Capítulo 22 Cassandra (Debby)O portão de ferro ainda rangia na minha mente, a visão de Cristian parecia me perseguir, como se fosse uma sombra que eu não conseguia dissipar. Seus olhos, intensos e impenetráveis, estavam fixos em mim, e por um momento, o resto do mundo desapareceu. A pequena Cecília, em meus braços, parecia não entender o turbilhão que se passava dentro de mim, com sua respiração suave e quente contra meu peito.Eu não sabia o que fazer. Não sabia se minha mente estava brincando comigo, se aquilo era real ou uma ilusão criada pela minha consciência perturbada. Cristian. Como ele havia chegado até ali? Como ele sabia onde eu estava? E por que, após todo esse tempo, ele reaparecia justo agora?— Debby, você está bem? — A voz de Rosa me arrancou de meus pensamentos, e eu olhei para ela, tentando disfarçar a confusão e o medo que começavam a tomar conta de mim.Eu respirei fundo e sorri, tentando esconder a tensão que havia tomado meu corpo.— Sim, Rosa. Só... só estou ca
Capítulo 23- CristianEu estava há horas no avião, mas o pensamento que não me deixava era o mesmo: Cassandra. O destino me guiava até ela, e eu sentia que uma força invisível me puxava em sua direção, como se o caminho já estivesse traçado. Meu objetivo era claro, mas, ao mesmo tempo, tudo parecia turvo, como um campo de batalha onde a linha entre o certo e o errado estava borrada.Cheguei na Itália e, em um silêncio inquietante, fui direto ao antigo orfanato. O lugar estava abandonado há anos, mas mesmo assim, parecia que as paredes ainda respiravam as histórias que ali aconteceram. O portão de ferro estava enferrujado, e a entrada, coberta por uma espessa camada de poeira e entulho, parecia resistir ao tempo, como se estivesse tentando proteger o que restou daquele lugar.Eu sabia que as respostas que eu buscava estavam ali, naquele edifício sombrio. E enquanto eu andava pelos corredores vazios, o eco dos meus passos soava como uma confirmação de que o passado ainda estava muito pr
Capítulo 24 - CassandraO silêncio entre nós pairava como uma nuvem densa, cada palavra não dita tornando o momento ainda mais pesado. Eu sabia que, a qualquer instante, a parede de mentiras que eu construí ao longo dos anos poderia desmoronar. Mas agora, Cristian estava ali, com os olhos fixos em mim, e por mais que ele quisesse me entender, havia algo em seus olhos que me fazia temer a reação que teria ao saber a verdade os olhos dele me imploravam pela verdade, por respostas...Eu respirei fundo, tentando encontrar coragem para falar. Aqueles eram os momentos em que minha vida se cruzava com o passado de maneira irreversível. E, ao olhar para ele, não podia evitar pensar em tudo o que havia acontecido desde o momento em que deixei o orfanato, como aquela história se entrelaçava com o que estava acontecendo agora.— Eu cresci em um orfanato— Comecei a minha voz estava trêmula. — Eu fui como uma das crianças deste lugar. Ainda me lembro da sensação de ser invisível, de não ter ningu
Capítulo 25 - CristianO peso de toda a verdade sobre Cassandra estava pesando dentro de mim, era como um soco no estômago. Cada palavra que ela disse parecia martelar na minha cabeça, desmontando a lógica com a qual sempre me apoiei...— Você acha mesmo que pode justificar tudo isso com o seu passado? — perguntei, a voz carregada de um tom mais amargo do que eu pretendia. — Ser invisível, sofrer... Não te dá o direito de virar uma criminosa senhorita Cassandra.Tentei ser frio, e ela não respondeu de imediato. Seus olhos se fixaram no chão, mas eu pude ver a tensão em sua postura. Parte de mim queria segurar ela pelos ombros, fazê-la olhar nos meus olhos e me dar uma explicação que eu pudesse aceitar, algo que tornasse tudo isso mais fácil.— Eu não estou tentando justificar nada — ela finalmente disse, a voz calma, mas cheia de dor. — Estou tentando fazer você entender. Porque, apesar de tudo, Cristian, você é a única pessoa que eu...Ela parou. Não terminou a frase, e aquele sil
