Blair— Como seus pais estão? — Masha puxou assunto quando chegamos ao prédio de Dimitri.— Bem, meu pai já está em casa. Vão se recuperar — eu sorri.— Que bom — ela retribuiu o sorriso entrando no elevador.Eu observei o quanto ela parecia abatida naquele momento, o que me lembrou de como eu fiquei nos primeiros dias depois do acidente dos meus pais, e como todos se focavam apenas nos dois.— E como você está? — eu perguntei, recebendo um olhar surpreso em troca.— Eu estou bem, eu…— Uma vez você me disse que gostaria que eu fosse sincera com você, eu também gostaria disso — eu insisti enquanto aguardava até que chegássemos ao andar.Masha desviou o olhar, parecendo consternada.— Sinceramente eu não sei, nós recebemos a ligação ontem a tarde, tivemos que correr até o local do acidente, foi uma agonia, minha mãe passou mal, retiraram ela do lugar e por pouco permitiram que eu continuasse ali — ela começou a falar de uma vez — então eu tive que convencer meu pai a levá-la para casa
BlairEu acordei algumas horas depois, com Masha ainda adormecida na cama ao meu lado. Nós não voltamos mais ao hospital naquele dia, Yuri foi substituído por seu pai que nos avisou que não tinha nenhuma mudança no quadro clínico do filho.As notícias na TV ainda eram as mesmas, a caixa preta do avião havia sido recuperada, mas o conteúdo não tinha sido divulgado, e de alguma maneira, todos estavam ávidos em culpar Dimitri por aquele acidente.Em certo momento Masha e eu deixamos de assistir a TV, tentando nos ocupar com qualquer outra coisa. No dia seguinte nós fomos cedo para o hospital e eu me recusei a sair de lá até o fim do dia, conseguindo ver Dimitri por alguns minutos através da janela de observação, mas no segundo dia eu não suportava mais aquela situação. — Nádia, a médica disse que Dimitri já está fora de perigo, certo? — Eu passei a caminhar ao lado da enfermeira.De alguma maneira eu tinha conseguido fazer amizade com grande parte dos funcionários daquele andar, todos p
Depois de me livrar de tudo o que coloquei para entrar no quarto, eu voltei para junto de meus cunhados, que estavam presos em uma pequena discussão. — Onde você se meteu? — Masha perguntou. — Me deixaram passar um tempo com ele — eu declarei satisfeita. A informação pegou os dois irmãos de surpresa e logo começaram a me encher das mais diversas perguntas sobre o estado de Dimitri. — Depois eu vou ficar um pouco lá no vidro, para que ele não se sinta tão sozinho — eu relatei depois de compartilhar tudo o que tinha acontecido — Talvez eu consiga alguns papéis e uma caneta, será que vende na loja do hospital? — Pra que você quer isso? — Yuri franziu o cenho. — Para poder falar com ele — eu apontei o óbvio. — Vamos aproveitar que ele está acordado — Masha incitou o irmão a se levantar, enquanto eu saia em busca de papel e caneta. Eu demorei alguns minutos para conseguir e subornei as garotas da recepção prometendo algumas guloseimas em troca, mas quando retornei para o andar o
Dimitri— Você está progredindo muito bem, Dimitri Yaroslavovich.A doutora Pavlova me elogiou após terminar de me examinar pela manhã. Já era o terceiro dia desde o acidente, e como eu disse para Blair no dia anterior, eu estava cansado de ficar naquele quarto sozinho. — Bem o suficiente para sair do isolamento? — eu tentei, recebendo em troca uma risada. A mulher, que parecia ter a minha idade, voltou a folhear meus exames, analisando cada ponto.— Talvez — ela piscou, me fazendo sorrir.— Você não imagina o quanto é bom ouvir isso — eu suspirei.— Depois de ontem, eu posso imaginar o seu desejo de ficar com a srtª Ozkan. Ela é uma peça única.Meu sorriso foi instantâneo ao falar sobre a Blair. Depois de temer tanto nunca mais encontrá-la, ela estava ali. Não que eu ficasse surpreso por ela ter ido, sua atitude não era nada estranha, eu faria o mesmo por ela, mas depois de passar tanto tempo sem ver ninguém além da equipe do hospital, eu comecei a desconfiar que ninguém soubesse
