Capítulo 27 - CassandraO orfanato estava imerso em um silêncio profundo, quebrado apenas pelos risos e conversas baixas das crianças no pátio. Eu me encontrava encostada na porta da cozinha, que dá de frente para o refeitório, observando Cristian entrar. Ele não me viu... Seu olhar estava distante, perdido em pensamentos que eu imaginava serem tão confusos quanto os meus. Ele pegou o envelope com a carta, quase como se soubesse que seria algo que mudaria sua vida de forma irrevogável.Eu sabia que isso era necessário, e também sabia como ele reagiria. Cada palavra escrita na carta foi como um golpe direto em meu peito para ser escrita. Eu podia sentir a dor dele à medida que ele lia, sua expressão se transformando, mostrando que ele estava completamente abalado. Isso me cortou. Não queria que ele sofresse, mas sabia que eu o havia empurrado para esse abismo. Ele precisava sair da minha vida, e agora a verdade – a minha verdade – estava diante dele, imposta de maneira cruel.Sentada n
Capítulo 28 - CassandraEu sabia que a decisão que tomei com Cristian seria para sempre, mas eu queria ter alguém para amar. E ao ver aquela pequena bebê, abandonada e frágil, o amor que senti por ela foi instantâneo. A doce Cecília. Decidi então, sem sombra de dúvida, que era ela que eu precisava amar. Sua vida seria minha missão a partir de agora em diante. A pequena, com os olhos grandes e tristes, era um reflexo de tudo o que eu sentia, mas de um modo mais puro, mais simples. Ela precisava de carinho, e eu precisava dar. Queria que ela soubesse o que era ser amada, mesmo que de uma forma que a maioria das pessoas não entendesse.Fiquei no orfanato o tempo suficiente para resolver tudo. A burocracia foi lenta, como sempre é, quando se trata de adoção, mas eu consegui. Cecília agora era minha, e estava comigo para sempre. Ela seria a razão de eu acordar todos os dias, de seguir adiante, de deixar para trás o passado e a dor. A vida simples que eu construí na Holanda, com a floricult
Capítulo 29 - Damon SchiavonEstava imerso em números e mais números, como sempre. A rotina do escritório, as reuniões, os relatórios intermináveis… Nada parecia mais seguro para mim do que essa distração constante. Quando o telefone tocou, eu hesitei, relutante em interromper o que estava fazendo, mas o número desconhecido na tela me fez parar, código postal da Holanda..."Isso deve ser importante", pensei, e atendi.— Damon? — A voz feminina do outro lado da linha era estranha, mas havia algo nela que imediatamente chamou minha atenção.— Eu preciso falar com você sobre Dona Carola.Senti um peso no estômago ao ouvir o nome dela. Não por qualquer tipo de afeto, mas por tudo o que ela representava — ou melhor, pela falta disso. Minha mãe nunca foi uma presença na minha vida. Ela me deixou quando eu ainda era criança, sem explicações, sem despedidas. Mas, naquele momento, algo na voz da mulher me fez parar e ouvir.— O que aconteceu? — Perguntei, tentando manter a calma, mas minha voz
Capítulo 30 - Damon SchiavonEu estava ali, parado na frente da floricultura, com a mente fervilhando de perguntas. O lugar era simples, quase modesto, o que contrastava completamente com a vida de luxo que minha mãe vivia ao lado do meu pai. O cheiro das flores era agradável, mas algo no ar parecia denso, carregado de algo que eu não conseguia identificar.Tive que respirar fundo várias vezes enquanto a garota com um bebê no colo me olhava, e enfim perguntei onde Carola estava, a garota que agora sei que se chama Debby, me conduziu por entre os corredores da loja, passando por prateleiras repletas de flores coloridas e plantas bem cuidadas. O ambiente era acolhedor de um jeito diferente, nada parecido com o que eu estava acostumado. Mas não pude deixar de me questionar: O que Carola estava fazendo aqui?Ao chegarmos aos fundos da loja, onde ela morava, o que vi foi ainda mais surpreendente. Uma pequena casa simples, com uma sala modesta, decorada com flores e algumas plantas ao redor
Capítulo 31 - Damon O silêncio no quarto foi quebrado pelo som suave de Carola abrindo os olhos lentamente. Eu estava sentado ao lado dela, ainda tentando entender o que estava fazendo ali. Ela piscou algumas vezes, como se lutasse para acreditar no que via, e então seus olhos se encheram de lágrimas.— Damon... — a voz dela saiu fraca, mas cheia de emoção, como se pronunciar meu nome fosse o único desejo que a mantinha viva.Eu a observei, incapaz de dizer qualquer coisa. A mulher à minha frente parecia tão diferente da lembrança distante que eu tinha. Eu só conseguia pensar no porquê de ela ter me deixado, e agora, por que parecia tão desesperada por minha presença.Ela tentou se mexer, mas seu corpo frágil mal obedecia. Sua mão tremia quando tentou alcançar a minha. Instintivamente, eu segurei sua mão. Era fria, magra, quase sem força, mas o toque foi suficiente para despertar algo dentro de mim que eu não sabia como nomear.— Meu filho... — começou, com a voz embargada. — Você..
Capítulo 32Debby (Cassandra)Fico observando através do vidro do quarto do hospital, Damon estava lá dentro com Carola, deixei apenas os dois, eles precisam muito desse tempo. Tento captar alguma palavra, algum gesto que me ajude a entender o que está acontecendo, mas o silêncio aqui fora é esmagador, quebrado apenas pelos balbucios de Cecília.Carola está falando algo, gesticulando de forma suave, como se estivesse escolhendo cada palavra com cuidado. O rosto dela transborda emoções, e Damon, que é tão rígido, parece menos inacessível dessa vez. É estranho vê-lo assim, tão humano, algo que não consegui sentir desde a ligação ou nosso encontro inicial...Então algo acontece, ele estende a mão e segura a dela. Por um momento, esqueço até de respirar. Meu peito se enche de algo que não consigo explicar, talvez alívio, talvez uma pontada de felicidade por eles. Algo que sonhei por muito tempo ter com meus pais, mas nunca aconteceu; Sei que esse é o momento deles, não o meu.Dou um pa
Capítulo 33 Debby (Cassandra) Assim que terminei de organizar o caixa e fechar a floricultura, Cecília ainda dormia no carrinho, completamente alheia à minha inquietação. Minutos depois, Damon voltou, dessa vez com roupas mais casuais, mas ainda com aquele ar sério que parecia ser sua marca registrada. Ele me lançou um olhar discreto, como se estivesse avaliando se eu havia mudado de ideia. Mas, em vez disso, peguei o carrinho com Cecília e segui com ele até a pequena caminhonete estacionada em frente à loja. Ele segurou a porta para mim, um gesto simples, mas que me fez sentir uma pontada de surpresa, a segurei no colo e ia destravar o carrinho quando ele rapidamente o fez colocando atrás da caminhonete. — Ela vai ficar bem? — ele perguntou, referindo-se a Cecília, que dormia profundamente. — Vai. Desde que tenha algo para recostar a cabeça, ela pode dormir em qualquer lugar — respondi, ajustando-a cuidadosamente no bebê conforto, e tomando o volante enquanto ele entrou do lado
Capítulo 34CristianO café esfriava na xícara enquanto eu encarava a tela do laptop, em branco há quase uma hora. O cursor piscava incessantemente, como se zombasse da minha falta de direção. Havia um vazio que nenhuma investigação ou relatório preenchia. O nome Ghostred ainda ecoava em minha mente, não apenas como um caso mal resolvido, mas como uma ferida aberta que eu não sabia como fechar.Ela era mais do que um nome codinome em um sistema. Cassandra era real, complexa, e agora, inatingível. Desde o dia em que descobri a verdade sobre ela, a obsessão por Ghostred se transformou em algo muito mais pessoal. Não era apenas sobre capturar ela, era sobre entender por que ela fugiu, por que escolheu esse caminho, algo que inevitavelmente, nos colocava em lados opostos.Fechei o laptop com um estalo frustrado. O escritório parecia um eco do que eu era agora, vazio, totalmente vazio. A vida no FBI, que antes me preenchia, agora era apenas uma rotina. Arquivos, relatórios, missões... tu