POV CARLA—Não vão me dar os parabéns, meninas? — Mateo Borgeous, um dos meus melhores amigos, sentou-se na minha frente. Alto, magro e loiro. Era um dos nerds da escola: usava óculos grossos, moletom e um cachecol bordô o tempo todo.Eu estava no refeitório almoçando com minha melhor amiga, Lia.—Por quê? — perguntamos em uníssono.—Consegui o primeiro lugar na lista dos dez piores deste ano.—Uau! Parabéns — disse Lia a Mateo com sarcasmo. —A Carla também ficou em quarto lugar na lista das meninas.—Como sempre. O que tem de novo? — falei com um sorriso. —Parabéns, Mateo.Mateo se levantou e fez uma reverência para nós.—Obrigado. Obrigado, senhoritas.Nós três terminamos de comer. Rimos e tiramos sarro de nós mesmas. Sempre fazíamos isso em vez de nos sentirmos mal. Mateo e eu aprendemos a não deixar esse tipo de bullying nos afetar. Focamos em tirar boas notas.—Entendo o Mateo estar na lista. Ele é um nerd. Mas você, Carla, sério? Sei que sua irmã, aquela vadia, é a razão de você
POV WADE— Por que demorou tanto? Estou aqui esperando há uma hora — reclamou minha mãe, Celeste Pedrosa, assim que entrei no banco de trás do carro. O banco da frente estava cheio de suas coisas: sua bolsa marrom grande, um casaco grosso, o iPad, um copo de água e sacolas com biscoitos e castanhas. Com minha mãe, ninguém passa fome.Vi uma sacola do McDonald’s no banco de trás, em cima de uma caixa de compras. Peguei imediatamente e olhei o que tinha dentro.— Ei! Pega o hambúrguer e as batatas fritas. O sanduíche é pra Esmeralda — disse minha mãe olhando pelo retrovisor enquanto dirigia.Estava comendo o hambúrguer quando ela perguntou:— Como foi a escola?— Bem.— Hoje de manhã vi a mãe do Leonidas. Ela disse que o Leonidas reprovou na prova de Física. E você? Passou? — perguntou.— Claro. A prova estava difícil, mas passei.Vi minha mãe sorrir.— Estou muito orgulhosa de você, Wade. Você é um menino inteligente.Ai, ai. Se você soubesse, mãe.— Ah, também me contou que um garoto
POV WADE—Você está bem? —perguntei a Ismael. Ele estava muito calado desde o incidente no corredor.—Sim, claro. Por que não estaria? —respondeu. Notei o sarcasmo na voz dele. Sabia que ele se sentia mal por ter esbarrado em Carla e que eu é que a tinha segurado.Tinha sentimentos confusos. Fiquei feliz por ter salvado Carla de uma possível lesão grave na cabeça, mas a ideia de ser o herói dela me fez sentir culpado. Sabia que Ismael queria estar no meu lugar naquele momento.Lembrei como a segurei antes que ela caísse no chão. Me surpreendeu o quanto era leve e como se encaixava bem nos meus braços. Ela se agarrou a mim por alguns segundos e eu fiquei olhando até ela abrir os olhos. O medo era visível, mas logo virou alívio. Soltei-a assim que ela se estabilizou e agradeci. Tocá-la parecia errado. Era como invadir propriedade alheia — a de Ismael.—Não liga pra ele. Logo passa —disse Leonidas, dando um tapinha no meu ombro. —Ele precisa aceitar que não é o príncipe encantado dela. P
POV CARLA—Você está chorando? —me perguntou minha melhor amiga, Lia, assim que me sentei ao lado dela no ônibus escolar.—Não. Entrou alguma coisa no meu olho. —Enxuguei os olhos, tentando com todas as forças segurar um soluço.Lia franziu a testa.—Ele não apareceu de novo.Já não dava mais pra esconder o que eu sentia. Lia me conhecia muito bem. Eu estava arrasada, e as lágrimas que vinha segurando desde que saí do cinema começaram a cair como chuva.—Ele é um idiota. Achei que fosse um cara legal e encantador. Já não gosto mais dele pra você, minha avaliação dele caiu pra 90%! Você não devia ter esperado por ele hoje. Já te deu bolo três vezes... Eu te avisei, Carla, mas você não me ouviu. Seu coração é burro. Você não devia escutar ele. —Lia continuou tagarelando sem parar até a gente chegar ao ponto do ônibus. —Sabe de uma coisa? O Ismael é um cara legal. Não entendo por que você não gosta dele.—Nem eu entendo —respondi, me levantando com a mochila pesada nos braços.—Talvez vo
