— Shiu! — Melody fez um sinal para Mariana enquanto passavam pelo buraco escondido no muro do castelo. O som das folhas farfalhando sob os pés delas parecia alto demais no silêncio da madrugada, e cada passo era uma promessa de punição se fossem descobertas. — Irão nos deixar de castigo se nos pegarem, Mari. Tenha cuidado.— Eu não vi a pedra, Melo... — Mariana respondeu, com os olhos marejados de lágrimas. O joelho dela estava ralado pela pedra que não viu no caminho, o sangue fresco manchando a pele jovem.Melody sentiu um aperto no peito ao ver a dor nos olhos da irmã mais nova. Apesar do risco que corriam, ela não hesitou em se abaixar e examinar o machucado.— Não precisa chorar, vou cuidar disso, maninha — Melody disse, a voz suave e cheia de carinho.Ela pegou algumas folhas de uma planta próxima, o olhar concentrado enquanto as posicionava delicadamente sobre o machucado de Mariana. Fechando os olhos, Melody colocou as mãos sobre as folhas, sua respiração ficando mais lenta e
Miguel lança um olhar para a cama, observando a loba branca adormecida sobre os lençóis emaranhados, que ela mesma transformou em um ninho improvisado após sua loba assumir o controle dos instintos.A respiração de Sasha é calma e serena, seus flancos subindo e descendo suavemente, enquanto o calor do corpo dela ainda emana na escuridão da toca. Ele sente um aperto no peito ao contemplá-la; vê-la em sua forma lupina, tranquila e segura e vulnerável, desperta algo profundo em seu interior, um desejo de proteção ainda mais feroz, o que o faz não querer sair de perto dela, mas o deve o chama, e ele não pode deixar para depois.Miguel volta à sua forma humana, seus músculos se ajustando ao corpo menor, movendo-se em silêncio pelo quarto. Ele veste uma calça de forma apressada em completo silencio, para que sua fêmea continue descansando, e com um último olhar para ela, como se precisasse gravar aquela imagem em sua mente só por mais um segundo, ele caminha até a saída da toca.Pela janela
— Deixa isso aí, cara. Depois do almoço você termina — sugeriu o colega de Pedro, ajeitando a roupa enquanto se levantava da mesa.Pedro manteve os olhos fixos na tela, os dedos digitando freneticamente.— Falta pouco, só mais duas páginas e eu termino o relatório — insistiu, determinado, seus olhos fixos na tela de seu computador.Uma colega de trabalho, que passava pelo corredor, viu que ainda tinha gente em uma das salas e se aproximou.— Pedro, você tem só vinte e um anos e já está nessa correria. Vai acabar morrendo antes do chefe! Está a semana toda sem almoçar, resolvendo problemas que nem são do seu setor — disse ela, balançando a cabeça em reprovação.⸺ Esses documentos são importantes, não podem ser atrasados ⸺ Pedro se defendeu sem parar de digitar.— Abriu uma
Pedro ignorou a provocação, seu foco inteiramente em Helena. Ele deu mais alguns passos na direção deles, o corpo tenso de raiva.⸺ Ela não quer vocês, deem o fora de uma vez ⸺ Pedro disparou, a voz firme, carregada de uma fúria mal contida.Outro dos homens, de cabelo raspado, riu e empurrou Helena com mais força contra a parede, ela arfa de dor com o impacto que reverbera por todo o seu corpo.— Acha que vamos escutar você, otário? — ele cuspiu as palavras, se aproximando de Pedro com um sorriso cruel.Pedro sabia que estava em desvantagem, mas isso não importava. Ele não podia, de forma alguma, deixar Helena naquela situação.Então avançou, tentou socar o homem careca que, como ele não fosse nada, desviou do golpe e contra-atacou com um soco no olho de Pedro que cambaleou para trás.⸺ Tanta marra na voz pra isso? ⸺ O terceiro debochou, agora os três lado a lado.⸺ Vocês não são homens, apenas uns covardes miseráveis ⸺ Pedro falou,
