POV CARLA—Você está chorando? —me perguntou minha melhor amiga, Lia, assim que me sentei ao lado dela no ônibus escolar.—Não. Entrou alguma coisa no meu olho. —Enxuguei os olhos, tentando com todas as forças segurar um soluço.Lia franziu a testa.—Ele não apareceu de novo.Já não dava mais pra esconder o que eu sentia. Lia me conhecia muito bem. Eu estava arrasada, e as lágrimas que vinha segurando desde que saí do cinema começaram a cair como chuva.—Ele é um idiota. Achei que fosse um cara legal e encantador. Já não gosto mais dele pra você, minha avaliação dele caiu pra 90%! Você não devia ter esperado por ele hoje. Já te deu bolo três vezes... Eu te avisei, Carla, mas você não me ouviu. Seu coração é burro. Você não devia escutar ele. —Lia continuou tagarelando sem parar até a gente chegar ao ponto do ônibus. —Sabe de uma coisa? O Ismael é um cara legal. Não entendo por que você não gosta dele.—Nem eu entendo —respondi, me levantando com a mochila pesada nos braços.—Talvez vo
POV CARLAEle está perto. Consigo sentir seu olhar fixo em mim.Olhei ao redor e imediatamente meus olhos encontraram os dele. Meu coração disparou. Batendo sem razão. Ele sempre teve esse efeito sobre mim. Me deixava fraca.Acelerei o passo, apertando os livros contra o peito.— Carla — ouvi ele dizer, mas o ignorei.Estava evitando o Wade. Sempre que o via se aproximar, eu dava meia-volta e saía pelo outro lado do corredor. Ele estava irritado porque eu o deixei esperando ontem. Eu não queria enfrentá-lo. Era melhor evitá-lo.Então era por isso que ele tinha interpretado Romeu. Estava tentando recuperar as notas ruins em inglês. Ele era inteligente, algo que me fazia admirá-lo. Me perguntei o que tinha acabado de acontecer.E agora… não entendo. Ele não levou a sério a oportunidade que a senhorita Paterson deu. Jogou fora. Bem, mereceu. Até já tinha me dado bolo três vezes.No recreio, eu estava na biblioteca, entre as estantes largas, procurando livros para emprestar para o dever d
POV WADE—Mãe... a Rubi brincou no meu quarto essa semana? — perguntei à minha mãe, que estava preparando o jantar na cozinha.—Acho que não. Por quê? — Ela provou a comida e foi direto até a geladeira.—Perdi uma coisa. — Sentei no banquinho da cozinha, irritado.—O que foi que você perdeu?—Um número de telefone. Não lembro onde anotei.—De quem é o número?—De um colega da escola. Preciso encontrar esse número hoje. É muito importante.—O que aconteceu? — Meu pai entrou na cozinha, deu um tapinha no meu ombro e foi direto beijar minha mãe.—Wade perdeu o número de um colega da escola. Não lembra onde anotou.Papai levantou as sobrancelhas.—Isso é fácil, filho. Pergunta pra ele amanhã. Se for urgente, manda uma mensagem pelo Facebook.—Sim. Ou liga pra outros colegas. Talvez o Ismael ou o Leonidas tenham — acrescentou minha mãe.Ela tinha razão. O Ismael sabia o número da Carla de cor.—Hoje em dia é fácil entrar em contato com qualquer um — disse papai, provando a comida da mamãe.
POV WADE—Oi, Wade.Parei de repente ao ouvir uma voz muito familiar. Virei-me e vi Martha, segurando uma caixa de plástico transparente com biscoitos.—Fui eu que fiz para você — disse ela, estendendo a mão para me dar a caixa. Mas eu não peguei. Ela sabia que eu adorava biscoitos. Fez isso para fazer as pazes.Perdoar era fácil, mas esquecer... era difícil. A imagem dela e do Cameron se beijando no banheiro dos meninos ainda estava bem viva na minha mente.—Não, obrigado. Não estou com fome — falei, seguindo pelo corredor em direção à minha próxima aula.—Você pode comer depois, em casa — insistiu ela, caminhando ao meu lado.—Eu disse que não. Dá pro seu namorado — respondi, acelerando o passo para que ela não conseguisse me alcançar.—Você é o meu namorado. Só existe você, Wade. Eu já te disse que perdi uma aposta. Beijar ele era a consequência — ela quase corria atrás de mim.—Pra mim não pareceu consequência.—Por que você não acredita em mim? Eu te amo. Ainda te amo.—A gente t
POV WADEEu estava com os fones de ouvido, cantarolando a música do Justin Timberlake — Can't Stop the Feeling.— Hoje o senhor está de bom humor — disse Erickson, me olhando pelo retrovisor do carro com um sorriso.Tirei os fones para ouvir o que ele dizia.Erickson era um dos motoristas da nossa família, tinha uns trinta anos. Estava conosco há muitos anos, então era quase da família. Na maioria das vezes, era ele quem me levava e buscava da escola.— É o último dia do trimestre. Vamos ter duas semanas de férias — respondi, depois que ele repetiu o que tinha dito.— E não vai precisar acordar tão cedo — respondeu Erickson.— Alguns dias sim. Vou colocar o kickboxing em dia de manhã com meu pai.— Que cansativo.— Já estou acostumado. E além disso, só duas vezes por semana — falei, olhando as crianças indo para a escola de patinete.— Que bom. Seu aniversário está chegando, né? Vai ter seu próprio carro, finalmente.— Sim, vou.— Isso significa mais liberdade pra você.— Tomara. Bom.
