Blair Eu estava deitada em minha cama olhando para o teto com o celular em cima da minha barriga, esperando Dimitri me ligar ou mandar mensagem para avisar que já tinha pousado. Mais uma vez aquela necessidade que nos dominava no início de nosso relacionamento tinha tomado conta de mim. Eu precisava falar com ele o tempo todo, e quando não podia, sentia um vazio. Tinha demorado um pouco para enfim criar coragem e dar o primeiro passo para recuperar nossa relação, mas não podia mais negar, eu não queria viver longe dele, e se para isso funcionar eu tivesse que mudar para a Rússia, eu me mudaria para a Rússia!Pelas minhas contas ele deve ter pousado há pelo menos uma hora, será que o voo atrasou de alguma maneira?Eu fechei os olhos decidida a dormir um pouco. Finalmente minha vida estava se resolvendo, meu pai estava se recuperando em casa, minha mãe tinha voltado ao seu normal, inclusive decidindo me ensinar a cozinhar para que eu não sofresse tanto em "situações de emergência". E
BlairEu saí de casa sem esperar que qualquer um arrumasse mais alguma desculpa, prometendo enviar notícias assim que possível. Eu torcia para conseguir um voo depressa, mas logo a realidade me atingiu.Apesar de explicar a situação para inúmeros atendentes em busca de alguma solução, sempre ouvia a mesma resposta genérica afirmando que o próximo voo havia sido adiado para o início da manhã por conta do acidente e estava lotado.Eu só conseguiria embarcar antes do fim do dia se houvesse alguma desistência!Mas que inferno!Perto da meia noite Masha me ligou para avisar que Dimitri havia sido resgatado com vida e estava sendo levado ao hospital. Ela não sabia tanto sobre seu estado, apenas que seus ferimentos eram graves.Aquela notícia me alentou um pouco, mas também fez a urgência crescer em meu interior. Eu precisava conseguir chegar até ele o mais depressa possível!As horas pareciam intermináveis enquanto eu vagava pelo interior do aeroporto, incomodando os atendentes de hora em h
Blair— Com licença, você fala minha língua? — eu tentei a terceira atendente que se limitou a me olhar e balançar a cabeça de maneira negativa. Elas estavam me entendendo, eu sabia que estavam, mas por algum motivo as pessoas daquele país se recusavam a se comunicar comigo!Eu tinha desembarcado no fim da manhã em St Petersburg e fui direto para o endereço do hospital que Masha tinha me passado. Eu tinha enviado uma mensagem avisando que já estava ali, mas ainda não tinha sido visualizada.— Dimitri Yaroslavovich Voitovich, eu estou aqui por ele — eu tentei falar devagar, torcendo para que elas me entendessem.Ela se limitou a murmurar algo em russo, não me dando nenhuma atenção especial. Eu peguei meu celular, ativando o tradutor.— Dimitri é meu namorado, ele estava no acidente do aeroporto — eu insisti.Elas comentaram algo entre si, rindo em seguida. Eu olhei para a tela do celular, revirando os olhos ao ver a tradução."Se namorasse mesmo um russo, no mínimo deveria aprender a
Blair— Como seus pais estão? — Masha puxou assunto quando chegamos ao prédio de Dimitri.— Bem, meu pai já está em casa. Vão se recuperar — eu sorri.— Que bom — ela retribuiu o sorriso entrando no elevador.Eu observei o quanto ela parecia abatida naquele momento, o que me lembrou de como eu fiquei nos primeiros dias depois do acidente dos meus pais, e como todos se focavam apenas nos dois.— E como você está? — eu perguntei, recebendo um olhar surpreso em troca.— Eu estou bem, eu…— Uma vez você me disse que gostaria que eu fosse sincera com você, eu também gostaria disso — eu insisti enquanto aguardava até que chegássemos ao andar.Masha desviou o olhar, parecendo consternada.— Sinceramente eu não sei, nós recebemos a ligação ontem a tarde, tivemos que correr até o local do acidente, foi uma agonia, minha mãe passou mal, retiraram ela do lugar e por pouco permitiram que eu continuasse ali — ela começou a falar de uma vez — então eu tive que convencer meu pai a levá-la para casa
