— Deixa isso aí, cara. Depois do almoço você termina — sugeriu o colega de Pedro, ajeitando a roupa enquanto se levantava da mesa.Pedro manteve os olhos fixos na tela, os dedos digitando freneticamente.— Falta pouco, só mais duas páginas e eu termino o relatório — insistiu, determinado, seus olhos fixos na tela de seu computador.Uma colega de trabalho, que passava pelo corredor, viu que ainda tinha gente em uma das salas e se aproximou.— Pedro, você tem só vinte e um anos e já está nessa correria. Vai acabar morrendo antes do chefe! Está a semana toda sem almoçar, resolvendo problemas que nem são do seu setor — disse ela, balançando a cabeça em reprovação.⸺ Esses documentos são importantes, não podem ser atrasados ⸺ Pedro se defendeu sem parar de digitar.— Abriu uma
Pedro ignorou a provocação, seu foco inteiramente em Helena. Ele deu mais alguns passos na direção deles, o corpo tenso de raiva.⸺ Ela não quer vocês, deem o fora de uma vez ⸺ Pedro disparou, a voz firme, carregada de uma fúria mal contida.Outro dos homens, de cabelo raspado, riu e empurrou Helena com mais força contra a parede, ela arfa de dor com o impacto que reverbera por todo o seu corpo.— Acha que vamos escutar você, otário? — ele cuspiu as palavras, se aproximando de Pedro com um sorriso cruel.Pedro sabia que estava em desvantagem, mas isso não importava. Ele não podia, de forma alguma, deixar Helena naquela situação.Então avançou, tentou socar o homem careca que, como ele não fosse nada, desviou do golpe e contra-atacou com um soco no olho de Pedro que cambaleou para trás.⸺ Tanta marra na voz pra isso? ⸺ O terceiro debochou, agora os três lado a lado.⸺ Vocês não são homens, apenas uns covardes miseráveis ⸺ Pedro falou,
— O que há de errado? — Pedro perguntou, a voz suave, preocupado com a reação dela.Helena fechou os olhos, uma única lágrima escorrendo por sua bochecha. Pedro congelou ao vê-la chorar, não entendo o que havia feito de errado para que ela agisse dessa forma.— Eu... — ela começou, sua voz embargada. — Ninguém nunca foi tão... tão gentil comigo.Ela soluçou, e Pedro sentiu um aperto no peito. A vulnerabilidade dela o tocou profundamente.— Me desculpa — ela continuou, as lágrimas agora fluindo livremente. — Estou acostumada a me machucarem, a me tratarem mal, a não serem cuidadosos comigo, a só me usarem... não sei lidar com isso, a forma como me toca, me olha, me beija é tudo tão novo e faz meu coração bater tão rápido de uma forma tão boa que eu nunca senti antes.Pedro sentiu seu coração se partir ao ouvir as palavras de Helena. Ele não sabia exatamente o que ela havia passado, mas não era difícil de imaginar. O sofrimento estava claro em cada lágrima que ela deixava escapar, em ca
Pedro gritou, um som agudo e de surpresa, mais do que de dor. Ele sentiu os dentes de Helena romperem sua pele, uma onda de choque percorrendo seu corpo ao invés do prazer anterior enquanto o sangue escorria pela mordida. Seus olhos se arregalaram, confusos e assustados com o que estava acontecendo, ele tentou se afastar, mas então sentiu as unhas de Helena fincarem e partirem a pele de suas costas, o obrigando a permanecer no lugar.O gosto metálico do sangue encheu a boca da lycan, provocando uma sensação de satisfação profunda e instintiva. Meu!Seus instintos gritavam, porém, os gemidos de dor de Pedro a tirara do transe em que havia caído. Seus olhos voltaram a ter foco e ela imediatamente o soltou. Os olhos de Helena se prenderam aos dos humano, ela ainda está ofegante, seus mãos tremem.O que eu fiz? — Ela se questionou desesperada. — Eu realmente marquei um humano como meu companheiro... os deuses irão me castigar por ter feito isso.Os olhos de Helena se encheram de lágrimas,