POV WADEPressionei o nariz com uma toalha de papel. Tinha acabado de sair de uma sessão de sparring de kickboxing e, sim, eu tinha vencido. Mas terminei com o nariz sangrando.— Ainda está sangrando? — Meu pai se aproximou e inspecionou meu nariz. — Você vai sobreviver — disse, dando dois tapinhas no meu rosto. Eu sabia que ele estava muito orgulhoso de eu ter vencido a luta naquela manhã. Só não diria isso na frente de todo mundo.Meu corpo inteiro doía, inchado por causa dos chutes e socos. Meu parceiro de treino era muito bom. Ele tinha competido no campeonato mundial juvenil de kickboxing esse ano e ganhou a medalha de bronze.Eu queria competir no campeonato de kickboxing, sabia que tinha capacidade, mas meu pai não deixava. Ele dizia que o kickboxing era só para manter a forma, não uma profissão para os Pedrosa.No caminho para casa, papai dirigia e falava sem parar sobre a luta. Os movimentos, as técnicas essenciais, os erros mais comuns no treino. Eu ouvia só pela metade. Min
POV WADEEra segunda-feira. Leonidas e eu fomos à casa de Ismael para passar um tempo juntos. Jogamos videogame, sinuca, pebolim, futebol e assistimos a vídeos no YouTube. Ali, o irmão mais novo de Ismael, que tinha catorze anos, juntou-se a nós.Estávamos assistindo a vlogs de viagem no YouTube, no quarto de Ismael, na TV de 89 polegadas dele, quando Ali me perguntou em segredo:— Posso pedir o número da Esmeralda?— Não. Se ela souber que passei o número, vai estourar uma guerra civil lá em casa — respondi.— Ah, tá. — Ali deu de ombros. — Como é ter uma irmã tão bonita?Franzi a testa. Esmeralda? Muito bonita?— Nada. Acho ela chata.— Sério? Eu acho ela fofa.Balancei a cabeça. Está apaixonado. Que azar. Ela vai acabar com a tua vida. Ali é bom demais para Esmeralda.Leonidas se sentou do nosso lado, fazendo Ali parar de falar.— Ei, Ali, traz pra gente mais um pote de Tostitos com queijo?— Claro. Vou pegar mais uma tigela de tacos também. — Ali se levantou e saiu do quarto.— Va
POV WADENão conseguia dormir. Estava muito animado para ver a Carla amanhã. Faziam três dias desde a última vez que a vi e era meio estranho. Sinto falta dela.O sorriso dela. Os olhos dela. O cabelo dela. As expressões dela. Tudo nela.Queria mostrar a ela os lugares onde estive com meus pais, para fazê-la feliz. Não queria que ela se sentisse sozinha. Me incomodava saber que ela estava sozinha em casa.Fui até a cozinha beber leite. Esmeralda estava lá com Athena. Estavam fazendo churros.— Oi, achei que você já estivesse dormindo. Quer provar um? — disse Esmeralda, apontando para o prato de churros.Peguei um e tirei o excesso de canela e açúcar antes de comer.— Não está bem cozido por dentro.— Oh! Experimenta este — Esmeralda pegou um churro recém-feito e enfiou na minha boca.Estava tão quente que queimou minha língua. Cuspi imediatamente.— Por que você fez isso?— Ops... desculpa. Não está uma delícia?— Nem tanto. Está muito passado — respondi, abrindo a geladeira e pegando