POV CARLAEle está perto. Consigo sentir seu olhar fixo em mim.Olhei ao redor e imediatamente meus olhos encontraram os dele. Meu coração disparou. Batendo sem razão. Ele sempre teve esse efeito sobre mim. Me deixava fraca.Acelerei o passo, apertando os livros contra o peito.— Carla — ouvi ele dizer, mas o ignorei.Estava evitando o Wade. Sempre que o via se aproximar, eu dava meia-volta e saía pelo outro lado do corredor. Ele estava irritado porque eu o deixei esperando ontem. Eu não queria enfrentá-lo. Era melhor evitá-lo.Então era por isso que ele tinha interpretado Romeu. Estava tentando recuperar as notas ruins em inglês. Ele era inteligente, algo que me fazia admirá-lo. Me perguntei o que tinha acabado de acontecer.E agora… não entendo. Ele não levou a sério a oportunidade que a senhorita Paterson deu. Jogou fora. Bem, mereceu. Até já tinha me dado bolo três vezes.No recreio, eu estava na biblioteca, entre as estantes largas, procurando livros para emprestar para o dever d
POV WADE—Mãe... a Rubi brincou no meu quarto essa semana? — perguntei à minha mãe, que estava preparando o jantar na cozinha.—Acho que não. Por quê? — Ela provou a comida e foi direto até a geladeira.—Perdi uma coisa. — Sentei no banquinho da cozinha, irritado.—O que foi que você perdeu?—Um número de telefone. Não lembro onde anotei.—De quem é o número?—De um colega da escola. Preciso encontrar esse número hoje. É muito importante.—O que aconteceu? — Meu pai entrou na cozinha, deu um tapinha no meu ombro e foi direto beijar minha mãe.—Wade perdeu o número de um colega da escola. Não lembra onde anotou.Papai levantou as sobrancelhas.—Isso é fácil, filho. Pergunta pra ele amanhã. Se for urgente, manda uma mensagem pelo Facebook.—Sim. Ou liga pra outros colegas. Talvez o Ismael ou o Leonidas tenham — acrescentou minha mãe.Ela tinha razão. O Ismael sabia o número da Carla de cor.—Hoje em dia é fácil entrar em contato com qualquer um — disse papai, provando a comida da mamãe.
POV WADE—Oi, Wade.Parei de repente ao ouvir uma voz muito familiar. Virei-me e vi Martha, segurando uma caixa de plástico transparente com biscoitos.—Fui eu que fiz para você — disse ela, estendendo a mão para me dar a caixa. Mas eu não peguei. Ela sabia que eu adorava biscoitos. Fez isso para fazer as pazes.Perdoar era fácil, mas esquecer... era difícil. A imagem dela e do Cameron se beijando no banheiro dos meninos ainda estava bem viva na minha mente.—Não, obrigado. Não estou com fome — falei, seguindo pelo corredor em direção à minha próxima aula.—Você pode comer depois, em casa — insistiu ela, caminhando ao meu lado.—Eu disse que não. Dá pro seu namorado — respondi, acelerando o passo para que ela não conseguisse me alcançar.—Você é o meu namorado. Só existe você, Wade. Eu já te disse que perdi uma aposta. Beijar ele era a consequência — ela quase corria atrás de mim.—Pra mim não pareceu consequência.—Por que você não acredita em mim? Eu te amo. Ainda te amo.—A gente t
POV WADEEu estava com os fones de ouvido, cantarolando a música do Justin Timberlake — Can't Stop the Feeling.— Hoje o senhor está de bom humor — disse Erickson, me olhando pelo retrovisor do carro com um sorriso.Tirei os fones para ouvir o que ele dizia.Erickson era um dos motoristas da nossa família, tinha uns trinta anos. Estava conosco há muitos anos, então era quase da família. Na maioria das vezes, era ele quem me levava e buscava da escola.— É o último dia do trimestre. Vamos ter duas semanas de férias — respondi, depois que ele repetiu o que tinha dito.— E não vai precisar acordar tão cedo — respondeu Erickson.— Alguns dias sim. Vou colocar o kickboxing em dia de manhã com meu pai.— Que cansativo.— Já estou acostumado. E além disso, só duas vezes por semana — falei, olhando as crianças indo para a escola de patinete.— Que bom. Seu aniversário está chegando, né? Vai ter seu próprio carro, finalmente.— Sim, vou.— Isso significa mais liberdade pra você.— Tomara. Bom.