DimitriBlair me encarou boquiaberta, sem saber como responder. — Você está falando sério? — Blair, esse tempo que passamos separados só me fez perceber que eu não quero mais ficar longe de você. Eu não tenho um anel agora, mas posso conseguir um, caso você aceite. Ela se inclinou, colando nossos lábios em um beijo carinhoso. Eu levei uma mão até sua nuca e a outra para sua cintura, a puxando para perto de mim na tentativa de aumentar a intensidade do beijo. Já faz seis meses que eu não a beijava e era como se eu estivesse em meio a uma crise de abstinência. Eu tentei ignorar a dor que surgiu em meu abdômen, mas Blair se afastou, com certo esforço, soltando uma contida risada.— Calma lá, comandante, você acabou de sofrer um acidente aéreo, fazer uma cirurgia, e passar dias em isolamento, eu nem sei se podia ter te beijado — ela riu, se levantando para que eu não a alcançasse.— Eu me sinto ótimo, vem aqui que eu te mostro…— Eu tenho certeza que vai demorar um pouco mais para que
Blair Eu consegui um belo copo de café na cafeteria do hospital antes de ir para o quarto de Dimitri, me arrependendo imediatamente ao primeiro gole. Aquilo era a pior coisa que eu já tinha bebido naquele país! Bom, talvez a segunda pior coisa, eu pensei ao me lembrar do Kompot.Eu joguei o copo quase intocado no lixo antes de ir para o quarto para onde a enfermeira disse que levaria Dimitri, encontrando sua família inteira lá. Antes que eu pudesse cumprimentá-los, Masha me puxou para um canto.— Você falou com ele? — ela murmurou.— Sim, já resolvi tudo.Noiva! Eu não acredito que estou noiva!— E como vamos contar para meus pais?— Não vamos. Decidimos manter a história — eu dei de ombros.— Manter? Como assim manter? — Eu explico depois — eu a cortei ao ver a enfermeira empurrando a maca de Dimitri pelo corredor.Entrei no quarto e cumprimentei meus sogros, que pareciam prestes a me banhar com seu entusiasmo, mas a chegada do filho acabou ofuscando um pouco a situação.Eu me enc
BlairOs dois se apressaram para fora do quarto, me deixando para trás com o filho, que mantinha uma expressão decepcionada.— Por que eles foram embora? Eu queria que eles ficassem.Toda a frustração que eu sentia sumiu ao ver seu rosto. Era evidente que ele queria a companhia da família, e aquilo aplacou um pouco a irritação por toda a sua indiscrição.— Bom, então você devia ter deixado o papo naturalista de lado. Eu era a única pessoa do quarto com o mínimo interesse em te ver pelado — eu entrelacei nossos dedos — e antes que você diga qualquer coisa, eu tenho certeza que vou gostar da cicatriz.Ele suspirou, recostando a cabeça no travesseiro, parecendo deprimido. Ótimo, agora que estamos sozinhos ele não quer mais falar nada que me envergonhe,— Hey, qual o problema? — Eu não quero ficar sozinho — ele declarou com simplicidade, fazendo com que eu compreendesse o que estava acontecendo em sua mente.Nos últimos dias foi péssimo ficar longe dele e só poder vê-lo através daquele v
BlairBati na porta do quarto de Dimitri antes de abri-la, encontrando meu noivo sentado na cama, entretido com um celular. Eu entrei, arrastando as duas malas que eu carregava atrás de mim, atraindo sua atenção.— Blair, eu pensei que você não viria mais — ele sorriu, colocando o aparelho em cima da mesa de cabeceira ao lado da cama, onde a caixa estava.Já passavam das três da tarde, eu tinha decidido dar um pouco de espaço para a família dele aproveitar sua companhia, e também tinha muito a fazer.Eu deixei as malas no canto, indo até a cama, lhe dando um rápido beijo antes de me afastar.— Desculpe a demora, eu estava arrumando o seu apartamento e tentando encontrar um lugar para colocar as minhas coisas — eu expliquei.— E pelas malas eu devo presumir que você criou um espaço me despejando? Não pude evitar sorrir diante da conclusão, se ele está disposto a fazer piadas, quer dizer que está melhor do que quando o deixei ontem após contar detalhes do acidente.— Essa seria uma boa