RichardQue se danem! Que se danem todos! Me tranquei no meu escritório, peguei uma garrafa de uísque que estava quase vazia e minha cabeça cheia de pensamentos sombrios. Aquele desgraçado do Xanders achava que podia aparecer na minha casa e falar sobre o passado. Dei um gole direto da garrafa. E a Elena, aquela vadia, pensa que é mais importante do que realmente é.Bebi mais um gole, sentindo a queimação na garganta. O escritório estava quase às escuras, iluminado apenas pela luz fraca da luminária sobre a mesa. Os documentos das ações contra a empresa estavam espalhados por todos os lados. Percy tinha me dado uma palestra sobre como precisávamos manter um perfil baixo, mas eu só conseguia pensar na traição de Elena e nas jogadas do Xanders. Dois sanguessugas que tinham grudado na pele do meu filho. Me irritava a ingenuidade de Cristhian. Eu deveria ter sido mais duro com ele. Se eu tivesse sido, não seria tão idiota.Depois de alguns goles, os fantasmas começaram a rondar. Como era
*Richard** Melissa me olhava assustada, mas ao mesmo tempo indignada. Eu tinha perdido a compostura, e toda vez que isso acontecia, ela ficava devastada. Fiz terapia para controlar minha raiva só para agradá-la. Eu fazia qualquer coisa por Melissa. – Me desculpe – saiu do fundo do meu coração. Me aproximei, mas ela deu dois passos para trás, e isso doeu. – O que há de errado com você? – perguntou com raiva na voz. – A vida te dá a chance de se redimir com alguém que você machucou, e você reage assim! Pobre Melissa. Ela era tão inocente, confiava demais nas pessoas, e isso era perigoso. Por sorte, ela me tinha para protegê-la. – Xanders me pegou de surpresa – isso era verdade. – Eu sabia que ele queria fazer negócios com Cristhian, mas... tocar no passado na frente do nosso filho? Não, isso eu não vou permitir. – Ele não tocou no passado, Richard. Só quis quebrar o gelo dizendo ao Cris que vocês já se conheciam. Talvez tenha sido uma forma de ganhar a confiança dele. Solt
*Cristhian**-¡Mãe! ¡Mãe! –o grito de Zackary fez com que Rubí se afastasse de mim num segundo – não vá, mamãe.Ambos olhávamos para a cama. Zackary estava deitado, com os olhos fechados, esticando os braços como se tentasse alcançar algo.–Está tudo bem – sussurrou Rubí enquanto pegava Zackary no colo, algo que eu deveria estar fazendo, mas ela reagiu muito mais rápido – estou aqui, não vou embora. Zackary se agarrou ao pescoço de Rubí, enterrando seu rostinho pequeno no peito dela, e ela o embalou. Eu senti algo familiar em Rubí, algo que eu não tinha notado antes, era como se já tivéssemos vivido aquele momento em outro tempo. Fiquei em silêncio, observando aquela cena. Rubí colocou Zackary na cama com muito cuidado e ficou parada em frente à cama, de braços cruzados, olhando para ele. Percebi a expressão no rosto dela; era óbvio que ela estava fazendo um esforço enorme para não chorar, mas não conseguiu evitar, tapou a boca e soluçou. Eu fiquei paralisado, sentindo o impulso de me
***Sarah***No carro, a caminho de casa, Xavier me pediu um relatório sobre o que tinha acontecido com Cristhian.— Não foi minha intenção, já te falei — eu estava no banco do passageiro; ele dirigia sem tirar os olhos da estrada. Eu tinha as mãos juntas sobre as pernas, raspando o esmalte de uma unha com a outra.— Você está querendo fazer as coisas por conta própria, Sarah? — ele me chamou pelo meu nome verdadeiro, e eu senti que todo o ar sumia dos meus pulmões de uma vez. Quando Xavier me chamava de Sarah, ele também me tratava como as pessoas costumavam me tratar antes.— Não. Claro que não, eu nunca faria isso — fiz um esforço enorme para falar com a voz firme. Ser Sarah tinha um efeito horrível em mim. Quando eu lembrava que era Sarah, a filha da empregada, a esposa submissa, e não Rubí, a mulher sensual, segura de si e poderosa, eu me desvanecia. Os medos me aprisionavam, me subjugavam. Respirei fundo. — Ele me viu chorando. Estava na sala do Zacky com meu filho nos braços e n
Sarah—Sim, sou eu —Xavier atendeu o telefone ainda deitado, com a cabeça apoiada no travesseiro—. Sim, ela é minha irmã —ficou alguns segundos em silêncio—. O quê!? —sentou-se de repente; o telefone quase caiu da mão, mas ele colocou de volta no ouvido—. Vou agora mesmo —se levantou sem me dar explicações; eu também me levantei.