que ele se lembrasse depois.Não falei nada. No fundo, no
Pov's MattiasAlgumas vezes na vida, as pessoas fazem escolhas que nem sempre é a melhor para se orgulhar. Algumas vezes na vida, eu fiz escolhas pensando no outro, algumas vezes, só fiz pensando em mim, e em todas essas escolhas, só uma coisa é semelhante: eu me fodi em todas elas.– E-Eu não sabia – murmurei para a loira. Minha cabeça girava, meu coração batia forte no peito, o suor escorria por minha testa e eu sentia uma espécie de eletricidade usufruir por meu corpo. Péssima hora para eu ter feito uso de drogas.Devia estar estampado na minha cara que eu sabia. Era perca de tempo dizer que não sabia que meu querido e desgraçado velho pai e a mãe perfeita e santa de Samira eram amantes. Ironia nunca morre.– É mentira – exclamou
– É que... ninguém presta nesse mundo, Nicholas? Ninguém mesmo?Nico riu de novo. Parecia que com ele, nada nunca estava ruim e o sorriso nunca iria desaparecer de seu rosto.– Ninguém. E eu não sou exceção, princesa.– Se você sabe disso, por que não tenta mudar? – sussurrei.Ele fez um barulho com a boca, e depois tragou de novo o cigarro e soprou a fumaça para cima.– Porque eu sou humano – respondeu. – Somos humanos, Samira, todos nós. Humanos erram.– Bela filosofia – debochei.Nicholas deu de ombros.– Mas é verdade, gata.Suspirei.– Eu sei.Ficamos em silêncio. Longos minutos depois, Nico jogou o cigarro no chão e o apagou com o calcanhar.– O que você vai fazer? – perguntou.– Sobre?– Sei
— Vocês formam um belo casal — falou uma voz feminina atrás de nós.Nos viramos e nos deparamos com Emma. Ela estava séria, vestindo seu pijama, mas havia um quê de brincadeira nos seus olhos.Me soltei de Will e corri até a ela. A abracei forte.— Emma, sinto muito. Me desculpe, de verdade… Desculpe se eu te magoei naquele dia, sinto muito mesmo — disse eu.Emma ficou durante alguns segundos em silêncio e depois sussurrou:— Eu que peço desculpas, estava tão preocupada tentando não perder vocês que eu não me liguei no que faria vocês dois felizes. Sinto muito. Eu… nunca vou aprovar cem por cento vocês dois juntos… mas já aceito. Eu só quero que vocês sejam felizes.E naquele mo
Rimos juntos durante vários minutos, até que ela ficou completamente séria:— Will, não é uma má ideia! — exclamou com os olhos brilhando.— O quê? A gente andar pelado? Também não acho… — eu não me importaria nem um pouco em ver a Sam nua, nem um pouquinho mesmo. — Seria adorável… mas limpar a bunda com…Samira me interrompeu com um tapa de leve e riu:— Não! Podíamos acampar no bosque. Nunca nos encontrariam lá, todo mundo sabe que eu tenho pavor a insetos. — Seu olhar ficou distante. — Preciso me distanciar um pouco da realidade.Fiz um muxoxo:— E onde é que vamos dormir, loira? Vamos tomar banho de riozinho e cagar no mato? Você sabe que eu tenho mania
”MattiasAceitar - Rejeitar”— Acha que ele já sabe? — perguntou Will, sentado dentro da barraca, ao meu lado.— Com certeza — sussurrei, cobrindo o celular com os lençóis. Suspirei.Hm, sabe, eu sentia falta dele. Mattias. Apesar dele ser um mentiroso idiota, era inevitável não sentir, mas sinceramente, o tamanho do meu ódio era maior que a saudade. Eu nunca mais confiaria em um Sartori. Mattias era mentiroso, manipulador, egocêntrico, falso, igual ao pai. Tudo de melhor que eu podia fazer, era esquecê-lo.— Sam, não tem a remota possibilidade de você voltar para ele? — disse Will, arqueando a sobrancelha. Eu sei que provavelmente ele deveria estar dando pulinhos de alegria por dentro (como alguém dá pulinhos de alegria por dentro? De repente eu imaginei os rins dele dando saltinhos), mas bem, pelo menos ele disfar&ccedi
Pov’s WillEu estava tendo um sonho muito bom. Extremante excitante. Mas aí ela me acordou com uma mordida na orelha.E doeu. E aí eu não consegui me lembrar do sonho. Tinha alguma coisa a ver com ela, com certeza. Só que fora do sonho, Samira me olhava com um olhar assustador. Sério, parecia que ela havia esquecido de tomar os remédios, mas eu sabia que ela havia tomado. Tinha tomado os habituais, e alguns outros para ajuda-la a aguentar a barra sem pirar, e aquilo só tornava as coisas mais assustadoras ainda, pois ela estava agindo por conta própria.— Ah, o.k. Acho que vou arrumar alguns remédios mais fortes para você — falei e bocejei.— Estou falando sério! — exclamou.— É isso o mais apavorante — retruquei.— Não vai ser nada de mais. Só vamos entrar lá, encher os bolsos e sair correndo
Alguns minutos depois, entramos na praia. Samira agarrou minha mão e fomos para a água fria.— Porra, Sam, está muito gelada! — disse eu.Ela jogou a cabeça para trás e riu gostosamente. Ficou esfregando os pés na água, que batia nos joelhos.— Que graça tem nadar só de dia? — arqueou a sobrancelha.Samira sorriu perigosamente, me analisado, aliás, eu percebia que ela andava fazendo muito isso, me analisar. Ela deu um giro na água, agora olhando o horizonte à frente.— Eu amo tudo isso. Isso tudo me dá paz — ela disse. — Você. O mar. Esse bosque e nossa barraca. Por mim eu ficava aqui para sempre. Mas eu sei que temos que ir embora.Coloquei o braço nos ombros dela, sem me importar com a água em gelo que batia na batata da perna, e a brisa friorenta que me arrepiava a nuca. Só n&oacut