MIAO resto do dia foi um borrão.Vittorio passou horas resolvendo os assuntos dele. Pelo que entendi, a Yakuza — uma máfia japonesa — estava tentando expandir seu território, e Don Mauricio queria todos os capos à disposição. No entanto, antes de sair, Vittorio levou a fotografia da minha mãe, prometendo buscar respostas.Com isso, fiquei sozinha no meu quarto, espalhando as fotos sobre a cama, analisando cada detalhe, tentando enxergar a verdade escondida naquelas pequenas peças de um quebra-cabeça que eu nem sabia que existia. Meus olhos sempre voltavam para o rosto de Greco, procurando qualquer semelhança entre nós. As chances de eu ser filha dele eram enormes. E fazia sentido Tomasio querer me matar — eu era a herdeira de Greco. Se tivesse
VITTORIODurante toda a tarde, meus pensamentos giravam em torno de Mia e da revelação de que sua mãe havia sido casada com Greco. A verdade pesava sobre mim como um fardo impossível de ignorar. Isso mudava tudo. Mia não era apenas filha de um mafioso rival — ela era filha do Don.Ela estava no epicentro de uma guerra de poder, uma peça valiosa no tabuleiro da ‘Ndrangheta, mas também da Cosa Nostra. E Tomasio? Eu não tinha dúvidas de que ele desejava o trono do irmão. Era um segredo mal guardado que Greco estava muito doente. Mas e se não fosse uma doença comum? E se a mesma coisa que matou Miana estivesse matando Greco lentamente? Veneno?O pensamento me fez apertar os punhos, a raiva e a inquietação queimando sob
MIAAssim que Vittorio voltou de um longo dia reunido com Don Mauricio, fiquei esperando que ele fosse para o quarto. A curiosidade me corroía — eu precisava saber se ele havia descoberto algo sobre minha mãe e Greco. Além disso, queria falar sobre sua tia e o fato de ela ter conhecido minha mãe.Não bati na porta. Simplesmente entrei.Vittorio estava de costas para mim, desabotoando a camisa, os músculos bem definidos de suas costas se movendo com o gesto. Ele ergueu a cabeça ao me notar no reflexo do espelho e sorriu, malicioso.— Pensei que fosse me esperar tomar um banho antes — disse, virando-se para mim. — Mas, se está com pressa, podemos tomar juntos.Revirei os
MIAÉramos uma confusão de nós.Caminhávamos aos tropeços até o banheiro, e, a cada passo, uma peça de roupa se desprendia do nosso corpo e caía no chão, esquecida, sem nenhuma delicadeza.Vittorio me guiava com mãos firmes contra minha pele nua, seus olhos negros percorrendo cada detalhe meu, como se quisesse me gravar em sua mente.Tatuar cada pedaço de mim na sua memória.Seus dedos capturaram uma mecha do meu cabelo e a enrolaram em seu indicador.— Eles me deixam louco, sabia? — Murmurou, levando a mecha escura até o nariz e inalando profundamente meu perfume.Soltei uma risada, e Vittorio ergueu as sobrancelhas escuras e perfeitas.— É só cabelo… como ele poderia te enlouquecer? — Provoquei, enquanto deslizava as pontas dos dedos pelo seu peito nu.Eu senti seu corpo estremecer sob meu toque, e aquilo me embriagou. Era quase inacreditável que eu, pequena diante da muralha de músculos à minha frente, pudesse deixá-lo assim. Trêmulo. Perdendo o controle.— Ah, meu amor… — As quatr
MIADepois de nossa pequena diversão no banho, Vittorio cuidou de mim, lavando cada centímetro do meu corpo com uma paciência quase reverente. O banho, que deveria ser rápido, se estendeu além do esperado, porque, como sempre, o desejo nos arrastou de volta um para o outro. O toque de Vittorio era como gasolina, e eu era puro fogo — era inevitável nos consumirmos.Quando, por fim, nossos corpos cederam ao cansaço, ele me envolveu em uma toalha macia e me carregou para fora do banheiro, como se eu fosse algo precioso demais para tocar o chão frio. Suas mãos seguras me guiaram até a cama, onde me puxou para seus braços, envolvendo-me contra o calor de sua pele. Meu rosto encontrou repouso em seu peito nu, e por um instante, o mundo inteiro se resumiu ao som das batidas firmes do seu coração.— Você está bem? — Sua voz saiu baixa, rouca, carregada de algo que fez meu estômago se revirar.Apenas assenti, sem confiar na minha própria voz.Ele suspirou, e senti o peso do seu queixo se acomo
MIALas Vegas se desvanecia no retrovisor, suas luzes vibrantes reduzindo-se a meros vestígios contra o horizonte dourado. Os arranha-céus imponentes agora não passavam de sombras distantes, engolidas pelo deserto infinito. Tudo o que restava era a estrada – longa, solitária, cortando a terra árida como uma cicatriz profunda.O sol castigava o asfalto, fazendo-o brilhar com ondas trêmulas de calor. De ambos os lados, cactos altos e esguios erguiam-se como sentinelas, suas flores avermelhadas desafiando a aridez. Arbustos secos, pedras avermelhadas e fragmentos de areia movidos pelo vento compunham a paisagem implacável, enquanto, ao longe, montanhas azuladas desenhavam silhuetas contra o céu sem nuvens.Desviei o olhar para Vittorio. Seu rosto era uma máscara de impassibilidade, mas o maxilar cerrado denunciava a tensão que lhe percorria os pensamentos. As mãos firmes no volante, os olhos fixos na estrada à frente. Um homem acostumado ao controle, mas cuja mente, agora, vagava por lug
VITTORIOComo capo da Cosa Nostra, minha tarefa era simples: cobrar dívidas de drogas, viciados em jogos e prostitutas. E hoje, eu estava no meu escritório, aguardando que meus homens trouxessem mais um desses fracassados: Charles Foster, o tipo de pessoa que me enojava. Viciado em jogos, sem um pingo de autocontrole. E, claro, devia uma boa quantia para a Cosa Nostra.Na Família, eu era conhecido como o Diabo. Minha regra era clara: ninguém deixava de pagar os italianos. E ninguém ousava desafiar essa regra.Eu não permitia que dívidas ficassem pendentes no meu território. Por isso, sempre fazia questão de resolver isso pessoalmente. Eu me encontrava com os devedores no meu escritório, um lugar aconchegante e bem iluminado, localizado no andar de cima de um prédio que abrigava nossos jogos ilegais. A polícia? Eles sabiam, mas fingiam que não viam. Ainda assim, eu sabia que havia muitos esperando minha queda. Um erro, um deslize, e minha cabeça estaria na mira.Verifiquei o relógio Bu
VITTORIO— Por que a trouxeram? — perguntei, a voz gelada e implacável, interrompendo qualquer provocação que Mia pudesse estar prestes a soltar. Nos seus olhos perturbadores, um brilho de raiva faiscou, refletindo a tensão que pairava no ar.— Vim para convencê-lo a esquecer a dívida do meu pai. Ele é...— Deixei bem claro que era para trazerem apenas o Charles — interrompi, sem a mínima paciência. Vi suas mãos se fecharem em punhos, o rosto tenso, transbordando frustração.Benício coçou a testa, visivelmente desconfortável.— Compreendo, Vittorio, mas ela foi insistente.Neguei com a cabeça, impaciente.— Matasse ambos e o problema estaria resolvido. Vocês sabem que tenho assuntos mais importantes para tratar do que perder tempo com um viciado e sua filhinha.Aquilo foi a gota d'água para Mia.— Olha só, seu canalha! — ela disparou. Me virei lentamente para encará-la. Seu rosto, antes aparentemente calmo, agora estava vermelho de pura irritação. — Você tem assuntos mais importantes