—O que aconteceu? —me aproximei dele, que já estava no closet.—Nada. Volta pra cama —a voz dele estava tremendo. Estava nu, revirando suas roupas como se não soubesse o que estava fazendo. Se virou e me abraçou—. Maddy teve um acidente —disse entre soluços—. Preciso ir pro hospital.—Eu te levo —falei, quebrando o abraço. Peguei uma calça jeans e uma camiseta e coloquei nas mãos dele. Ele me olhou, resignado, como se soubesse que eu não iria obedecer. Começou a se vestir. Dei um casaco preto pra ele—. Vai lavar o rosto, eu vou me trocar.Quando chegamos ao hospital, tudo estava um caos. Havia muitas pessoas perguntando por seus parentes, parecia que havia ac
*Cristhian* A pancada balançou meu carro. Não foi forte, mas eu esperava o básico: que a pessoa saísse, se desculpasse, como qualquer um faria. Meu pé continuava no freio, os dedos tamborilando no volante, tentando não perder a paciência. É assim que as coisas funcionam, pensei. Alguém bate, pede desculpas, troca informações. Mas nada aconteceu. Os segundos se arrastavam, e o silêncio do outro carro começava a me deixar nervoso. Saí do carro e fui até a janela do motorista. Bati levemente. O vidro desceu só uns dois dedos, o suficiente para sentir o ar frio e ver um rosto... escondido atrás de óculos de sol. “Sério?”, pensei. Que tipo de pessoa nem tira os óculos numa situação dessas? A confusão me atingia tanto quanto a raiva. Era como se eu estivesse preso em uma cena absurda, algo que simplesmente não fazia sentido na minha cabeça. E então, sem aviso, o vidro subiu de repente. O motor rugiu e o carro arrancou, desviando do trânsito, como se fugir fosse a coisa mais normal do
***Cristhian***A sala estava cheia de luzes suaves, uma mistura de tons dourados e prateados que dava ao ambiente um ar sofisticado. A música tocava no volume perfeito, o suficiente para ser ouvida sem atrapalhar as conversas. O Ryan tinha escolhido um dos lugares mais caros pra sua festa de aniversário e não economizou nos detalhes. Era exatamente o que eu esperava dele, mas isso não diminuiu o meu nervosismo. Rubí chegou pouco depois de mim e da Elena. Tinha deixado a Addy com uma babá pra poder vir, o que me surpreendeu, considerando que ela tinha começado a cuidar da menina há tão pouco tempo. Mas lá estava ela, radiante como sempre, vestindo um traje que a fazia se destacar com facilidade no meio da multidão. Levei-a pra conhecer o Ryan, que, depois de tantos anos afastado, parecia quase um estranho pra mim. Meu irmão mais novo, o rebelde, agora tinha virado uma espécie de figura misteriosa. Eles já tinham se visto antes, mas nunca chegaram a conversar de verdade. Só que naque
**Ryan**O quarto parece um refúgio antigo congelado no tempo. Apesar dos anos, tudo está exatamente como deixei: as paredes ainda exibem as pinturas que fiz à mão, os pôsteres das bandas que nem ouço mais pendem como fantasmas do passado, e a cama, um mar de lençóis amassados, me recebe com uma nostalgia sufocante. Uma brisa suave entra pela janela entreaberta, trazendo o cheiro distante da festa lá fora, um eco de risadas e música que parece zombar de mim. O que estou fazendo aqui? Por que voltei a esse lugar que tanto me lembra uma vida que achei ter deixado para trás?Cristhian foi embora, e eu fiquei preso neste canto, cercado por memórias que reverberam como uma melodia desgastada. Meus passos são leves enquanto ando pelo quarto, tocando cada superfície, cada objeto. Há algo inquietante nessa intemporalidade. Este espaço permaneceu intacto enquanto eu mudei, cresci. A vida nas ruas me ensinou muito, mas ainda assim sinto que algo me prende aqui.Me aproximo da velha escrivaninha