Deveres de um chefe

Ethan Carlucci

Eu me casei com Valentina Ravenscroft, uma jovem herdeira de milhões. Olhando para ela, seus olhos castanhos amendoados e sua fragilidade me pareciam tão inocentes, como se ela não tivesse ideia do que significava estar ligada à máfia, ou que seu pai havia sido um de nós. Sua característica meiga e sua aparente falta de compreensão sobre a realidade em que estava inserida me deixavam claro que todo o esforço de Robert havia sido em vão. Agora, Valentina estava em nossas mãos, junto com toda a fortuna dos Ravenscroft.

A festa de casamento, embora formal e cheia de tradições, estava começando a esfriar. Os convidados se dispersavam, deixando para trás o brilho artificial das decorações e o eco distante de conversas desinteressadas. A atmosfera estava impregnada de uma expectativa fria, como se todos esperassem que algo mais, algo crucial, ainda estivesse por vir.

Henry, o advogado da família Ravenscroft, havia começado a falar demais. Com uma voz alta e uma atitude desajeitada, ele revelou partes de um acordo que deveria ter permanecido sigiloso. Sua falta de discrição era um erro imperdoável, um deslize que não podia ser ignorado. A forma como ele expôs detalhes confidenciais sobre o futuro da fortuna e os compromissos da família apenas acentuou a necessidade de agir rapidamente.

Com um gesto sutil, ordenei que um dos meus homens o levasse para a adega, um espaço longe dos olhares curiosos e das celebrações superficiais. A adega, com suas paredes frias e o aroma de vinho envelhecido, era o lugar perfeito para tratar de assuntos que não podiam ser discutidos em público. Assim que os convidados começassem a se retirar e a mansão se esvaziasse, eu encontraria Henry lá. Não havia necessidade de criar um tumulto desnecessário; a situação seria resolvida com a precisão e a discrição que sempre foram essenciais no nosso mundo.

Enquanto a festa continuava a sua decadência, eu observava o movimento dos convidados, cada um deles perdido em suas próprias preocupações e interesses. A ironia de nossa situação não escapava de mim: Valentina, agora minha esposa, era uma peça chave em um jogo muito maior, e o futuro dela e da fortuna dos Ravenscroft estava entrelaçado com nossas próprias ambições.

Eu me mantinha à margem, aguardando o momento oportuno. Havia um plano a ser seguido e uma mensagem a ser enviada. Henry havia revelado mais do que deveria, e a única maneira de garantir que não houvesse mais vazamentos ou interrupções era agir com rapidez e firmeza. A adega seria o local onde as coisas seriam esclarecidas, onde a questão seria resolvida de acordo com as regras que governavam o nosso mundo.

Enquanto isso, observei Valentina do canto do meu olhar. Sua postura, a forma como ela lidava com a situação, mostrava o quanto ela ainda estava se ajustando ao novo papel que lhe foi imposto. O fardo da herança e da aliança com a máfia era um peso que ela teria que aprender a carregar. Eu sabia que o caminho à frente não seria fácil para ela, e que a inocência que parecia em seus olhos acabaria se confrontando com a dura realidade da vida que agora compartilhávamos.

Mas esse era o custo do poder e da influência. Robert havia falhado em entender isso, e agora era minha responsabilidade garantir que a transição fosse concluída da maneira mais eficaz possível. O casamento, a festa, e até mesmo o desatino de Henry eram apenas etapas em um processo muito maior. Eu estava preparado para o que viesse a seguir, e, assim que o momento estivesse certo, abordaria a questão com a determinação e o controle que sempre caracterizaram meu papel na família Carlluci.

                                                       **************

As gotas de sangue caiam, pingando contra o chão frio e escuro da adega, formando pequenas manchas rubras que contrastavam com o cimento cinza. O ambiente estava impregnado de um ar pesado e de um silêncio tenso, interrompido apenas pelo som dos gritos e gemidos de Henry Whitaker, o advogado dos Ravenscroft.

Henry, amarrado pelos pulsos a um suporte de metal, estava em uma posição vulnerável, sua postura exausta e os olhos semicerrados demonstrando a dor e o desespero que ele estava enfrentando. A sala era pequena e abafada, com o cheiro de vinho envelhecido misturado ao aroma metálico do sangue. As paredes, cobertas por prateleiras de garrafas de vinho, pareciam testemunhar a crueldade do momento.

O advogado, um dos homens de maior confiança de Robert, havia sido colocado em uma situação para a qual não estava preparado. Sua lealdade e confiança em Robert haviam sido desafiadas pela realidade implacável da máfia, e agora ele estava pagando o preço por sua resistência.

Eu observava a cena com uma expressão fria e impassível. Henry, no início, não havia sido facilmente convencido a alterar as cláusulas do testamento. Sua relutância em colaborar era compreensível, mas no mundo da máfia, a recusa não era uma opção. O que parecia ser uma negociação se transformara em uma questão de força e controle.

Os gritos e gemidos de Henry tornavam-se abafados, quase como um eco distante, enquanto os torturadores trabalhavam com uma eficiência calculada. Cada movimento, cada toque, era meticulosamente planejado para extrair as informações necessárias sem matar a vítima imediatamente. O objetivo era garantir que ele entendesse a seriedade da situação e que, mesmo diante da dor, falasse a verdade que precisávamos ouvir.

Eu caminhava lentamente pelo espaço, a minha presença marcando a diferença entre uma situação que poderia ser vista como um mero ato de violência e uma demonstração clara de autoridade. Meu olhar era fixo e determinado, refletindo a frieza com que tratava assuntos que envolviam o controle e a manutenção do poder.

A tortura de Henry não era apenas um método de obtenção de informações; era uma mensagem. Era uma forma de deixar claro que a máfia não tolerava desobediência e que o preço da traição ou da falta de cooperação era sempre alto. A mudança nas cláusulas do testamento, a revisão das condições que Robert havia imposto, era uma questão de assegurar que a fortuna dos Ravenscroft estivesse completamente sob nosso controle.

Com o tempo, os gemidos e os gritos diminuíam, e a atmosfera na adega se tornava mais densa e carregada. Henry, agora quase à beira da consciência, começava a revelar o que sabíamos que ele estava escondendo. Suas palavras, entrecortadas por respirações ofegantes e pela dor, começavam a fornecer as informações necessárias.

Eu sabia que era apenas uma questão de tempo até que ele falasse completamente. A máfia tinha suas próprias maneiras de lidar com a traição e a deslealdade, e a cena diante de mim era um lembrete brutal e claro da maneira como as coisas eram tratadas. A adega, com seu chão manchado e a atmosfera carregada, tornava-se o palco para uma conclusão inevitável, um exemplo para todos que pensassem em desafiar a nossa autoridade ou a nossa capacidade de controle.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo