Capítulo 17CassandraAs primeiras semanas naquela pequena cidade na Holanda foram um borrão. Um turbilhão de rostos novos, cheiros desconhecidos e um silêncio quase ensurdecedor que só quem já passou por tantas transformações como eu poderia compreender.Cheguei aqui com um único propósito: desaparecer. Para trás ficaram os arranha-céus, as luzes intensas das grandes cidades, e a agitação constante que acompanhava minha vida. Tudo isso agora parecia distante, um sonho sombrio que não me atrevia a revisitar. Em vez disso, encontrei conforto nas pequenas coisas – o farfalhar das folhas nas árvores, o som suave das bicicletas passando pela calçada e o cheiro fresco de flores no ar. Estava começando a acreditar que, talvez, pudesse encontrar algum tipo de paz.A cidade, com suas ruas estreitas e casas de tijolos vermelhos, me parecia acolhedora de um jeito sutil. Não era o tipo de lugar que faria alguém se sentir especial, mas era perfeito para quem queria se esconder. As pessoas eram am
Capítulo 18 - CristianO telefone em minha mesa continuava a tocar, mas eu não o atendia. Já sabia o que iriam dizer. O que poderiam dizer. As respostas sempre eram as mesmas, e tudo o que eu queria naquele momento era que o maldito silêncio tomasse conta de tudo. O caso de Ghostred havia se tornado uma obsessão para mim, algo que começou com uma simples missão de rastrear um hacker, mas logo se transformou em algo muito mais profundo. Algo que não conseguia mais controlar.Eu sabia o nome dela. Sabia o nome que ela usava. E mesmo assim, estava completamente perdido.Cada pista que encontrei sobre Cassandra, ou Ghostred, parecia mais uma peça de quebra-cabeça que, quando finalmente encaixada, não fazia mais sentido. Eu havia investigado tudo — e nada. Ela havia desaparecido. De uma maneira quase sobrenatural, como se tivesse sido apagada do mapa, removida da existência. Todos os rastros que ela deixou para trás, todos os códigos que ela escreveu, simplesmente desapareceram, e eu não s
Capítulo 19 - CristianA ansiedade tomava conta de mim com uma força que eu não conseguia controlar. Cada segundo parecia se arrastar, como se o tempo fosse um inimigo impiedoso, me forçando a encarar o abismo em que me encontrava. As últimas palavras de Alan ainda ecoavam na minha cabeça, mas algo dentro de mim se recusava a aceitar o fim. Eu sabia que estava indo para um caminho sem volta, mas, de alguma forma, a ideia de parar me parecia mais angustiante do que seguir em frente.Levantei-me da mesa, meus passos pesados e ritmados, como se cada movimento fosse uma tentativa de afastar a tempestade que se formava dentro de mim. Eu precisava de respostas. Não sabia mais se estava procurando por Cassandra ou tentando encontrar alguma forma de me salvar dessa obsessão que havia tomado conta da minha mente. O único lugar onde eu poderia pensar com clareza, onde minhas memórias ainda tinham um significado, era a casa da praia.Antes de sair, fui até o departamento de Recursos Humanos do F
Capítulo 20 - CristianA concha ainda estava em minha mão, fria e frágil, mas com um peso que se tornava insuportável. As iniciais "C.A." estavam gravadas de forma discreta, quase como se tentassem se esconder, mas para mim, naquele momento, elas bradavam, gritavam pela minha atenção. Eu sabia que não era uma coincidência. Sabia que, de alguma forma, aquelas letras eram a chave para algo maior, algo que eu estava prestes a descobrir, algo que tinha a ver com Cassandra, com sua vida, com a mulher que havia mexido com a minha cabeça de um jeito inexplicável.O vento que batia contra a janela da casa da praia parecia acentuar a tensão dentro de mim. A solidão do lugar, que antes me trazia um certo consolo, agora parecia se transformar em um cárcere. Cada canto da casa estava impregnado de memórias de um tempo que já não existia, mas que eu não conseguia deixar ir. Eu não conseguia entender por que estava obcecado por ela. Como o caso de Ghostred poderia me levar até ali? Como aquela mulh
Capítulo 21Cassandra (Debby)Era um dia cinzento em Groningen, meu pequeno esconderijo na Holanda, o vento cortava a cidade com uma frieza que me fazia desejar ficar no calor do meu pequeno aconchego. Mas, como sempre, a obrigação me chamava. O orfanato, as crianças, e agora, essa nova missão: ir à Itália. A senhora com quem eu trabalhava, a Dona Carola, uma mulher idosa e gentil, estava me esperando na cozinha, da sua casa, agora meu novo lar, a algum tempo loquei o quarto dos fundos, e vim morar aqui, a casa ficava aos fundos da floricultura, com seu sorriso habitual, ela fala:— Debby, querida, você vai sentir falta do frio da Holanda, não vai? — Ela disse, preparando um café forte enquanto me observava organizar minhas malas. Eu sabia que ela gostava de minha companhia, de ter alguém para conversar, mas sua expressão dizia que sentia que eu estava indo embora por mais tempo do que gostaria.— Não se preocupe, Dona Carola. Vou voltar logo, essa semana é muito importante para mim.
Capítulo 22 Cassandra (Debby)O portão de ferro ainda rangia na minha mente, a visão de Cristian parecia me perseguir, como se fosse uma sombra que eu não conseguia dissipar. Seus olhos, intensos e impenetráveis, estavam fixos em mim, e por um momento, o resto do mundo desapareceu. A pequena Cecília, em meus braços, parecia não entender o turbilhão que se passava dentro de mim, com sua respiração suave e quente contra meu peito.Eu não sabia o que fazer. Não sabia se minha mente estava brincando comigo, se aquilo era real ou uma ilusão criada pela minha consciência perturbada. Cristian. Como ele havia chegado até ali? Como ele sabia onde eu estava? E por que, após todo esse tempo, ele reaparecia justo agora?— Debby, você está bem? — A voz de Rosa me arrancou de meus pensamentos, e eu olhei para ela, tentando disfarçar a confusão e o medo que começavam a tomar conta de mim.Eu respirei fundo e sorri, tentando esconder a tensão que havia tomado meu corpo.— Sim, Rosa. Só... só estou ca
Capítulo 23- CristianEu estava há horas no avião, mas o pensamento que não me deixava era o mesmo: Cassandra. O destino me guiava até ela, e eu sentia que uma força invisível me puxava em sua direção, como se o caminho já estivesse traçado. Meu objetivo era claro, mas, ao mesmo tempo, tudo parecia turvo, como um campo de batalha onde a linha entre o certo e o errado estava borrada.Cheguei na Itália e, em um silêncio inquietante, fui direto ao antigo orfanato. O lugar estava abandonado há anos, mas mesmo assim, parecia que as paredes ainda respiravam as histórias que ali aconteceram. O portão de ferro estava enferrujado, e a entrada, coberta por uma espessa camada de poeira e entulho, parecia resistir ao tempo, como se estivesse tentando proteger o que restou daquele lugar.Eu sabia que as respostas que eu buscava estavam ali, naquele edifício sombrio. E enquanto eu andava pelos corredores vazios, o eco dos meus passos soava como uma confirmação de que o passado ainda estava muito pr
Capítulo 24 - CassandraO silêncio entre nós pairava como uma nuvem densa, cada palavra não dita tornando o momento ainda mais pesado. Eu sabia que, a qualquer instante, a parede de mentiras que eu construí ao longo dos anos poderia desmoronar. Mas agora, Cristian estava ali, com os olhos fixos em mim, e por mais que ele quisesse me entender, havia algo em seus olhos que me fazia temer a reação que teria ao saber a verdade os olhos dele me imploravam pela verdade, por respostas...Eu respirei fundo, tentando encontrar coragem para falar. Aqueles eram os momentos em que minha vida se cruzava com o passado de maneira irreversível. E, ao olhar para ele, não podia evitar pensar em tudo o que havia acontecido desde o momento em que deixei o orfanato, como aquela história se entrelaçava com o que estava acontecendo agora.— Eu cresci em um orfanato— Comecei a minha voz estava trêmula. — Eu fui como uma das crianças deste lugar. Ainda me lembro da sensação de ser invisível, de não ter ningu