No dia seguinte, Pedro não apareceu na cafeteria durante o horário de almoço. Helena passou o dia inteiro com um nó no estômago, seus pensamentos constantemente voltando para ele. Cada vez que o sino da porta tilintava, seus olhos voavam na direção do som, com uma esperança ansiosa. Mas, a cada vez, era um cliente qualquer, e não Pedro.Quando a noite finalmente caiu, a dona do estabelecimento se aproximou dela, sorrindo gentilmente.— Vá com cuidado para casa, querida — disse a senhora, sua voz carregada de afeto.Helena sorriu de volta, um sorriso forçado que não alcançou seus olhos. Ela apertou a alça da bolsa com mais força, respirando fundo para tentar acalmar o turbilhão de emoções que sentia.Do lado de fora, o ar estava fresco, e a rua iluminada por poucos postes de luz. Assim que Helena saiu pela porta, seu corpo congelou no lugar. Ali, encostado em um poste, estava Pedro, exatamente como nas outras noites.Ele veio — pensou Helena, sentindo uma onda de alívio tão intensa que
— Se você é uma fugitiva, então sou um fugitivo agora também.Helena olhou para ele, surpresa e emocionada com a sinceridade em suas palavras. As lágrimas começaram a rolar por seu rosto, mas, desta vez, não eram apenas de dor; havia alívio nelas, uma sensação de aceitação que ela nunca havia experimentado antes.Ela pegou nas mãos de Pedro, removendo-as de seu rosto, mas continuou a olha-lo, ela precisa continuar seu relato.Helena respirou fundo, permitindo-se um pequeno sorriso enquanto algumas lembranças boas de seu passado surgiam em sua mente. Era raro sentir esse tipo de nostalgia, mas pensar em Miguel como um filhote trazia um calor inesperado ao seu coração.— Miguel era um filhote muito esperto, gentil e carinhoso — começou ela, a voz carregada de um tom de carinho genuíno. — Sempre que me via machucada, eu mentia, dizia que estava treinando. Ele acreditava, veja só — um gosto amargo começou a preencher sua boca, enquanto as lembranças se tornavam mais difíceis de suportar.
Pedro entrou em casa e, automaticamente, trancou a porta atrás de si. Apressadamente caminhou para o quarto, tirando cada peça de roupa até ficar completamente nu, uma prática à qual se habitou durante esses longos meses. Desde que Helena assumiu permanentemente a sua forma lupina para a gestação do filhote, ela só o aceita na “toca” se ele estivesse assim.Com um grande pedaço da carne de boi fresca nas mãos, Pedro empurrou a porta do quarto e a viu deitada sobre um amontoado de lençóis cuidadosamente dispostos, onde improvisara um ninho acolhedor.Ele entrou devagar, os olhos atentos da lycan observando cada movimento, ele colocou a carne sobre um pano ao lado da loba de Helena. Ela olhou para ele por um instante, seu olhar cheio de algo profundo e instintivo, antes de começar a comer. Pedro se sentou ao lado dela, sua mão deslizando pela pelagem macia de sua barriga arredondada, o toque cheio de ternura e admiração.Antes de se manter apenas na forma lupina, Helena tivera uma longa
— Ela... ela voltou à forma humana… — murmurou Pedro, a perplexidade evidente em sua voz. Helena havia sido clara sobre o parto ocorrer na forma lupina e que o filhote deles nasceria como um pequeno lobinho. — O-o que aconteceu? Isso não era para...— Isso não importa agora, Pedro! — Mariana o interrompeu, a voz firme e autoritária. Ela tirou o casaco e se posicionou ao pé da cama, pronta para ajudar. Embora não fosse especialista, enquanto ainda vivia no reio das bruxas, já havia ajudado algumas magas em partos, e esperava que sua experiência fosse suficiente. — Vá buscar água morna e muitas toalhas limpas, Pedro!Pedro hesitou, o olhar fixo em Helena, que gemia entre gritos e lágrimas. A dor nos olhos dela parecia insuportável, e nesse momento ele odiou não ser o companheiro destinado dela para suportar com ela toda essa dor.— Agora, Pedro! — Mariana repetiu, o tom de voz ainda mais impaciente.Ele assentiu rapidamente e saiu do quarto, deixando as mulheres sozinhas, o coração mart