— O que há de errado? — Pedro perguntou, a voz suave, preocupado com a reação dela.Helena fechou os olhos, uma única lágrima escorrendo por sua bochecha. Pedro congelou ao vê-la chorar, não entendo o que havia feito de errado para que ela agisse dessa forma.— Eu... — ela começou, sua voz embargada. — Ninguém nunca foi tão... tão gentil comigo.Ela soluçou, e Pedro sentiu um aperto no peito. A vulnerabilidade dela o tocou profundamente.— Me desculpa — ela continuou, as lágrimas agora fluindo livremente. — Estou acostumada a me machucarem, a me tratarem mal, a não serem cuidadosos comigo, a só me usarem... não sei lidar com isso, a forma como me toca, me olha, me beija é tudo tão novo e faz meu coração bater tão rápido de uma forma tão boa que eu nunca senti antes.Pedro sentiu seu coração se partir ao ouvir as palavras de Helena. Ele não sabia exatamente o que ela havia passado, mas não era difícil de imaginar. O sofrimento estava claro em cada lágrima que ela deixava escapar, em ca
Pedro gritou, um som agudo e de surpresa, mais do que de dor. Ele sentiu os dentes de Helena romperem sua pele, uma onda de choque percorrendo seu corpo ao invés do prazer anterior enquanto o sangue escorria pela mordida. Seus olhos se arregalaram, confusos e assustados com o que estava acontecendo, ele tentou se afastar, mas então sentiu as unhas de Helena fincarem e partirem a pele de suas costas, o obrigando a permanecer no lugar.O gosto metálico do sangue encheu a boca da lycan, provocando uma sensação de satisfação profunda e instintiva. Meu!Seus instintos gritavam, porém, os gemidos de dor de Pedro a tirara do transe em que havia caído. Seus olhos voltaram a ter foco e ela imediatamente o soltou. Os olhos de Helena se prenderam aos dos humano, ela ainda está ofegante, seus mãos tremem.O que eu fiz? — Ela se questionou desesperada. — Eu realmente marquei um humano como meu companheiro... os deuses irão me castigar por ter feito isso.Os olhos de Helena se encheram de lágrimas,
No dia seguinte, Pedro não apareceu na cafeteria durante o horário de almoço. Helena passou o dia inteiro com um nó no estômago, seus pensamentos constantemente voltando para ele. Cada vez que o sino da porta tilintava, seus olhos voavam na direção do som, com uma esperança ansiosa. Mas, a cada vez, era um cliente qualquer, e não Pedro.Quando a noite finalmente caiu, a dona do estabelecimento se aproximou dela, sorrindo gentilmente.— Vá com cuidado para casa, querida — disse a senhora, sua voz carregada de afeto.Helena sorriu de volta, um sorriso forçado que não alcançou seus olhos. Ela apertou a alça da bolsa com mais força, respirando fundo para tentar acalmar o turbilhão de emoções que sentia.Do lado de fora, o ar estava fresco, e a rua iluminada por poucos postes de luz. Assim que Helena saiu pela porta, seu corpo congelou no lugar. Ali, encostado em um poste, estava Pedro, exatamente como nas outras noites.Ele veio — pensou Helena, sentindo uma onda de alívio tão intensa que
— Se você é uma fugitiva, então sou um fugitivo agora também.Helena olhou para ele, surpresa e emocionada com a sinceridade em suas palavras. As lágrimas começaram a rolar por seu rosto, mas, desta vez, não eram apenas de dor; havia alívio nelas, uma sensação de aceitação que ela nunca havia experimentado antes.Ela pegou nas mãos de Pedro, removendo-as de seu rosto, mas continuou a olha-lo, ela precisa continuar seu relato.Helena respirou fundo, permitindo-se um pequeno sorriso enquanto algumas lembranças boas de seu passado surgiam em sua mente. Era raro sentir esse tipo de nostalgia, mas pensar em Miguel como um filhote trazia um calor inesperado ao seu coração.— Miguel era um filhote muito esperto, gentil e carinhoso — começou ela, a voz carregada de um tom de carinho genuíno. — Sempre que me via machucada, eu mentia, dizia que estava treinando. Ele acreditava, veja só — um gosto amargo começou a preencher sua boca, enquanto as lembranças se tornavam mais difíceis de suportar.