BlairEu acordei algumas horas depois, com Masha ainda adormecida na cama ao meu lado. Nós não voltamos mais ao hospital naquele dia, Yuri foi substituído por seu pai que nos avisou que não tinha nenhuma mudança no quadro clínico do filho.As notícias na TV ainda eram as mesmas, a caixa preta do avião havia sido recuperada, mas o conteúdo não tinha sido divulgado, e de alguma maneira, todos estavam ávidos em culpar Dimitri por aquele acidente.Em certo momento Masha e eu deixamos de assistir a TV, tentando nos ocupar com qualquer outra coisa. No dia seguinte nós fomos cedo para o hospital e eu me recusei a sair de lá até o fim do dia, conseguindo ver Dimitri por alguns minutos através da janela de observação, mas no segundo dia eu não suportava mais aquela situação. — Nádia, a médica disse que Dimitri já está fora de perigo, certo? — Eu passei a caminhar ao lado da enfermeira.De alguma maneira eu tinha conseguido fazer amizade com grande parte dos funcionários daquele andar, todos p
Depois de me livrar de tudo o que coloquei para entrar no quarto, eu voltei para junto de meus cunhados, que estavam presos em uma pequena discussão. — Onde você se meteu? — Masha perguntou. — Me deixaram passar um tempo com ele — eu declarei satisfeita. A informação pegou os dois irmãos de surpresa e logo começaram a me encher das mais diversas perguntas sobre o estado de Dimitri. — Depois eu vou ficar um pouco lá no vidro, para que ele não se sinta tão sozinho — eu relatei depois de compartilhar tudo o que tinha acontecido — Talvez eu consiga alguns papéis e uma caneta, será que vende na loja do hospital? — Pra que você quer isso? — Yuri franziu o cenho. — Para poder falar com ele — eu apontei o óbvio. — Vamos aproveitar que ele está acordado — Masha incitou o irmão a se levantar, enquanto eu saia em busca de papel e caneta. Eu demorei alguns minutos para conseguir e subornei as garotas da recepção prometendo algumas guloseimas em troca, mas quando retornei para o andar o
Dimitri— Você está progredindo muito bem, Dimitri Yaroslavovich.A doutora Pavlova me elogiou após terminar de me examinar pela manhã. Já era o terceiro dia desde o acidente, e como eu disse para Blair no dia anterior, eu estava cansado de ficar naquele quarto sozinho. — Bem o suficiente para sair do isolamento? — eu tentei, recebendo em troca uma risada. A mulher, que parecia ter a minha idade, voltou a folhear meus exames, analisando cada ponto.— Talvez — ela piscou, me fazendo sorrir.— Você não imagina o quanto é bom ouvir isso — eu suspirei.— Depois de ontem, eu posso imaginar o seu desejo de ficar com a srtª Ozkan. Ela é uma peça única.Meu sorriso foi instantâneo ao falar sobre a Blair. Depois de temer tanto nunca mais encontrá-la, ela estava ali. Não que eu ficasse surpreso por ela ter ido, sua atitude não era nada estranha, eu faria o mesmo por ela, mas depois de passar tanto tempo sem ver ninguém além da equipe do hospital, eu comecei a desconfiar que ninguém soubesse
DimitriBlair me encarou boquiaberta, sem saber como responder. — Você está falando sério? — Blair, esse tempo que passamos separados só me fez perceber que eu não quero mais ficar longe de você. Eu não tenho um anel agora, mas posso conseguir um, caso você aceite. Ela se inclinou, colando nossos lábios em um beijo carinhoso. Eu levei uma mão até sua nuca e a outra para sua cintura, a puxando para perto de mim na tentativa de aumentar a intensidade do beijo. Já faz seis meses que eu não a beijava e era como se eu estivesse em meio a uma crise de abstinência. Eu tentei ignorar a dor que surgiu em meu abdômen, mas Blair se afastou, com certo esforço, soltando uma contida risada.— Calma lá, comandante, você acabou de sofrer um acidente aéreo, fazer uma cirurgia, e passar dias em isolamento, eu nem sei se podia ter te beijado — ela riu, se levantando para que eu não a alcançasse.— Eu me sinto ótimo, vem aqui que eu te mostro…— Eu tenho certeza que vai demorar um pouco mais para que