Capítulo 26 - CristianOs primeiros raios de sol entraram pelas frestas da casinha de madeira, aquecendo suavemente o ambiente gelado. A luz suave da manhã iluminava o espaço, mas, para mim, ela não trazia conforto algum. Ao abrir os olhos, uma sensação de vazio me envolveu. O peso de Cassandra, que havia repousado sobre mim durante a noite, já não estava mais ali. A realidade de sua partida me atingiu como um soco no estômago.Levantei-me lentamente, sentindo o corpo pesado e a mente turva. A chuva que caíra durante a noite agora era apenas uma lembrança, assim como o que vivemos, o som das gotas batendo no telhado ainda ecoava em minha mente, e a ausência de Cassandra era frustrante, a solidão mais uma vez se fazia presente.Saí da casinha e caminhei em direção ao orfanato. A mansão enorme, com suas paredes um pouco gastas pelo tempo, parecia mais imponente sob a luz da manhã. Algumas crianças brincavam no pátio, alheias às dificuldades do mundo adulto, mas já cheias de dores que o
Capítulo 27 - CassandraO orfanato estava imerso em um silêncio profundo, quebrado apenas pelos risos e conversas baixas das crianças no pátio. Eu me encontrava encostada na porta da cozinha, que dá de frente para o refeitório, observando Cristian entrar. Ele não me viu... Seu olhar estava distante, perdido em pensamentos que eu imaginava serem tão confusos quanto os meus. Ele pegou o envelope com a carta, quase como se soubesse que seria algo que mudaria sua vida de forma irrevogável.Eu sabia que isso era necessário, e também sabia como ele reagiria. Cada palavra escrita na carta foi como um golpe direto em meu peito para ser escrita. Eu podia sentir a dor dele à medida que ele lia, sua expressão se transformando, mostrando que ele estava completamente abalado. Isso me cortou. Não queria que ele sofresse, mas sabia que eu o havia empurrado para esse abismo. Ele precisava sair da minha vida, e agora a verdade – a minha verdade – estava diante dele, imposta de maneira cruel.Sentada n
Capítulo 28 - CassandraEu sabia que a decisão que tomei com Cristian seria para sempre, mas eu queria ter alguém para amar. E ao ver aquela pequena bebê, abandonada e frágil, o amor que senti por ela foi instantâneo. A doce Cecília. Decidi então, sem sombra de dúvida, que era ela que eu precisava amar. Sua vida seria minha missão a partir de agora em diante. A pequena, com os olhos grandes e tristes, era um reflexo de tudo o que eu sentia, mas de um modo mais puro, mais simples. Ela precisava de carinho, e eu precisava dar. Queria que ela soubesse o que era ser amada, mesmo que de uma forma que a maioria das pessoas não entendesse.Fiquei no orfanato o tempo suficiente para resolver tudo. A burocracia foi lenta, como sempre é, quando se trata de adoção, mas eu consegui. Cecília agora era minha, e estava comigo para sempre. Ela seria a razão de eu acordar todos os dias, de seguir adiante, de deixar para trás o passado e a dor. A vida simples que eu construí na Holanda, com a floricult
Capítulo 29 - Damon SchiavonEstava imerso em números e mais números, como sempre. A rotina do escritório, as reuniões, os relatórios intermináveis… Nada parecia mais seguro para mim do que essa distração constante. Quando o telefone tocou, eu hesitei, relutante em interromper o que estava fazendo, mas o número desconhecido na tela me fez parar, código postal da Holanda..."Isso deve ser importante", pensei, e atendi.— Damon? — A voz feminina do outro lado da linha era estranha, mas havia algo nela que imediatamente chamou minha atenção.— Eu preciso falar com você sobre Dona Carola.Senti um peso no estômago ao ouvir o nome dela. Não por qualquer tipo de afeto, mas por tudo o que ela representava — ou melhor, pela falta disso. Minha mãe nunca foi uma presença na minha vida. Ela me deixou quando eu ainda era criança, sem explicações, sem despedidas. Mas, naquele momento, algo na voz da mulher me fez parar e ouvir.— O que aconteceu? — Perguntei, tentando manter a calma, mas minha voz