Passaram-se quatorze anos desde que Helena dera à luz Sasha, e a vida deles tomara um rumo tranquilo e discreto, cheio de momentos felizes, mesmo que o tempo todo Pedro e Helena tivessem constantes cautelas.Ela sabia que, para proteger a filha e a si mesma, deveria permanecer escondida, mas os últimos dias haviam sido particularmente desafiadores.Certo dia, Helena atendeu ao telefone e, a cada frase trocada, sua expressão endurecia cada vez mais.— Quem é? — Ela questionou, já que não reconheceu o número em seu celular.— Falo com a mãe de Sasha? Aqui é da escola — a voz do outro lado era firme.Helena franziu o cenho, um sentimento de inquietação tomando conta dela.— Sim, sou eu. O que aconteceu? — Helena apertou o telefone com mais força, ela antes nunca recebeu nenhuma ligação da escola de sua filha.— Sua filha brigou com um dos meninos e... bom, deu um soco nele. Ela quebrou o nariz dele, mãe. Preciso que venha aqui buscá-la para que possamos resolver essa situação com a famíl
Helena lutou contra o terror que tentava a dominar, sentindo o controle de sua própria forma escorregava, como areia entre seus dedos sem que pudesse fazer nada. A cada tentativa de se transformar novamente para poder fugir e levar o perigo para longe dali, mas o lycan a forçava a permanecer na forma humana, vulnerável e indefesa.Ela tentou se desvencilhar, mas ele a segurou com força brutal, apertando seus braços até a dor pulsar em suas articulações. Helena tentou chutar para se soltar, mas ele pegou sua perna com facilidade, esmagando sua tentativa de resistência com uma risada fria.Ela tentou chuta-lo, mas ele segurou a perna dela com a outra mão.— Com a ascensão do novo Genuíno Alfa, até os ômegas agora recebem treinamento de combate. — A voz dele era carregada de desprezo enquanto sussurrava no ouvido dela. — Pelo menos, sua traição serviu para alguma coisa, sua escória.Um arrepio de pavor percorreu o corpo de Helena, e seus olhos se arregalaram. Em sua época de escrava, os
⸺ Ela é a minha esposa! ⸺ Pedro exclamou, não se deixando intimidar.O ômega riu, o som grave e perverso ecoando pela sala. Ele agarrou Pedro, que mesmo se debatendo e tentando usar os golpes que aprendeu nas aulas, não conseguiu se soltar, então o lycan o arrastou até uma cadeira.Com movimentos precisos e frios, amarrou Pedro com tiras de couro que encontrou por ali, apertando com força. Pedro lutava, tentando soltar-se, mas cada vez que se mexia, os laços ficavam mais apertados, cortando sua pele, o imobilizando completamente, deixando-o indefeso e incapaz de ajudar Helena.— Eu não posso matar você, humano, mas nada me impede de assistir você sofrer — o ômega sussurrou, seus olhos cravados nos de Pedro. E então ele se virou para Helena, o sorriso cruel voltando a seus lábios. ⸺ Vou adorar dá fim essa puta enquanto o “maridinho humano” dela assiste.⸺ Não, não ⸺ Pedro se contorceu, tentando se soltar, mas tudo o que conseguia era que as cordas o mutilassem ainda mais. Helena o olho
Mariana observa Pedro, seu olhar fixo no perfil cansado dele, e percebe a tensão que ainda atravessa seu corpo. Ele limpa as lágrimas do rosto, inspira profundamente e evita encontrar o olhar de Mariana.— Você está com vontade de beber, não é? — Mariana pergunta, sua voz calma, mas firme, observando a forma como o corpo dele treme.Abstinência.Pedro se mantém em silêncio por um instante, o peito subindo e descendo lentamente enquanto luta para processar tudo. Finalmente, ele responde com um aceno de cabeça.— Não vou negar, Mari. Sim, eu queria muito beber até apagar tudo, até não me lembrar mais de nada... — ele respira fundo. — Porque, honestamente, ainda dói demais. Sei que não sou um lycan, mas não consigo superar que ela foi arrancada de mim, ela foi a primeira e a única mulher que amei. E lembrar de tudo o que aconteceu me deixa louco.Mariana balança a cabeça, observando-o de lado. — Olha, Pedro, é melhor você voltar para o meu apartamento, não posso deixar que me atrapalhe p