No dia seguinte, Pedro não apareceu na cafeteria durante o horário de almoço. Helena passou o dia inteiro com um nó no estômago, seus pensamentos constantemente voltando para ele. Cada vez que o sino da porta tilintava, seus olhos voavam na direção do som, com uma esperança ansiosa. Mas, a cada vez, era um cliente qualquer, e não Pedro.Quando a noite finalmente caiu, a dona do estabelecimento se aproximou dela, sorrindo gentilmente.— Vá com cuidado para casa, querida — disse a senhora, sua voz carregada de afeto.Helena sorriu de volta, um sorriso forçado que não alcançou seus olhos. Ela apertou a alça da bolsa com mais força, respirando fundo para tentar acalmar o turbilhão de emoções que sentia.Do lado de fora, o ar estava fresco, e a rua iluminada por poucos postes de luz. Assim que Helena saiu pela porta, seu corpo congelou no lugar. Ali, encostado em um poste, estava Pedro, exatamente como nas outras noites.Ele veio — pensou Helena, sentindo uma onda de alívio tão intensa que
— Se você é uma fugitiva, então sou um fugitivo agora também.Helena olhou para ele, surpresa e emocionada com a sinceridade em suas palavras. As lágrimas começaram a rolar por seu rosto, mas, desta vez, não eram apenas de dor; havia alívio nelas, uma sensação de aceitação que ela nunca havia experimentado antes.Ela pegou nas mãos de Pedro, removendo-as de seu rosto, mas continuou a olha-lo, ela precisa continuar seu relato.Helena respirou fundo, permitindo-se um pequeno sorriso enquanto algumas lembranças boas de seu passado surgiam em sua mente. Era raro sentir esse tipo de nostalgia, mas pensar em Miguel como um filhote trazia um calor inesperado ao seu coração.— Miguel era um filhote muito esperto, gentil e carinhoso — começou ela, a voz carregada de um tom de carinho genuíno. — Sempre que me via machucada, eu mentia, dizia que estava treinando. Ele acreditava, veja só — um gosto amargo começou a preencher sua boca, enquanto as lembranças se tornavam mais difíceis de suportar.
Pedro entrou em casa e, automaticamente, trancou a porta atrás de si. Apressadamente caminhou para o quarto, tirando cada peça de roupa até ficar completamente nu, uma prática à qual se habitou durante esses longos meses. Desde que Helena assumiu permanentemente a sua forma lupina para a gestação do filhote, ela só o aceita na “toca” se ele estivesse assim.Com um grande pedaço da carne de boi fresca nas mãos, Pedro empurrou a porta do quarto e a viu deitada sobre um amontoado de lençóis cuidadosamente dispostos, onde improvisara um ninho acolhedor.Ele entrou devagar, os olhos atentos da lycan observando cada movimento, ele colocou a carne sobre um pano ao lado da loba de Helena. Ela olhou para ele por um instante, seu olhar cheio de algo profundo e instintivo, antes de começar a comer. Pedro se sentou ao lado dela, sua mão deslizando pela pelagem macia de sua barriga arredondada, o toque cheio de ternura e admiração.Antes de se manter apenas na forma lupina, Helena tivera uma longa
— Ela... ela voltou à forma humana… — murmurou Pedro, a perplexidade evidente em sua voz. Helena havia sido clara sobre o parto ocorrer na forma lupina e que o filhote deles nasceria como um pequeno lobinho. — O-o que aconteceu? Isso não era para...— Isso não importa agora, Pedro! — Mariana o interrompeu, a voz firme e autoritária. Ela tirou o casaco e se posicionou ao pé da cama, pronta para ajudar. Embora não fosse especialista, enquanto ainda vivia no reio das bruxas, já havia ajudado algumas magas em partos, e esperava que sua experiência fosse suficiente. — Vá buscar água morna e muitas toalhas limpas, Pedro!Pedro hesitou, o olhar fixo em Helena, que gemia entre gritos e lágrimas. A dor nos olhos dela parecia insuportável, e nesse momento ele odiou não ser o companheiro destinado dela para suportar com ela toda essa dor.— Agora, Pedro! — Mariana repetiu, o tom de voz ainda mais impaciente.Ele assentiu rapidamente e saiu do quarto, deixando as mulheres sozinhas, o coração mart