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Capítulo 5 – Fronteiras invisíveis

A primeira manhã na mansão começou com um silêncio incômodo.

Helena despertou cedo, mas o corpo ainda se acostumava ao colchão macio demais e à ausência de sons familiares. Por alguns segundos, se permitiu esquecer onde estava. Mas, ao abrir os olhos, o quarto espaçoso, os móveis minimalistas e frios trouxeram a realidade de volta.

Era o contrato.

Ela se levantou devagar, ainda de camisola, e seguiu para a cozinha, na esperança de encontrar um pouco de normalidade na nova rotina. Mas normalidade não era uma palavra que combinava com a vida que havia aceitado.

Eduardo já estava lá. Arrumado, impecável em um terno escuro, tomando café em pé como se o dia tivesse começado horas atrás.

— Bom dia — murmurou Helena, hesitante.

Ele a olhou de relance, pegou uma caneca extra e empurrou na direção dela.

— Café?

— Por favor.

Ela aceitou, tentando não parecer desconfortável. O silêncio entre os dois era espesso, quase palpável. Eduardo voltou sua atenção para o celular, enquanto Helena dava pequenos goles na bebida quente, estudando-o. Ele parecia frio como sempre, mas havia algo diferente em seus olhos quando a viu de camisola, com os cabelos desarrumados.

— Precisa de algo específico para hoje? — ele perguntou, sem levantar o olhar.

— Algo... específico?

— Vai continuar trabalhando comigo, mas agora, como minha esposa, há... ajustes. A equipe vai comentar, especular. Precisamos alinhar o comportamento.

Helena arqueou uma sobrancelha.

— Vai me mandar um manual de conduta?

— Se precisar, sim — respondeu, seco. Mas os cantos de sua boca quase se moveram, como se quisesse sorrir.

Ela bufou, mas não insistiu. Sabia que Eduardo adorava comandar. E se desse qualquer sinal de fraqueza, ele a engoliria viva — com palavras afiadas e olhares desarmantes.

---

Na empresa, o burburinho começou no momento em que entraram juntos no elevador principal. Os olhares curiosos, misturados a cochichos, se espalharam pelos corredores. Funcionárias lançavam sorrisos maliciosos, enquanto alguns homens as encaravam com misto de inveja e surpresa.

Eduardo, como sempre, ignorou tudo.

— Helena, preciso daquelas planilhas atualizadas até as dez — disse ele, diante da equipe.

Ela assentiu, séria, tentando esconder o desconforto. Era evidente que todos os olhos estavam sobre eles, analisando, julgando.

No escritório, a rotina seguia quase inalterada, exceto pelos pequenos momentos que diziam mais do que qualquer conversa. Toques rápidos ao entregar um documento. Pausas nos diálogos que deixavam Helena arrepiada. Ele ainda era o chefe frio e autoritário, mas algo na forma como a observava quando ela estava distraída a fazia sentir uma tensão que não conseguia decifrar.

Quando Eduardo apareceu na porta da sala dela na hora do almoço, Helena se surpreendeu.

— Almoçamos juntos? — perguntou ele, casualmente.

— Aqui, no escritório? Acho que não é uma boa ideia.

— Estamos casados. Seria estranho almoçarmos separados.

— Estamos tecnicamente casados, Eduardo.

Ele sorriu, um gesto raro e que, dessa vez, não parecia irônico.

— Exatamente. A técnica exige consistência.

Acabaram almoçando em um restaurante discreto, longe da empresa. Para Helena, foi estranho perceber que aquele era o momento mais “normal” que haviam dividido até agora. O silêncio não parecia tão desconfortável, e Eduardo até se mostrou mais humano.

Helena o estudava com curiosidade. Ele falava pouco, comia devagar e evitava perguntas pessoais, mas havia algo nos olhos dele... uma constante sensação de cálculo, como se medisse cada reação dela.

— Posso te fazer uma pergunta? — ela arriscou.

— Já está fazendo.

— Você realmente acredita que esse contrato vai funcionar?

Eduardo apoiou os cotovelos na mesa, inclinando-se um pouco para frente.

— Funcionar em que sentido?

— Você sabe qual — respondeu Helena, olhando nos olhos dele.

Por um momento, o silêncio voltou a pairar.

— Eu acredito que... você vai cumprir sua parte. E eu a minha.

— E quando tudo isso acabar?

— Não pense no fim, Helena. Ainda nem começamos.

Helena mordeu o lábio inferior, surpresa com a resposta.

---

À noite, na mansão, Helena se acomodou no sofá da sala com o notebook no colo, revisando relatórios. Eduardo entrou na sala com duas taças de vinho, pegando-a de surpresa.

— Achei que poderia relaxar um pouco — disse, oferecendo uma.

— Tentando ser gentil agora?

— Tentando ser justo.

Ela aceitou a taça e deu um gole, deixando o vinho aquecer sua garganta e, talvez, seus pensamentos.

— Então... estamos aqui. Dois adultos. Casados por contrato. Compartilhando vinho como se fosse natural.

— Pode não ser natural, mas é funcional.

— Você fala como um robô, sabia?

Eduardo riu, um som baixo e raro.

— E você fala como se ainda não tivesse aceitado que isso é real.

— Eu aceitei. Mas isso não significa que me sinto confortável.

Eduardo a observou por alguns segundos antes de se levantar e ir até o móvel da sala. Pegou um envelope e o estendeu para ela.

— Parte do acordo. Dinheiro entregue em espécie, como você exigiu.

Helena pegou o envelope, e, ao abri-lo, viu o valor que garantiu sua aceitação do contrato. Apesar de ser só dinheiro, o peso daquele envelope parecia sufocante.

— Obrigada — disse, quase num sussurro.

— Eu cumpro o que prometo.

— E eu também. Mas não sou de ferro, Eduardo.

— Nem eu — ele respondeu, desviando o olhar.

Foi naquele momento, naquela troca breve de palavras e olhares, que Helena percebeu algo diferente. Algo incômodo, algo perigoso.

---

Mais tarde naquela noite, Helena ouviu um barulho estranho vindo do andar de baixo. O som a despertou de um leve cochilo, e, com o coração acelerado, desceu as escadas com passos cuidadosos.

Na sala, uma mulher, deslumbrante em um vestido vermelho justo, parecia completamente à vontade enquanto mexia em uma taça de cristal. Ela ergueu o olhar quando Helena entrou.

— Quem é você? — perguntou Helena, tentando conter o nervosismo.

A mulher a encarou com um sorriso, mas seus olhos exibiam uma pontada de desafio.

— Sou Laura. A namorada do Eduardo.

Helena congelou, a frase ecoando como um golpe.

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